A Guardiã escrita por Alatariel


Capítulo 5
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Nossa protagonista descobre ter uma ligação muito forte com Tolkien...
Qual é ela? Só lendo para saber...



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Juro por tudo que não me lembro de ter voltado para meu quarto, pelo menos não sozinha, mas ao acordar, estava de volta a minha cama, com Alicia enrolada em minha cintura.
Passei as mãos pelo rosto e pescoço, minha corrente continuava nele. Subi os dedos para minha nuca e toquei uma saliência, a cicatriz que contornava minha nuca de extremo a extremo deixando uma feia marca rosada.
Meu pai nunca soubera explicar como eu fizera aquilo, pois segundo ele, já nascera marcada. A única coisa que a cobria era meu cabelo.
Senti uma queimação no local, aquele formigamento era quase normal; quase, pois desta vez parecia mais forte e incomodativo.
- Bom dia mana sorriu-me Ali se espreguiçando
- Bom dia eu acariciei suas bochechas Está mais tranquila agora?
- Dormi como uma pedra ela riu
- Que bom eu correspondi à risada vamos levantar e ver como estão as coisas lá embaixo.
- Acho que vou voltar pro meu quarto então ela pulou da cama e me deu um abraço Tchau mana!
- Tchau Ali - sorri sozinha vendo-a desaparecer no corredor
***
Desci as escadas e encontrei meu pai, vovó e Joe conversando na cozinha.
- Bom dia saudei
- Bom dia filha - meu pai deu-me um beijo na testa
- Como passou a noite querida? perguntou minha vó
- Bem eu respirei quer dizer... Alicia acordou assustada no meio da noite e foi até meu quarto dizendo que a janela tinha aberto.
- Aberto? questionou Joe Aquelas janelas são bem pesadas Mary, pesadas até para um vento como aquele da noite passada.
- Eu sei Joe, mas fui até lá e a janela estava realmente aberta. eu olhei para meu pai Depois que a fechei, vi umas coisas estranhas perto do portão.
- Coisas estranhas? meu pai franziu a testa
- Acho que pode ter sido só um sonho ou uma viajada que eu dei, mas pensei ter visto cavaleiros negros.
- Cavaleiros negros? perguntou minha avó parecendo preocupada, só não sabia se era com minha sanidade ou com o que disse
- Ora filha meu pai riu você está imaginando coisas, talvez sejam os livros que tem lido.
- Acho que isso tem um fundo de verdade Robert repreendeu minha vó ainda olhando-me Nossos vizinhos relataram a aparição de uns viajantes meio estranhos pela propriedade à noite.
- Eu já os vi confessou Joe com os olhos arregalados e fixos no chão mesmo de longe me deram calafrios, senti uma tristeza imensa, como se a esperança tivesse minguado.
Esta era a frase que eu pedia pra não ouvir, pois era a exata descrição do sentimento provocado pelos Espectros.
- Mas agora se acalme e sente-se para tomar o delicioso café da vovó Meg! comemorou minha vó
Neste momento Mark apareceu. Estava descalço de usava um macacão de jardinagem de um tom verde escuro sujo de barro.
- Mark? perguntei olhando-o
- Não ria ele mesmo se esforçava para não rir Os estragos não foram tão grandes quanto a gente imaginava.
- O que quer dizer exatamente? perguntou Joe
- Não tem outro jeito de sair a não ser de galochas, está tudo um atoleiro ele apontou para si próprio
- Nenhuma telha quebrada, nada de problemas com o celeiro, ou o galpão? perguntou Joe com curiosidade
- Não sei como e muito menos por que pai, mas nada ocorreu com a propriedade.
- E as fazendas e silos das redondezas? perguntou vovó
Mark baixou os olhos para seus pés, sério.
- Mark eu me levantei e olhei dentro de seus olhos castanhos, algo estava errado, eu sabia o que aconteceu?
- Parece que alguma coisa atacou o senhor Wilbber durante a noite. respondeu ele
- Santo Deus! arfou minha vó
- Como ele está? questionou meu pai Pobre senhora Wilbber...
- No hospital, em estado grave, ainda não sabem se ele sai dessa.
Mark voltou a baixar os olhos, eu forcei-o a me olhar novamente.
- O que o atacou? perguntei de modo firme
- O caseiro disse ter visto três cavaleiros encapuzados rondando a fazenda e logo depois...
- Eu disse que não estava louca respondi virando-me para Joe e meu pai, ambos perplexos
***
Meu pai, Joe e vovó foram até o hospital logo após o almoço, eu e Ali resolvemos ajudar Mark na limpeza do pátio.
- É falei enquanto varia as folhas acumuladas na varanda com uma vassoura de palha você não tava brincando quando disse que aqui fora estava um atoleiro
- Eu avisei ele riu
- Eca! exclamou Alicia olhando para suas roupas eu tô ficando marrom! reclamou ela
- Eu acho que também estou ficando marrom eu ri
- Ok Ali, - Mark limpou um pouco de barro de seu macacão onde colocou o balde que eu estava usando para colocar as folhas?
- Coloquei atrás da casa quando fui buscar a pá respondeu serena
- Eu busco ofereci-me andando a passos largos entre galhos e folhas
Contornei a casa com rapidez, até demais, já conseguia ver a balde então me dei o direito de correr em sua direção. Um erro primário.
Tropecei em um grande galho e quando achei que pararia ao tocar o chão, fui surpreendida quando o atravessei.
Cai de bruços no chão duro, feito de madeira levantando uma nuvem de pó acima de minha cabeça.
Tossi e limpei a poeira de meu macacão, meus joelhos doíam e minhas mãos estavam levemente esfoladas.
- Caramba exclamei olhando ao redor até onde meus olhos podiam ver
- Mary! escutei os gritos de Mark logo acima
- Mana!
- Estou aqui embaixo! gritei a plenos pulmões
- Poxa! Parece que você achou o velho porão de Green Valley! ergo os olhos e vejo a cabeça de Mark pela abertura - Está bem? Não se machucou?
- Acho que meus joelhos vão ficar roxos, mas fora isso, estou inteira.
Lancei o olhar em direção ao ponto em que a luz do sol incidia quase totalmente, focalizada em um retrato amarelado e gasto pela umidade.
- Ei! Tome cuidado aí embaixo! gritou Mark Eu e Ali vamos buscar uma escada para você!
- Cuidado mana, já voltamos para te resgastar! anunciou Alicia
Ri de seu erro de português e apertei os olhos, passei as mãos pelo papel grosso e esforcei-me para ler o que estava escrito em seu canto inferior.
- Em homenagem a meu querido... prendi a respiração, aquilo já era demais para uma pessoa só John Ronald Reuel Tolkien...
Contornei o retrato e encontrei mais fotos de meu escritor favorito, fotos dele com seus filhos e esposa.
E claro, o inconfundível Tolkien, fumando seu cachimbo rodeado por uma menina de olhos brilhantes e cabelos cacheados.
Arfei e a surpresa percorreu meu corpo de modo que o sangue se esvaiu de meu rosto, pois a menina no retrato era minha avó.

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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?
Bjos...