A Guardiã escrita por Alatariel


Capítulo 4
Pesadelos


Notas iniciais do capítulo

Mary percebe que algo muito errado acontece naquela floresta e seus piores pesadelos pulam para fora das páginas do livro O Retorno do Rei.



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O jantar transcorreu tranquilo e quieto, a chuva batia contra o telhado e o vento rugia do lado de fora da casa.
Sentamo-nos ao redor da lareira na sala de estar, minha avó preparou-nos chá de frutas silvestres e nos aconchegamos junto ao fogo.
- O que seria de nós sem esta maravilhosa lareira comentou meu pai bebendo um gole de chá
- Não sei Robert, mas estaríamos enregelados riu-se vovó
- Agradeço imensamente por ter nos deixado ficar dona Meg falou Joe sorrindo de orelha a orelha
- Com certeza a gente não estaria tão confortável nem tão quente completou Mark
Desviei os olhos para um aparador que eu não havia notado antes, estava repleto de fotos amareladas e envelhecidas. Fotos de minha avó com seus pais quando ela era apenas uma menina.
Nunca perguntara sobre meu bisavô e minha bisavó, tampouco minha vó falava deles. Era a primeira vez que eu via uma foto dos dois e tinha a breve impressão de que já vira o rosto daquele homem antes.
Voltei os olhos para o fogo que crepitava na lareira, as chamas lançavam sombras escuras nas paredes e móveis.
- Papai chamou Alicia aconchegando-se em mim estou com sono.
- Meg, poderia arrumar um quarto para Alicia? perguntou meu pai
- Claro minha avó se ergueu de sua poltrona venha me ajudar Mary.
- Tá respondi
Subimos a escada em silêncio, não entendia qual era a intenção de minha avó, mas seus olhos podiam enxergar além do que os meus gostariam de mostrar.
Ela se dirigiu ao quarto no qual eu entrara antes, o quarto de minha mãe.
- Foi aqui que você entrou, não foi? perguntou procurando o interruptor
- Vovó a senhora...
- Não me diga absolutamente nada interrompeu ela Eu a conheço desde que você era um bebê Marianne ela acariciou meu rosto O que houve?
Sentei-me na cama a seu lado e suspirei, fitando novamente o retrato.
- Relembrei momentos felizes e outros nem tanto neste quarto - respondi
- Eu sei vovó pegou minha mão não é fácil para mim também querida, sua mãe Faz muita falta.
- Vó eu ainda olhava cadenciada para minhas botas gostaria de passar a noite aqui.
Os olhos azuis de minha avó me fitaram talvez curiosos, talvez duvidosos, mas por fim ela suspirou.
- Tem certeza? perguntou-me
- Sim respondi confiante
***
Ajeitei minhas roupas no armário que ficava no canto do quarto, pus minha camisola preta e acomodei-me na cama.
Peguei meu livro e devorei as páginas com a mesma vontade com que devorara o jantar.
Identificava-me muito com o pequeno Sam, tão valente e tão fiel, mas ao mesmo tempo nunca deixara de lutar por seus ideais, além do mais, admirava os elfos cegamente, coisa que eu também fazia.
Admirava aquele belo povo, como todos chamavam. Apesar da imortalidade, sabedoria e beleza, também cometiam erros, também sofriam, também sentiam medo.
Gostaria de encontra-los, mesmo sabendo ser somente uma história, queria poder falar com eles, perguntar-lhes coisas. Temia e ao mesmo tempo sentia uma súbita curiosidade ao cogitar a hipótese de olhar no espelho de Galadriel.
Queria trocar ideias com... bem, com Legolas Verdefolha, príncipe da Floresta das Trevas. Ficava ruborizada apenas pelo fato de imaginá-lo. Desejava conhece-lo e aquilo para mim, só seria possível em meus sonhos.
Coloquei o livro sobre o criado mudo e desabei no travesseiro esperando o sono me atingir.
Fechei os olhos, a chuva batia insiste na janela o que me incomodava mais do que ajudava. Adormeci mais rápido do que imaginava ser possível; imagens borradas e pouco precisas povoavam meus sonhos.
Caminhava pelo bosque com folhas secas girando ao meu redor, eu estava atrás de alguém, era pequeno e de cabelos negros encaracolados.
- Espera! gritei
Não fora o bastante e logo o garoto desapareceu no meio das árvores, virei-me pronta para voltar de onde vim, mas senti que algo pressionava meu braço.
Acordei em sobressalto e dei de cara com uma Alicia assustada e sonolenta.
- Mary, posso dormir com você?
- Meu Deus Alicia! suspirei levantando O que houve pra você acordar deste jeito?
- A janela do meu quarto abriu respondeu esfregando os olhos
- Tá, deita aqui que eu já volto arrumei-a embaixo das cobertas e rumei na direção de seu quarto
Aproximei-me da porta, por algum motivo hesitei antes de tocar na maçaneta, uma corrente gelada percorreu meu corpo.
A janela estava realmente escancarada, as cortinas dançavam no ritmo do forte vento que soprava e uma avalanche de folhas acertaram-me no rosto.
Baixei o vidro pesado e tranquei a janela, aquela era por acaso a única que dava uma visão perfeita do portão da fazenda.
Cheguei próximo do vidro e esfreguei o punho contra o material gelado, comprimi os olhos e vi algo que fez gelar meu sangue.
- É impossível...
Três cavaleiros negros e encapuzados amontoavam-se na entrada da fazenda, os cavalos negros chocavam-se contra os portões. Um grito agudo encheu meus ouvidos, fazendo com que caísse de joelhos e os cobrisse.
Aquele barulho horrível era como um monte de espadas atingindo-me simultaneamente.
Não. Os cavaleiros não podiam ser os Nâzgul, os Espectros do Anel os servidores de Sauron. Não, aquilo tudo não existia, somente nos livros escritos por Tolkien.
Agarrei com força o pingente que pendia em meu pescoço, o frio e a escuridão me engolfaram e então,... Apaguei.

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Notas finais do capítulo

Nossa, ficou curtinho né? Ps: Vou caprichar nos próximos tá?
Bjos e obrigado a Legolas pelos reviews, não faz ideia do quanto eles me deixaram feliz!
Bjos