A Guardiã escrita por Alatariel


Capítulo 2
Retorno


Notas iniciais do capítulo

Aqui escrevo um pouco sobre a vida da Mary e sua história, que aliás é um pouco sofrida!
Espero que gostem!



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Eu olhava pela janela do carro, como se esperando que a fazenda de minha avó surgisse em um passe de mágica. Fazia exatos cinco anos que eu não punha os pés em Green Valley, desde que minha mãe falecera.
Tinha onze anos na época, minha mãe acabara de pedir demissão de uma editora na qual trabalhava em Toronto, não gostava daquele emprego e precisava se desligar do caos da cidade grande.
Meu pai aceitou a ideia sem pestanejar, era incrível o modo como eles se entendiam, quase como telepatia, algo que não sei bem explicar.
Minha mãe estava grávida de oito meses, esperando pela hora de conhecer a mais nova integrante da família; minha irmã Alicia.
Vovó nunca gostou da agitação da cidade, desde que se entendia por gente morava em Green Valley, fazenda que pertencera a seu pai e que agora, lhe pertencia.
Não gosto de lembrar os dias que se seguiram depois que chegamos à casa de vovó. Mamãe adoeceu, passava os dias na cama, fraca, precisava de ajuda para comer e a única exigência que fazia a mim era que tocasse violão para acalmar lhe o sono.
- Minha pequena, poderia tocar para a mamãe? - perguntava ela com seus grandes e belos olhos verdes
Durante uma noite tempestuosa minha irmã veio ao mundo e minha mãe deixou-o... Para nunca mais retornar...
Por este motivo não tínhamos voltado mais àquele local, as lembranças de minha mãe eram muito fortes e vivas.
Alícia agitava-se no banco traseiro do carro, impaciente e chorosa.
- Falta muito papai? queixava-se olhando pela janela
-Não minha princesa respondeu ele olhando pelo retrovisor apenas alguns minutos.
Eu revirei os olhos, Alicia era uma criança hiperativa e ficar trancada em um carro durante duas horas era um sofrimento para ela.
Concentrei-me em meu livro; lia O Retorno do Rei, da saga senhor dos anéis, apaixonei-me pela história que fora meu refugio nos cinco anos após a morte de minha mãe.
O modo como Tolkien escrevia era envolvente e cativante e seus personagens pareciam querer pular para fora das páginas.
- Achei que tinha terminado de ler estes livros que sua avó lhe deu disse meu pai distraído
- Estou no final respondi olhando-o Gosto de apreciar cada detalhe da história como se fosse o último.
- Sua mãe também era assim respondeu sorrindo e pegando minha mão no banco
Voltei ao livro e mau acabara de ler um capítulo quando meu pai apontou ao longe uma ponte de madeira maciça, a ponte que eu desejava ver a muito tempo.
***
- É um prazer revê-lo doutor disse Joe, o caseiro ao abrir o portão; era moreno, com o rosto castigado pelo sol, tinha uma rala barba grisalha que denunciava seus cinquenta e poucos anos, mas mantinha o mesmo tom brincalhão nos olhos Olá Marianne! cumprimentou ele pela janela
- Oi Joe, - respondi me espremendo entre meu pai e a janela como vão as coisas?
- Boas - ele tirou o boné e coçou a cabeça até onde se pode dizer então notou Alicia que lhe acenava freneticamente Ora, se não é a pequena Alicia!
- Oi tio Joe! gritou ela animada, nunca vira Joe pessoalmente, apenas por fotos
- Vão passando pediu o caseiro dona Margareth está esperando por vocês.
A casa principal era antiga, ostentava dois andares talhados em mogno e um telhado em formato de v invertido com caimentos de tijolos vermelhos; as portas eram de carvalho com fechaduras de ferro.
Quatro quartos distribuíam-se pelo andar superior; duas suítes e dois quartos mais simples, além disso, tinha duas salas, a de estar e a que guardava o piano que minha mãe tocava quando eu era criança.
A parte de que meu pai mais gostava era a cozinha, com seu charmoso fogão a lenha e pratarias espalhadas por prateleiras, também pudera, meu pai era um dos mais requisitados chefes de cozinha de Toronto e seu habitat natural era a cozinha.
Vovó nos esperava com seu sorriso acolhedor nos degraus da varanda, estava de avental e os cabelos grisalhos e rebeldes estavam presos em um coque no alto da cabeça.
- Vovó! praticamente me lancei em seus braços
- Ah meu Deus! disse afastando-me lentamente O que houve com a minha pequenina Mary? ajeitou os óculos na ponta do nariz Como você cresceu!
- Também estava com saudades. disse sorrindo
- Vovó Meg dizia Alicia puxando-lhe a barra do avental
- Ora vejam só, se não é a minha menina favorita abaixou-se pegando Alicia no colo
- Margareth meu pai aproximou-se arrastando nossas malas como tem passado?
- Bem Robert, na medida do possível ela lançou lhe um sorriso tristonho mas vamos entrando e deixe que Joe o ajude com as malas.
A sala de estar estava iluminada e arrumada e um cheiro de amoras invadiram minhas narinas. Torta de Amoras.
- A senhora fez torta de amoras? perguntei
- Torta de molas daquelas que a senhora mandava vovó questionou Alicia curiosa
- É sim, - concordou sorrindo mas primeiro, tenho alguns presentes para lhes dar.
- Onde ponho as malas Dona Meg perguntou Joe
- Coloque no quarto de hóspedes que depois arrumamos.
Vovó andou até sua poltrona e retirou de uma pilha um grande pacote embalado em papel cor de rosa brilhante.
- Este é para minha Ali disse ela estendendo-o para minha irmã
- Obrigada vovó agradeceu dependurando-se no pescoço da senhora
- Você merece retirou outro pacote menor, mas não menos enfeitado este é seu Robert.
- Não precisava se incomodar comigo Meg respondeu meu pai
- Papai olha! Papai olha! gritava Alicia segurando uma enorme boneca nos braços
- É linda, minha filha ele desembrulhou um kit de panelas completo Eu estava namorando um destes há muito tempo ele sorriu para minha avó Obrigado Meg.
- E para a minha moça entregou-me um pacote pequeno e comprido, que desenrolei com avidez
Uma corrente de ouro prendia um pingente em forma de ave com delicadas pedrinhas de brilhante.
- Eu nem sei o que dizer olhei-a com um sorriso imenso nos lábios muito obrigada vó.
- Esta apontou ela para o pingente é uma Fênix, o pássaro que renasce das cinzas, para que se lembre de que por pior que as coisas possam parecer, sempre há uma saída.
- Agradeço muito voltei-me para o espelho que ficava no fim do corredor, ao lado da escada
O colar parecia brilhar em meu pescoço e chamava toda a atenção para meu rosto. Meus cabelos castanhos caíam em leves ondas por minhas costas, os olhos fracamente verdes olhavam para a corrente de ouro que enfeitava meu rosto.
Sorri e abracei minha avó mais uma vez... Agora sim, me sentia em casa.

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Notas finais do capítulo

Será que mereço reviews?