POV MARY
A comida era ótima, tinha de admitir que meu pai ficaria boquiaberto com a quantidade de novos sabores reunidos naquela mesa.
Um festival de geleias dos mais variados tipos, algumas que confundiam o paladar, mesclando sabor de goiaba com maçã, outros que nem me atrevo a descrever.
Lembas; tipo de pão, ou melhor, torradas que dão uma satisfação imensa, quando combinadas com as geleias viravam um manjar dos deuses. Chás quentes e frios além do maravilhoso hidromel, um pouco de frutas secas e queijos, em suma um verdadeiro banquete.
Quatro elfas retiraram a mesa após termos terminados a refeição além de dois guardas terem realmente retirado a mesa para que nos sentássemos em um círculo. Galadriel trocou um olhar com Celeborn com uma espécie de conversa muda e ele levantou-se.
- Senhores, sei que devem estar se questionando sobre o porquê de estarmos reunidos aqui hoje disse ele esta é uma história que começa a muito tempo atrás, durante a primeira guerra do anel.
A esperança quase havia escapado por entre nossos dedos quando uma aliança entre elfos e homens fora proposta, mas isso não foi a única coisa que serviu-nos de alento. Um conselho entre os antigos elfos para que uma medida fosse tomada para prevenção, caso ocorresse uma segunda guerra entre o Senhor do Escuro e os Povos Livres da Terra Média.
Após muito discutir, resolvemos abençoar uma criança nascida na terra dos homens, esta criança teria as habilidades de luta dos elfos, e algumas das outras características do nosso povo.
- Esta criança foi protegida e monitorada desde a infância prosseguiu Galadriel e hoje já esta em seus dezesseis anos no auge da mocidade, pronta para auxiliar a nossa sociedade.
Meu corpo enrijeceu, eu sabia de alguma forma que eles estavam falando sobre mim e não tinha ideia do que viria a seguir.
- Levante-se Marianne disse-me Galadriel
Minhas pernas pareciam ter se dissolvido, mas mesmo assim me levantei.
- Quer dizer que o guerreiro que tanto estimam é uma garota? bufou Glóin
- Não a subestime era a primeira vez que Thranduil se pronunciava o que me surpreendeu eu fui um dos que participei do conselho e cuidei desta jovem ele me fitou, e sua semelhança com seu filho me assustava sei que ela pode surpreendê-los garantiu
- Então prove desafiou o anão
Meus olhos aflitos encontraram os olhos de Galadriel e sua voz ecoou em minha mente.
Acalme-se, sei que pode fazer isso.
Eu, mas minha senhora sou só uma...mortal protestei
Você pode ela sorriu
- Ofereço-lhe minha espada disse Aragorn
Ele desembainhou a lâmina entregando-a em minhas mãos, era mais pesada que a que eu costumava usar para praticar esgrima, eu precisava medir a força para não deixar a espada cair de minhas mãos.
- Já tenho a arma, preciso de um desafiante disse tentado controlar a voz
Faramir levantou-se ao meu lado e desembainhou sua espada, parecia tenso.
- Eu a desafio disse ele
Ergui a espada, aquilo era a coisa mais idiota que eu faria na vida provavelmente, eu não só estava usando roupas nada adequadas para um duelo, como nunca havia lutado com uma espada pesada como aquela.
Faramir tocou sua lâmina três vezes na minha antes de atacar, quase perdi a espada no primeiro lance, mas consegui reequilibra-la em minha mão.
Investi em seu ponto cego, acertando o punho de sua espada, mas ele logo se recuperou, comecei a pegar a manha da luta quando Faramir fez o grande favor de acertar-me na perna, fazendo um grande rasgo em meu vestido, uma fenda que ia da coxa até logo abaixo do joelho.
Deixei que a raiva me dominasse, eu tinha adorado aquele vestido, lancei-me para Faramir com descuido e ele acertou o punho de minha espada dessa vez fazendo-me perde-la, agarrou-me pela cintura por trás e colocou sua espada em meu pescoço.
- Me solta! protestei empurrando-o
- Desculpe pediu ele
- Tem sua prova agora, Glóin? perguntou Thranduil de modo debochado
- Creio que sim resmungou o anão
Voltei-me para os presentes, alguns pareciam admirados outros um pouco assustados, Frodo arregalou seus grandes olhos azuis e não parecia acreditar no que tinha visto.
- Não querendo desmerece-la, mas Gimli se levantou como saberemos se não é uma impostora?
- Ora Gimli interrompeu Pippin você mesmo viu que ela viria zombou ele
- Acho que tenho como provar virei-me de costas para todos e ergui meus cabelos até uma altura possível para que vissem a cicatriz que circundava minha nuca
- Como fez isso? perguntou Glorfindel franzindo o cenho
- Não me pergunte respondi ainda de costas tenho essa marca desde... Desde sempre.
Senti dedos frios desenhando a curva de minha cicatriz, virei-me de súbito, dando de cara com Glorfindel que me olhava com curiosidade.
- Não temos mais como negar disse ele tem de ser esta senhorita apontou para mim e se curvou bem vinda Vainnu! (bem vinda espírito da esperança!)
- Será que está mesmo preparada para enfrentar sofrimento, fome, sede e passar por provas de caráter e bravura? questionou Boromir A jornada será cansativa e as perdas irreparáveis.
- Acredite, já convivi com perdas irreparáveis sentei-me tentando esconder minha perna que teimava em aparecer no corte que Faramir havia feito
- Creio que suas perdas não cheguem nem perto das que viverá se aceitar este fardo.
Levantei-me, desta vez sentindo lágrimas quentes encherem meus olhos ameaçando serem derramadas, minhas mãos estavam fechadas em punho e meu sangue queimava nas veias.
- Você não sabe de nada! gritei não me importando se estavam pensando que eu era louca Se acha que perder a mãe no momento da vida em que você mais precisa não é o bastante, então ótimo! Não foi você que teve que olhar para o rosto de uma menina de quatro anos e lhe responder sorrindo, como se tudo estivesse bem, que mamãe tinha virado uma estrelinha e que fora para o céu, fazer companhia ao vovô!
- Marianne alertou Aragorn, mas sua voz soava distante
- Não me diga que não sofri o bastante porque as lágrimas transbordaram e as palavras ficaram trancadas em minha garganta
Senti meus pés erguerem-se do chão e num instante estava a três metros dele, abri a boca, mas o único som que emiti foi uma espécie de grito agudo e solene.
- Eldalië Suilanyel! (O Povo dos Elfos a saúda!) entoou Galadriel e todos se curvaram
De algum modo, sentia meus sentidos mais aguçados e ao olhar ao redor, vi que eu emanava uma aura dourada e o ar a minha volta tremulava como se emitisse calor.
Virei-me e focalizei um espelho de prata onde pude ver meu reflexo, mas não era mais a minha forma humana e sim uma ave branca com asas douradas que possuíam labaredas nas pontas.
Fênix...Não pode ser... pensei
É claro que pode meu bem murmurou Galadriel agora precisa voltar a sua forma normal.
Dizer é fácil, mas como eu volto?
Respire, concentre-se e voltará a ser o que sempre foi.
Fiz o que ela disse, não acreditando muito no início, mas aos poucos voltei a tocar os pés no chão, abri os olhos minha visão estava turva e cambaleei, sendo amparada por Legolas.
- Isto foi disse ele impressionante...
- Ah claro! exclamei sorrindo Me ver com... Um bico e penas chamejantes deve ter sido uma visão maravilhosa!
- Algum dos que se encontram tem mais questionamentos a fazer sobre a veracidade de nossa visitante? ponderou Legolas ainda com um sorriso nos lábios
- Creio que não Gimli mirava os pés
- Resta saber se nossa guerreira aceita esta jornada Celeborn questionou
- Eu aceito falei confiante vou cumprir a tarefa e defender Frodo - olhei para o hobbit que sorriu mesmo que precise dar minha vida para fazê-lo.
- Então está feito declarou Celeborn você Marianne, filha dos mundos, Guardiã da Terra Média, é o novo membro da Sociedade do Anel.
Sorri, mesmo com medo sentia-me aliviada e precisa ficar um pouco sozinha para colocar as ideias no lugar.
- Obrigada por estarem presentes, meus amigos disse-lhes Galadriel descansem e aproveitem a estadia em Lothlórien!
Todos se levantaram reverenciando os Senhores de Lórien e em seguida se retirando, até que fiquei a sós com os dois elfos.
- Obrigada por me abençoarem, cuidarem e por acreditarem em mim falei
- Você é uma guerreira nata Galadriel tomou-me pelas mãos vai trilhar seu caminho como está escrito no livro da vida.
Fiz uma última reverência antes de me retirar, com um sorriso nos lábios, desci até a sala de banho, precisava trocar de roupa urgentemente.