POV. Hermione Granger. 

— Eu estou te oferecendo uma opção, senhorita Granger. Se fizer o que eu que estou te pedindo a grandes riscos, é claro, mas também há uma grande chance de você salvar pessoas que você ama muito. - Havia na voz do professor Dumbledore uma suplica mau contida, com a qual eu até me identificava, mas aquilo era insano. 

— Isso é loucura, professor. - Atestei em voz alta encarando aqueles óclinhos de meia lua.  

— Ninguém compreende isso mais que eu mesmo, senhorita Granger, tenho lutado contra a ideia de colocar esse plano em prática durante anos. 

— Por que agora? 

— Estamos em um momento crítico. Voldemort ganha poder a cada dia que passa, e a invasão do Ministério é uma prova que ele já não teme nada. - Dumbledore encarava o céu escuro lá fora, como se o pensamento estivesse já muito além do presente. - Quanto tempo até que ele ataque novamente? Até que ele mate mais alguém? Por quantos outros ainda vamos ficar de luto, senhorita Granger? 

Os olhos azuis por trás dos óculos agora me encaravam seriamente e eu senti o peso das suas palavras me atingirem. 

— Eu não sei, professor. - Respondi balançando a cabeça. - Isso é loucura, e infringe mais leis do que eu acho possível quebrar numa única vez.  

— Se eu pudesse evitar colocar tanto peso sobre seus ombros, eu faria, senhorita Granger. - E com um suspiro alto Dumbledore acenou em direção a porta do seu escritório a fazendo abrir. - Você tem todo o direito de pensar, mas eu preciso de uma resposta em no máximo quatro dias. 

— Tudo bem, eu pensarei a respeito.- falei me retirando. 

Eu estava atordoada enquanto caminha pelos corredores do castelo, com o conteúdo da conversa ainda fresco na minha cabeça, meus pensamentos pareciam não conseguir focar afinal era muita coisa para ser processada num dia só. Tínhamos acabado de voltar da Batalha no Ministério, ainda não tinha conseguido assimilar direito o que havia acontecido lá e agora Dumbledore me largava essa bomba em minhas mãos. Respirar me parecia uma tarefa difícil com tudo o que estava acontecendo. 

O professor havia me proposto que viajasse no tempo para a época de Voldemort, ou como ele preferia dizer a época de Tom Riddle. Tudo na vã esperança de que talvez, quem sabe eu possa mudar alguma coisa e quando eu perguntei como ele achava que uma adolescente de dezesseis anos seria capaz de fazer algo do tipo, adivinhem o que ele me respondeu. 

— Quando você chegar lá você vai descobrir como. 

Tudo o que eu pensei foi que Dumbledore estava finalmente caduco, definitivamente um velho caduco. Viagens no tempo era contra as leis da magia, contra mais leis do que eu conseguia lembrar no momento. Minha cabeça dava voltas e mais voltas tentando compreender, mas não dava era loucura. 

Cheguei sem nem perceber quase no Salão comunal da Grifinória, assim que passei pelo quadro não encontrei ninguém, por isso resolvi subir até o quarto dos meninos. Quando me aproximava da porta do quarto comecei a escutar os gritos do Harry que chamava por Sirius e aquilo me machucou muito. 

— Não! Ele não morreu! Ele ainda está lá, eu escutei a voz dele.- Os gritos de Harry eram abafados pela porta que ainda estava fechada. 

— Harry, você precisa se acalmar.- dizia Gina com a voz chorosa. 

No fundo eu conseguia escutar Rony soluçando, respirando fundo me aproximei da porta e a empurrei levemente deixando apenas uma fresta e pude ver a cena terrível de Harry com o rosto choroso ajoelhado no chão sendo sustentado por Gina e Rony, uma roda se formava em volta deste três todos chorando enquanto Harry entregue e parecendo sem forças tinha o rosto marcado pelas lágrimas.  

Nada poderia ter me machucado mais naquele momento e de repente as palavras de Dumbledore me vieram a cabeça. 

"...Há uma grande chance de você salvar pessoas que você ama muito. " 

"...Por quantos outros ainda vamos ficar de luto, senhorita Granger?" 

E naquele momento minha decisão já estava feita, eu aceitaria a proposta de Dumbledore, pelos meus amigos valeria o risco. Se eu pudesse evitar aquela cena e aquele sofrimento então, eu faria valer apena. 

Voltei correndo para a sala do Diretor, falei a senha e cheguei a sua sala ofegante. O professor ainda estava sentado em sua cadeira e se surpreendeu com minha presença. 

— Senhorita Granger o que- 

— Eu aceito! -Falei interrompendo sua pergunta-Eu volto no passado para a época de Tom Riddle, o que for preciso. 

— Você tem certeza? -Perguntou ele ainda surpreso com minha mudança. 

— Eu tenho certeza que não quero ver mais ninguém morrer. - Minha voz soava sem vida até para mim. 

— Tudo bem. Você vai viajar no tempo através de um vira-tempo especial para esse tipo de situação. - falou vasculhando uma das gavetas de sua mesinha. - Veja. 

Ele me entregou um vira tempo que continha no lugar da ampulheta uma pedra que me lembrava uma safira em forma de coração. Era realmente lindo, mas eu peguei o objeto com suspeita. 

— Ele vai te levar para o ano de 1945, é último ano de Tom aqui em Hogwarts. Você vai poder ficar lá por um tempo, mas quando a pedra ficar vermelha você deve voltar. 

— Senão o que acontece? - Perguntei com um pouco de medo, meu cérebro já repassando todos os casos conhecidos da história de bruxos perdidos no tempo. 

— Você fica presa lá, vai ser como se você nunca tivesse existido aqui. As pessoas que te conheceram nessa época simplesmente vão te esquecer e seguir com a vida delas como se nunca tivessem conhecido. Você entende os riscos Granger? 

—Sim, senhor. - Era claro que eu entendia, Merlin sabia o quanto eu tinha estudado os riscos no terceiro ano quando usei o Vira-Tempo de McGonagall. 

— Certo, afinal, você é a bruxa mais brilhante da sua idade.- Eu quase podia ver um sorriso se formando em seus lábios, como esse velho caduco ainda achava motivos para sorrir nesse confusão eu não sabia. - Agora pegue o Vira-Tempo e volte para o dia 2 de Setembro de 1945, o segundo dia de aula. Quando chegar lá, procure pelo meu eu do passado e explique a situação, ele vai acertar seu ingresso em Hogwarts daquele ano. Você está entendendo? 

—Sim, senhor. - A vontade era de dizer não, afinal eu tinha dezesseis anos e estava prestes a quebrar todas as leis, arriscar minha vida e tudo isso com a autorização de um bruxo brilhante segundo algumas pessoas. 

Com minha resposta o professor virou-se para pegar uma mala que eu não tinha visto ainda. Tinha uma aparência mais antiga do que eu estava acostumada a ver, o professor fez sinal para que eu a pegasse. 

— Essa vai ser sua mala, eu deixei tudo pronto para uma eventual emergência, dentro tem roupas de acordo com aquela época e uniformes. - Eu estava levemente incomodada, pois parecia que ele já esperava minha decisão positiva, mas me mantive quieta enquanto ele falava.- Acho que seria melhor você trocar de roupa colocar esse uniforme que está aqui.-disse ele pegando o uniforme do malão. - Assim ninguém vai estranhar suas roupas. 

Fiz tudo no automático, e quando voltei Dumbledore sorriu por baixo de seus óclinhos de meia lua. Esse velho só pode ter enlouquecido para estar sorrindo numa situação dessas. 

— Venha Hermione pegue o malão e sua varinha. Espero que de tudo certo - Dizia ele. 

"Claro, Claro. Vamos cruzar os dedos que vai dar certo né" Pensei comigo mesma enquanto me preparava para essa loucura, sim era loucura, voltar no passado sem garantias de que eu mudaria alguma coisa."E isso sem mencionar o planejamento quase inexistente". 

— Espero não decepciona-lo, professor. - Disse apreensiva, com a realidade da minha decisão só agora fazendo sentido. 

— Não irá. Tenho certeza que você fará o melhor possível - Disse ele como se soubesse de alguma coisa. - Vamos gire o Vira-tempo, pense em 2 de setembro de 1945. - Ordenou antes que eu pudesse fazer alguma pergunta.

Fiz o que ele mandou e imediatamente tudo ao meu redor começou a girar, e antes que tudo ficasse uma completa confusão pude escutar Dumbledore falando. 

— Quando a pedra ficar vermelha Hermione, você terá sua última chance de voltar. 

E tudo girou ao meu redor e eu estava dando um passo literalmente no escuro, indo contra tudo que eu acreditava, contra regras, sem planos e sem saber o que fazer quando chegasse em 1945.

"Que Merlin me ajude."