Scorpius Malfoy

Talvez não foi a coisa mais lógica a se fazer, mas pelo menos eu estaria de olho fechado sem, necessariamente, encarar a personificação do desânimo. E não foi lá algo horrível, foi até que bom.

Rose Weasley sempre teve a péssima atitude de gritar, insultar e maltratar a minha incrível pessoa por coisas toscas como notas, frases irônicas e brincadeirinhas. Saber que por um tempo ela não faria nada disso era ótimo, e sim… Seria bom beijá-la também quando tivesse a oportunidade — não sempre, claro, porque ainda havia amor pela vida no meu coração.

Quando eu estava no quarto ano, até queria saber como era ficar com Rose Weasley porque normalmente as pessoas dizem que o ódio é amor e blá, blá, blá. E eu sempre discordei. Ainda discordo, é claro, mas foi uma boa experiência no final das contas. Muito provavelmente ela não gostaria de saber que nos beijamos, mas… Cada um aprende a lidar com as frustrações da vida de um jeito.

— Scorpius, eu... — tentou falar, mas eu não deixei. Era ótimo saber que Rose Weasley era muito mais legal de boca fechada.

— Não estrague esse momento. — pedi puxando-a para mais perto. Tive plena convicção que não estava tão normal quanto pensava, mas… Era bom, estava bom, não havia motivos para não querer. Exceto pelo fato de nos odiarmos mortalmente desde… Sempre.

E ficamos ali por um tempo e tal. Não que fosse a melhor coisa do universo, mas era confortante não se snetir tão solitário em um mundo cor de rosa cercado de flores, corações, nuvens e… Eu tinha asas em Hogwarts! Asas! Era confortante não ter elas, beijar alguém e saber que eu era, por mais incrível que pudesse parecer, normal.

— O que estamos fazendo? — perguntou colocando a mão no meu tórax.

— Estávamos nos beijando. — afirmei e ela me olhou seriamente, com a sobrancelha arqueada e uma cara de quem estava um pouco confusa. — Não estamos mais,o que é triste, mas podemos continuar, se quiser.

Rose me encarou por alguns instantes, cheguei a pensar que a sobriedade estava voltando, mas… Até esqueci de tudo quando ela aproximou seu rosto do meu. Ah, era ótimo, independente se éramos ou não rivais e blá, blá, blá. Se estava tudo bem até agora, imagina se ela ficasse assim para o resto da vida? Iria ser ótimo não ouvir mais sua voz irritantemente potente e nem aturar seu comportamento mesquinho e bravo, seria o verdadeiro paraíso.

Só que… Se um dia ela descobrisse, provavelmente eu estaria morto nos dois segundos seguintes, o que não seria tão interessante. Mas… Era pouco provável e, também, era a única oportunidade que eu teria de beijar ela. Então…

—NÃO, ISSO É ERRADÍSSIMO!  — exclamei colocando a mão em seus ombros e afastando-a de mim. Ela abriu a boca para responder, mas eu não deixei. — E sim, eu gosto de uma coisa errada. MAS VOCÊ NA VERDADE VOMITARIA CASO CHEGASSE A CINCO CENTÍMETROS DA MINHA BOCA! E ISSO É NOJENTO! NÃO, NÃO, NÃO! EU SOU UMA PESSOA BOA, NÃO VOU ME APROVEITAR DE VOCÊ.

— Scorpius, você está bem? — perguntou arqueando uma sobrancelha.

— Estou ótimo. — afirmei me sentando no sofá novamente. — Onde paramos na profecia mesmo?

— O ''1 com um coração'' é a flecha do amor. E se usamos o ''1'' como um graveto, o graveto citado logo abaixo será como um ''1''. — começou a explicar um pouco desgostosa, e eu assenti suspirando. — 8 divido é 4. Quatro vezes cinco é vinte, dividido por dois é dez... Mais 1, vai dar 11. Mas o pergaminho fala que tem que dar um número par, então está errado.

— Como que se divide o 8 nisso aí? — perguntei evitando contato visual.

— Pense, quatro mais quatro é oito. Oito dividido por dois... É quatro. — claro que isso era óbvio, mas eu pensei em outra coisa.

— E se cortássemos no sentido literal? — ela fitou o pergaminho com uma sobrancelha arqueada. — Vai dar 8. Ɛ3.

— Então tá, ok. Três vezes cinco dá quinze, mais um da dezesseis. Dividido por dois, o próprio oito... — refletiu por um instante e me olhou sorridente. — Dá certo, porque dezesseis é par! E mais um que é o casal misterioso, dá nove! Nove casais.

— Fala sério, eu sou um gênio. — claro, porque todo mundo corta mesmo o oito ao meio. Essa seria a resposta da antiga Rose, digo, da Rose normal. Mas... É claro, como eu sou um tapado. — Não mereço nada?

— Um bolo?  — indagou sorridente fazendo o meu sorriso vacilar.

— Oferta tentadora... Mas não. — disse puxando-a para mais um (o último) beijo. Temos que aproveitar as brechas da vida, pode ser a única, ou última, chance.

Sem contar que, depois de um longo dia, eu merecia isso. Ok, eu não esperava, mas merecia.

[SEGUNDA-FEIRA]

— Então... — Colin e Maicon pararam de rir e me fitaram seriamente.

— Não tem graça, pirralhos! — rosnei revirando os olhos. Inventei de contar para os dois sobre o que havia acontecido ontem, o que não foi uma das minhas melhores idéias. — É sério.

— Vai ser sério quando ela voltar ao normal. — disse Colin entregando-me as flechas.

— A porrada vai ser bem louca. — riu Maicon, provavelmente sonhador quanto aos socos que eu levaria

— Falando nela... — um dos dois, ou os dois não sei, apontaram para Rose que vinha segurando sua prancheta. — Já que os dois estão aqui, prestem atenção!

— Scorpius contou que resolvemos a profecia? — perguntou ela, gentilmente, fazendo os dois negarem. — Temos que juntar nove casais. Um desses é sem querer. Então são oito, na verdade sete já que juntamos Lily e Adam.

— Ela voltou ao normal? — perguntou Maicon em um sussurro. Eu neguei com a cabeça. — Então não se acanhem, eu e Colin somos acostumados a ver beijos.

— Calados. — mandei e ele abaixou a cabeça ao lado do parceiro.

— Hoje vocês juntaram um casal MUITO perigoso. Que eu acredito não combinarem, mas os corações... — disse Colin apontando para o telão, onde dava para ver dois corações em Hogwarts novamente.

— Quem? — eu e Rose falamos ao mesmo tempo.

— Lorcan Scamander e... — fez seu famoso suspense para nos falar. Claro, era importante. Eu poderia esfregar na cara que eu que ajudei uma pessoa novamente, e isso era gratificante. — Roxanne Weasley.

— O perigo da relação. — Maicon assentiu. — Acho que sorte é pouco para o que vocês realmente vão precisar.