Legalmente Ruiva escrita por Snapelicious


Capítulo 3
Dois




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Harry Potter tinha um cabelo incrível. Ele era legal em muitas coisas... Mas o cabelo era o melhor.

Lá estava eu, lendo a Marie Clarie de dois meses atrás, na fila do Starbucks esperando meu café, quando as coisas começaram a desandar.

Primeiro, eu tinha esquecido a carteira em casa.

Segundo, isso não fazia diferença porque não tinha nada nela mesmo.

–Ah, sabe de uma coisa? - falei para o atendente mal-humorado, que estendia o café para mim. Não sei se ele estava de mal com a vida por ter um emprego horrível ou por ser obrigado a usar um avental. Talvez os dois – Eu pensei bem, e...

–Garota, não tem desistência – respondeu ele de imediato – Você vai ter que levar.

–Mas eu esqueci a carteira em casa!

–Ah, que pena! - exclamou ele, fingindo pena – Então você vai ter que ligar para alguém trazer ela para você.

–Meu celular meio que... Foi bloqueado.

–Com licença? Vai demorar? - perguntou uma mulher irritadiça, mexendo em seu iPad. Ei, porquê eu não tenho um desses?

–São seis pratas – insistiu o atendente.

–Seis pratas por um cappuccino? - resmunguei – E depois se perguntam porque não pode desistir...

Estava pensando seriamente na possibilidade de sair correndo quando uma nota de vinte dólares passou por meu ombro.

–Isso paga o meu e o da moça – disse Harry Potter, em sua incrível maravilhosidade – Obrigado.

Ele pegou seu café e sair apressado do Starbucks. O segui.

–Ei! Espera! - ele se virou, e eu congelei. Deveria ser proibido ter olhos magnificamente verdes. Poderiam causar acidentes de trânsito. Ele ergueu as sobrancelhas – Você vai pagar vinte pratas por dois cafés?

Ele deu de ombros.

–Situações desesperadas exigem medidas desesperadas.

Ei, essa frase é minha.

Ele se virou e voltou a andar.

–Obrigada! - gritei, e ele apenas acenou com a mão. Murmurei: – Você é uma gracinha.

–Posso te dar uma dica, moça? - Me assustei ao ver um mendigo desdentado parado ao meu lado, olhando para o cara que se afastava – Fale mais alto. Assim ele nunca vai saber.

–Ahn, tá – respondi, franzindo o cenho – Quem é você?

–Eu sou O Criador – ele respondeu, abrindo os braços, liberando o fedor de vários anos acumulado do seu sovaco – Sou o espírito. Sou a luz da geladeira. Sou Deus.

–Tá bom então – falei, e calmamente bebericando meu café, voltei para casa.

–Ok, conta de novo – ela pediu, e eu revirei os olhos.

–Mione, eu já te contei umas três vezes – respondi, e depois ri – Eu acho que você está interessada nesse mendigo. Eu posso te arranjar o endereço dele. Se é que ele tem um...

Hermione me olhou como se eu fosse doida e sentou-se ao meu lado no sofá.

–Ah, é que, sei lá... - falou – Esse cara parece meio estranho...

–Estranho? Ele é lindo, desconhecido e ainda me pagou um café. Eu vou é casar com ele.

–Ele pode ser gay – disse ela, se arriando da minha cara.

–Tipo o McLaggen? - revidei, e imediatamente percebi que tinha feito a coisa errada – Ah, qual é!

Hermione chorava.

–Esse cara te deixou há uma ano – continuei – Ele é um... Estrupício. Um mongoloide sem coração – ela deu uma risadinha – Fala sério, você é gata demais para ficar sozinha. Eu podia te arranjar um namorado!

–Ah, é. Que nem o Bob Bobo? - disse ela, lembrando de um ex-chefe meu. “Bobo” era o apelido que demos a ele, quando o mesmo vomitou na sopa de Hermione em uma festa da empresa.

–Ah... - pensei um pouco – Ah! Você pode se casar com o Ronald...

–O QUÊ? - berrou ela, me assustando. Ela se levantou de um salto – Isso é completamente insano! Ele é legal, mas eu nunca pensaria nele desse jeito... E ele é seu irmão! Como você pode falar isso?

Eu ri.

–Ele está atrás de mim, não está? - perguntou ela, e eu ri mais ainda. Mione se virou para conferir, mas não havia mais nenhum ruivo naquele apartamento – O que foi?

–Eu estava falando... - falei, por entre as risadas – Do Ronald... McDonald...

Eu nunca vi uma pessoa tão vermelha.

–Bem, eu pensei que... - gaguejou ela – Já que ele... Ah, vai te catar!

Ela jogou uma almofada em mim, e eu parei de rir.

–Você anda pensando muito no Rony – brinquei, e ela me olhou com seu olhar número 22: “Se prepare, vou te matar”. - Tô brincando. Então, o que temos para hoje?

Eu vou almoçar com Lilá – respondeu ela – E você vai para aquela entrevista de emprego.

Caí pra trás no sofá, me fingindo de morta.

–Você vai nessa entrevista – sentenciou ela – Lembre-se da sua conta.

Dobrei meu esforço em parecer morta, até caindo do sofá. Antes que você pergunte, sim, aquilo doeu. Mas eu sou uma ótima atriz.

–Como eu aguento ela? - se perguntou Hermione, saindo da sala.

Acho que fiquei no chão por um bom tempo.

–Virgínia Weasley – chamou a secretária.

Era um lugar charmoso, a Successful Savings. Eu, como jornalista, adoraria trabalhar aqui. Eu, como especialista em moda... Irk.

–É Ginevra – corrigi, ao passar pela secretária. Ela me encarou estranhamente.

–Pois não devia.

Respirei fundo e a acompanhei até a sala do editor.

–Ele chega em um momento – disse, ao sair, fechando a porta. Me sentei na dura cadeira na frente da mesa. O que era um alívio, pois meus pés estavam me matando. Olhei pela porta de vidro, mas não vi ninguém por perto. Comecei a remexer meu pé dentro do salto (tive usar um antigo, por causa de... Bem, você sabe), mas não adiantava em nada. Continuava apertado.

Definitivamente, aquele não era meu dia. Quase não consegui táxi, e ainda escolhera as piores roupas. Queria parecer séria, só que meu vestido “Parecer Séria Número 3” não servia muito bem. Lembro que o comprara sem experimentar, pois era o último daquela loja.

Estiquei o braço até o salto, a fim de ajeitá-lo, e foi com um desespero que eu ouvi um som que todas as mulheres temem ouvir: de rasgo. Fiquei ereta rapidamente, ouvindo outro som de rasgo. Olhei para meu vestido, e quase morri do coração.

Eu nunca tinha passado por isso. Era uma coisa meio impossível de acontecer, já que eu sempre comprava roupas novas, mas tinha alguém lá no alto que não ia com a minha cara.

As costas do meu vestido preto social rasgaram, fazendo um buraco do tamanho das minhas costas. Meu sutiã velho de oncinha aparecia. Meu vestido terminava um pouco acima dos joelhos, e costura ao lado tinha aberto, quase chegando ao meu quadril.

–Porcaria! - exclamei baixinho, me levantando e indo para um canto da sala, longe da porta de vidro e da secretária idiota – Só me faltava essa...

Eu estava completamente ferrada. Meu lindo vestido Chanel tinha se transformado em de prostituta, e meus pés começavam a inchar, por causa do meu scarpin. Fiquei de um pé só e arranquei um deles com uma força desnecessária. O sapato voou de minha mão, no exato momento em que a porta abriu.


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