Legalmente Ruiva escrita por Snapelicious


Capítulo 2
Um




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Acho que sou a única pessoa do mundo que consegue ser seduzida por uma bota.

Meu nome é Ginevra Molly Weasley, talvez porque meus pais perderam uma aposta, ou simplesmente porque me odeiam. Então me chame de Ginny. E essa é minha história.

Eu tinha um problema. Um problema milionário.

Eu amo moda. Amo ter tudo que está na moda. Amo estar sempre carregada de sacolas e vestir roupas novas. Isso é o problema.

Quando recebi aquele aviso, não sabia que meu vício tinha tomado proporções tão gigantescas. E o meu banco não gostava nada disso, muito menos Draco Malfoy.

Você já foi perseguida por um loiro muito lindo, com um emprego bom, e, bem, lindo pra caramba? Não? Sorte a sua. Ou ele está de olho na sua bunda ou quer tirar algo de você. E eu tive a infelicidade de ser a segunda opção.

Uma conta de 19 mil dólares.

Por causa dessa mísera dívida, minha vida ficou de cabeça para baixo.

Dei uma espiada na fila na minha frente e quase desisti. Sabia que Hermione e Rony me matariam, e que eu não tinha escolha. Ter, tinha, mas não queria ficar vendendo pamonha pelo resto da vida.

Me surpreendo como a maioria das pessoas desse planeta não sabe absolutamente nada sobre moda. Isso é um absurdo. Quem em sã consciência misturaria um cardigan azul marinho com um salto Di Marni preto? Heloo! Está acontecendo um insulto á humanidade aqui!

–Ginevra Weasley? - perguntou a mulher magérrima, sentada atrás de uma grande mesa de mogno, olhando fixamente para o computador – Sou Marla Mahogany. Sente-se, por favor.

Finalmente, alguma gentileza! Tive que ficar duas horas em uma fila, e meus saltos estavam me matando. Eu realmente deveria ter comprado o com meia-pata... Eu vejo isso depois.

–Então, há quanto tempo está no ramo financeiro? - perguntou ela, me encarando intimidadoramente.

–Bem... Desde que eu entrei nessa sala! - exclamei, rindo, mas percebi que não teve graça e parei – Quero dizer, dessa compania. Estou no ramo há muito tempo.

–Já trabalhou onde? - perguntou Srta. Mahogany.

–Em uma loja de roupas, em uma lanchonete, locadora de vídeos... - falei, contando nos dedos – Ah, e também na Wilf Projects.

Ela pareceu impressionada. Ah, fala sério, ela só ficou assim porque era mentira! Caramba, eu trabalhei no Bob's! Porquê ninguém leva o Bob's em consideração? Poxa...

–Você acha que tem perfil para trabalhar na Queen's Finances? - perguntou Srta. Mahogany.

–Ah, claro – respondi, animada com a pergunta – Eu comprei esse jeans anteontem, só para essa entrevista. Acredito que a aparência signifique tudo na hora de arranjar clientes. Eu podia fazer uma grande diferença nessa empresa. Ah, e eu tenho uma echarpe que combinaria perfeitamente com seus olhos.

Marla piscou, confusa.

–No seu currículo – coomeçou ela, cautelosa – Você diz que fala francês.

–Ahn, ouí! - falei, sorrindo e tentando parecer confiante.

–Pourquoi pensez-vous que mérite ce travail?*

Hum... Ouí!

Marla Mahogany nada disse.

–Eu sou um fracasso – resmungava, com a boca cheia de sorvete e os olhos cheios de lágrimas – Eu não mereço nem as meias que uso!

–Não diz isso! - falou Mione, com uma expressão solidária, sentada ao meu lado no tapete.

Ao sair da Queen's Finances, quase não segurei as lágrimas até chegar em casa. Tinha estragado a última chance que eu tinha de ter uma vida boa. Já procurara emprego por toda Manhattan, e conseguira estragar todas as entrevistas.New York toda já conhecia a estúpida Ginny Weasley.

Lá estava eu, sentada naquele tapete felpudo e cor-de-rosa de mil e duzentos dólares, de pijamas e meias, enrolada em um cobertor felpudo e com um cabelo digno de Michael Jackson.

–Mione – chamei, engolindo o sorvete rapidamente – AH! AH! CONGELAMENTO DE CÉREBRO! Ah, passou. Mione, o que é que eu vou fazer agora?

Ela me olhou tristemente, e eu soube que ela não sabia. E quando Hermione Granger não sabe alguma coisa, é sinal que... Que... Eu sei lá, isso nunca aconteceu antes.

–Eu posso falar com Rony – disse ela, desanimada – Ele têm muitos amigos, pode te arranjar uma entrevista...

–NÃO! - gritei – Não quero nada que venha daquele ruivo... Ruivo... Qual expressão que usamos quando queremos ofender um ruivo?

–De farmácia? - sugeriu ela, franzindo o cenho.

–Daquele ruivo de farmácia! - falei – Ih, pegou bem!

–Ginny, vocês são irmãos – disse Mione, em um tom parecido com o que se ensina crianças estúpidas que o B vem depois do A.

–Meu Deus – murmurei, pasma – Isso quer dizer... Que eu sou ruiva de farmácia também!

Comecei a chorar novamente, e me joguei para o lado, encolhendo-me no chão.

–Ah, por Deus! - reclamou Hermione.

–O que tá pegando aqui? - veio uma voz conhecida da porta de entrada.

–RONY! - exclamou Hermione, se levantando e limpando os resquícios de chocolate da parte de trás da calça – Me ajuda, sua irmã pirou na batatinha!

–O que aconteceu, Ginny? - perguntou Rony, se aproximando.

–Minha vida é uma mentira! - gritei, e ele pareceu assustado.

–O quê? Por quê?

–Não somos ruivos de verdade! - respondi, ainda chorando – Você sabia disso?

Rony Weasley piscou confuso, e depois olhou para Hermione, que deu de ombros.

–Não me pergunte, também não sei.

–Olha, Ginny, só porque uma coisa não deu certo em sua vida, não quer dizer que ela está acabada – começou ele, se ajoelhando na minha frente – Você só tem que seguir em frente, que uma hora esse esforço todo vai valer a pena.

–Você andou lendo livros de auto-ajuda? - perguntei.

–Talvez. Mas a questão não é essa. Você tem que se arrumar, colocar um salto e ir procurar emprego. Essa é a primeira coisa que deve fazer.

–Vocês andaram lendo o mesmo livro de auto-ajuda? - perguntei – Porquê Hermione me disse exatamente a mesma coisa hoje de manhã, e olha onde eu fui parar.

Hermione revirou os olhos e foi para a cozinha, enquanto Rony suspirava.

–Não pode deixar uma simples entrevista de emprego fracassada definir o seu futuro – disse ele.

–Eu... Espera aí. Como você sabe que eu tive uma entrevista de emprego que foi por água abaixo?

–Eu... - começou ele, cauteloso – Digamos que a notícia meio que se espalhou.

Voltei a chorar.

–Ah, fala sério! - reclamou ele, sentando ao meu lado, com as costas no sofá – Pára de chorar! Isso não vai resolver nada.

–Hum... Rony? - chamei, depois de alguns segundos – Você por acaso tem dezenove mil pra me emprestar?

Ele riu por uns segundos, mas percebeu que eu estava séria.

–Eu... - Rony olhou para Hermione, que estava escostada no batente da porta. Ela confirmou com a cabeça – Ginny, porquê você precisa de dezenove mil?

–Eu meio que... - comecei – Comprei algumas coisinhas...

–Você gastou 19 mil dólares em “coisinhas”? - perguntou ele, pálido. Eu não respondi – Ok. Vou fazer uma ligação.

Ele foi até a escada de incêndio, e eu e Hermione o observamos enquanto ele falava no celular.

–O que diabos ele está fazendo? - perguntei. Hermione suspirou.

–Salvando a sua vida.

Naquele momento eu não fazia ideia de que meu irmão estava ligando para o cara mais fantástico que eu já conhecera em toda minha vida. O cara por quem eu consegui me apaixonar, e depois estragar tudo.

Um monte de vezes, na verdade.

Senhoras e senhores, Harry Potter.


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Notas finais do capítulo

*Porquê você acha que merece esse trabalho?