Bipolar escrita por UnknownName


Capítulo 2
Mais um pouco de história




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─ Viado! ─ Já comecei o dia bem, caído no chão da entrada da escola, um cara não muito mais alto que eu à minha frente.

─ Qual o seu problema?! ─ Passei a mão na minha bochecha, dolorida pelo soco recebido.

─ Não finge que não sabe! ─ Ele atirou um caderno em mim. O abri, estava com quase todas as folhas rasgadas ou amassadas, e um recadinho nada amigável no final. Era a minha letra.

Ótimo. Um dos caras mais perigosos da escola, e "eu" tinha destruído todas as suas anotações e lições de casa, sendo que ele estava com nota baixa e tinha trabalhado durante um mês para fazer as anotações perfeitas e pedir ajuda para outras pessoas(sim, por incrível que pareça o valentão tinha trabalhado duro dessa vez).

─ Você tem uma semana pra comprar um caderno novo e reescrever cada página que você estragou. ─ Não protestei. Eu tinha mesmo que o fazer. ─ Você é muito sem noção. Faça algo assim de novo e vai sair com muito mais que um soco no rosto.

O colégio todo estava contra mim novamente. Os olhares se voltavam para mim, quase todos de decepção ou ódio.

Ana me ajudou a levantar, comigo ainda tonto.

─ O que você foi fazer, hein? ─ Ela suspirou, sentando-se em um banco ao lado.

─ Não sou eu, você sabe disso... ─ Coloquei a mão no pescoço, que doía um pouco. Essa dor sempre ocorria, principalmente quando eu estava prestes a trocar de personalidade ou ficava muito estressado em relação à esse assunto.

─ Não deixa de ser você. Mesmo que seja uma de suas personalidades, é você, você querendo ou não. ─ Ela insistiu.

─ NÃO SOU EU! ESSA PESSOA NÃO FAZ PARTE DE MIM! ─ Me descontrolei por um segundo. Rapidamente, quando percebi, respirei fundo e me acalmei. Sempre que fico muito bravo "coisas ruins" acontecem.

─ Vamos para a aula, Nick. ─ Ela me dá um tapa nas costas. ─ Estamos atrasados.

E seguimos até o dito cujo local. Levei uma marcação no meu histórico escolar, mas tudo bem.

Eu tinha raiva daquelas pessoas que conseguiam girar as canetas nos dedos. Eu tentava, tentava, mas elas sempre voavam longe. Enquanto não prestando atenção na aula, já que era a revisão de um assunto que eu já sabia, eu treinava esse "esporte"(Isso pode ser chamado de esporte? Qual o nome?) com a minha mão direita e com a esquerda eu fazia as anotações da aula, aproveitando a revisão para recuperar o caderno do cara de mais cedo.

Era sexta feira, pelo menos. Eu teria uma aula de futebol às 3 horas, pretendia terminar de arrumar tudo até sábado e teria o domingo livre.

No caminho de volta para casa, o qual Ana fazia junto comigo, lembrei da primeira vez que tinha realmente trocado de personalidade. Eu tinha 13 anos na época...

Estava chovendo naquele dia, clássico. Eu tinha me irritado com a minha mãe. Não lembro exatamente o porquê, mas não era uma besteira qualquer.

Eu estava parado, ouvindo a bronca da minha mãe. Normalmente eu simplesmente ouviria, calmo, pois sabia que era certo. Eu sabia que tinha feito coisa errada, e merecia aquilo, então não reclamava. Mas daquela vez eu explodi.

A primeira coisa que o meu outro eu fez foi chutar uma mesinha que estava ao meu lado, e que tinha um vaso caro sobre a mesma. Obviamente, o objeto se espatifou no chão e foi separado em dezenas de pedaços.

Meu pai estava ao lado. Ele ficou furioso. Levantou a mão para mim e, antes que eu levasse um tapa, o segurei e dei-lhe um golpe no rosto. Fez meu pai sangrar (ah, eu sei disso tudo porque minha mãe me contou).

"Despertei". Olhei para frente e vi o que tinha causado. Quase que imediatamente lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. O olhar chocado da minha mãe, o rosto do meu pai sangrando, meus punhos com este mesmo sangue.

─ Me desculpa, pai... M-Me desculpa mãe... Me desculpa! Me desculpa! Eu não fiz por querer! ─ Dei dois passos pra trás e cortei meu pé com um pedaço do vaso que tinha derrubado não muito tempo atrás (eu estava descalço). Naquele momento mal senti a dor, apenas saí correndo, atravessei a porta e, sem ligar para a chuva, sentei no quintal de casa, apoiado na parede que separava o nível da grama do nível da casa, mais ou menos um metro acima, coloquei a cabeça entre os joelhos e chorei como nunca antes. Meus pais gritavam da porta para que eu entrasse. Não bravos, mas preocupados.

Lembro-me que fiquei lá quase uma hora, até que meu pé realmente começou a doer, e eu entrei em casa correndo, diretamente pro meu quarto.

Certamente essa é uma de minhas piores lembranças.

─ Ei, você está me ouvindo?! ─ Ana me chacoalhou.

─ Na verdade não... ─ Fiz um sorriso "inocente".

─ Me ouça! ─ Ela bateu o pé e fez um biquinho irritado. Não pude deixar de rir. ─ Enfim, domingo vai ter uma feira de livros aqui perto. Como eu sei que você ama ler, e eu também, nós poderíamos ir lá. O que acha?

─ Com certeza. ─ Concordei imediatamente. Ela me conhecia muito bem.

Cheguei em casa, dei um oi pra minha mãe, e subi até o meu quarto. Crow abriu suas asas, feliz, ao me ver.

Sim, eu tinha um corvo de estimação. Quando eu era criança, eu queria um papagaio, mas minha mãe disse que era muito caro e me deu um corvo, afirmando que era melhor ainda (só que, na verdade, no final, tivemos que pagar uma licença para o IBAMA). Ela havia o encontrado, junto ao meu pai, próximo à um lixo, ainda filhote, quase sem pena nenhuma, e machucado. Eu reclamei, dizendo que um corvo não falava, mas ela afirmava que sim. Nós o criamos e ele ficou grande e forte, super apegado à mim. Bom, o Crow não fala, mas é super inteligente e é meu melhor amigo. Corvos normalmente são símbolo de morte, ou de má sorte, mas ele era e é uma gracinha. Sabia que corvos vivem, em média, de 50 até 70 anos?

Abri sua gaiola e o coloquei em meu dedo. Não, ele não tinha as penas das asas cortadas nem nada do tipo, eu apenas confiava nele e ele em mim. Nunca fui machucado pelo Crow, também.

─ Como foi o seu dia? ─ O coloquei sobre a mesinha do computador, que ficava do lado da minha cama. Ele apenas balança a cabeça e faz um som característico de um corvo.

O animal bateu com o bico em cima da mesa, sabendo que na gaveta da mesma eu guardava uns biscoitos que ele gostava. Eram biscoitos que eu mesmo fizera, alguns feitos de sementes e outros de carne de frango.

O acariciei e entreguei o que tanto queria, antes de sentar na cadeira ao meu lado e ligar o computador. A janela estava aberta, por causa do calor, mas eu sabia que ele não iria escapar. Se estiver fora da gaiola e eu me afastar, ele vira até mim. O Crow é incrível, e não me canso de repetir isso.

─ Uaaaaaaah! ─ Bocejei. ─ Ei, Crow, adivinha só: A Ana me convidou para ir na feira de livros com ela! ─ Apoiei a cabeça na mesa, sorrindo,

Ele apenas grasnou e virou a cabeça.

─ É... Vamos passar um dia inteiro juntos! ─ Fiquei sonhando acordado, olhando para o nada. ─ Você vai ver, um dia eu vou me curar, daí eu vou pedir ela em namoro! É uma promessa!

Aproximei meu dedo de seu... pé... pata... sei lá... Enfim, ele agarrou meu dedo com o pé (ou seja lá o que for) e demos algo como um aperto de mãos. "Eu definitivamente vou me curar!", pensei.




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Notas finais do capítulo

Reviews? ^^