Charlotte Le Fay - Herdeira De Voldemort escrita por DudaGonçalves


Capítulo 19
Pelo Menos Esse Ano Será Mais Interessante...


Notas iniciais do capítulo

Olá galerinha!! Curtiram muito o Carnaval ou foram igual a mim e se esconderam a semana inteira no quarto do pânico?
Não vou falar mais.. tenham uma boa leitura!!
PS: EU GOSTARIA QUE TODOS LESSEM AS NOTAS FINAIS EM QUE EXPLICO COMO TUDO OCORRERA DAQUI PARA FRENTE.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/303249/chapter/19

No dia 1º acordei, como sempre, com uma barulheira no quarto ao lado do meu, ou seja, o quarto de Thomás, que sempre se esquecia de colocar milhares de coisas importantes dentro do seu malão e sempre precisava da ajuda de Carla para resolver e o que levar e descobrir onde ele havia escondido tudo, e no fim ambos acabavam discutindo.

Levantei estalando os pés e o pescoço que estavam estranhamente tensos. Estalei os dedos enquanto ia para o banheiro, agora era só meu. Como desejado minha cama se arrumou e meu malão se instalou em cima dela com suavidade. Tomei um banho rápido e coloquei uma roupa simples – calça, bota curta de couro de dragão (cortesia Malfoy) e o moletom da Sonserina de Hogwarts. Enquanto pensava no que ia levar além do material escolar, uniformes e sapatos, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo. Desejava ter ido a Borgin e Burkes antes de voltar a Hogwarts, mas agora era muito tarde, teria que adiar por mais um ano ou talvez poderia ir no Natal...

–Pack! – os objetos que queria levar saíram de seus lugares e foram levitando para dentro do malão, que ao final se fechou, pronto para ser levado.

Levitei o malão para o andar de baixo perto da porta de entrada e fui até a cozinha onde Gallif preparava um super café da manhã, que Joseph comia com agilidade já que estava atrasado para ir ao trabalho. Carla nos levaria daquela vez, a chance de perder o trem aumentou muito quando percebi isso.

–Bom dia Joseph, como está nesta bela manhã? – perguntei alegre indo até Gallif que colocava biscoitos de chocolate em cima da mesa de jantar, peguei um deles e dei uma mordida só para me lembrar que odiava biscoito, mas como estava feliz mesmo e não queria ter que ouvir novamente o discurso que estava muito magra, e que se alguém do Ministério aparecesse aqui os acusando de não me alimentarem eu iria me arrepender, então comi o biscoito inteiro.

–Atrasado... muito atrasado – ele tomou o último gole do café e limpou a barba com a manga da camisa, nojento. – Vê se não arranja problemas esse ano, se eu receber mais uma carta falando que você desmaiou, eu te mando para o colégio bruxo lá no Brasil, bem longe da gente! E avise se vai ou não passar as férias de Natal por aqui.

–Claro, tenha um ano agradável – disse aquilo e vi Joseph ir embora com passos largos.

Quando ele foi embora depois de ter esbarrado no meu malão, pelos resmungos dele e o barulho estranho presumi isso, Gallif apareceu com duas maçãs muito vermelhas para mim, dei um sorriso para ela e comi a primeira com menos de cinco mordidas.

Thomás apareceu como um vulto, ele pegou quatro biscoitos e voltou a subir as escadas. Carla se sentou e comeu como uma dama. E eu fiquei conversando com Gallif.

Quando o malão de Thomás ficou pronto estávamos muito atrasados e Carla teve que nos levar aparatando, me senti extremamente desconfortável com a mão dela na minha. Ela aparatou em um beco próximo a entrada da Estação.

–Estou muito atrasada, vou ir trabalhar e vocês vão para a plataforma! Não quero saber de atrasos e nada de magia até embarcarem – Carla melhorou o inglês em mais de setenta por cento desde a última vez que nos falamos, ou seja, quando acabei atacando Joseph e ela para conseguir as minhas cartas.

A morena beijou o seu filhote nas duas bochechas e me deu um breve sorriso, muito breve. Ajeitou a saia negra que ia até os joelhos, e falou as suas últimas palavras diretamente para mim.

–Comporte-se, nada de cartas de Dumbledore sobre desmaios ou qualquer outra coisa, não a aceitamos para isso. Honre seu nome – me lembro do olhar severo que ela fez e os passos largos que deferiu no chão com seus saltos finos quando deu a volta e foi-se embora.

Logo depois dela desaparecer entre os trouxas acelerados fomos em direção a Estação King’s Cross ligeiramente atrasados. Thomás tentava conversar comigo, algo que não fazíamos há muito tempo e por isso me senti mais desconfortável ainda... como odiava ter que sociável com as pessoas!

Empurrei meu carrinho o mais rápido que pude com minhas pernas finas e logo Thomás estava bem atrás de mim, e não parecia querer me alcançar, suspirei de alívio, menos um para me irritar. Acho que aquele nervosismo vinha dos meus pensamentos de ter que conviver com Harry Potter por meses a fio.

Enquanto ia em direção as plataformas nove e dez vi duas pessoas entrarem na barreira da plataforma, uma mulher gorda e uma garotinha, as duas muito ruivas e baixinhas. Suspirei, era agora.

Estava bem no meio das plataformas em frente à parede, mesmo já tendo passado pela barreira mais de uma vez senti um comichão no dedão do pé, ainda assim corri em direção a parede empurrando o carrinho com uma ligeira força excessiva, não tinha tempo de ficar nervosa.

Olhei para o expresso de Hogwarts e fui direto para dentro, sem me importar com uma arruaça de garotos perto de um menino moreno da Grifinória ou com um menino que corria para todo canto perguntando se alguém viu seu sapo... tenho quase certeza que deve ser o mesmo da loja de animais.

Cheguei perto da entrada da locomotiva e me lembrei que havia esquecido de colocar um feitiço para a mala ficar mais leve e não poderia fazer agora em frente a tantas pessoas, droga! Não havia nada que podia piorar o meu dia.

Foi aí que um par de mãos levantou meu malão com pouca dificuldade, lá no fundo minha mente começou a cutucar um nervo dando idéias terríveis de quem aquelas mãos brancas pertenciam, e dei sorte de estar errada.

–Olá Charlie! Você não respondeu nossa última carta... estava conversando com uma cobra? – olhei para cima e vi, sem ter tanta certeza se era ou não, Jorge Weasley. Mal ele sabia que eu realmente tinha conversado com uma cobra nas férias.

–Claro que não! Ela estava planejando um jeito de ganhar da gente esse ano no quadribol, mas esse ano a Sonserina vai cair – vi então o outro gêmeo Weasley, Fred.

–Olá meninos! Na realidade estava planejando uma maneira de fazer vocês dois engolirem do próprio veneno nessas brincadeirinhas, e tenho muitos planos bons... – dei minha melhor cara de Lady das Trevas para os dois. Realmente estava nervosa, tinha que me controlar – Valeu pelo malão! Tenho que achar um vagão, depois a gente se encontra, sim?!

Um deles ia reclamar quando uma voz feminina os chamou “Fred! Jorge! Parem de fugir e venham dar tchau para sua família!”. Virei para ver uma parte da família Weasley, a mãe, que era a mulher gordinha que vi entrar na plataforma, a menininha, irmã dos gêmeos, Percy, o irmão mais velho e um ruivinho desengonçado com algo estranho no nariz que eu não sabia o nome... me lembrei brevemente que havia mais dois filhos, Carlinhos que conheci ano passado e era o capitão do time de quadribol e fugiu no meio do seu último ano para cuidar de dragões (o que me fez adorar ele, porque tínhamos o interesse mutuo em dragões, criaturas muito mal vistas pela sociedade bruxa)

Andei pelos corredores para encontrar só vagões lotados, incluindo alguns com conhecidos que acenaram alegremente e iam me chamar para entrar, saia rapidamente de perto quando isso acontecia. No final achei apenas um vagão quase vazio se não fosse por um garoto escondido na cortina espiando algo do lado de fora. Entrei calmamente enquanto o garoto se virava.

–Olá! Me perdoe, mas terei que sentar aqui com você já que todos os vagões estão lotados – disse quando colocava meu malão no compartimento em cima do assento contrário ao do garoto.

–Tudo bem – reconheci a voz no mesmo momento em que a ouvi, esqueci do que estava fazendo e o malão escorregou entre meus dedos e estava prestes a cair em cima de mim. Consegui agarrá-lo um pouco antes de ele entrar em queda e o coloquei de volta no lugar aonde deveria estar.

Quando terminei me virei para Harry Potter, que parecia muito emocionado com o mundo novo que havia descoberto.

–Olá! Harry, certo? Harry Potter? – ele acenou meio corado, parece que muitas pessoas já sabiam quem ele era agora. – Nos conhecemos no Beco Diagonal...

–Sim, você é Charlotte, certo? Le Fay? – confirmei. –Sua família era seguidora de Voldemort...

Nossa! Começaríamos logo com esse assunto? Ah, que se dane! Era bom que aí descobriria logo se Harry Potter seria ou não alguém próximo de mim.

–Pois é... eu esqueci de contar alguns detalhes sobre isso. São bem sigilosos e eu tenho medo e vergonha de contar para as pessoas sobre isso, mas sei que você merece saber e por isso espero que você me entenda.

–O que foi? – ele me perguntou estranhando a minha frase incoerente.

Não! Eu tinha prometido que não diria nada até ter a conversa com Dumbledore, e tinha outra razão para não querer contar agora, o menino era muito meigo e gentil, exageradamente na verdade. Estava com receio de destruir esse Harry Potter e deixá-lo mais próximo do que eu sou, frio e sem alma, mas agora que tinha começado eu teria que inventar algo...

–Eu não te disse que meu pai era o seguidor mais fiel de Voldemort, o braço direito. Aquele que Voldemort mais confiava. – ele confirmou com a cabeça, mostrando que havia entendido. – Bem, veja Harry, Voldemort não era do tipo que confiava em ninguém além dele mesmo – dei a dica para ver se Potter entendia. Aguardei pacientemente as geringonças lerdas do cérebro dele funcionarem e ele me mostrar se entendeu ou não.

Era dessa forma que ia acontecer; se Potter entendesse minha dica eu contaria tudo sobre ser Lady das Trevas e adicionava um pouco de vergonha no meio, e se ele não entendesse eu deixaria minha confissão de lado e ainda teria uma desculpa no futuro quando realmente o dissesse que havia tentado antes nesse momento.

–Você esta me dizendo que não podemos ser amigos? Que me odeia? – ele me olhou ressentido. Por debaixo daqueles óculos grossos remendados vi em seus olhos verdes alguma coisa que acendeu uma mentira muito boa na minha mente.

Não sei de onde ele tirou aquela pergunta da mente levando em conta minha dica, mas pelo visto ele não tinha entendido... então estava na hora de deixar aquilo de lado por um tempo.

–Eu odeio a mim mesma por ser quem sou, odeio Voldemort por ter matado muitas pessoas e ter destruído a minha vida. Não posso te odiar sendo que você nos livrou de um monstro, tentando se proteger, claro! Sei que você pensa que todos que são da Sonserina são pessoas ruins e agora que sabe que realmente grande parte de quem estuda lá tem algum vínculo com um Comensal do... de Voldemort – quase disse “do meu pai”, essa foi raspando... –, mas existem exceções e eu não quero ser sua inimiga, de longe prefiro ser sua amiga, que tal? - fingi estar esperançosa, talvez até estivesse levando em conta que precisava ficar próxima de Potter para protegê-lo já que pelo que entendi ele era necessário para o retorno do meu pai.

Harry Potter me olhou, estava pensando muito no que dizer, assim como eu pensei. Só que eu demoro dois segundos e ele dois minutos para formular uma frase... Ele se remexeu quando teve seu veredicto final, me olhou profundamente e disse em alto e bom som.

–Não posso ter uma opinião sobre você se não te conheço... só sei que pela regra deveríamos ser inimigos, mas não quero ter inimigos, e não te quero como inimiga. Quem sabe quando eu te conhecer melhor?

Aceitei a proposta dele e ri por dentro me recordando que fora praticamente isso que disse à Narcisa, sabia que não seria tão fácil me aproximar de Potter e que demoraria, por isso comecei a conversar com ele sobre Hogwarts e coisas banais assim ele veria que sou uma pessoa “boa”. Logo depois da nossa conversa o irmão desengonçado dos gêmeos entrou no vagão perguntando se podia se sentar, como eu queria ir embora logo dali disse que deixaria os dois.

Fui andando até encontrar o meu grupo predileto, eles pareciam muito felizes e sociáveis naquele dia, bufei com aquilo, estava ainda mais nervosa depois de ter falado com Potter. Entrei e todos me cumprimentaram.

–Charlie, como foram as férias? – Hugh me perguntou, ele era o único dos meninos que mal falava alguma coisa, sempre estava na dele. Mas era o mais inteligente, nós dois disputávamos quem recebia mais pontos respondendo os professores durante as aulas e tirava melhores notar... Lembro que me cansei daquilo e fiz com que Ali fosse o nome foco competitivo dele já que as notas dela eram superiores até as minhas grande parte dos anos que passei em Hogwarts por culpa de tudo que tinha em minha mente.

–Ótimas na verdade. Fiquei mais em casa e por isso talvez não tenha aproveitado tanto, mas ainda assim – sempre que era vaga eles simplesmente deixavam para lá e começavam a conversar sobre outro assunto e de vez em quando eu comentava alguma coisa, era por isso que adorava ficar com eles. E naquele momento minha mente estava presa na conversa que tive com Harry Potter, nas cartas de Dumbledore e de Narcisa.

O que eu mais fazia desde que nasci é mentir, mentia para meus primos e para meus amigos, mentia para a sociedade e para mim mesma.

Às vezes me sentia mal com algumas mentiras, outras quase acreditava que eram verdades, algumas eram necessárias e outras eram só para não perder o costume. A que havia dito a Hugh seria mais uma para o último grupo de mentiras, não vi motivo para ter mentido, mas ainda assim eu menti. Naquele dia eu havia mentido mais vezes do que podia contar e não me arrependi de nenhuma delas até ter dito aquela mentirinha. Realmente mesmo não tendo a alma corrompida por uma morte como meu pai, ela já era bem corrompida... contaminada pelas trevas.

As férias não me ajudaram em nada a recarregar as forças para esse ano, precisaria da eternidade para aguentar tudo aquilo tão bem, e as férias só serviram para sobrecarregar mais ainda minha mente e meu corpo.

Mas eu era Charlotte Le Fay, a última senhora das Fadas e das Trevas, eu era a junção de pequenos pedaços de coisas ruins que ninguém queria que existisse; eu era a mentira, o ódio, o medo, a dor, o ressentimento.

Com esse pensamento voltei a conversar com meus amiguinhos. Até um garoto com as vestes do primeiro ano que parecia ser velho demais para ser do primeiro ano entrou no nosso vagão.

–Segundo ano Sonser-ri-ina, cer-r-to? – Reconheci o sotaque dele de puxar o “R”. Ele era de algum lugar para o Norte, talvez Bulgária ou talvez fosse gago ou talvez fosse tímido, poderia ser os três também.

–Sim, é aqui mesmo – Ali disse, mas fora Jenn que deu um sorriso para ele bem charmoso, tinha que ser ela a primeira já que Ali ainda estava se recuperando da perda daquele amigo trouxa de infância.

O garoto deu um sorriso para a loira, ele com certeza não era tão novo assim... parecia ser até mais velho que nós.

–Sou Kieran Shandar, nasci na Bulgári-ri-a... vou estudar com vocês a parr-tir desse ano – ele tinha um vozeirão, mas as vezes tinha que repetir as sílabas que tinham “R”.

–Você repetiu, não foi? – Ali, como sempre, foi a que fez a pergunta que ninguém tinha coragem de perguntar, mas que todos estavam pensando.

–Na verdade não, o que houve foi bem pio-r – ele ficou quieto depois disso, parecia que ele não queria chamar tanta a atenção, parecia comigo.

–Bem sente-se novo colega! – Philip levantou as mãos alegre, ele sentia falta de alguém que também fosse estrangeiro no grupo.

Kieran sentou do meu lado e ficou olhando para frente, não para Jenn, mas para o chão como se não quisesse mesmo falar.

Eu agradeci ele ter aparecido e as meninas terem gostado dele, agora teríamos um assunto para todo o ano no caso que elas começassem a falar de Harry Potter, o novato do nosso grupo que era bonitão. Percebi que entre nós apenas Marie não o achou interessante, ela ficou o avaliando e fez uma pequena careta, ela não gostou dele assim como não gostou do Lucian. Mas Lucian tinha total sentido, ele escondia algo, agora esse daí...

O búlgaro tinha pele morena e cabelos negros bem aparados, o maxilar quadrado e forte, a orelha dele era bem bonitinha, mas o resto não tive tempo de olhar já que todo mundo voltou a conversar e ele entrou na conversa assim como eu. Ele era muito frio e sério, e foi aí que Marie finalmente fingiu saber da existência dele.

Pelo menos aquele ano seria muito mais interessante do que o anterior...

Só tive tempo para pensar quando todos os meus amigos foram comprar doces com a velhinha do carrinho de doces. Como todos tinham ido menos eu, que não sentia fome nem nada só um formigamento na sola do pé, meu cérebro viajou até a conversa que tive com Potter.

Será que eu tinha feito uma boa escolha não tendo contado para ele agora? Sabia que aquela mentira era mais difícil de se calar, mais ainda assim conseguiria eu guardá-la por algumas semanas a mais. Será que três dias faria diferença na forma como ele agiria? Talvez ele ficasse mais bravo por ter escondido isso alguns dias a mais, ou talvez nem ligasse e ele me odiasse ou me aceitasse da mesma forma...

Por que meu pai não ressurgia logo e matava o menino? Aí todos esses dilemas sumiriam como palavras escritas na areia levadas pelo mar. Mas pelo jeito terei que ficar cuidando do pirralho de todas as tentativas de assassinato que ele vai receber.

–Quer um sapo de menta, Charlie? – Philip me tirou dos meus pensamentos, todos já haviam se sentado. Eu estava na dúvida mortal se tinha feito a escolha certa de não ter contado para o Potter, eu achava que aquilo fora o melhor, mas ainda assim queria enfiar aquele sapo na garganta do francesinho e vê-lo engasgar até a morte!

–Não, muito obrigada. Estou sem fome – sorri para ele e me levantei, não conseguiria ficar perto de ninguém sem ficar com vontade de matá-lo. – Vou passear um pouco, acho que estou enjoando.

–Eu vou com você! – Marie falou alto já se levantando, me virei para vê-la quando passei para o corredor.

–Quero ficar sozinha, se divirtam aí – fechei a porta de vidro, caminhava tranquilamente enquanto minha mente parecia estar dançando flamenco de tão agitada. Acho que fui muito grossa com eles, depois resolvo isso...

Não sei como aconteceu, mas quando olhei para uma cabine vi que estava vazia, o que era tecnicamente impossível já que se você não chegasse cedo teria que ir no chão de uma cabine juntos com mais três pessoas e com o seu malão na cabeça. Sem me importar com a lógica entrei no pequeno cômodo, abaixei as cortinas. Ali ficaria sozinha pelo tempo necessário.

Eu sabia que tinha que ter uma visão, algo me dizia que ela estava prestar a acontecer. Encostei a minha cabeça no descanso do assento e esperei a visão chegar, mas nada aconteceu, algo estava faltando.

Tentei recordar o que queria saber... Harry Potter seria meu amiguinho? Qual seria sua reação quando eu o contasse de quem era filha? Eu consegui fazê-lo acreditar que realmente tenho vergonha de ser filha de Voldemort?

Esperei mais três minutos tentando prever alguma coisa sobre Potter, mas nada aconteceu, fiquei ali deitada como se estivesse dormindo ou morta aguardando uma visão que não vinha, quando meu pé começou a se mexer de aborrecimento resolvi me levantar.

Não me lembro como aconteceu, só percebi que estava perdendo o controle do meu corpo e caindo com a cabeça no assento da cabine quando meu joelho raspou no chão, acho que a leve dor da pele estar sendo rasgada me acordou por alguns segundos, mas logo a visão invadiu a minha mente e não deixou nada entrar no seu caminho.

–Nicolau,você sabe melhor do que ninguém o quanto mal a Pedra Filosofal poderá fazer se Voldemort conseguir pegá-la – ouvi a voz de Dumbledore em algum lugar no meio da total escuridão. – Ele está tentando voltar, ele invadiu o cofre onde a Pedra estava um pouco depois de Harry e Hagrid terem a pegado.

“Soube que Charlotte estava lá no mesmo momento, achei que ter ela por perto me ajudaria, mas sinto que estava errado... ela parece estar mais para o lado de Voldemort.

–Ela tem doze anos Alvo, ainda não podemos culpá-la por estar cega quanto ao que seu pai realmente é, a parte de Voldemort que seria o pai dela está morta há muito tempo e ela perceberá isso. Esconda a Pedra em Hogwarts, bem protegida em seus dedos. Tom tem medo de você até hoje, não tem? – pude ouvir a confirmação de Dumbledore. – Mas como ele está em movimento? Nos últimos anos todos achavam que Voldemort estava morto, eu tive minhas dúvidas porque não houve um sinal dele, só alguns de nós tínhamos total certeza. E agora ele está aqui perto, perto demais devo dizer... Atacar Gringotes! Ele está verdadeiramente desesperado, necessitado.

–Não sei como ele está se mexendo, ele ainda está praticamente morto, não tem corpo nem energia, não entendo... Senti que sua alma ainda estava por aqui, mas não entendo como, como ele poderia estar vivo depois de onze anos? No início achei que a filha dele estivesse o ajudando, só que a vigiei de perto desde o momento que soube da sua existência e nada aconteceu com a garota, nenhuma mágica fora do que imaginava que ela praticaria, nenhuma aparatação além das básicas, mas teve uma que fora para a Casa dos avós trouxas de Tom, por enquanto ela não produziu resultados. Quando tiver tempo voltarei na vila para investigar melhor.

“Ela também visitou os Malfoys, porém não acho que tenha algo próximo com Voldemort, Narcisa era a melhor amiga de Alice e deve ter muitas coisas para contar a Charlotte sobre o assunto.”

–Por falar na sua mais estranha e linda aliada, você ainda tem o bracelete que Alice usava? – Nicolau perguntou com a sua voz velha, rouca e seca como um deserto.

Aliada? Bracelete? Minha mãe era aliada de Dumbledore? Teria que descobrir mais sobre isso urgente, pelo jeito Harriet não ficaria longe por tanto tempo assim.

–Sim, mas Alice tomou providências para que apenas sua filha descobrisse tudo sobre o objeto, com um toque no metal já sou queimado. E este detalhe não veio com os outros feitiços que Morgana colocou nele.

–Você terá que encontrar uma forma de descobrir que feitiço das trevas está nele, meu amigo – Dumbledore murmurou concordando. - Mas e ela e o menino? Acha que serão amigos?

Bracelete com feitiço das trevas da minha mãe? Realmente teria que descobrir mais sobre isso naquela noite.

–Tenho minhas dúvidas. Curiosamente Charlotte me disse querer ser amiga dele, mas no fundo acho que ela sente mais como uma obrigação e não como um desejo, Alice deve ter dito a Narcisa para pedir a Charlotte que ela esperasse para escolher um lado, ela sempre quis que as pessoas tivessem escolha, já que como Le Fay ela não teve.

Ele sabia da história das Le Fays? Minha mãe era realmente amiga de Dumbledore?!

A visão mudou e finalmente eu estava em algum lugar, meus pés bateram de encontro com um chão de pedra meio empoeirado, eu estava em um corredor de pedra e olhava diretamente para um porta de madeira trancada, senti um vento quente vindo por trás de mim e me virei para dar de cara com um cachorro mais alto que o teto, ele tinha três cabeças e cada uma com um par de olhos, focinho, e dentes gigantescos. Não fiquei assustada, já que convivia com um dragão muito maior e mais assustador do que aquele cachorro. O cachorro era mais nojento do que amedrontador, baba amarela e espessa descia da sua boca até o chão.

Obviamente como aquilo era uma visão ele não percebia minha presença, mas percebi que pelas paredes e pela porta atrás de mim que eu estava em Hogwarts. Agora vinha a pergunta de dez milhões de galeões; O QUE UM CACHORRO DE TRÊS CABEÇAS FAZIA NUMA ESCOLA?!

A resposta veio em seguida quando olhei para o chão e vi uma argola de metal para a entrada de um alçapão, logo conclui que se existia um alçapão protegido por um cachorro de três cabeças havia algo muito bem importante para Dumbledore lá dentro e que ele queria que ficasse bem guardado, foi aí que me lembrei da conversa de Dumbledore com Nicolau, antes da parte que realmente me importei, a Pedra Filosofal.

Nicolau havia dito para Dumbledore que se ele desejava deixá-la tão bem protegida era melhor colocá-la bem debaixo do seu nariz, e debaixo do nariz de Dumbledore era em Hogwarts.

Já ouvi falar da tal pedra, ela concedia a vida eterna. Bem, se meu pai queria aquilo eu deveria ajudar, não é? O fato é que não podia deixá-lo matar o Potter, se bem que ele tem a ajuda daquele professor com cara de chorão...

O tempo pareceu andar mais rápido e pular algumas partes porque quando fui olhar o cão estava dormindo ao som de uma harpa encantada que tocava sozinha, sua música fora interrompida por vozes que vinham do corredor.

–O que é isso nos pés dele? – me virei para ver uma menina dentuça de cabelos despenteados entrar na sala junto com Harry Potter e o irmão mais novo dos gêmeos, Remy, se não me engano.

–Parece uma harpa. Snape deve tê-la deixado aí – Remy falou franzindo o nariz sardento.

Snape? Por que diabos Snape iria querer a Pedra Filosofal? A menos que eles soubessem que Snape é um Comensal e achassem que ele ainda trabalhava para Voldemort, o que não estava acontecendo, mas fazia completo sentido.

Voltei à realidade com a minha cabeça doendo da minha queda, incrível como minhas visões eram confortáveis de se ter, não dava para rolar quando eu estava deitadinha?! Não, eu tinha que estar em pé em pleno movimento para cair e rachar a cabeça!

Me sentei por alguns segundos, as veias do minha crânio pareciam que iam estourar mas, como sempre, eu não sentia nenhuma dor. Era engraçado que na maior parte das vezes que já me machuquei jamais senti dor, talvez um susto ou desgosto ou ansiedade, mas nunca dor. Resolvi me levantar quando percebi que a pressão contra o meu cérebro havia passado. Quando me levantei me senti tonta. Esfreguei meu couro cabeludo que, para minha sorte, não estava sangrando.

Caminhei cambaleante pelo corredor com a mão na cabeça, sempre verificando se começasse a sangrar. Como estava meio difícil pensar só tentei voltar para o vagão dos meus amigos... tentei.

–Charlie! –ouvi uma voz na minha frente, minha visão estava denegrida demais para ver quem era, e a voz soou como um eco de um eco de alguém que não conhecia. – Você está bem?

–Tonta, acabei de tropeçar... machuquei a cabeça – disse apontando para o meio do meu crânio. A pessoa tirou a minha mão de cima do machucado, ela tinha a mão delicada, pareceu verificar sem tocar o topo da minha cabeça.

–Está um pouco roxo, mas não tem nenhum corte... vou ver se teve algo interno – pude ouvir o farfalhar das vestes da pessoa, e então um sussurro e uma luz. Era um feitiço.

Minha cabeça começou a parar de latejar e minha visão voltou ao normal, mas não meu equilíbrio, levantei meu olhar para a pessoa que crescia acima de mim fiquei surpresa ao ver os seus cabelos ruivos.

–Jorge? – perguntei meio tonta. – Ou Fred? Desculpe mas estou meio tonta ainda para perceber quem é. Gente vocês realmente são idênticos! Temos que achar uma forma de diferencias vocês dois...

O ruivo riu como se o que eu dissesse fosse uma piada interna, dei uma risadinha por nenhum motivo.

–Você é engraçado... – comentei meio tonta. – Aposto que é o Jorge, não que o Fred não seja engraçado, mas o Jorge tem uma risada mais engraçada.

O garoto voltou a rir, mas dessa vez ele gargalhou e me agarrou pelo ombro.

–Sempre soube que era o irmão mais engraçado! Obrigada Charlie por essa confirmação.

Ufa! Havia acertado. Jamais tinha dado um chute tão duvidoso, mas fiz mais um gol. Olhei para Jorge e vi que ele realmente era o Jorge, que tinha o sorriso mais aberto, olhos maiores e as linhas de riso mais marcadas, e também alguns outros detalhes difíceis de perceber que me ajudavam certas vezes que eles estavam mais parecidos.

Anotei mentalmente que ele havia acabado de fazer um feitiço de cura que não é dos mais fáceis para um garoto normal do terceiro ano fazer. Então Jorge era mais inteligente além das tramóias para tornar Hogwarts um caos e jogar quadribol?!

–Você está bem por falar nisso, foi uma pancada bem feia. Se estivéssemos em Hogwarts seria mais uma vez na ala hospitalar em?!

–Nem fale uma coisa dessas, homem! Mesmo estando desacordada quase todo tempo não aguento nem pensar naquele lugar... estou fazendo meu máximo para não entrar em apuros – até parece!

–Sei... – Jorge falou tentando não rir, até eu acabei dando uma risada e ele também não se conteve. – Por falar em Hogwarts, você viu quem é o mais novo pirralhinho do primeiro ano? – eu neguei com a cabeça mesmo sabendo a resposta.

Ele olhou para os dois lados para garantir que ninguém estava ouvindo, me olhou no fundo dos olhos com os seus arregalados, mesmo que não soubesse a resposta ainda assim acharia mais graça que curiosidade.

–Harry Potter... – ele disse voltando a sua altura normal, confirmando com a cabeça veemente com os olhos ainda arregalados. Dei uma boa gargalhada. - Fred e eu ajudamos ele a carregar o malão.

–Harry Potter? Ele está no primeiro ano? – Jorge continuou com a careta e confirmando veemente. – Talvez eu tenha o visto...

Ouvi uma das portas da cabine se abrir, me virei dando uma risada para encontrar Draco Malfoy na minha frente, ou atrás dependendo do ponto de vista. Ele olhava curioso do Jorge para mim, era realmente tão estranho uma sonserina e um grifinório conversando e rindo?

–Olá Draco! Como vai? – perguntei para o loiro Malfoy, ou melhor o Malfoy, já que as duas palavras são sinônimos.

–Bem, acho. Não pude deixar de ouvir... Harry Potter entrou em Hogwarts? – confirmei.

–Sim, Jorge acabou de me contar – dirigi meu olhar para Jorge que não parecia ter perdido seu humor em dois segundos.

Pude ver o olhar entre os dois e senti frio só de estar entre eles. E meu humor negro de antes resolveu voltar, como sempre tinha me esquecido dos meus problemas quando conversei com um dos meus Weasleys favorito, e essa queda de humor fez todas as descobertas, medos, pontos, e o que eu teria que fazer sobre o assunto voltar a tona no meu cérebro... droga!

–Weasley? – presumiu o loiro e seu rosto se transformou como se aquela palavra fedesse, suspirei, aquele era o sinal que realmente ia rolar uma discussão logo agora, que nem era o primeiro dia de aula.

–Sim, Weasley – Jorge disse de forma bem séria, e nunca tinha ouvido ele tão sério. O ruivo se projetou para frente com um passo (com aquelas pernas gigantes, vale lembrar), quase fui espremida entre os dois. Mas Jorge se conteve, talvez porque eu lhe dei um olhar que dizia “Para agora Weasley, eu não vou deixar que você nos arranje uma detenção por causa desse garotinho. Eu cuido disso antes que você faça a proeza de arranjar briga antes de chegarmos a Hogwarts, obrigada”.

–Sim Draco, Jorge Weasley – disse para o loiro como se ele fosse retardado enquanto empurrava Jorge com meu peso para trás. -, da Grifinória. Jorge, esse é Draco Malfoy, com certeza Sonserina – falei dando meu melhor sorriso menos amarelo para os dois.

Jorge apenas olhou para baixo para dar uma conferida no garoto dois anos mais jovem e muitos centímetros mais baixo. Eu o olhei novamente e dessa vez movi meus lábios dizendo claramente “Jorge, respira fundo e vai procurar o Fred... me deixa cuidar disso por favor!”, ele apertou os olhos, não seria tão fácil “Se ele tentar novamente arranjar briga te deixo dar uma surra nele, pode ser?”

–Parece que tem algo fedendo aqui pela cara do garotinho aí, acho melhor eu ir antes que passe para mim. Vou atrás do Fred, Lino Jordan trouxe uma tarântula gigante e eu ainda não a vi – ele já estava indo embora quando virou e disse, - E se ele for mesmo para a Sonserina meus pêsames para você!

–Claro, nos vemos no jantar de abertura – engoli a minha vontade de agradecer, dei um breve sorriso para ele e me virei para Draco, que continuava com a cara de nojo.

–Você? Amiga de um Weasley... jamais poderia imaginar tal coisa.

–Não sou amiga de um Weasley, na realidade sou amiga de dois Weasleys, e talvez até de mais se os irmãos do Fred e do Jorge forem legais. Espero que não tenha que presenciar isso novamente, porque fui eu que te salvei de levar um belo chute na bunda e já estou avisando que não dou segunda chance para ninguém. E não entendi porque no nojinho, eles são sangue puros como nós – eu não era, mas tudo bem, era melhor deixar isso de lado. – Podem não ser ricos por serem uma família tão grande, mas isso não é o suficiente para você irritá-los.

Sabia que ele queria reclamar ou argumentar, mas eu era a Lady das Trevas e ele sabia disso, por isso vi a sua boca se fechar e depois abrir em um sorriso amarelo.

–Tudo bem, não teremos brigas com você por perto – sorri para ele.

–Regra número um, Draco: nunca revele quem são seus inimigos – dei outro sorriso e continuei meu caminho. - Agora tenho que encontrar alguém

Sabia que Draco e os meninos nunca seriam próximos, talvez brigassem sempre que se encontrassem, e eu odeio brigas então pretendo presenciá-las o menos possível, assim não tenho que defender nenhum dos lados... igual com meu pai e Harry Potter.

Continuei caminhando até encontrar a cabine dos meus amigos. Todos sorriram para mim quando voltei, como sempre fingiam que não havia um climão entre nós, pude ver o jovem búlgaro não entender o ar estranho que pesou.

–Olá gente! Me perdoe pela saída, realmente estava muito tonta... estava tão tonta que até tropecei e machuquei a cabeça! Sorte que nada de ruim aconteceu. Mas do que vocês estavam falando? – sorri.

A conversa voltou a fluir normalmente, eles falavam de assuntos que não eram meus preferidos, e riam de piadas que não via a graça, mas continuei ali fingindo estar me divertindo e prestando atenção em tudo e todos. A única coisa que me chamava à atenção eram os olhares de Marie para cima de mim, ela realmente queria me contar algo muito importante.

Como ainda não estava preparada para dar realmente minha atenção a alguém fingi não perceber o olhar dela e continuei na conversa enquanto minha mente estava na conversa que realmente me importava, Dumbledore e Nicolau. A Pedra Filosofal estava em Hogwarts, meu pai estava vivo e queria a Pedra que é guardada por um cachorro de três cabeças e muitas outras proteções... e meu pai queria matar o Potter depois de pegar a Pedra e ainda tinha a chance de ter que presenciar uma briga entre meus conhecidos.

Além disso, minha mãe não fora tanto das trevas quanto pensava, ela era de alguma forma aliada a Dumbledore ao ponto de contá-lo grande parte da história secreta da minha misteriosa família materna de descendência de Morgana, e ele estava com um bracelete que parecia ter pertencido a Morgana e a minha mãe.

Toda a esperança que tinha que aquele ano poderia ser um pouco bom foi direto pelo ralo.

Só paramos de conversar quando o Expresso de Hogwarts diminuiu a velocidade e parou na Estação de Hogsmeade. Pude ouvir a multidão de alunos se atravancando no corredor tentando sair do trem, meus amigos por serem inteligentes e sonserinos (Mais sinônimos) aguardaram pacientemente a baderna terminar e caminharam para fora, vi que Marie aguardava todos saírem e olhava para mim, ainda não estava pronta para isso, por isso fui junto com Lucian, até agora o maior idiota da nossa sala na opinião dela, que parecia odiar profundamente garotos descolados e quebradores de corações tolos.

Pulamos para fora do trem enquanto Lucian me contava sobre suas férias, ele curtiu o bom sol da Austrália com um grupo de amigos, a família ficou de fora. Ele realmente achava que aquilo era um charme? Escondi os fatos das minhas férias com algumas mentiras infalíveis e sorrisos de flerte, que ele adorava e pelo jeito caia, estava começando a perceber que eu era afinal uma ótima mentirosa.

Fomos junto com a grande massa de alunos de Hogwarts dos anos acima do nosso e não pude me conter em olhar para trás, admirei Hagrid alto como um poste esperando todos os alunos do primeiro ano e lá estava sorrindo para ele o menino magricela e pequeno, Harry Potter, ao lado dele vi os cabelos ruivos de Ruy (Ou algo do tipo) Weasley,depois o loiro de Draco e os liso escuro do irmão da Ali e só depois disso a vassoura que era o cabelo da amiga da dupla dinâmica da grifinória que ainda não parecia ser amiga.

Descemos uma trilha enlameada pela chuva que caiu horas atrás, a estrada era irregular e fazia curvas terríveis de seguir, podia ouvir Jenn reclamando atrás de mim, só não reclamei também porque tive a ajuda de Lucian quando ficava muito difícil a descida. No final da trilha havia vinte coches aguardando os poucos alunos que sobravam na trilha.

Enquanto nos aproximávamos de um dos coches percebi que o coche era puxado por um trestálio – um cavalo alado com o corpo esquelético.

–Também vê o cavalo? – Kieran me perguntou com seu forte sotaque, não havia percebido que parei para admirar o local onde o animal deveria estar, imaginando sua presença ali.

Obviamente eu não via o cavalo, mas já tinha lido “Hogwarts, uma história” umas incontáveis vezes e sabia da existência deles.

–Por sorte não, mas consigo sentir a respiração e o olhar dele sobre nós – olhei nos olhos verdes dele. – Você o vê, não é?

–Quando você vê-lo saberá o que está perdendo – ele comentou sem responder a minha pergunta diretamente e foi para dentro do coche, mas antes lhe fiz mais uma pergunta.

–Valeu a pena ver alguém morrer por isso? – ele se virou com um sorriso no rosto.

–Isso não é importante. Ter visto alguém morrer me trouxe outra visão da vida, quem jamais viu a morte não sabe como é. Para mim é melhor poder ver e sentir do que ficar imaginando. A verdadeira razão de você não poder ver o trestálio é que sua visão é limitada como a dos outros, vocês jamais se sentiram tão vivos como eu quando vi e senti a morte passar tão perto. Eu entendo melhor agora que as pessoas nascem e morrem e há muito pouco que podemos fazer sobre o assunto, pessoas entram e saiam da nossa vida e é tudo tão rápido que o melhor a se fazer sobre o assunto é seguir em frente.

–E se você soubesse antes mesmo de acontecer e não pode fazer nada a respeito do que sabe? – sussurrei mais para mim do que para ele, mas Kieran ouviu muito bem.

–Pessoas entram e saem toda hora, saber-r antes é uma forma de se preparar-r. Se soubesse o que vai acontecer isso iria me ajudar muito a me preparar, não ficar assustado ou entr-rar em pânico, mas também seria uma maldição saber de coisas que ninguém mais sabe e conviver com esse fato até ele se realizar – ele por acaso era um Le Fay com dons? Porque tudo que ele disse foi de grande ajuda para meu probleminha. E estranhamente o seu sotaque refreou e voltou enquanto conversávamos.

Subi no coche depois daquilo pensativa no que o búlgaro havia dito, Marie se sentou do meu lado e pareceu deixar para lá sua vontade de me contar algo, agradeci a Merlin por isso. A cada segundo minha cabeça ficava mais perturbada.

Parei de pensar quando me recostei no ombro da Marie, eu sabia que ela queria me falar algo e aquela foi a minha maneira de mostrar que havia entendido, mas que não achava agora um bom momento. A minha amiga de cabelo Chanel sorriu em resposta.

Não vi nem um pedaço da viagem até o coche parar e todos descerem. Subimos as escadas de pedra em direção as enormes portas de carvalho e penetramos no saguão, dei uma breve olhava para a escadaria de mármore que levava aos andares superiores, e então me lembrei que meu salão era abaixo dos meus pés não acima e assim senti que devia admirar o chão polido pensando no frio que fazia lá em baixo, um calafrio desceu pela minha espinha e não pude conter uma tremedeira que ninguém percebeu.

Entramos apressados dentro do grande salão, quase todo mundo já estava sentado. Fomos correndo para nossa mesa e sentamos da mesma maneira de sempre, meninas de um lado e meninos do outro.

–Vocês souberam quem entrou esse ano? – um menino do terceiro ano perguntou para Philip que negou. Então o garoto olhou para todos nós e disse.

–Harry Potter! – ele falou entusiasmado em ser o primeiro a nos dizer, e percebi que todos ali ficaram genuinamente chocados, menos Marie que arqueou a sobrancelha sem parecer entender o porquê de tudo aquilo e Lucian que instantaneamente me olhou, engoli em seco com aquilo. – Espero que ele venha para nossa casa.

Bem, então Lucian de alguma forma achava que eu tinha algo a ver com Harry Potter, quais eram a chances de Lucian saber que eu era a Lady das Trevas? E o que ele poderia fazer sobre isso se soubesse? Tinha que saber se ele sabia, tinha que saber agora para jogar um Obliviate na cara dele depois de uns crucios só por ter me estressado.

–Isso nunca vai acontecer – disse para todos que pareciam ter gostado da idéia. Mesmo tendo a visão do Harry com as cores da Grifinória nas suas vestes sabia que havia outros fatos. –, os Potter são da Grifinória desde sempre. É como qualquer um de nós irmos para Lufa-Lufa - todos concordaram em uníssono e o menino de cabelos negros cacheados ficou quieto.

Ali começou pouco tempo depois a reclamar que os alunos do primeiro ano eram muito lerdos, como se não fosse um deles ano passado, e logo a barriga dela começou a roncar mesmo depois de tudo que comeu no trem. Será que ela tinha um dragão no estômago para comer tanto e ainda ser tão magra quanto um esqueleto?

–Seu irmão está no primeiro ano, não é Ali? – Hugh perguntou para a morena.

–Sim... também será o último a ser chamado, a espera é longa assim como foi para mim, mas todos sabemos para que casa ele vai – concordamos, isso era realmente óbvio.

–Harry Potter será a noticia do ano, assim como você foi ano passado Charlie! – Jenn resolveu voltar para o pior assunto que existia, agora não só porque eu tinha que ficar amiga do Potter e tudo, mas porque tinha grandes chances de que o garoto na minha frente sabia quem eu era de verdade. – Espero que ele tenha mesmo a cicatriz, mas aposto que mesmo assim ele é bonito... muito bonito.

–Acho que conversei com ele antes de nos encontrarmos – todos se viraram para mim, tentei não parecer desconfortável e sei que convencia todo mundo ali, talvez não Lucian, mas já era um começo. – Ele é muito magro e usa óculos gigantescos, e a franja esconde a cicatriz, mas ela está lá.

Aquele assunto rendeu mais do que devia e não tive tempo nem para respirar falando de Harry Potter, mas quando o portão se abriu novamente o silêncio se instalou no Grande Salão, a fila dos pequenos alunos se dirigiu para frente, desfilando para nós. Todos os jovens ou olhavam para o teto estrelado ou para frente, mas nenhum teve a audácia de encarar ao seu redor, não me recordava como havia ficado enquanto me aproximava do Chapéu Seletor, mas torci para não parecer tão boba.

Minerva colocou o chapéu em cima do banquinho, estava pronta para ver a surpresa dos alunos quando o chapéu revelou os rasgos que representavam seu rosto. Ele começou a cantar e como odiava cantorias admirei os arredores, vi Thomás bocejando de sono e os gêmeos admirando a musica com uma cara muito engraçada, depois vi Cedrico e não pude deixar de reparar que ele estava mais bonito do que da última vez que o vi, sorte que ele não me pegou o olhando, mas ele sentiu meu olhar pela forma como mexeu a cabeça ao redor.

Todo mundo começou a bater palmas e os acompanhei por educação. Então McGonagall começou a tortura que era chamar cada aluno, fui ouvindo os nomes e a cada vez que ouvia o nome “Sonserina” batia palma. Vi que a menina de cabelos de vassoura se chamava Hermione Granger e, para minha total surpresa, foi para Grifinória.

Um garoto esqueceu-se de tirar o chapéu e teve que voltar para entregá-lo ao próximo em meio as nossas risadas e tenho quase certeza que era o pobre menino do sapo. Vi Malfoy andar presunçoso até o banquinho e o chapéu nem encostou na sua cabeça para anunciar Sonserina, obviamente muitas pessoas já batiam palmas, mas Jenn exagerou e depois comentou para Ali e eu.

–Aiai o Malfoy sempre foi tão bonito? – dei uma risada.

–Fique longe em?! – Ali preveniu. – Você terá que concorrer contra milhares de outras meninas loucas para conseguir o coração do Malfoy. E não, ele não é tão bonito assim, ainda mais levando em conta que a sua família está cheia até a cabeça com problemas no Ministério sobre artes das trevas e Aquele-que-não-deve-ser-nomeado.

–Hey! – ela disse ofendida e buscou minha ajuda, que sempre julgava quem estava certa.

–Ela tem razão – disse e Jenn bufou e me deu língua. – Você parece uma maníaca para cima do Malfoy, Jenn, e não acho que você vai querer entrar na guerra pela atenção dele e não incluo o fato “comensal da morte” no meio para não piorar... Vai ser muito complicado ainda mais porque ele parece ser do tipo difícil de querer que as meninas se arrastem...

–Só tive tanta certeza que ia mesmo para Sonserina porque você me avisou, obrigada – Draco Malfoy me interrompeu chegando em silêncio, sussurrando no meu ouvido e indo embora. Arregalei meus olhos e olhei para Jenn que agora estava completamente chocada.

–Já vi que ele tem a preferência por alguém em?! – Jenn disse bem alto cutucando Ali que ria muito da minha cara. – Estou vendo a dificuldade de fazer Malfoy cair de quatro... tsc tsc... difícil esse menino – agora foi a minha vez de fazer cara feia, e só dei língua quando vi que até Marie ria de mim.

–Isso não quer dizer nada, eu converso muito com a mãe dele – dei uma desculpa, mas elas riram até mais.

Harry foi chamado e só então fui deixada em paz, ele subiu muito assustado para perto do chapéu, vi sua carinha vermelha quando os burburinhos começaram a soar.

–É ele! É ele! – Jenn deu uns gritinhos olhando atentamente para o menino e apertando suas unhas com força no meu braço, não reclamei porque novamente não senti dor. Mas olhei para ela de forma repressora. – Se o Malfoy é restrito a você o Potter não é, desculpe Charlie, regras são regras.

–Que regras são essas que eu não estou sabendo? – disse esquecendo de falar que o Malfoy não era restrito. – E o Malfoy não é restrito a mim, já estou avisando.

–É que você nunca fala de meninos mesmo, então você perdeu nossa criação das regras desse grupo sobre meninos... – Ali me explicou.

–Vocês me devem uma explicação melhor para isso – disse apontando para as duas.

Menos de um minuto depois do chapéu estar na cabeça dele ele anunciou Grifinória, todos na mesa bateram muitas palmas comparado a qualquer um e os gêmeos levantaram e bateram palmas e começaram a gritar “Ganhamos Potter! Ganhamos Potter!”, ri deles e percebi que meus amigos batiam palmas para mim.

–Eu sei, eu sei... Sou a maior advinha do mundo bruxo! Vou até roubar o cargo de professora de adivinhação aqui – todos riram e depois continuamos com a seleção.

–Bem que ele podia ter vindo para a Sonserina... – Jenn disse e então me olhou. – Mas se ainda tiver o Malfoy na jogada...? – confirmei com a cabeça.

–Ele falou comigo porque sou próxima de Narcisa -... ou porque sou a Lady das Trevas.

Admirei a Mesa Principal pela primeira vez e encontrei o olhar de Snape sobre mim que então ele olhou para Potter, entendi o aviso e olhei também para o garoto. Ele coçava a cicatriz na testa e olhava na direção de Snape curioso. Era aquele o motivo deles terem achado que era o Professor de Poções que queria a Pedra Filosofal?

E foi então que vi o professor ao lado do Severo, ele usava um grande turbante púrpura e conversava alegremente com a professora de Herbologia, era o novo professor de DCAT, já que o último se demitiu por algum motivo – havia fofocas que foi culpa dos gêmeos e suas bombas de bostas. - Quando o olhei senti um calafrio bem no meu pescoço que se alastrou por toda a minha alma, senti meu sangue gelar e meus ossos secarem em segundos.

Era o bruxo que estava ajudando meu pai.

Pisquei em puro choque e posso jurar que ouvi um ruído que parecia vir do turbante.

Charlotte... – a vozinha seca pareceu me saudar e o calafrio foi ainda pior.

–Quem é aquele ao lado do Snape? – perguntei para Ali quase no mesmo segundo que a voz cessou, ela seguiu meu olhar.

–Quirrell eu acho. Novo professor de DCAT, ele é super tonto! Fica gaguejando pelos cantos, parece que foi atacado por um vampiro e virou medroso.

–Mais um que não serve para nada – comentou Lucian que me olhava curioso.

Medroso?! Um servo de Voldemort? Era realmente ótimo disfarce, ainda mais que a tentativa de entrar no cofre de Gringotes não deu certo e agora a Pedra estava aqui, a cara de chorão vale a pena então nesse caso. Sorte para meu pai.

Vi que Dumbledore havia dito algo, mas estava tão centrada em olhar para Quirrell que não ouvi, e não liguei para Lucian que avaliava motivos para eu admirar o novo professor tanto assim. Mas então a comida brotou de lugar nenhum e comecei a me esbaldar, estava com muita fome por não ter lanchado nada no trem, mas enquanto isso minha mente trabalhava no caso Pedra Filosofal.

O Barão Sangrento estava perto dos alunos do primeiro ano comentando sobre alguma coisa da Sonserina provavelmente dizendo que queria mais um ano de vitórias no quadribol e na batalha das casas, mas só reparei naquilo porque ele entrou na linha da minha visão enquanto olhava para Quirrell que nem por um minuto me olhou.

Continuamos conversando e comendo quando as sobremesas apareceram, peguei um pedaço de torta de maçã e a devorei em segundos então me voltei a Snape, que parecia querer me falar algo com a mente, mas não podia entrar na minha pelo treinamento que tive quando pequena em oclumência. Liberei o início dos meus pensamentos para Snape se comunicar.

–Lembre-se que você tem uma reunião com Dumbledore depois do jantar. E depois devemos ter uma conversa muito séria – olhei para ele, que bosta.

–Vou amar conversar com você, devo encontrá-lo em algum lugar? – tipo o seu corpo boiando no Lago Negro?

–Eu te acharei – então cortamos a conversa e Dumbledore se levantou do seu assento para dar seus últimos avisos.

Ele disse as coisas obvias de sempre: Proibido andar na Floresta Proibida alguns alunos precisam se lembrar disso e vejo o olhar dele cair nos gêmeos... não sabia dessas excursões...; Sem mágicas no corredor no intervalo entre as aulas; testes de quadribol na segunda semana de aulas então eu já tinha marcado que teria algo para fazer. E o aviso que alegrou meu dia, e concluiu uma parte do meu quebra cabeça, o corredor do terceiro andar do lado direito esta proibido para aqueles que não quiserem ter uma morte extremamente dolorosa.

Dei um sorriso muito de leve com a notícia, então era lá que estava a Pedra Filosofal? Ele era realmente muito burro ou muito esperto em contar isso audivelmente, ou talvez acreditasse muito que ela estava segura por agora, mas vi que pela reação de meio segundo de Quirrell que ele estava completamente errado.

Já estava pronta para ir dormir depois dessa, ignoraria minha conversa com Dumbledore e com Snape, mas então o velho resolveu cantar o hino da escola:

Hogwarts, Hogwarts, Hoggy Warty Hogwarts,
Nos ensine algo por favor
Quer sejamos velhos e calvos
Quer moços de pernas raladas,
Temos as cabeças precisadas
De idéias interessantes
Pois estão ocas e cheias de ar,
Moscas mortas e fios de cotão.
Nos ensine o que vale a pena
Faça lembrar o que já esquecemos
Faça o melhor, faremos o resto,
Estudaremos até o cérebro se desmanchar

Estava tão animada por ter solucionado um problema em menos de cinco horas que acabei cantando tão alegremente quanto qualquer outro aluno boboca, e quando a música acabou os gêmeos foram os últimos a terminar cantando juntos e sozinhos. Todos os aplaudiram, Dumbledore principalmente e fez um comentário que não ouvi, estava percebendo o olhar do Professor Quirrell sobre mim por dois segundos, novamente o calafrio se espalhou rapidamente pelo meu corpo.

Todos se levantaram e foram saindo do Salão, acompanhei meus amigos até a saída, depois avisei que tinha que falar uma coisa com o Professor Snape, e sumi entre a multidão indo embora para o lado da sala de Dumbledore sem topar com ninguém. Fiquei perto da gárgula esperando o diretor chegar, o que demorou muito por ele ser um velho e achar que só porque ele já viveu muito pode ir devagar e que pessoas jovens não vão ligar em perder seu tempo esperando.

–Charlotte! Estava me perguntando se a encontraria aqui – ele comentou em um sorriso, sua barba mais longa do que a última vez balançando.

–Meus amigos foram saindo e resolvi ir com eles, mas então percebi que tínhamos uma conversa marcada.

–Bem, não lhe deixarei esperando ainda mais. Venha, por favor.

Ele me guiou até a gárgula que se moveu sem a necessidade de senha, provavelmente porque Dumbledore era Dumbledore e ele não tinha que ficar parado dizendo senhas para passar dentro da escola que era diretor.

Já dentro do escritório Dumbledore me convidou a sentar no banquinho desconfortável enquanto ele se sentava na sua poltrona confortável.

–Peço que sejamos breves. Terei um longo primeiro dia de aula amanhã – Dumbledore me deu um sorriso enigmático e pude ver seus olhos brilharem por detrás de seus óculos meia-lua.

–Entendo, serei o mais rápido possível. Como já expliquei na carta Harry não sabe nada da história sobre si mesmo ou os fatos que agouraram seu destino. Hagrid disse-lhe os detalhes básicos e acho que aqueles que conversaram com ele também devem ter dito uma coisa ou outra, mas não pretendo falar tudo que pessoas “normais”, por assim dizer, desconhecem sobre o fato de uma vez para não sobrecarregá-lo, como você fora. E espero que me ajude nisso, porque a Senhorita está entre os que melhor sabem sobre a história.

–Depende muito do que o Senhor deseja que eu faça e que diga e que não diga. Admito que fiquei surpresa e admirada com a forma como Harry Potter me tratou quando disse que vinha de uma família das trevas, e sei que minha mãe tinha o desejo que eu não escolhesse um lado sem ter certeza, o que parece ser uma boa idéia nesse momento prematuro já que tudo poder nesses anos. Mas você quer que eu te ajude a contar a verdade aos poucos para ele? Ou que esconda dele a verdade? Ou que o ajude a lidar com a verdade?

–Na realidade lhe peço as três coisas. Voldemort está tentando voltar desde que perdeu seu corpo e também quer se vingar matando Harry, sei que ele é seu pai, mas acha mesmo que Harry merece ser assassinado dessa maneira?

–Pode ficar tranquilo que até este ponto eu concordo. Se quiser protegerei Harry dos ataques do meu pai, mas não estou contra ele. Ele pode ser um monstro Dumbledore, mas é meu pai. E quanto a Harry, eu quero ser amiga dele, ele precisa da minha ajuda e sendo sua inimiga ou desconhecida não terei como ajudá-lo.

Senti que o velho ficou desconfortável, ele se remexeu um pouco e acariciou sua barba prateada.

–Isto por culpa de Alice, imagino... Sua mãe sempre foi uma pessoa neutra quando Voldemort começou a recrutar Comensais, mas ela escolheu ficar com seu pai porque sabia que você deveria nascer. Acho que de qualquer forma ela precisaria escolher no fim, entretanto ela teve a sorte de poder ver seu nascimento pelo lado das trevas, como a Le Fay que é, e soube para qual lado tinha que ir.

–Sim, ela desejava que fosse próxima de Potter. Sinto que ela tinha compaixão devido a tudo que aconteceu com ele, o ódio do meu pai e suas tentativas de matá-lo e a forma como ele cresceu.

–Sua mãe sabia de muitas coisas sobre o futuro. Ela me ajudou muito antes de conhecer Voldemort, acho que de alguma forma você saberá disso, em seu último ano ela me entregou um objeto – uau! Dumbledore estava realmente sendo sincero...

–E você descobriu algo sobre o bracelete? – ele me deu um sorriso, obviamente eu queria provar que sabia tanto quanto ele sobre o assunto, mas na verdade não tinha tanto conhecimento sobre o assunto.

–Na realidade não, sua mãe me confiou que o bracelete era de Morgana, e você deve saber que Morgana era conhecida pelos seus poderes das trevas – assenti. – Alice deu a entender que o objeto tem algum poder das trevas muito poderoso, mas apenas você poderá saber qual é.

–Ela criou algum feitiço de proteção contra qualquer um que tente tocá-lo, não foi?! – dessa vez Dumbledore ficou surpreso, se movimentou brevemente na cadeira e confirmou.

–Ele queima de forma excruciante qualquer um que o toque. Eu notei que esse detalhe não veio incluso com todos os outros que Morgana adicionou, ela era uma mulher muito inteligente, criou vários feitiços das trevas e também vários feitiços de cura. Bem, acho que está na hora do bracelete ir para sua verdadeira dona – ele sorriu para mim enquanto levantava e sumia entre as bugigangas que tinha por perto.

Percebi o farfalhar de suas vestes perto de uma estante e logo depois ele voltou, sentou-se novamente e colocou um embrulho roxo em cima da mesa, bem entre nós dois. Ele me olhou incentivando a olhar o objeto. No momento que toquei no tecido estranhamente quente Dumbledore interrompeu meu movimento.

–Antes que a senhorita o olhe, sua mãe me pediu para lhe mostrar a memória em que ela o explicava – eu o olhei sem entender, ele sorriu bondosamente para mim e retirou sua varinha de suas vestes e a apontou para sua cabeça, e lá de dentro saiu um fio prateado de consistência não comprovada como qualquer uma conhecida. Ele me fez abrir a mão e colocou o fio na palma dela, eu a olhei por dois segundos até que a memória caiu sobre mim. Senti minha cabeça pendendo para trás e minha palma fechando o fio de memória antes de perder os sentidos.

Estava no escritório de Dumbledore, ambos pareciam algumas décadas mais novos, mas Dumbledore estava sentado da mesma forma que atualmente e tinha a mesma expressão no olhar, talvez um pouco mais curiosa. Na sua frente, onde eu estava há poucos segundos estava uma jovem de cabelos ruivos brilhantes até o fim das costas, eu andei até poder ver seu rosto.

Alice realmente era a bruxa mais linda que já vi, ela tinha o rosto quadrado bem marcado, com pouca bochecha e nariz fino, seus olhos eram verdes igual esmeraldas. Ela sorria com os lábios carnudos mostrando seus dentes perfeitos para Dumbledore.

–Eu tive a visão Professor – ela disse olhando para o velho que estava cada segundo mais intrigado. – Lamento muito, mas não farei parte da Ordem da Fênix. Diga para Lilian que eu lamento muito, muito mesmo e diga para todos que eu escolhi meu lado.

–Você irá fazer parte dos Comensais de Voldemort?!

–Minha visão mostrou parte da profecia que havia te contado quando minha mãe morreu, e ela diz que minha filha será “A última lady das trevas”, só há uma forma da minha filha se tornar isso... – Dumbledore pareceu entender assim que ela sorriu para ele. – Eu vou me tornar a Lady das Trevas, vou ter que casar com Voldemort e ter minha filha com ele.

–Você não precisa fazer isso... – Alice riu nervosamente. – Você tem a escolha.

–Ambos sabemos que isso é mentira. Minhas visões são certeiras, ela me mostrou como a Lady das Trevas e é isso que serei, não há outro caminho agora. Estou pronta para o que a vida escolheu para mim. Mas não fora por isso que vim aqui, vou lhe confiar algo crucial para termos um futuro melhor longe de bruxos como Morgana e Voldemort que parecem não querer morrer! – ela disse aquilo piscando e rindo, aquilo era uma dica? – Aqui está o objeto – ela tirou um bracelete do braço, de metal escuro como as trevas e com uma pedra verde como seus olhos -, Morgana que o usava e portanto ele está completamente sujo de magia negra. Tentei destruí-lo quando percebi que magia tinha dentro dele, mas eu não sei como fazer e agora sei que só a minha filha poderá.

Fiquei admirando o objeto e senti uma pontada no meu cérebro, quase como uma faca quente e senti meu corpo tremer enquanto a sensação me preenchia. Aquela coisinha parecia tão frágil para guardar um feitiço das trevas, e era tão lindo. Queria poder tocá-lo...

–Que tipo de magia das trevas estamos falando?

–Não posso te contar, não está na hora de você entender. Por favor faça isso por mim Dumbledore, guarde esse bracelete para Charlotte – percebi que Dumbledore novamente ficara curioso. – É o nome da minha filha, Charlotte Le Fay. Guarde-o para ela, estou te confiando um pedaço crucial do futuro de toda a sociedade.

–Não tem nem uma dica para mim? Mereço um pouco mais de confiança, e mereço saber mais sobre um objeto das trevas que esconderei por anos até conhecer sua filha – ela olhou para ele, mudou de posição na cadeira e suspirou depois de rir.

–Tudo bem – ela levantou as mãos para o alto rindo, mas logo depois ela pigarreou e ficou séria. – Sou tão claro quanto o dia e tão verde quanto à grama, mas não se engane pela minha beleza, fragmento a alma dos homens das trevas que me usam. Entretanto se você for astuto o suficiente pode me usar a seu favor; se é vida eterna que busca pegue aquilo que tirei de ti, coloque em um algo seguro e permaneça entre os homens para sempre, contudo você precisa ter cuidado, pois a morte não gosta quando é enganada – fora a vez de alguém dar o sorriso Dumbledore ao próprio Dumbledore, Alice então se levantou deixando o bracelete em cima da mesa de madeira. – Nos vemos do outro lado, Professor.

–Sua mãe sempre gostou de ser misteriosa, de deixar segredos e rastros para as respostas de perguntas que ela colocou em nossas mentes. Uma bruxa incrível, astuta de formas inimagináveis. Será que você poderia me devolver a memória? – eu olhei para frente me sentindo estranha, estendi minha mão para ele que com a varinha fez com que o fio de memória voltasse para dentro de sua mente.

“Como você pode ver sua mãe me deu a dica sobre o feitiço que foi posto no bracelete, mas eu nunca tive a chance admirá-lo de perto devido ao feitiço de proteção. Ao menor toque ele queima como fogo de dragão”.

Finalmente movi o tecido roxo de cima do bracelete para vê-lo, ele estava feio, parecia ter séculos de idade – o que era apropriado já que pertencera a Morgana. – Seu metal estava feio como se tivesse sido manchado por várias vezes e a pedra parecia mais uma rocha cinza e sem graça, senti novamente a pontada no meu cérebro. O que essa coisa tinha para me fazer sentir tão estranha? Que feitiço das trevas era esse?

Não iria pensar naquilo com Dumbledore do meu lado, ele queria saber tanto quanto eu qual era a resposta para minha última pergunta mental e ele tentou descobrir sozinho qual era o tal feitiço. Fiquei na dúvida se devia tocá-lo ou não, mas a pontada voltou e não me contive, peguei o objeto abruptamente, o bracelete estava em cima da palma da minha mão, mas não senti nada de diferente, flexionei meus dedos para encostar no objeto e novamente nada.

Fiquei decepcionada com aquilo, adornei o bracelete no meu braço que ficou grande demais para meu fino braço. Era melhor deixá-lo ali por enquanto... puxei a manga do meu moletom para baixo escondendo o bracelete dos olhos que tudo viam de Dumbledore.

–Bem, só tem um ponto que quero comentar, para isso teremos que voltar ao assunto Potter – Dumbledore se ajeitou na cadeira e fez um movimento com a mão me dizendo para prosseguir e depois apoiando seu queixo em suas mãos entrelaçadas. – Eu ia contar para o garoto minha verdadeira identidade hoje quando o encontrei no trem, mas de súbito desisti e agora percebo que prefiro deixar esse assunto esquecido.

–Claro, acho que você deve contá-lo quando sentir que está pronta. Assim como sinto que devo lhe dizer algo importante; Seu pai tem que voltar para ser completamente destruído, mas atrasarei seu retorno até Harry estar pronto e não tentarei matá-lo antes disso porque sei que não posso.

Fiquei surpresa, não pode matar meu pai? Agora o velho estava sendo sincero comigo, mas ele deveria saber que eu não seria tão sincera.

–Bem, a única coisa que sei é que de alguma forma Potter é necessário para a volta do meu pai, mas ele não tem conhecimento disso e por isso pretende matá-lo e agora que sei que apenas Harry pode destruí-lo me sinto confusa – bem, estava sendo bem sincera naquele momento. – O ponto é que devemos então fazer Harry sobreviver para ele ser usado no momento em que meu pai voltar e continuar vivo depois para ele destruí-lo completamente... Então está tudo esclarecido? - perguntei já me levantando.

–Acredito que sim – Dumbledore também se levantou. – Tenha uma boa noite Charlotte! – ele falou sorrindo quando estava quase fechando a porta. Dei um sorriso.

Fui até as masmorras pronta para ir dormir, mas então me lembrei que Snape também queria falar comigo. Só que eu não queria falar com ele e por isso andei silenciosamente nas sombras em direção à entrada do Salão Comunal da Sonserina, parei em frente e me lembrei que não sabia a senha.

–Draga! – exclamei baixinho.

–Não se lembra da senha? – uma voz perguntou atrás de mim.

–Não estava aqui quando avisaram qual era a senha – retruquei me virando.

Lucian me deu um sorriso mais brilhante que uma estrela que até iluminou o corredor. Ele ainda estava uniformizado, parecia ter acabado de sair do Grande Salão.

–Qual é a senha mais óbvia para se colocar na entrada do Salão Comunal da Sonserina? – ele me perguntou.

Eu poderia dizer que não estava a fim de charadas a essa hora da noite, mas não iria dar esse gostinho ao meu possível futuro inimigo, se aquele garoto realmente soubesse quem eu era ambos tínhamos um problema. Se ele sabe, como aparenta, e ainda assim não me confrontou é porque ele está tramando algo – contra mim provavelmente. – E se eu sabia disso e ainda assim não o confrontava era porque estava planejando ver se teria uma visão sobre o assunto ou talvez ver umas memórias ou ler a mente de certa pessoa e dependendo do que eu visse veria o que faria.

–Têm muitas, poderia ser serpente, Salazar, Sangue-puro – nenhuma das mais evidentes era a certa já que a porta não se moveu atrás de mim, Lucian deu uma risadinha.

Respirei fundo e tentei engolir minha vontade de socá-lo como um trouxa que não tinha outra forma de fazê-lo sofrer, entretanto essa raiva repentina ativou meu cérebro que me deu a melhor resposta que apenas um verdadeiro sonserino pensaria, ainda mais na situação em que estava.

–Crucio – ouvi a parede se mexendo revelando a entrada do Salão. Dei um sorri maldoso ao nível Voldemort para o Sonserino a minha frente, se ele queria brincar comigo eu não tiraria a diversão.

Entrei sem me importar com ele e fui para meu novo quarto do segundo ano. Mas antes me virei e pisquei para ele.

–Nunca me subestime – avisei antes de desaparecer para dentro do corredor.

Entrei no quarto rindo mais do que podia por dentro, mas parei quando vi que a única cama que havia sobrado era a mais perto do banheiro, e todo mundo sabia que eu odiava dormir perto do banheiro.

Bufei, ao invés de gritar e acordar todo mundo e reclamar da minha raiva eu a engoli e fui dormir na cama que me providenciaram. Podia não ter gostado, só que estava com tanto sono e queria tanto ver se teria uma visão que me ajudaria de alguma forma com o caso “Lucian” que dormi logo depois de colocar minha cabeça no travesseiro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então gente, finalmente alterei todos os capítulos para o que estou planejando. Eu não direi que postarei um capítulo novo em brave porque eu não tenho a menor certeza, começarei do zero o próximo capítulo e quando finalizá-lo ele será postado aqui.
Agradeço aqueles que me encorajaram a continuar com a fic e por eles estou aqui, porque, admito, grande parte de mim deseja parar. Por isso seguirei meu próprio tempo, além de que as aulas voltam amanhã e eu não sei como será minha carga de estudos ainda (Mas será muito superior do que nos últimos anos).
Beijos e até o capítulo 21! (Espero que ainda estejam vivos todos vocês quando a Charlie voltar com a primeira etapa do seu segundo ano).
PS: Pretendo fazer os anos passarem realmente rápido, então os capítulos terão uma grande quantidade de palavras como esse que vocês acabaram de ler e não tenho previsão para lançar nenhum deles.