Charlotte Le Fay - Herdeira De Voldemort escrita por DudaGonçalves


Capítulo 15
O Homem Com A Alma Corrompida Três Vezes


Notas iniciais do capítulo

Olá meus leitores!
Eu deveria ter postado este capítulo logo após o Ano Novo, mas eu acabei indo viajar e esqueci de postá-lo e como o lugar para aonde eu fui não tinha Wi-Fi esse capítulo atrasou ainda mais.
Não atrasarei mais ainda a leitura de vocês com o meu excesso de palavras. Por isso eu desejo uma boa leitura.



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O homem alto marchava lentamente pelo longo e amplo corredor. Ele não queria chamar a atenção dos trouxas que viviam nas redondezas por isso acendera nenhuma das velas que haviam por ali, além que sua visão era melhor no escuro. Ele não fazia nenhum barulho enquanto se dirigia a porta dupla de madeira negra que com um aceno de sua varinha abriu-se.

Naquele momento o homem não desejava fazer barulho algum, como se seus passos que mais pareciam o rastejo de serpentes pudessem produzir o som de trovões. Ele precisava averiguar com seus próprios olhos a criatura que estava ali.

No quarto havia uma poltrona verde, uma lareira ardente feita de mármore negro, uma cômoda feita da mesma madeira que a porta, e um berço. Era um quarto de bebê e como todo quarto decorado pelas mãos de Narcisa Malfoy era grande demais com objetos de menos.

Um estalido saiu de dentro do berço, o homem andou mais vagarosamente até poder ver a bebê de quase um mês deitada no berço. Ela o averiguava com seus imensos olhos azuis como o mar, e quando percebeu quem era deu-lhe um pequeno sorriso banguela.

O homem que não sorria por um bom tempo não se conteve e pegou a criança em seus braços, a garotinha fez um barulhinho de felicidade quando o homem deu-lhe um sorriso, talvez um pouco torto e amedrontador, mas ainda sim um tanto belo.

Quando jovem ele poderia ter ganhado qualquer prêmio pela sua beleza, mas depois de se formar, depois daquilo acontecer, seu rosto mudou muito, antes pálido e belo agora era macilento e distorcido como se fosse seu reflexo num lago em que a superfície fora atingida.

Ele se sentou calmamente na poltrona com o bebê ainda em seus braços, e a admirou por um longo tempo. Igual à mãe, pensou enquanto a menininha sorria.

–Olá pequena – ele falou atrapalhadamente, parecia idiota em sua mente falar com o bebê. Mas a garotinha pareceu gostar de ouvir a voz dele. – Sabia que eu sou seu pai? Pois é, eu estava esperando um garoto, mas você deverá servir. Ao contrário Alice jamais teria morrido por você – ele comentou e a garotinha soluçou. Tom mordeu o lábio quando percebeu quanto jeito tinha com crianças.

Ela deu uma pequena choradinha e parou um pouco depois, ela não gostava de chorar pelo jeito, nem mesmo quando nascera ela chorara. É como se ela soubesse o que houve, ele pensou.

–Mas ela escolheu seu nome antes de ir – ele sorriu amareladamente para ela. – Sua mãe lhe escolheu um nome digno de uma bruxa poderosa como você é. Eu queria escolher seu nome, mas Alice me disse que o nome influencia no dom que a Le Fay receberá. Por isso ela colocou esse nome para você, pequena, ela queria uma filha forte e bela – ele enrolou um cacho loiro da menina nos seu dedo.

Nisso Alice havia ganhado em dobro, e era uma pena ela ter perdido a visão angelical que era sua filha com apenas três semanas. Sua pequena cria era o bebê mais lindo que já existira, ela já nascera com os cabelos loiros da mãe antes do feitiço que a fez mudar aos onze anos, imensos olhos azuis, nariz de bolota e bochechas grandes e rosadas, e a pele pálida. Ela tinha a aparência quase que inocente demais para a filha do Lorde das Trevas, por sorte era só na aparência que aquela garota era angelical.

Ela deveria ser mesmo forte. No mesmo dia que ela nasceu já perdera sua mãe, e antes mesmo de nascer já tinha seu destino fadado com dor, sacrifício e morte. Ela carregava consigo uma longa história de bravas mulheres e, provavelmente, seria a mais corajosa e mais poderosa entre elas e assim também seria o fardo que teria de carregar por ser a última. A última senhora das fadas e lady das trevas

Atrás da porta uma esbelta mulher loira ouvia o que estava acontecendo. Ela tinha medo do que o Lorde das Trevas poderia querer fazer com a filha da sua amiga, ele ficara muito irritado quando descobriu que era uma menina e ainda mais quando Alice argumentou; Se fosse um menino de nada serviria ser Le Fay, deveria ser mais sábio do que isso, Tom.

Fora o medo nos olhos da amiga que havia acabado de ter o bebê que a assustaram. Alice estava cinza, seus olhos estavam profundos nas órbitas, a beleza dela havia desaparecido naquele momento. Alguém havia acabado de tirar a filha dela daquele quarto que cheirava a sangue, madeira velha e morte. Antes de morrer ela fez sua velha amiga jurar que protegeria a criança.

Mas a menina não precisou de ajuda para fazer seu pai se apaixonar por ela, sua beleza era demais, não só por ser meio veela, mas por transpirar poder, para despertar o ódio no Lorde das Trevas.

Quando ouviu a pequena conversa dele com a garota decidiu que a pequena estava salva. Narcisa Malfoy se virou para ir embora quando ouviu a voz do homem que mais temia.

–Já espionou o suficiente, Narcisa? – Voldemort perguntou abrindo a porta do quarto com um aceno de varinha. Ele ainda tinha a garotinha nos braços, mas agora estava de pé e olhava impassível a loira imóvel no corredor.

A jovem tremeu de medo, ele vai me matar, pensou assustada. Ela tentou falar algo, mas a palavras pereceram em sua garganta.

Ela olhou para a bolinha loira nos braços do homem, igual à mãe, doce igual ela, mas já carrega a maldição em suas veias. A menininha sorriu para ela, Narcisa sabia que devia cuidar da garota, ela queria isso mais do que tudo. Ela não deixaria um mestiço idiota atrapalhá-la, mesmo ele sendo o Lorde do marido dela. Se a garotinha que estava nos braços daquela criatura conseguia ficar tranquila com todo o peso que já carregava nas costas e mais ainda no futuro ela também poderia, Narcisa tinha que ser forte por Alice e pela filha dela, e também pelo filho que ela sabia que iria ter devido a visão de Alice sobre o garoto.

–Alice me pediu para cuidar da garota, Milorde. Confiro como ela está sempre que posso – falou impassível, tentando ao máximo parecer calma. – Não sabia que estava aqui dentro com ela.

Ele a avaliou e sentiu a mentira na segunda parte assim como sentia o medo, igual a uma cobra. Ele sabia o quanto a mãe de sua herdeira gostava daquela mulher e só por isso não a matou ali mesmo.

–Se vai cuidar dela irá cuidar do meu jeito – ele começou colocando a máscara de Voldemort de volta no rosto, fazia anos que ele não virava Tom Riddle e aquela coisinha loira conseguiu tornar a parte humana do Lorde das Trevas de volta a vida com apenas um sorriso. – Ela será treinada em mágica assim que possível, e você e Bela irão tratar disso. Quero que ela seja a melhor oclumente que o mundo conheceu, que tenha o poder das trevas correndo no sangue dela assim que ela começar a falar. Mas principalmente treinem o dom Le Fay dela, qualquer que seja.

–Sim, Milorde – Narcisa sabia que a garota não teria só um dom Le Fay como as suas ancestrais. Como a mãe ela teria a “dádiva” de ser uma Senhora das Fadas e poderia controlar mais de um dom.

–Ótimo. Agora vão para casa, todos vocês – ele falou ríspido.

Narcisa foi embora depois de dar uma última olhada da pequena. Alguns murmúrios caminharam pelo corredor até os ouvidos do Lorde das Trevas, logo depois foram os zunidos da aparatação. Quando ele ouviu o último barulho de aparatação teve certeza que ele e a menina estavam sozinhos na Mansão dos Riddle. Depois de um tempo voltou a falar com a sua filha.

–Durma, Charlotte. Durma muito – ele beijou a testa dela colocando-a no berço. – Tenho grandes planos para você.

O sol me cegou quando abri os olhos. Não estava acostumada com uma janela gigante no meu quarto. Virei contra a luz e tentei me lembrar com o que havia sonhado, tinha algum lugar com o sobrenome trouxa do meu pai, Riddle; Voldemort estava lá e Narcisa também, todos estávamos lá. Mas eu nada disse... eu era pequena, um bebezinho recém-nascido.

Não conseguia me lembrar muito bem do meu sonho, mas a idéia de conhecer melhor a história do meu nascimento me empolgou. Naquele dia eu iria caçar o casarão dos Riddle.

Levantei-me e escolhi uma camisa branca, casaco de lã preto, calça jeans e All Star preto, a Mansão Riddle era um lugar trouxa, perto de uma vila onde viviam pessoas trouxas. O mais apropriado seria eu me disfarçar de trouxa. Saí do quarto e tranquei a porta com o feitiço Colloportus, protegendo de qualquer tentativa de abri-la com mágica ou sem mágica.

Desci as escadas e me dirigi à cozinha. Lá dentro Gallif limpava as louças do café da manhã, como sempre eu dormi demais e perdi aquela refeição, e como sempre o elfo deixava um prato de panqueca e um pote com calda de maçã para mim em cima da mesa de jantar. Hoje não fora diferente.

Sentei-me a mesa e comecei a comer a panqueca morna coberta de calda. Era estranho imaginar que meus sonhos poderiam ser visões do futuro ou do passado agora que meus dons estavam florescendo como Harriet havia me dito – há também outra coisa, nós podemos rever coisas do nosso passado que não nos lembrávamos; coisas de quando éramos muito crianças ou pequenos detalhes que sempre fazem diferença em algum momento e sempre esquecemos. Por isso lembre-se dos seus sonhos e tome cuidado com eles. Nós somos boas com previsões e memórias. As visões que você vem tendo são de um futuro próximo e de lembranças de um passado não tão longo, mas as visões de anos futuros são impossíveis de serem controladas assim como as lembranças de um passado muito remoto.

Se o que ela disse era verdade tudo que eu já havia sonhado eram memórias passadas ou visões do futuro, mas não entendia como podia ter sonhado com várias coisas que ocorreram em momentos em que eu não estava presente. Outro problema que teria de perguntar para minha “mestra” quando nos encontrássemos novamente.

Terminei de comer pouco depois e agradeci a Gallif, ela fez uma breve reverencia e me encorajou a fazer o que quer que eu fosse fazer, ela me conhecia muito bem a ponto de saber meus planos.

–Boa sorte, senhorita Le Fay – ela falou se aproximando de mim, ela era tão mirrada que sua cabeça batia na altura do meu umbigo. – Quer levar algo para comer? Será um longo dia – seus olhos amarelos me encaravam na expectativa.

–Não, muito obrigada Gallif – era estranho o jeito como ela realmente cuidava de mim, mais do que meus primos, ela não os oferecia lanchinhos nem arrumavam o quarto deles com tanto esmero como o meu. – Por que você cuida tanto de mim?

A pequena elfo me olhou assustada, seus olhos aumentaram ainda mais. Ela torceu a bainha do pano de mesa desgastado que era seu vestido, suas orelhas abaixaram a ponto de quase tocarem os ombros esqueléticos dela.

–A senhorita não gosta? Gallif parará, ela promete – ela estava muito assustada, recuando a cada palavra que dizia.

–Não, não Gallif. Não estou brava só curiosa – expliquei para a pequena criatura em um tom exasperado. A elfo tinha mania de se assustar e achar que estava fazendo algo de errado. – Você me trata melhor do que os meus primos.

–A senhorita é muito boa comigo comparada aos meus outros mestres, mas o dever de Gallif é cuidar dos Le Fays e daqueles que eles se importam, mesmo que eles sejam malvados com Gallif, senhorita – a elfo disse aquilo, fez uma reverência e desapareceu com um estalo de dedos.

Não deixei nenhum bilhete já que Gallif sabia para onde eu ia, ela avisaria da minha saída. Depois da briga que tive com Joseph e Carla eles me ignoravam completamente, não me botaram de castigo pelos meus atos, não me deduraram para o Ministério sobre eu fazer magia. Thomás ainda me irritava quando seus pais não estavam por perto, por isso acho que eles não contaram para o garoto dos acontecimentos.

O engraçado era que ninguém ficava mais em casa. Joseph estava sempre no Ministério trabalhando, Carla estava sempre indo comprar alguma coisa ou fazer algo, e Thomás passava a maior parte do tempo da casa de um amigo dele que vivia na nossa vila e que também estudava em Hogwarts. Mas pelos ruídos do andar de cima sabia que um dos três ainda estava em casa.

Saí da casa em silêncio, desci as escadas que davam na varanda e me dirigi até um local longe de todos aqueles trouxas e bruxos, já que o vilarejo era mestiço.

Enquanto caminhava reparei que a vizinha da casa ao lado, uma senhora de cabelos brancos com grandes olhos caídos de alguma cor que não dava para distinguir, olhava para mim pela janela do segundo andar da sua casa. Não levantei minha cabeça para vê-la, mas senti seu olhar sobre mim.

Quando meus primos iam passear para algum lugar, um almoço na casa de algum amigo, uma festa na casa de outro, eles pediam a ela para cuidar de mim. Porque, se o que Thomás me disse fosse verdade, aquela velhinha sempre esteve naquela casa, ela nunca se casou e nunca teve filhos, e por isso adorava ficar de babá para os pais do nosso vilarejo que tinham algum compromisso.

Continuei caminhando para longe daquela rua e daquelas casas. Porém dessa vez entrei na floresta que havia ao sul da vila, já que perto da estrada abandonada em que eu havia pegado O Nôitibus Andante um casal rico de trouxas estava construindo uma casa de campo.

Eu conhecia aquela floresta melhor do que qualquer outro, ia sempre passear por lá. Passei pela primeira árvore que escalei na vida, com seus galhos baixos e o troco cheio de irregularidades pelo atrito causado pelas tempestades e ventos. Andei para o sul sempre ao lado de um riacho largo e raso, que desembocava numa lagoa centenas de quilômetros à frente, muito perto de outro vilarejo.

Parei quando finalmente vi a Pedra, como havia chamado a primeira vez que a vi, uma rocha gigantesca que estava ali desde sempre. Ela deveria ter quase três metros de altura e tinha um formato diferente, parecia muito com um dragão, ela tinha várias irregularidades que pareciam escamas, também tinha os membros bem desenhados assim como as asas, todo o corpo era cheio de estalagmites como se fossem espinhos que subiam junto com as escamas até o que parecia ser a cabeça do dragão de pedra, que eu não conseguia ver por estar muito alto.

Virei à esquerda da Pedra, para longe do rio e logo encontrei uma clareira bem no meio da floresta, parecia paranóia minha eu ter andado tudo aquilo só para aparatar, mas algo naquele lugar além de parecer aumentar meus poderes também me trazia memórias e sentimentos que não eram meus, memórias de veteranos de guerras que lutaram a margem daquele rio, de criancinhas séculos atrás que brincaram naquelas águas quando era verão e de amantes que se encontravam escondidos por ali.

Deixei as memórias de outras pessoas de lado e foquei em me lembrar mais pouco da aparência da Mansão Riddle. Ela era grande e fria, mal cuidada por dentro e pior ainda por fora, todos os trouxas achavam que ninguém morava na cada desde... desde que algo ruim ocorrera lá dentro.

Lembro que quando morava lá, antes de Voldemort caçar os Potter, sempre chorava quando chagava perto da sala de jantar. Um local grande com o chão de madeira que rangia conforme você andava e com grandes pinturas rasgadas penduradas nas paredes. Com a memória da sala de jantar tão amedrontadora eu aparatei.

Meus pés tocaram o chão quase que imediatamente. Tossi quando inspirei o ar, meus olhos arderam quando os abri, não havia lugar com mais poeira do que aquela sala em todo o mundo. Estalei os dedos e toda aquela poeira fora aspirada por mágica e desapareceu.

A casa estava mais devastada do que as minhas memórias mostravam. Quando admirei os arredores da sala meus olhos pararam na grande mesa de jantar que só tinha quatro lugares enquanto cabiam oito lugares. Senti um calafrio subir pela minha espinha quando vi aquela mesa, algo muito ruim ocorrera nela.

Sentei-me na cadeira da ponta que ficava de costas para o que um dia fora uma lareira. Um punhado de poeira voou quando meu peso caiu sobre o estofado velho.

Fechei meus olhos e fiz meu máximo para me concentrar em descobrir o que havia acontecido ali, mas estava muito nervosa e com falta de oxigênio ali dentro. Por isso aparatei para fora da casa, meus pés tocaram o chão e meus olhos foram cegados pelo sol que não adentrava dentro daquele lugar.

Ao meu redor um lugar que supostamente já fora um jardim se espalhava ao longe com sua grama mal aparada, um caminho de pedra desembocava em três pontos; a entrada da mansão que ficava na encosta de um morro, com várias janelas pregadas e outras tantas quebradas, e muita hera em todas as paredes; uma casinha de pedras mais bem cuidada, vi que uma luz estava acesa dentro dela, alguém ainda morava ali, talvez um Comensal do meu pai?; e por último, um portão que dava para a rua.

Tentei me decidir para qual lugar seria mais fácil ganhar informação, talvez depois de alguma tortura o comensal dentro da casinha me contasse tudo que precisava saber. Mas se encontrasse uma pessoa que vivia aqui há muito tempo e gostasse de conversar eu não precisaria usar mais de três palavras para descobrir tudo que seria necessária com muita tortura e tempo.

Escolhi a segunda e opção e caminhei para fora daquele gramado, tive que descer um morro gigantesco até chegar à rua que desembocava na entrada da mansão. Comecei a caminhar pelas ruelas, muitas pessoas me olhavam de esguelha quando passava, em vilarejos tão pequenos uma pessoa nova chamava a atenção. Mas eu estava me perguntando onde estaria alguém velho que gosta de conversar.

Fui andando pelas ruas de pedra até encontrar a praça do vilarejo que me parecia ser completamente trouxa. Enquanto andava descobri o nome do vilarejo que parecia estar escrito em todas as lojas – Empório de Little Hangleton, Prefeitura de Little Hangleton. O mais engraçado era que ao redor da praça só havia lojas e espaços públicos e nas ruas paralelas só havia residências, era como se toda a diversão que aquelas pessoas tinham era aquela área circular, o resto da vila se resumia a rotina.

Na praça muitas crianças trouxas brincavam no que parecia ser um parquinho, com balanços e pequenas construções de madeira que imitavam um castelo com escorregadores e gangorras. Perto dali um homem vendia pipoca e muitos velhos jogavam xadrez e dama trouxa nas mesas de xadrez e dama que havia do outro lado da praça, outros estavam sentados nos bancos brancos de madeira contando histórias antigas de coisas desinteressantes para mim a algumas crianças que não pareciam querer brincar. Alguns me olharam rapidamente, mas logo voltavam aos seus afazeres. Eu apenas me sentei longe de todos, em um banco que uma velhinha estava sentada.

A velhinha me olhou de esguelha e fez um barulhinho limpando a garganta, ela abriu a boca e começou a respirar por ela. Sabia que ela estava curiosa para saber quem eu era, por isso fingi não perceber e admirei a Mansão dos Riddle de longe bem na encosta do morro.

–A Casa dos Riddle – ela falou quando viu para onde eu olhava.

–Pois não? – falei como se não estivesse prestando atenção.

–Aquela é a Cada dos Riddle... bem, não é mais dos Riddle.

–Você quer dizer o casarão abandonado? – perguntei interessada.

–Sim, antes de ficar abandonada vivia os Riddle nela, há quase cinquenta anos atrás – meu pai morou lá comigo e seus Comensais dez anos atrás.

–Puxa – respondi. Os Riddle eram os avôs trouxas do meu pai – O que houve com eles?

A velha me olhou curiosa, sua língua devia estar coçando para me contar aquela fofoca que parecia já ter sido milhares de vezes contada. Mas ela também estava curiosa para saber quem eu era.

–Sou Marie Smith – inventei na hora o nome mais trouxa que podia. – Minha família acabou de chegar à cidade.

–Sou Joanna, vivo aqui desde sempre – a mulher riu, ri em resposta por educação. – Os Riddle eram a família mais rica e nariz empinada daqui. Eram eles o Sr. Thomás Riddle, sua esposa, Sra. Mary Riddle e o filho deles Tom Riddle. O filho era o pior de todos, esnobe e muito grosseiro, mas tinha uma bela aparência, isso tinha, cabelos negros como a noite e olhos verdes como as folhas de eucalipto. Tom um dia desapareceu daqui, os pais diziam que ele fora estudar em outro país, mas um dia ele voltou, a luz do quarto dele finalmente fora acesa depois de quase um ano apagada. Mas ele jamais saiu da casa depois daquilo, aposto que ficou mais esnobe ainda quando viajou para outro país e por isso não queria ver nós, pessoas normais.

Ela parou estrategicamente para aumentar mina curiosidade ou para diminuir a raiva que parecia ainda ter pelo meu falecido avô, que era um pobre coitado pelo jeito.

–Nossa! O que aconteceu depois? – perguntei fingindo inquietação, eu me mexi no banco para ficar mais próxima da mulher.

–Eles viveram dentro daquela casa por quinze anos até que em uma manhã a cozinheira entrou na sala de jantar e se deparou com todos os três mortos ainda na mesa de jantar, vestidos com a roupa de jantar com os olhos abertos, parecia que eles nem tinham terminado de comer! – agora eu havia ficado realmente surpresa. – Pois é, os policiais acharam que o assassino era o jardineiro, Franco, um homem muito suspeito. Ele voltou da guerra com um parafuso a menos, sabe? – confirmei com a cabeça mesmo não entendendo o que significava “com um parafuso a menos”. - Ele foi preso como suspeito, já que tinha a chave da casa e que as portas não foram forçadas nem nada. Mas depois foi solto quando o laudo dos corpos chegou dizendo que eles não foram enforcados, esfaqueados nem nada do tipo – aquilo já não era uma surpresa, eles foram assassinados com feitiçaria, com a Maldição da Morte.

–Eles morreram de causas naturais?! – fingi estar exaltada com aquilo. – Como isso é possível?

–Aposto que o laudo estava errado e que Franco havia matado todos os três. Mas ele teimou em dizer que não fora ele e que na noite do incidente ele vira um adolescente que não era da cidade de cabelos negros, alto como uma girafa e branco igual papel andando pelas redondezas – Tom Riddle. Aquilo era tudo que precisava saber.

–Mas que estória! – exclamei. Coloquei a mão na boca com uma expressão assustada. – Me perdoe, mas tenho que ir, minha mãe precisa da minha ajuda para fazer o almoço.

–Claro – a velhinha riu animada, ela parecia adorar contar aquela história para as pessoas. – Até outro dia Marie.

–Até.

Fui embora pela calçada, minha mente borbulhava com a história que a velha havia me dito. Entrei num beco e aparatei rapidamente de volta para a sala de jantar dos Riddle.

Daquela vez pressenti o arrepio. Novamente meus olhos arderam com o resto da poeira, acendi as velas com um estalo de dedo. Sentei-me à mesa na cadeira do lado esquerdo fingindo que ia comer ali. Tudo tão programado quanto um plano por anos planejado.

Accio prato e talheres – a mesa foi posta para quatro pessoas, peguei os talheres do meu lugar, contemplei o metal contra a luz das velas.

Hrriet disse que eu podia rever fatos ocorridos mesmo sem tê-los presenciados se tocasse em algum objeto que estava lá, um ponto fixo, peguei os talheres e fechei os olhos tentando ao máximo me concentrar. Aos poucos o barulho dos talheres ao bater na lousa, a risada de alguma conversa, no barulho da taça sendo preenchida pareceram sair da minha imaginação e começaram a ressoar na sala.

A memória caiu sobre mim como um trovão, minha cabeça ruiu para trás, minha boca se abriu e comecei a respirar audivelmente por ela, o sangue descia rapidamente para meu cérebro, logo minha visão ficou embaçada e em segundos perdi a consciência.

A família Riddle ceava em silêncio como sempre faziam, o único barulho era dos talheres de prata colidindo nos pratos brancos, o Senhor Riddle estava tomando uma taça de vinho quando um estrondo fora ouvido nos fundos, ele franziu o cenho;

–Quem está aí? – gritou. A sua esposa olhava para o marido assustada, como a covarde que era.

O filho olhava para a escuridão da onde o barulho surgiu, ele era igual ao meu pai apenas mais velho, com cabelos brancos nas têmporas, olheiras roxas e inchadas em baixo dos olhos, e rugas na testa e ao redor dos olhos.

Da escuridão um garoto apareceu na porta. A cópia do filho do Senhor Riddle caminhou até a mesa e sentou-se no único lugar vago. Tom Riddle era igual ao pai quando jovem e saudável.

–Quem é você? – o patriarca da família perguntou cerrando os olhos. O garoto sorriu e ajeitou o prato a sua frente com as mãos enluvadas, era engraçado imaginar que só uma digital dele poderia incriminá-lo.

–Não me reconhece vovô? – ele riu com a própria pergunta. Tom Riddle olhou para o seu suposto filho assustado demais para falar, era como se seu pesadelo tivesse virado realidade.

–Você não nos disse que teve um filho com aquela aberração – gritou a matriarca para seu filho. O filho da “aberração” cerrou o punho, não por estar ofendido por sua mãe, mas por ter que ouvir aqueles trouxas nojentos ainda reclamarem da sua existência.

–Não sabia que o bebê ia sobreviver – o homem disse para a mãe carrancudo. – Ela estava praticamente doente quando fui embora.

Senti pena do meu pai naquele momento, se eu fosse ele também teria matado todos aqueles cretinos.

–Qual seu nome rapaz? – o velho homem perguntou tomando um gole do vinho.

–Igual ao do seu filho, Tom Riddle – meu pai tinha os dentes tão cerrados que fora difícil entender o que ele havia dito. – Tom Servolo Riddle.

–O que quer de nós? – o pai perguntou para o filho que jamais havia visto. – Quer dinheiro? É isso? A sua mãe está precisando de dinheiro?

Daquela vez Voldemort acordou, Tom pegou a varinha no bolso e colocou-a no seu colo.

–Mérope morreu quando nasci, desgraçado! Não preciso de dinheiro, eu consigo isso sozinho, sou muito bom em conseguir o que quero. Muitas pessoas se importam com meus poderes, minha inteligência. Mas eu só queria mostrar como me sinto – o homem olhou surpreso para o garoto. Talvez ele não tivesse visto a encenação que meu pai havia feito, mas eu vi, os olhos tristes e a voz arrastada não conseguiam enganar alguém que mentia do mesmo jeito.

–Como você se sente, Tom? – perguntou sua avó com um pouco de pena do garoto. Tom se irritou com o tom da voz dela para ele, como se ele fosse algum pobre coitado, ele que deveria ter pena daquela trouxa ridícula.

–Eu sinto que você precisa morrer, vovó – ele falou aquilo e apontou a varinha para a mulher; o objeto tinha mais de trinta centímetros, era de alguma madeira escura, provavelmente azevinho, e o núcleo era de pena de fênix. – Avada Kedavra! – sibilou.

Um flash de luz verde saiu da ponta da varinha e abateu a mulher, que despencou na hora cadeira a baixo, seus olhos abertos de terror. Quando olhei novamente para o jovem percebi como a cor dos olhos dele era igual à cor do feitiço, ele tinha um sorriso insano no rosto.

–Mary! – gritou o velho. Ele estava prestes a se levantar para acudir a esposa quando Tom apontou a varinha para ele e pela segunda vez naquela noite disse as duas palavras tão temidas por todos os bruxos e que parecia melodia aos meus ouvidos e aos do meu pai pelo jeito.

Avada Kedavra – ele falava aquelas palavras como um mantra, o flash o fazia se sentir mais poderoso, mais calmo, tão calmo quanto possível para alguém que sabia o que elas significavam; morte.

O velho teve o corpo projetado para frente quando o flash verde o atingiu num baque, e seu rosto desmoronou em cima da taça de vinho que caiu rolando até a borda mesa, derramando vinho tinto no tapete e na bela toalha de mesa rubra antes de se espatifar no chão.

Tom se levantou e caminhou para perto do corpo do avô, ele riu da posição que o homem havia morrido, tão patético, pensou.

Ele se virou para o pai, que o olhava com uma expressão de puro terror. Ele parecia tão espantado, tão temeroso que Tom não pode acreditar na sorte que tinha, finalmente o homem que o havia abandonado sentira o mesmo que o pobre garoto.

–Agora você sente o mesmo que eu. Perder seus pais dói um pouquinho, não? – Tom, o pai, estava muito assustado para falar qualquer coisa, como qualquer trouxa nada daquilo fazia sentido na mente dele, ele se sentia tão impotente como no dia que Mérope Gaunt Riddle, sua esposa, parou de lhe dar aquela estranha bebida que o embriagava e o apaixonava por aquela mulher.

Tom Servolo Riddle estava se sentindo realizado naquele momento, depois de dezesseis anos finalmente descobrira quem era seu pai, mas ele era tão miserável, assim como sua mãe fora, que o garoto se sentiu a criatura mais repugnante do mundo. A junção de uma aborto com um trouxa, lixo com esgoto, nada com nada, naquele momento ele jurou que jamais deixaria uma criatura nojenta como seres sem mágica respirarem o mesmo ar que ele.

–Pense que o que estou fazendo é um ato de misericórdia, eu podia te deixar preso aqui junto dos corpos dos seus pais e a cada segundo que os olhasse você se lembraria de como eu me sinto. Mas agora que estou aqui, sei que sua morte é um ato necessário e eu farei o que é necessário... então coopere comigo pela primeira vez em toda a sua miserável vida e morra! Avada Kedavra.

A cabeça do pai de Tom desmoronou mais lentamente do que os outros dois Riddle, sua bochecha esmagou o filé de peixe que estava no prato, purê voou até cair na lapela da blusa social do homem e rolou até cair no tapete junto com um molho amarelo e pedaços de vegetais que, felizmente, quase caíram em cima do sapato de couro de dragão novos em folha de Tom Riddle.

Depois de ter pronunciado pela terceira vez aquelas palavras algo havia mudado muito no adolescente, ele sentia que havia perdido uma parte de si naquele momento, como se um buraco tivesse sido cavado dentro dele.

Fora Tom Riddle que entrara na Casa dos Riddle, um pobre garoto buscando sua vingança, mas fora Voldemort que saiu, o ser com a alma corrompida três vezes em uma única noite, um monstro e assassino.

Voltei à realidade tão rapidamente quando saí. Percebi que estava sentada na mesma cadeira que meu avô na noite da sua morte, não fiquei chocada nem surpresa, no fundo estava satisfeita por saber o que havia acontecido.

Quando recordei o que havia acabado de assistir a primeira coisa que me veio à cabeça fora a sensação que meu pai teve depois de matar seus familiares, aquele buraco dentro de si, que eu conhecia tão bem.

Dizem que nascemos com alma, e a cada magia negra que fazemos a alma é agredida e corrompida, bruxos das trevas têm a alma tão cortada e destruída que isso muda a aparência do bruxo além de torná-lo legitimamente cruel. Tive essa sensação quando fiz meu primeiro cruciatus. Mas o que tinha feito meu pai sair daquele rosto tão lindo para aquilo que minhas memórias guardavam?

Estalei os dedos e tudo voltou ao normal - as velas se apagaram, os talheres e o prato voaram de volta para onde quer que estavam e a poeira voltou a preencher o lugar do oxigênio.

Mexi no meu cabelo para tirar a poeira dele, um cacho caiu sobre meus olhos e uma parte do sonho da manhã voltou a minha mente; uma garotinha muito loira com grandes olhos azuis igual ao mar. Andei até o espelho empoeirado pendurado acima da lareira que já não parecia uma lareira, estalei os dedos e meu reflexo brilhou mais do que o luar através do espelho.

Estalei os dedos novamente e o espelho refletiu uma Charlotte loira com o mesmo nariz bolota, as mesmas rechonchudas bochechas, os mesmos lábios vultosos e os olhos azuis e o mesmo corte de cabelo, mas os fios eram loiros como deveriam ser os de qualquer Le Fay, afinal eu era também uma meia-veela ou algo do tipo, meu cabelo devia ter aquela cor! Eu nasci com o cabelo daquela cor.

Ver o meu reflexo daquele jeito piorou meu humor drasticamente. Eu odiava ser uma Le Fay! Odiava meus primos que mal pareciam Le Fays, odiava Morgana com todo aquele negócio de dons e maldições, odiava minha mãe por ela ter escolhido logo Voldemort para ser meu pai e odiava Voldemort por ter escolhido caçar os Potter ao contrário de cuidar de mim... odiava, odiava e odiava.

Senti minhas mãos coçarem na esperança de socar todas aquelas pessoas, imaginando-as sofrerem muito. Podia ouvir o estalo que os narizes e queixos delas fariam ao serem sovadas pelas minhas pequenas, delicadas e quase transparentes mãos, mas como eu não podia me permitir tal presente cerrei meus punhos até minhas unhas perfurarem a fina pele da minha mão e o sangue molhar meus dedos e gotejar no chão. Automaticamente o castiçal de cristais caiu sobre a mesa num estrondo dividindo-a ao meio, o espelho arrebentou em milhões de pedaços e projeteis de vidro foram arremessados contra o meu rosto que estava de fronte ao objeto.

Sangue pingava da minha mão para o chão de madeira, admirei as palmas das minhas mãos com quatro fendas do formato das minhas unhas de onde o sangue surgia como se fosse uma fonte. Não sentia meu rosto, toquei com as costas limpas das minhas mãos minhas bochechas e quando as tirei admirei o branco da minha mão misturado com o vermelho do meu sangue que brotava dos cortes dos estilhaços do espelho no meu rosto.

Quando voltei ao normal fiquei com vergonha do meu ato. Usando magia fiz os cacos se juntaram na moldura formando o velho espelho sem nenhuma gotinha de sangue. Sussurrei um feitiço de cura para fechar os cortes do meu rosto e das minhas mãos. Fiz o castiçal voltar a ficar pendurado no teto intacto assim como as metades da mesa que se uniram.

Estava me sentindo péssima, meus olhos estavam muito pesados assim como minhas pernas. Sentei-me e coloquei a cabeça entre os joelhos e vi que meu cabelo ainda estava loiro, bufei e estalei os dedos para voltarem para o castanho que eu tão conhecia. Meu pai achava que eu era uma serva dele, eu era um peso na vida dos meus primos. Parecia que só as pessoas que eu achava desnecessárias eram as que se importavam comigo.

Olhei para a escuridão e as palavras de Narcisa vieram na minha mente, me importo com você e sempre me importarei mesmo que você tenha decido me odiar. Eu a odiava menos que aquelas pessoas.

Me levantei decida a aceitar a proposta de Narcisa Malfoy e ir visitá-la na Mansão Malfoy. Afinal fora aquilo que dissera na carta não é mesmo?

“Narcisa,

Esse ano foi muito corrido, estou me acostumando com a idéia de fingir para centenas de pessoas que eu não sou filha de Voldemort, nem dona de um poder inimaginável ou que não posso matá-los num estalo de dedos.

Como já disse na última vez que nos vimos, eu nada posso sentir por alguém que não conheço. E agradeço por você se importar comigo tanto assim, mesmo que isso seja uma promessa que vocês fez para minha mãe no leito de morte dela e da sua família ser conhecida como ex-comensais do meu pai, eu aprecio seus cuidados comigo.

Sinto que devemos nos falar já que da última vez saí sem ter terminado nossa conversa, por isso tentarei passar na sua casa antes da próxima semana no período da tarde, após o almoço. Tente não comentar sobre minha ida até sua casa.

Até nosso encontro,

C. Le Fay”


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Notas finais do capítulo

Gostaram?
Sei que parece que estou adiando o encontro da Charlie com o Harry, mas na realidade eu estou seguindo uma Linha do Tempo que projetei antes mesmo de começar a postar essa fic. Podem ficar "tranks" que no próximo ou no depois do próximo capítulo o encontro ocorrerá.
Estou aguardando vocês nos comentários!