Charlotte Le Fay - Herdeira De Voldemort escrita por DudaGonçalves


Capítulo 13
Efeitos Colaterais e Popularidade.


Notas iniciais do capítulo

Como eu já havia dito esse é o último capítulo do primeiro ano da Charlie.
Esse último capítulo é para todos vocês que me mandaram reviews e me motivaram a continuar a escrever essa fic.
Boa leitura para todos,



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–Bem-Vinda – uma voz doce e melodiosa falou vinda de lugar nenhum.

Não estava em Hogwarts, não estava em lugar nenhum na verdade. Era tudo branco, o chão era branco.

–Bem-Vinda aonde mesmo? – perguntei para a voz. – Porque não faço idéia de onde estou.

–Não importa onde você está e sim com quem você está... e só para constar você está comigo Srta Le Fay.

–Já que você sabe meu nome eu mereço saber o seu, mesmo que isso seja um sonho...

–Ah, mas isso não é um sonho Charlotte. Pode parecer um, mas não é. Meu nome é Harriet Le Fay, e eu irei te dizer coisas sobre sua família que ninguém mais irá.

–Você é uma Le Fay? – viva?, não tive a audácia de perguntar em voz alta.

–Sim, sou umas das primeiras Le Fays a nascer e morrer e uma das mais poderosas. Por isso fui enviada aqui para te ensinar e te ajudar, porque não há ninguém tão poderoso o suficiente para criar esse tipo de ligação com você se não eu.

–Será que você pode me explicar um pouco sobre tudo isso? – falei olhando para meus lados.

–Sua mãe me falou que mandou uma pré-carta sobre tudo isso e eu vou te explicar o básico. Para poder te explicar tudo vou ter que comentar que nada é concreto a não ser o passado, o que passou passou e não podemos mudar, isso enquanto o futuro é mais maleável, porém há certos fatos do futuro que também são concretos, por exemplo irei usar o fato de você ter sido a “escolhida”, pessoas podem fazer parecer que poderia ter sido sua mãe, poderia ter sido sua avó, mas na verdade você estava fadada desde o segundo que a profecia foi feita. Pense no tempo como a raiz de uma árvore, o topo é o passado e as partes mais profundas é o futuro, no momento que houve a profecia foram crescendo ramificações até chegar o momento que você nasceria, todos seus descendentes foram fadados a viver e reproduzir para você existir e o resto de suas vidas virou detalhes para outros momentos.

“Já que entramos nesse assunto vou explicar um pouco sobre essa visão constante que você vem tendo sobre Cedrico Diggory morto,”

Como ela sabia disso? Será que eu era vigiada por Le Fays?

“parece que ela te assombra e isso ocorre porque ela é sua primeira visão. A visão é um dom único, aqueles que só alguns nascem com, e nós duas nascemos com esse dom (outra razão para estar aqui), e talvez esse seja o pior dom que se pode ter. Você começa a ter pesadelos ou ter desmaios que na verdade são as visões se manifestando, geralmente no início quando não conseguimos controlá-las elas aparecem quando estamos inconscientes, quando nossas mentes estão livres de qualquer pensamento, mas sempre ficamos sem noção do mundo exterior quando adentramos em uma ramificação do futuro – não se esqueça que o tempo é aquela raiz de árvore – Nós que temos esses dons somos sensíveis a essas ramificações que crescem do nada...”

–Mas eu sempre previ mortes, sempre que toco em alguém eu sinto a morte... desde sempre.

–Não querida, você sente a morte daqueles que tem a morte certa, já presente nas ramificações. A morte é mais fácil de ver mesmo, são coisas muito marcantes. Só que não pense de forma tão trágica, desde o momento que nascemos estamos morrendo, mas existem pessoas que morrem mais cedo e outras que morrem mais tarde.

–Então Cedrico vai morrer mesmo? Não dá para mudar isso? – ela murmurou “u-uhum”. – Então se eu tiver a visão é porque vai acontecer.

–É mais ou menos isso menos. Eu vejo que você está começando a iniciar o processo mais cedo que o normal, mas era de se esperar vindo da escolhida, seus poderes superarão ou serão muito próximos aos de Morgana. Mas não se assuste, tudo ocorre muito naturalmente, você sonhará e na manhã seguinte se lembrará dos deus sonhos e também terá apagões ou assim parecerão para aqueles que verem, porém serão as visões se manifestando. E aproximadamente daqui um ano você poderá ter visões direcionadas, como para descobrir se aquele gatinho vai lhe convidar para sair ou não, ou qual será a matéria da prova, até qual lado você vai escolher... Mas se as visões aparecerem meio desfocadas elas não são tão certas, são os benefícios de ter o dom, vemos coisas que podem acontecer ou não.

Aquilo era mais complicado que pensei, porque parecia que ia doer... será que teria outros dons? Ocorria tudo naturalmente, então eu só iria ficar esperando?

–Não dói Charlotte, a não ser pelos seus apagões que podem ocorrer quando você está em qualquer situação. Mas tenta se afastar um pouco desse Diggory, podem haver efeitos colaterais quando os dons se iniciam. E eu notei que você terá vários dons muito interessantes; você poderá ver o passado dentro de um ponto fixo, como olhar para uma cadeira e conseguir vê-la séculos atrás em uma sala de jantar ou talvez mais no futuro e descobrir que no dia anterior o seu pior inimigo teve uma reunião sentado naquela cadeira, mas esse dom não é involuntário como o da visão – ela pareceu ler minha mente. – E eu tenho sim o dom de ler mentes, é muito incrível, mas bem direcionado, escuto apenas o pensamento do momento que comecei a prestar atenção e tenho que ver a pessoa para poder ler seus pensamentos... uma Le Fay lá na prisão tem o dom de ler a mente, que é a mesma coisa, só que são todos os pensamentos, desejos, medos, vontades, planos já tidos ou planejados de se ter por qualquer um que ela toque.

–Por que todos os meus dons têm a ver com o tempo e nenhum sobre controlar os quatro elementos ou algo assim? – ela suspirou.

–Nós recebemos os dons que são próximos de nossas personalidades, você se preocupa muito com o que pode acontecer, o que aconteceu, com as possibilidades e com as chances... é isso que você se importa, que você gasta seu tempo fazendo. Morgana se preocupava com o mesmo, assim nós temos o dom dela, e em ficar a mais poderosa e inteligente de todas e os dons dela foram dirigidos para isso. Sua avó era muito preocupada com os outros e por isso ela tinha o dom da proteção. Isso é muito relativo a pessoa que você é. Você também tem um dom ligado à água por falar em controlar os quatro elementos, mas como você não sabe nada da profecia não vou ficar falando muito.

–Água? – logo pensei no quanto eu amo tudo relacionado à água.

–E você é muito bonita, quero dizer, olha só para você! Parece uma boneca de porcelana, e quando crescer vai se tornar uma mulher magnífica, daquelas impossíveis de não olhar. Aposto que você tem o dom da beleza, mas não há como saber...

Fiquei um pouco corada no sonho, porque ela diria isso? Aquela mulher era uma Le Fay bem doidinha.

–Por que você acha isso?

–O dom da beleza é um dos mais incríveis que se existe não que seja porque alguma Le Fay é feia, visto que nenhuma de nós somos, mas tem aquelas que são delirantes, obras-primas, todas as mulheres invejam, falam mal, entretanto, lá no fundo, desejam ser idênticas a elas e todos os homens são atraídos por elas. E não digo só no quesito beleza, elas são inteligentes, engraçadas, e ao mesmo tempo tudo que qualquer um já desejou, é como se... qual era a palavra que você pensou quando sentiu o cheiro de Cedrico? Aquele cheiro que penetrava em você e simplesmente era singular?

–Embriagante? Inebriante? – e era mesmo, aquele cheiro tão peculiar... tão único.

–Sim! É como se elas inebriassem todos por onde elas passam. Claro que tem aqueles que as odeiam por ser tão atrativas, mas ninguém dá muitos ouvidos para essas pessoas. E saiba que aquele cheiro tão bom era o cheiro da morte dele; querida, realmente tem muito do seu pai em você, sua mãe teria odiado o cheiro, teria achado repugnante, mas não você... a morte cheira bem, o som do Avada Kedavra é quase uma melodia, aquele raio verde dele é tão bonito não é? – abaixei minha cabeça, porque era mesmo para mim e não deveria ser. – Querida, ser maléfica não é tão ruim, ser apática não te faz uma pessoa ruim ou um mau exemplo para a sociedade. Não existe bem e mal, existe a concepção que as pessoas introduziram em nossas mentes por gerações. Matar não é errado, mas os motivos que o levaram a matar é que podem ser errados...

–É uma forma muito bruta de se pensar... eu imagino que não importa meus motivos, matar alguém é errado.

–Nem mesmo por uma causa maior? Nem mesmo para se proteger? Porque existe no mundo trouxa essas coisas de com dolo, sem dolo, legítima defesa... existem boas razões para matar. Óbvio que eu acredito que matar por diversão é desumano, mas matar por necessidade é primitivo, nosso DNA básico quer sempre que lutemos, que vencemos, “nunca desistir, nunca se render!” e se para vencer tivemos que matar? E se para sobreviver tivemos que matar? Não matamos o porco para comer sua carne para podermos ter energia e força para viver? Isso é mata para sobrevivência, completamente primitiva. Pessoas resolveram achar formas “civilizadas” de fazer as coisas, comer a carne de um animal assassinado cruelmente com garfo e faca não faz a morte menos cruel, mas ainda assim pensam que aqueles que não usam talheres são bárbaros... pura hipocrisia.

“Charlotte, você é poderosa ao extremo, bela ao extremo, astuciosa ao extremo, você mataria por vários motivos, certos e errados (e a concepção deles sempre será diferente para cada pessoa), você faria de tudo para conseguir o que quer, desde fazer a pessoa que destruiu sua vida sofrer a salvar a vida de alguém que você ama. Por isso você foi para a Sonserina, é assim que você pensa, igual a mim, igual a sua mãe, igual ao seu pai...sua mãe não mataria, mas isso porque ela acredita que toda vida é uma vida e eu sinto que você deseja acreditar que também não conseguiria matar, mas não poderá ser assim

Talvez eu esteja exagerando tentando te fazer ver isso tão cedo, você ainda é muito jovem para entender essas coisas e está muito cedo para você ter que entender. Eu estou forçando isso de forma muito grosseira e agressiva, faz parte da personalidade... ser entusiasmada em mostrar meus pensamentos”

–Eu não sou tão jovem assim... – reclamei, tinha quase doze! E a voz riu de mim.

–De tudo que te falei foi isso que te perturbou? Tenha calma, aprimore seus dons, tenha suas visões sobre morte, mate alguém como imagino que você fará, sinta amor, ódio, dor, desgosto, amargura e depois me fale mais sobre o assunto.

Queria discutir mais sobre o assunto, mas por alguma razão desisti (imagino que era porque eu já sabia que ela tinha razão, pelo menos na sua frase final).

–Quando acordar estarei novamente sozinha, não é?

–Até o momento sim, mas acredito que nossa conexão pode aumentar e se isso acontecer conseguiremos nos comunicar sem problemas quando você voltar a linha temporal normal.

–Oi? – linha temporal? Essa mulher falava de uns assuntos para alguém nascido no século V ou algo por aí.

–Estamos nos comunicando entre o seu mundo com sua linha temporal e a minha prisão que tem uma linha temporal diferente, exatamente no vácuo entre ambas linhas; Por isso que tudo aqui é branco e sem vida. E sobre eu ser meio estranha para meu século é que convivo desde o século V até hoje com Le Fays muito mais novas, por lá vamos seguindo a moda. Por isso sabemos tudo que está acontecendo aqui, somos avisadas pelas novatas.

–Ah...

–De qualquer forma é hora de acordar. Se quiser se comunicar é só ficar inconsciente e me chamar, eu posso demorar um pouco, mas irei aparecer. Até mais...

Quando acordei no outro dia ainda não havia aceitado muito bem tudo que me lembrava do dia anterior, e muito menos tudo aquilo que havia “sonhado”.

Fiquei me perguntando se não era muito cedo para saber daquilo tudo e ter que me preocupar antecipadamente, porque não esperar até a hora “H” pára descobrir tudo? Por que tenho que prever a morte do Diggory tão cedo?

Era tão estranho pensar na morte dele igual penso na matéria da aula ou no dia nublado e pensar se aquilo era chuva ou não... era tão apático de mim, mas eu não poderia mudar isso de qualquer forma, me preocupar parecia tão bobo, entretanto não me preocupar parecia insensível.

O resto das férias, até a volta dos alunos que passaram o natal em casa, fora solitário levando em conta que Ali ainda não falava direito comigo, os gêmeos Weasley estavam criando algum tipo de plano para levar Hogwarts ao caos e os outros alunos eram apenas conhecidos que me cumprimentavam nos corredores.

Por isso acabei me centrando nos meus dons e em uma maneira de conseguir iniciá-los de uma vez, agora que entendia o que era e como era certos dons meus (E a cada vez que me lembrava das palavras escritas na carta da minha mãe, no verso do envelope e no que Harriet havia me dito percebia o quanto elas disseram a palavra “maldição!” e o quanto elas deixaram de me dizer ou deixaram peça metade suas sentenças porque/por causa/por culpa da “maldição”).

Comecei a tentar fazer minhas visões começarem a aparecer, ficava “inconsciente” durante grande parte das aulas quando elas recomeçaram. No período entre as aulas e minhas noites de sono ficava o mais perto possível da água (que era um elemento que eu poderia controlar ou qualquer coisa do tipo já que tinha um dom com isso). Mas o único dom que realmente consegui usar com total facilidade foi o de ver o passado a partir de um ponto fixo, consegui ver toda a história por trás o colar da fada que recebi, conseguia ver as pessoas que sentaram na mesma cadeira que eu sentei na aula de história, mas esse não era um dom muito interessante... a não ser quando descobri que conseguia ver o passado das pessoas usando elas como o ponto fixo. Consegui saber a história da vida de uma garota que estudou junto com meu pai... a professora McGonagall (sim, ela estudou com meu pai e eu nunca soube disso até usar meu dom nela).

Por ficar tão centrada nesses dons acabei parando de dar atenção aos meus amigos, a todos eles quero dizer, parecia uma planta de tão quieta e imóvel que ficava, e digo aqui que tinha uma razão superior para ser tão difícil com meus amigos dessa forma, eu acreditava que se meus dons fossem aprimorados isso significaria que estava pronta e que o envelope se abriria e que eu liberaria a alma da minha mãe... e me centrei tanto naquela idéia que não ligava para mais nada, centrei ao ponto de não precisar abrir minha boca a não ser para comer e ter energia (uma necessidade primitiva como Harriet havia dito).

Por falar nela, ela abominou o que eu estava fazendo com meus amigos. Disse que sendo um vegetal não me deixaria pronta mais rapidamente e que a prisão não era tão ruim, ela me contou que quem vivia muito tempo lá que sentia o desespero, que ela sentia o desespero, mas que minha mãe não se sentia dessa forma – ela estava feliz em certo ponto de saber que eu estava bem, e que sempre sentiu falta da mãe dela, que eu soube através da carta dela que ela fora assassinada pelas mesmas pessoas que estavam ou estariam presas com elas naquele lugar.

Apenas quando faltava um mês para o inicio das provas finais eu finalmente aceitei que deveria estudar para os testes, só para não chegar lá sem saber nada, então eu parei de tentar fazer meus dons começarem a acontecer. Foi aí que finalmente pude dar atenção aos meus colegas, e ouvir todas as suas reclamações. Foi engraçado e estranho perceber que eles haviam mudado de aparência, desde que os olhei pela última vez, realmente olhei, Marie estava até com o cabelo mais longo.

Marie me avaliou de cima a baixo uma única vez e deixou de lado os meses que fiquei quase como um vegetal, Jenn fingiu que nada havia acontecido e começou a rir comigo e Ali sorriu para mim quando puxei assunto com todo mundo num jantar e não pareceu estar mais com raiva do acontecimento das férias, aposto que ela achou que fiquei vegetando por causa disso! Minha vontade era dizer que não fora isso, mas era melhor deixar nossa briguinha arquivada e não falar mais dela.

Não descobri o plano diabólico dos gêmeos antes deles fazê-lo; eles estouraram uma quantidade significativa de bombas de bosta em todos os banheiros de Hogwarts, óbvio que Filch queria a cabeça deles por aquilo e, claro, que eles limpassem os banheiros, mas Dumbledore não tinha como culpá-los, muitos alunos compravam bombas de bosta e não podia dizer que foram eles (mesmo no fundo sabendo que foram eles sim).

Encorajados com isso os garotos fizeram mais uma “brincadeira”, eles libertaram todos os animais usados nas aulas de Trato das Criaturas Mágicas, um dia todo mundo acordou com barulhos estranhos e Hagrid, o guarda-caça, com seus trezentos quilos entrou no Salão Principal com a roupa toda furada e chamuscada dizendo que os bichos estavam soltos.

Olhei para os gêmeos que tinham um olhar muito vivo no rosto e soube na hora que não fora um acidente, e pelo breve olhar de Dumbledore aos garotos eu posso apostar que ele também percebera.

Quando eles estavam indo para sua aula depois daquela entrada triunfal de Hagrid eu os parei do lado de fora do salão e empurrei os dois, com dificuldades, para dentro de uma sala vazia.

–Qual de vocês dois teve a brilhante idéia de libertar bichos que vocês não têm a menor noção se são perigosos ou não em uma escola? – estava com muita raiva dos dois, como eles podiam ser tão inconseqüentes? E ficava a cada segundo com mais raiva quando comecei a pensar sobre o assunto, mas foi aí que não fazia sentido eu ficar brava, não havia motivo para eu me importar com os dois ou com qualquer um naquela escola.

Respirei fundo tentando controlar essa raiva que estava sentindo. Enquanto isso os garotos contaram uma história sobre como fizerem e por que.

–Tentem serem mais leves com as pegadinhas, já imaginaram se o Hagrid morresse? – eles abaixaram suas cabeças, mas ainda tinham uma felicidade estranha no rosto. – Como podem estar tão felizes com isso? Foi bem humorado e bem planejado, mas muito arriscado!

–Admito que as bombas de bosta foram nossa pegadinha, mas... – Fred parou e me olhou bem fundo nos olhos e deu um suspiro. – queríamos mostrar que as férias inteiras sem aprontar não foram por nada.

Senti que Fred mentiu na segunda parte. E, como sempre, eu deixei a conspiração dos gêmeos Weasley continuar sem os questionar nem por um segundo sobre o assunto.

–Tudo bem então – dei um leve suspiro. – Vejo vocês depois, tenho que correr para a aula de História da Magia - (mesmo sendo a que mais odiava eu realmente precisava saber qual era a matéria que cairia na prova)

–Tudo bem – Jorge se pronunciou. – Nós vamos ir treinar um pouco de quadribol para derrotar de novo a sua Casa na final.

Parei de costas para eles, me virei dando uma gargalhada e olhei para ele com descrença.

–Vai sonhando, Weasley. Nosso time é muito melhor que o de vocês!

–Ah é? – Fred falou fazendo uma careta de descrença. – Então por que você não vem jogar com a gente?

–Dois contra um? – tentei não mostrar preocupação. – Bem... se for contra vocês dois já ganhei. Vamos lá.

Matei as duas aulas de História da Magia para ficar jogando quadribol com uma Cleansweep que era do irmão mais velho dos gêmeos, Carlinhos Weasley, ex-capitão do time da Grifinória. Os gêmeos me contaram que ele saíra ano passado na metade do ano letivo para ir trabalhar na Romênia numa reserva de dragões.

Como era proibido usar o campo de quadribol sem autorização eles me mostraram uma clareira na floresta que ficava do outro lado do Lago Negro, as árvores eram tão grandes e juntas que mesmo quando voávamos muito alto ninguém, mesmo que estivesse na torre mais alta de Hogwarts, poderia nos ver lá.

Como estava muito motivada pelos gêmeos para ganhar e mostrar que eu era boa no quadribol – passei anos jogando contra Thomás, que sonhava em entrar no time da Corvinal, mas como ele sempre perdia para mim já podia imaginar seu fracasso nos testes deste ano – fiz o máximo que pude para esmagar aquelas cenouras voadoras e, bem, sem querer me gabar, eu tive uma vitória muito impressionante.

Descemos das vassouras e senti como se tivesse perdido uma parte de mim quando meus pés tocaram o chão. Apoiei-me nos meus joelhos e tive minha visão tampada pelo meu cabelo completamente molhado, não só de suor como da cerração que estava naquele dia.

–Muito chocado, Weasley? Quer ir para sua caminha chorar? – perguntei com um sorriso de escárnio entre os lábios.

Jorge tinha os lábios comprimidos em uma linha dura e reta, e Fred me olhava surpreso ainda não acreditando no que eu podia fazer.

–Devo admitir que nunca vi ninguém jogar assim, bem que você podia ter escolhido ser da melhor Casa, em Charlie?! – Fred sorriu. – Rugir para as serpentes? Mas não... rastejar é mais divertido!

–Eu sou muito ambiciosa e astuciosa para ser da Grifinória – o que era pura verdade. Fiquei muito próxima do Fred, como se nós estivéssemos mesmo discutindo. – Para ser grande você deve começar perto dos grandes – não sei o porquê, mas aquela frase me fez lembrar de Narcisa Malfoy.

–Foi por isso que você nos ignorou quando as aulas voltaram? – Jorge parecia realmente irritado, podia sentir na voz dele um rancor.

Olhei para ele e percebi que ele estava realmente irritado. Como todo mundo pode ficar bravo comigo só porque eu fiquei alguns meses mais quieta, na minha? Não pensei que para eles seria mais difícil entender minha verdadeira razão, eles iriam criar razões e elas não seriam boas. Imaginei que se eu desse a eles a mesma explicação que dei as meninas eles também iriam me perdoar.

–O quê? Eu não ignorei vocês... eu, eu estava passando por um momento difícil...

No Ano Novo eu tive uma visão sem estar inconsciente, eu estava sentada admirando o lago negro quando meu cérebro parou de funcionar e na minha mente veio a visão de uma coisa negra, uma névoa estranha que até poderia ser liquida ou sólida como uma mancha ou uma poça, e ela falava, ela fava a língua das cobras.

Ouvi um movimento atrás de mim e então vi um jovem bruxo bem no meio daquela floresta negra com a varinha em punho, ele olhou para a névoa com curiosidade. Ele tocou a névoa, eu não conseguia ouvir uma palavra, mas me pareceu que a névoa estava falando algo porque ele falou algo olhando-a... era uma cena tão estranha.

–Então... – finalmente consegui ouvir uma voz. – o mestre deseja que eu pegue isto para o senhor?

–Sii-im – uma voz áspera, quase um sussurro respondeu, e parecia realmente vir da névoa. – Pegue-a para mim, ela é a única coisa que poderá me ajudar a ter meu corpo de volta, ter minha força de volta.

–Lorde Voldemort, eu não sei se sou qualificado para ajudá-lo. Sou um mero professor... – o jovem disse. Pai?! Meu pai era uma névoa?

–Mas você é, acredito que seja muito mais do que imagina – meu pai babando no ovo de um carinha cor de leite azedo e que parecia ter feito xixi nas calças? Ele realmente estava necessitado de ajuda...

Sempre dei o meu melhor para esquecer tudo sobre meu pai, e consegui muito bem. Mas no dia do meu aniversário e no dele parecia que eu podia senti-lo, como se ele estivesse vivo. E aquela visão, meu pai estava realmente vivo, não era apenas um sentimento que tinha, era verdade, e ele teria ajuda para voltar a ter um corpo, a ser novamente Lorde Voldemort.

–Claro... nós entendemos – Fred olhou surpreso para Jorge, acho que ele também nunca vira o irmão irritado daquela maneira. – Só tínhamos achado que você estava meio estranha, não só com nós, mas com todo mundo.

Fred olhou para Jorge, sabia que agora ele supostamente deveria continuar a frase do Fred, mas ele só me olhou, com menos raiva.

–Você é boa em quadribol, deveria fazer os testes no próximo ano – ele falou depois de alguns segundos. Me pareceu que ele ia me perguntar sobre o motivo deu ter ficado tão distante, mas fechou a boca e não falou mais nada.

–Muito obrigada, Jorge, quem sabe eu não tomo coragem de tentar? Bem, tenho que ir – tentei me esquivar daquela situação da melhor maneira. – A próxima aula é muito importante.

Enquanto corria percebi que ainda tinha a vassoura nos meus braços, Droga! Agora tinha que voltar e devolve-la, ou podia entregar depois não é?!

Mas antes de fazer uma decisão caí de joelho no chão, a vassoura bambeou dos meus braços e caiu como um peso morto na relva. Olhei aquele movimento como se fosse um filme, meu cérebro estava desligando igual ao dia da visão do meu pai.

Eu estava em cima de uma vassoura que jamais havia visto na loja de quadribol, devia ser um modelo novo, e estava vestida com o uniforme da sonserina... eu jogava para a sonserina? Sim, eu jogava, pelo que conseguia ver eu era uma artilheira... eu havia pego a goles e uma garota parecia querer me parar, pegar a bola de mim, mas eu não deixei, joguei a bola para outro jogador da sonserina que piscou para mim e deu um sorriso de escárnio para a garota que teve de mudar de planos. Percebi qual era o plano dele e fui para perto dos gols do adversário; perdi um pouco da linha do pensamento quando um garoto de cabelo preto da Grifinória passou zumbindo do meu lado.

No fim eu me vi caminhando para o vestiário, mas antes bati na mão de alguém na arquibancada que dizia que eu tinha arrasado. Eu, a que estava tendo a visão, olhei para a pessoa e vi que era Marie que estava com o cabelo novamente cortado Chanel.

Opa! Mias um visão para adicionar... realmente não era tirando cochilos que eu teria essas visões, elas realmente vinham do nada. A decisão de ir jogar hoje com os gêmeos criou a ramificação no meu futuro de mim jogando quadribol?

Deixei isso de lado já que agora entendia que isso iria acontecer muitas vezes, me levantei e limpei meus joelhos sujos de folhas e voltei a correr para lugar nenhum. Quando pisei dentro do castelo me lembrei de que aquele horário era vago, quando meu estomago roncou sabia para onde ir.

No caminho para a cozinha acabei esbarrando na última pessoa que esperava ver. Tentei fingir que não havia percebido que era ele, algo parecia me fazer querer parar e conversar, mas quando olhei dentro dos seus olhos meu cérebro parou por alguns segundos... será que ter duas visões seguidas uma da outra fazia mal?

Para meu pesar Cedrico Diggory parecia ter me reconhecido, enquanto caminhava mais rápido ainda pude ouvir a voz dele entre meus batimentos que ecoavam nos meus ouvidos.

–Charlie! Como foram suas férias? – Cedrico me parou apertando meu braço, aquele mísero contato fez um arrepio subir pela minha espinha como um furacão e não tive como me conter e olhei fundo nos olhos cinza dele. Olhos cinza, frios e sem vida.

Como um raio descendo pelo céu até quebrar no chão uma memória minha, de algo que ainda não parecia ter acontecido, veio à minha mente. Senti novamente como se fosse um filme o vento batendo no meu rosto quando minhas pernas pararam de segurar meu peso, mas não bati no chão, Cedrico me segurou.

Um corpo caído na relva, não conseguia vê-lo direito, mas não podia não reparar em seus olhos tão cinza quanto o céu antes de uma tempestade. Ao seu redor havia um cálice grande de madeira toscamente entalhado, mas em seu interior um estranho brilho azulado brotava. Ao redor do corpo havia grama, a grama estava bem escura... deveria estar de noite, mas em visões não se dava para ver o céu, mas o resto do lugar era um borrão. Mesmo não vendo o lugar direito pude sentir o vento, o ar carregava um cheiro peculiar que jamais saíra da minha mente desde o primeiro momento que o senti, um odor de morte, grama recém-molhada, sangue e um perfume amadeirado...

Quando minha mente voltou ao meu corpo a primeira coisa que vi fora o rosto de Cedrico na minha frente. Tentei falar algo, ele parecia preocupado como sempre quando estava perto de mim, o rosto dele estava tão turvo e não conseguia ouvir minha voz saindo, mas disse algo. Não compreendi o que estava acontecendo até ouvir a voz dele bem longe.

–O que?! Charlie! – e tudo escureceu.

Estava em baixo d’água... estava sentada em baixo d’água. Olhava ao redor e só via mais e mais água, não havia um barulho, um movimento.

Estava sozinha. Estava em paz...

Quando acordei estava deitada num colchão macio, minha cabeça parecia que ia explodir e meus ossos estavam mais duros que minha varinha.

–Ah, você acordou... – pude ouvir a voz de alívio de uma mulher por perto. Meus olhos ainda não haviam se acostumado com a luz que parecia queimar todo meu corpo.

–Onde estou? O que houve? – estar desnorteada era uma das piores sensações do mundo, meus olhos estavam se acostumando à claridade, mas foi quando ouvi Harriet na minha mente que eu consegui me estabilizar.

Bom-dia, parece que você não ficou longe do Diggory afinal... não diga que eu não tinha te avisado, sua mãe disse que isso iria acontecer mesmo, mas tinha esperança que você seguisse meu conselho.

Pisquei duas vezes e finalmente vi que estava na Ala Hospitalar de Hogwarts, com suas camas de metal e lençol branco dispostas em duas fileiras, uma de frente para outra. E vi a mulher a minha frente, que colocava a sua mão gelada na minha testa, apalpava minhas pálpebras e avaliava meus olhos.

–Tudo há seu tempo – ela falou examinando meus olhos. – Você desmaiou no corredor das masmorras, sorte que o Senhor Diggory estava por perto e trouxe-a aqui, ele me disse que você já teve outro caso de tontura?

Olhei para ela atentamente, meu cérebro ainda processava suas palavras, tive que piscar umas nove vezes para conseguir formular uma resposta.

–Não tinha comido muito bem, não desmaiei – que resposta mais mal formulada!

–E no dia do desmaio? – olhei pela janela tentando me lembrar. Percebi que as árvores estavam com folhas e que a grama estava verde, sem nem um punhado de gelo. Por Merlin! Quando tempo fiquei aqui?

–Fiquei quantos dias aqui? – tentei me levantar, com o choque esqueci que meus músculos estavam adormecidos de ficarem dias sem se mexer.

Madame Pomfrey me olhou com pena, parecia não saber o que dizer, ela abriu e fechou a boca algumas vezes.

–Quanto tempo eu fiquei aqui? – perguntei novamente, com urgência na voz. – Não me esconda nada.

–Quase três meses – senti meu sangue gelar, três meses! – e fique deitada, seu corpo não responderá a você por algum tempo, você acabou de acordar e eu ainda não entendi seu desmaio, jamais tive um caso desses. Fiz todos os testes possíveis, fiz milhares de suposições: fome, sono, estresse por causa das provas, algum feitiço, doenças trouxas. Tudo que era possível, e ainda sim não consegui descobrir nada. Diga-me o que houve garotinha, ou não deixarei você ir embora.

Demorei novamente para respondê-la, parecer uma retardada mental estava começando a me estressar.

–Eu não sei – murmurei.

O pior era que eu realmente não sabia, meu estômago tinha roncado um pouco antes do meu desmaio, mas eu não estava morrendo de fome para desmaiar, e não estava estressada. Não sabia o que estava acontecendo. Dois meses desmaiada era considerado estado de coma, não?! Eu estava em coma!

Era a visão? Entrei em coma por culpa de uma visão?!

–Tudo bem – a mulher me disse. – Deixarei você ir depois de alguns testes só para ver se está tudo certo. E talvez o professor Dumbledore queira falar com você.

Devo ter ficado mais meia hora deitada naquela cama, fazendo os testes mais doidos do mundo, Madame Pomfrey, fazia perguntas sobre minha saúde enquanto fazia os testes, respondia todas elas o melhor que podia já que estava igual uma retardada, demorava o mesmo tempo que fiquei em coma para responder cada pergunta.

Quando ela terminou todos os testes não me deixou sair, não sozinha.

–Depois desse desmaio não deixarei que fique andando por aí sozinha. Seus amigos concordaram que você teria sempre alguém por perto, pelo menos até termos uma idéia do que está aconteceu com você, ou tendo certeza que isso não ocorrerá novamente – fiz uma careta para ela, não queria ficar naquele lugar nem mais um segundo sequer. – Já chamei um dos seus amigos, ela deve estar chegando.

E com isso Madame Pomfrey foi fazer seus afazeres enquanto eu esperava sentada na cama, fiquei alisando minha saia cinza e sem graça que fazia parte do uniforme de Hogwarts até o momento que ouvi passos ecoando atrás de mim.

Marie me deu um sorriso caloroso enquanto eu me levantava. Quando nós nos aproximamos ela abriu os braços e me abraçou com toda força que podia, no início me senti um pouco desconfortável, mas logo o abraço dela pareceu-me muito aconchegante e a abracei de volta... até para abraçar estava igual uma retardada.

–Como você está? – ela me perguntou ainda me apertando entre seus braços. – Todo mundo ficou preocupado com você!

–Estou bem – falei baixinho. – O que você quer dizer com todo mundo?

Ela me soltou, deu uma risadinha.

–Vamos sair daqui para eu te contar as novidades.

Marie andou até Madame Pomfrey, as duas conversaram por pouco tempo até a mulher mais velha balançar a cabeça.

–Vamos? – Marie falou enquanto caminhava para fora daquele lugar, eu segui-a sem pestanejar, apenas olhei para trás para agradecer à Madame Pomfrey.

Ainda estava muito avoada quando saímos na Ala Hospitalar, passamos por vários alunos, muitos que eu conhecia, foi por aí que percebi que estávamos indo em direção ao Salão Comunal da Sonserina. Parei abruptamente quando percebi isso, eu não queria ir para lá. Marie percebeu que eu havia parado e virou-se para me olhar sem entender.

–Eu não quero ir para lá – prestei atenção no meu corpo e percebi que meu estômago doía. – Estou com fome – decidi.

–As meninas pegaram algumas coisas lá na cozinha.

Entramos no Salão lotado de alunos, muitos pararam de conversar para nos ver. Fingi não perceber todos aqueles olhos vidrados em mim e andei para o meu quarto, estava tão concentrada que sentir cada respiração, cada olhar que me acompanhava. Eu podia contar o número de pessoas naquela sala só pelos seus batimentos de tão silencioso que estava aquele lugar.

–Charlie – Lucian se levantou de perto da lareira e caminhou até onde eu estava, olhei de relance para a porta do corredor das meninas. Ele me deu um abraço, estranhei aquele contato. – Todo mundo está tirando conclusões demais aqui, melhor você ir para outro lugar – ele sussurrou no meu ouvido.

Se não estivesse ainda meio estranha por ter ficado tanto tempo desmaiada eu teria corado, perdido o fôlego e tido um ataque cardíaco em apenas alguns segundos com o um dos garotos mais lindos e populares da Sonserina me abraçando e sussurrando no meu ouvido.

–O que eles estão achando? – perguntei com a minha boca tocando a orelha dele para ninguém ouvir.

–Venha comigo lá para fora e podemos conversar – ele parou de me abraçar e falou mais alto que o normal. – Você deve estar com fome, posso de levar até a cozinha?

Ele ofereceu seu braço para mim, eu aceitei-o automaticamente. Ele me conduziu pelo caminho que tinha feito, olhei para Marie de relance e sorri para ela. Sabia que as meninas deveriam ficar longe de mim por um tempo. Até mesmo Lucian devesse me deixar sozinha já que eu nunca conversei direito com ele, mas algo me dizia que era com ele que eu deveria conversar agora, provavelmente era minha intuição.

Seguimos por vários corredores que eu não conhecia, cada vez parecíamos estar mais no fundo do castelo. Lucian parou e se sentou numa escada de pedra que descia para a escuridão, me sentei no degrau abaixo do dele, fiquei olhando para escuridão enquanto sentia os olhos castanhos avermelhados de Lucian queimando minha nuca.

–O que aconteceu, Charlie? – era estranho ouvir meu apelido saindo da boca dele, me dava arrepios. – Você sabe... no dia que você desmaiou?

Olhei para baixo, a pedra do chão das masmorras nunca havia parecido mais interessante.

Pude ouvir o suspiro dele, e ouvi um barulho que me lembrava alguém coçando a nuca.

–Olha, eu entendo... tudo está meio confuso, mas você pode confiar em mim – me virei para ele, precisava olhar nos olhos daquele garoto. – Sério. Pode confiar.

Foi a minha vez de suspirar. Eu não sabia o que tinha acontecido, eu me lembrava de estar com o Cedrico, ele estava falando algo comigo e então eu apaguei.

Revirei aquela memória várias vezes até parar nos olhos deles. Olhos cinza e sem vida, o cheiro... era incrível como aquela visão podia fazer tanta coisa na minha mente, quando Harriet disse que essa visão era diferente por ser a primeira sobre morte que tive eu não imaginei que seria daquela forma.

Olhei para Lucian, principalmente para seus olhos castanhos avermelhados, e sabia qual mentira deveria contar agora que sabia a verdade.

–Estava me sentindo tonta desde manhã, por isso perdi as duas aulas de História da Magia, eu fui tentar me acalmar lendo na biblioteca, fiquei as duas aulas lá. Me senti bem melhor depois daquilo, fui embora para a cozinha, já que não havia comido nada, mas então embarrei em alguém e só sei que depois eu desmaiei.

Lucian me avaliava enquanto contava minha mentirinha, no fim eu achei que ele parecia ter acreditado na história. Ele sorriu para lugar nenhum e deu uma risada.

–Você mente bem, mas não tão bem – ele ainda sorria, mostrando seus dentes mais brancos que sua pele. O maxilar dele estava contraído enquanto seus lábios se fechavam. – É difícil mentir tão bem.

–E é difícil saber quando alguém que mente tão bem está mentindo – sorri do mesmo jeito que ele sorriu.

Ele me olhou, balançou a cabeça de um lado para o outro, ponderando no que eu havia falado.

–Eu tenho o mesmo dom que você – olhei para ele sem entender, e achei curioso o uso da palavra “dom”. – O de mentir bem. E acho que todos que mentem bem percebem quando alguém não tão bom está mentindo – ele deu um sorriso de lado e voltou a ponderar sobre nossa conversa.

Lucian ficava bonito de qualquer jeito, mas por algum motivo sua expressão taciturna era a mais bonita e também a mais usada enquanto conversávamos. Ele tinha sobrancelhas grossas bem alinhadas, quase como se tivessem sido desenhadas, seus cílios eram longos e tão negros quanto seus cabelos, mas o que mais me chamava à atenção eram os olhos, olhos naturalmente estreitos e de uma cor muito diferente, castanhos com leves toques de vermelho, era difícil saber vendo de longe, mas o avermelhado estava lá. Tive que parar de avaliar o rosto de Lucian nos cabelos negros que iam até seus ombros, eu admirava a cor deles em contraste com a pele branca como mármore do pescoço dele e quando levantei meus olhos eles encontraram os dele olhando para mim.

Abaixei a cabeça enquanto sentia o calor subir do meu colo para as bochechas. Ele era realmente bonito, até mesmo a gargalhada dele era bonita e me fez rir ainda escondida entre meus joelhos. Fazia sentido ele ser muito popular entre as garotas, eu percebia as risadinhas delas quando todo mundo da minha turma passava, mas não entendi como as minhas amigas não falavam dele como falavam de todos os outros garotos que não fossem da nossa turma, elas falavam do irmão mais velho de Fred e Jorge, Carlinhos, todo o time de quadribol da Sonserina (Principalmente o capitão do sétimo ano, Nick Walker, que Ali havia me apresentado) e até mesmo do Cedrico, mas só para me fazer entrar no assunto já que eu nunca falava ou prestava atenção nos garotos.

Talvez fosse porque ele realmente se achava muito, o que era muito chato, e que não fazia sentido você se interessar por um cara que estuda com você nas mesmas aulas... na verdade nós dois nunca tínhamos conversado direito, por isso era estranho ter aquele garoto tão perto; O que ele queria comigo? Talvez ele queria ficar mais popular ainda, e como eu fui o assunto do mês ou algo perto disso.

–Já percebeu que nós nunca conversamos? – perguntei fazendo uma expressão taciturna.

–Como assim? – ele fez uma careta sem entender. – Obvio que já conversamos.

Revirei minhas memórias do ano inteiro e não vi nenhuma de alguma conversa com ele.

–Não, nunca. Somos do mesmo grupo, comemos juntos e vamos às mesmas aulas, mas nunca conversamos. Na realidade eu não converso muito com vocês, garotos – ele me olhou de cima a baixo e fez uma careta. – Quero dizer, com vocês garotos da nossa turma.

–Acho que os garotos e as garotas não conversavam muito antes de você entrar em coma. As pessoas meio que olhavam para nós como um todo, curiosas sobre você e sobre o grupo de amigos que te cercava. Na verdade você foi o assunto mais comentado esse mês, “Você soube daquela garota da Sonserina?” “Será que ela vai ficar assim para sempre?”, “Por Merlin! Estão dizendo que ela vai ter que ir para o Hospital...”. E por vai disso para pior – ele me deu um breve sorriso. – Pessoas são trágicas.

–Não me diga... – suspirei, três meses desacordada. – Aconteceu muita coisa, você sabe... enquanto eu estava “fora”?

–A Sonserina ganhou a Taça esse ano – sorri com aquilo, meu coma deve ter sido praga dos gêmeos Weasley. Mas então eu teria que cumprir minha promessa e fazer o teste para entrar não é?! E não era que antes de entrar em coma eu tive uma visão jogando quadribol num jogo da grifinória contra a sonserina? – Todas as garotas da nossa turma estavam nervosas quantos as provas já que não iam ter a sua ajuda... – ele mudou de posição, se aproximando mais de mim e sussurrou – Como foi? Ficar em coma?

Olhei para ele e comecei a rir loucamente, essa era a primeira pergunta que eu achei que ele me perguntaria. Ele me olhava sem entender enquanto eu tentava parar de rir.

–Foi como dormir. Dormir sem sonhar.

Parecia idiota, mas era a verdade, eu simplesmente apaguei e acordei três meses depois... a não ser quando eu senti que estava em baixo d’água, que estava pacifica... dócil, sem problemas para pesar meus ombros.

–Que bom que você acordou – ele sorriu se levantando e estendendo o braço para mim. – Acho que todo mundo se acalmou agora, você terá que responder muitas perguntas – ele me conduzia de volta ao Salão Comunal. Apertei a mão dele, não queria ter que responder perguntas. – Eu sei que você não quer responder perguntas, se quiser eu posso respondê-las agora que sei as respostas, e já que eu conheço muitas pessoas elas podem espalhar – ele se virou para mim e eu sorri para ele e assenti com a cabeça.

Aquele garoto me assustava, não entendia as intenções dele em ser tão generoso comigo. De repente a mão dele era muito quente, apertada e pesada.

Como Lucian havia dito eu tive que responder muitas perguntas de muitas pessoas, algumas desconhecidas, mas ele estava sempre por perto. Ele sentava sempre na minha frente na hora de comer, puxava assunto comigo sempre que possível, sempre se oferecia para ser minha dupla nas aulas. Depois de alguns dias dele fazendo isso todas as meninas começaram a estranhar.

–O que é que está rolando entre vocês? – Marie me perguntou um dia em que estávamos nós duas sozinhas no quarto. – Tudo mundo está começando a notar, até mesmo o tal Diggory – olhei para ela com meu olhar fulminante. – Você sabe que é verdade, quantas vezes ele já tentou falar com você? Eu sei que foi ele que te achou desacordada.

Era verdade, sempre que Cedrico aparecia Lucian brotava do chão e me puxava para perto do grupo. E então Cedrico pareceu desistir, teve até uma vez que eu estava na biblioteca, estudando para as provas que teria que fazer sozinha já que todo mundo já as fizeram enquanto estava em coma na semana seguinte e ele apareceu, me olhou e até perecia que ia me chamar, mas aí desistiu e foi embora.

–Acho que o Lucian assumiu o cargo de meu vigilante. Eu queria que fosse uma de vocês, para ficar menos estranho para todo mundo – eu sabia que eu devia falar com o Cedrico, até queria um pouco, mas não sabia se era seguro. Seguro de ambas as formas, não sabia se entraria em outro coma, não sabia se eu poderia gostar dele (digo isso como pessoa) mesmo sabendo que ele iria morrer... sinto que posso finalmente admitir que sentia pavor e receio de chegar perto daquele garoto, sabia que a visão ia se tornar realidade em um futuro muito próximo e sabia que não podia fazer nada para mudá-lo, ele ia morrer e nada eu poderia fazer a não ser olhar constantemente aquela visão.

–Bem, sua vigilante sou eu! – olhei para ela chocada. – Por isso não entendo o que Lucian está fazendo e não estou gostando nem um pouco, só que isso eu posso resolver deixa comigo, porque sei que você não está gostando disso tanto quanto eu – e realmente eu odiava ter Lucian na minha cola... garoto chato. - Mas e quanto ao Diggory? Posso dar um jeitinho de vocês se encontrarem? – dei novamente meu olhar fulminante para ela. – Sério, você tem que falar com o pobre coitado. Ele sempre me perguntava se teve alguma mudança no seu estado nos três meses que você ficou em coma... ele te carregou até a Ala Hospitalar, por Merlin!

Obvio que Marie, que quando queria conseguia fazer qualquer coisa, me fez falar com ele e tirou Lucian do meu pé. Num belo dia estávamos estudando para a prova de Poções que eu teria no dia seguinte e Marie dá uma desculpa qualquer e me leva para o mais longe possível das garotas, uma área à sombra do castelo onde ninguém deve ir.

–O que foi Marie? – perguntei enquanto estávamos andando para lá, mas parei de falar quando vi Cedrico lendo algum livro encostado na parede. Gemi – Não! Eu não vou falar com ele, Marie, quantas vezes tenho que dizer – tentei parar, mas Marie praticamente me puxava. Era um saco não poder falar dos meus dons e ver se assim ela entendia minhas razões.

–Você tem que falar com ele e ainda mais ele já te viu, não dá para fugir agora – eu lancei um olhar de ódio para ela e gemi enquanto andava por mim mesma até onde Cedrico estava, olhei de relance para Marie e vi o sorrisinho no rosto dela enquanto ela ia embora.

Olhei para todos os lugares menos para o Cedrico, reparei na sombra gigante que o castelo projetava na grama e vi o Lago Negro a distância. Reparei num cabelo muito negro no ombro da minha blusa, devia ser da Marie... Ou do Lucian, uma vozinha falou na minha mente e por isso tirei aquele fio rapidamente do meu ombro.

–Oi Cedrico! – sorri para ele, fingindo estar bem humorada. – Desculpa não ter falado com você antes, meio que acordei muito popular – dei uma risadinha.

–Sem problema. Eu só me senti meio culpado, você desmaiou do meu lado.

–Você me ajudou, Cedrico – que nada, ele que fez você desmaiar!, a vozinha voltou a dizer. Comecei a me irritar com ela.

–Eu fiquei preocupado com você... te visitei algumas vezes.

Continuei a conversar com Cedrico o máximo que pude sem olhar nem uma vez nos olhos deles, mas era muito difícil não fazê-lo.

Logo saí deli e voltei para as garotas e os livros, mas minha mente estava ainda na visão que tive e, pela primeira vez desde que acordei me senti mal pelo garoto pelo que ia acontecer com ele, a vida era injusta por me fazer ver a morte prematura de alguém que não merecia morrer tão cedo.

–Gente, quantas vezes o Cedrico me visitou? – essa era uma das minhas maiores curiosidades sobre nossa conversa.

As garotas se entreolharam e começaram a gargalhar muito. Elas caíram para trás e rolaram de tanto rir. Jenn foi a primeira a voltar ao normal.

–Umas milhares de vezes – ela falou limpando as lágrimas. – Ele realmente se sentiu culpado ou está apaixonado por você! – e todas voltaram a rir. Mas meu sangue congelou, podia Cedrico Diggory sentir algo por mim? Não! Ri com as garotas.

Continuei estudando e ajudando as garotas, mas eu sempre acabava dando uma olhada nas matérias mais complicadas dos próximos anos. Mesmo meus pensamentos estando em outro lugar enquanto fazia todas as provas eu sabia que iria bem.

Na última semana de aula, depois de todas as provas, Ali foi a minha vigilante e ela parecia adorar isso. Ali adorava me fazer falar com os alunos que eu não conhecia ou mal falava, e ela sempre fazia com que meu breve coma fosse assunto. Era algo como, “Oi Gale! Como vai? Você se lembra da Charlotte? É, ela é a garota em coma!”.

Mas eu adorava conversar com aquelas pessoas, depois de um tempo parecia mais divertido do que ser seguida por todos eles. E gostava de ser popular por motivos tão triviais, comparado ao que seria quando descobrissem de quem era filha, já que sabia agora que meu pai planejava voltar mesmo.

Comecei a ficar popular demais naquela semana e podia ver o olhar fulminante dos grifinórios, o ódio deles só crescia mesmo quando um sonserino ficava muito amiguinho dos alunos das outras casas.

Para tentar diminuir aquela impressão conversei com os gêmeos Weasley um dia antes de irmos para casa.

–Oi – falei me aproximando deles. –Como foram nos testes? – perguntei sorrindo.

–Melhor do que imaginávamos – Jorge me disse.

–Nossa mãe meio que descobriu que as cartas homicidas dela funcionavam melhor do que qualquer outra coisa – Fred sorriu. – Você foi bem nos testes?

Fiz uma careta, eu tinha ido muito melhor do que podia imaginar e isso causara uma competição entre Hugo Grinch e eu. Meio que começamos a disputar quem tirava as melhores notas da nossa turma.

–Nossa! Tão mal assim?

–Não me diga que você desmaiou quando viu as notas – Fred riu e eu bufei para ele.

–Todo mundo sabe do meu pequeno incidente, por Merlin!

–Acho que foi a notícia do ano...

–Além de Harry Potter vir para cá no próximo! –Jorge completou.

Meu sangue gelou, tinha me esquecido daquilo.

–É mesmo? – sorri. – Aposto que o Chapéu irá querer colocá-lo na Sonserina – mesmo eu torcendo para isso não acontecer.

–Não começa a lançar veneno na poção, serpente! – Fred deu um pulo para trás.

Mostrei meus dentes para eles e sibilei, eles riram da minha reação e fui embora rindo.

No outro dia acordei melancólica, realmente não queria ir embora, não queria ter que ver Harry Potter na próxima vez que pisasse nesse castelo.

Pensei nisso enquanto comia, andava com as garotas e ria. No fim resolvi ir visitar Dumbledore, tinha começado meu ano escolar assim, nada melhor do que terminá-lo daquele jeito.

Enquanto me dirigia até a estátua da gárgula que guardava a sala de Dumbledore acabei me deparando com Snape, ele me olhou atentamente enquanto passava do meu lado.

–Le Fay – ele falou pesadamente.

–Professor, como vai? Estava conversando com Professor Dumbledore, presumo.

Ele cruzou os braços sobre o peito e me deu um olhar ainda mais gélido.

–Estava. Irá conversar com ele agora, correto?

–Sim, exatamente.

Ele me olhou de cima a baixo. Seus olhos negros me avaliando, como ele sempre fazia quando respondia uma pergunta em uma de suas classes ou quando ele entrava no Salão Comunal para fazer algum anúncio.

–Conversar sobre Harry Potter – ele pareceu ainda mais desconfortável em falar o nome do Menino-Que-Sobreviveu ao meu pai. As laterais de seus lábios se levantaram. Foi aí que recordei da memória que minha mãe dava a dica para ele para não se importar com as brincadeiras do “Potter”, o pai do garoto implicava com o Seboso.

–Sim, senhor – foi a minha vez de olhá-lo de cima a baixo. – Assim como o senhor, professor.

–Eu? – ele me olhou direto nos olhos.

–Deve ser perturbador a idéia de ter o garoto por perto para um Comensal, mesmo um vira-casaca – ele crispou os lábios.

–Você nada sabe sobre mim – ele repetiu como da última vez que conversamos sobre aquele assunto.

Mas eu sabia tudo sobre Severo Snape. Ele gostava da mãe de Potter, Lilian Evans, uma nascida trouxa, desde pequeno, sempre foi bom em poções, ficou amigo da minha mãe, Alice Le Fay, assim como Narcisa Malfoy ficara, conseguia saber de alguma forma que não era sangue puro, um mestiço.

–Sei a razão principal para tanto ódio pelo menino, pobre Potter... já odiado só pelo motivo de ser filho de quem é – seus olhos arregalaram. - Eu sei de tudo, Severo Snape. Tudo – falei e saí desfilando igual Jenn, dando uma gargalhada enquanto ia.

Parei em frente à gárgula que protegia a sala do diretor de Hogwarts. Foi aí que me lembrei de que havia uma senha para passar.

Talvez Charlotte Gaunt Le Fay Riddle não soubesse de tudo, como eu havia dito ao Snape.

–Torta de abóbora – falei a última senha que sabia, mas a porta não se abriu.

Tentei vários nomes de doces e em algum dos que disse a gárgula começou a virar, eu podia não saber de tudo, mas sempre conseguia descobrir.

Bati na porta da sala de Dumbledore enquanto admirava a escuridão esperando a resposta dele, sempre que estava na escuridão a visão voltava, mas ela voou para longe enquanto ouvia Dumbledore me deixar entrar.

–Charlotte, como você está? – Dumbledore estava em pé acariciando uma grande ave vermelha com olhos amarelos. – Soube do seu desmaio, ia lhe visitar, mas soube que seus amigos cuidaram muito bem de você.

–Eles e todo mundo, professor – sorri. – As notícias correm rápido demais para uma escola tão grande.

–Eu não diria que quase três meses é pouco tempo, mas as notícias são muito rápidas. Quer conversar sobre o garoto dos Potter, imagino. Ou talvez sobre esse estranho desmaio? – ele me olhou por cima dos óculos de meia-lua com um sorriso nos lábios.

–Sim, eu estava um pouco preocupada sobre esse assunto – sorri para ele. – Eu sempre imaginei como seria nosso encontro, de todas as maneiras, e agora realmente irá acontecer.

–Ninguém pode fugir do destino, senhorita Le Fay, podemos mudá-lo de vez em quando – ele deu uma risadinha. – Mas não fugir dele. Um homem que passa sua vida fugindo do futuro logo mergulha no passado e não consegue sair dele.

Eu sentia saudade das frases complicadas e quase sempre muito explicativas de Dumbledore, será que ele sabia que estava alfinetando um assunto muito sério sobre meu destino? Que eu queria muito poder fugir do meu? Questionei-me se eu falaria como ele quando chegasse a sua idade? Isso se eu chegasse à metade da idade dele...

–Quando Harry vier, ele não saberá quem você é – ele sorriu. – Disse a mesma coisa ao Severo há pouco tempo.

–Eu imagino que sim, encontrei com o Professor Snape vindo para cá. O senhor sabe... sabe dele? – minha pergunta não fazia sentido, mas Dumbledore pareceu me entender quando me olhou com olhos azuis que decifravam pessoas.

–No momento em que ele tornou, no que ele se arrependeu e no que ele se redimir completamente.

–Não desconfia dele? – minha pergunta era boba, mas tinha que fazê-la.

–A cada dia confio mais – ele pareceu falar não só sobre ele, mas também sobre mim. – Soube que ficou amiga dos gêmeos Weasley.

–Pois é, mundo estranho esse não é?!

–O mais estranho de todos – ele pareceu olhar para o horizonte. – Lembre-se que você tem escolha Charlotte, pode fazer o que quiser com sua vida... você não é definida pelo que todos acham e sim pelo que você faz, pelas escolhas que você toma.

Sentei-me com as garotas e os meninos no vagão do trem, riamos e pude ver os olhares calorosos que um lançava para o outro e me senti aquecida por dentro, e por fora quando Lucian que estava ao meu lado apertou minha mão, ninguém pareceu ter percebido então sorri para ele e também apertei a mão dele. Quem era aquele garoto? E o que ele queria de mim?

Sorri ainda mais para ele. Vou descobrir quem você é, bonitão. Ele sorriu da mesma forma de volta para mim. De repente aquele vagão estava muito quente e muito apertado.

Deixei-os lá e fui passear, parei em um vagão onde alguns amigos mais velhos da Sonserina estavam lá, me sentei entre eles e também entrei no assunto.

Roy Ferringan era sempre o primeiro a dar em cima de mim desde que fiquei popular, e ele não perdeu o costume. Ele estava no terceiro ano, tinha grandes olhos verdes, uma boca muito pequena para dentes tão grandes, então não conseguia fechar a boca, e cabelos curtos e marrons.

Sara Smith, a única sonserina que admitiu ser mestiça e continuava viva, sempre adorava conversar comigo, ele era muito bonita e bem-humorada, mas tinha a mania de repetir assuntos o que estressava um pouco. Ela tinha longos cabelos loiros e uma pele bem sardenta, por causa da mãe que era do oriente médio, acho que turca. Havia outras pessoas ali que não me chamavam tanto a atenção, mas todas me conheciam.

Também saí rápido dali e acabei encontrando a última pessoa que queria ver no mundo bem no meio do corredor.

–Como vai Charlie? – Cedrico me perguntou. Como sempre evitei os olhos dele.

–Muito bem, estava indo encontrar com meus amigos... – tentei me esquivar.

–Claro, também... quero dizer com os meus amigos. Bem até depois então – ele disse aquilo e eu acabei me sentindo rejeitada.

Eu tinha razões para não querer conversar com ele, mas ele não tinha razão alguma! Eu sabia que ele ia morrer com um Avada Kedavra perto de um cálice muito feio e não queria me aproximar dele para me sentir pior ainda.

–Cedrico – chamei-o.

–Oi?

–Foi bem nos testes? – pergunta idiota, muito bom Charlotte!

–Sim, sim, melhor impossível. Você também deve ter ido mesmo depois de tudo aquilo.

–Pois é, eu fui – era muito chato e inconfortável não poder olhar para o rosto dele enquanto conversávamos.

–É, bem, eu devia ir – ele falou e vi seus pés se movendo.

Instintivamente eu me projetei para frente e agarrei-o com os meus dois braços, minhas mãos ao redor do pescoço dele. Percebi a surpresa dele, mas continuei com meus braços ao seu redor.

Senti seus braços me apertarem depois do choque passar. Eu precisava parar de fugir do meu destino como Dumbledore havia dito tão sabiamente, lutar contra o receio de ter novamente aquela visão.

–Espero que você tenha um ótimo verão – sussurrei para ele, meus pés estavam começando a doer.

–Você também, Charlie.

Dei um pequeno e breve beijo na bochecha esquerda dele e voltei para onde estava, olhando para o chão levantei meus olhar para o peito magro de Cedrico, ele usava um suéter azul escuro e debaixo uma blusa branca com gola social. Levantei mais um pouco meu olhar e me deparei com o maxilar bem marcado e o queixo proporcional ao seu rosto. Subi mais um pouco, os lábios dele eram pequenos e bem desenhados, o nariz fino e um pouco arrebitado. Subi pela última vez, pulei os olhos e vi as sobrancelhas escuras e retas dele, tomei coragem e desci para os olhos, olhos cinza e sem vida, mas eles não eram assim, eles eram cinza, mas eram cinza brilhante, vivo, e as rugas que apareciam nas suas laterais por causa do sorriso dele me fizeram sorrir também.

Novamente segui meu instinto e abracei-o de novo, dessa vez mais devagar e ele retribuiu. Cedrico estava vivo e bem, o que tinha visto ainda não tinha acontecido, não tinha porque fazer daquilo um alvoroço, ele não precisava saber o que eu sabia. Mas um calafrio subiu pela minha espinha e apertei ainda mais meus braços ao redor dele.

Você tomou sua decisão, lembre-se que todos morrem um dia Charlotte. Cedrico só morrerá mais cedo que a maioria, mas não deixe esse fato ser um peso na sua vida ou na dele, ele não precisa saber... ninguém precisa saber.

Soltei dele e também fui embora, não parava de me lembrar do que Jenn havia dito, Ele realmente se sentiu culpado ou está apaixonado por você!, Novamente neguei na minha cabeça, aquilo que não podia acontecer.

Fiquei com os meus colegas depois disso, eles conversavam sobre coisas tão normais como o que fariam nas férias, prometiam que mandariam cartas, eu também prometi.

O trem começou a parar e eu senti o peso de ter que sair daquele trem, ir para a casa dos meus primos.

Todo mundo tinha ido e só sobrara Lucian e eu no vagão, ele havia tirado minha mala de algum lugar e a segurava. Sorri para ele, peguei a mala e coloquei-a em cima do banco.

–O que houve? – ele me perguntou olhando para minha mala.

Abracei ele igual havia abraçado Cedrico. Ele não pareceu surpreso, na realidade ele me apertou e pareceu aspirar o cheiro do meu cabelo. Ele parecia saber que eu ia abraçá-lo, sabia que devia ficar irritada, mas eu gostava de ter ele me abraçando, ma lembrei do que Harriet havia dito da ultima vez que conversamos, sobre meu dom da beleza na verdade, Se você não fosse uma Le Fay eu te acharia a bruxa mais fraca do mundo, você parece um travesseiro pedindo para ser abraçado e mimado. Levantei um pouco mais colocando minha cabeça no ombro dele. Talvez eu fosse uma pelúcia que deveria ser abraçada, mas eu era uma pelúcia com veneno, um veneno muito poderoso.

Não ache que disse aquilo para te ofender porque não é o caso querida. Isso é algo muito positivo, pessoas te menosprezam pela sua aparência e nem imaginam seu poder, sua astúcia, Harriet sussurrou na minha mente.

Lucian tramava algo, tinha certeza disso, e sabia também que para descobrir o que era eu precisava fingir que não sabia de nada, que era um bobinha.

–Obrigada por cuidar de mim, Lucian – sussurrei contra o ouvido dele, e pude ver os pelos do pescoço dele se eriçarem. O veneno fazia efeito.

–Sem problema – ele sorriu e tentei ficar corada, pelo calor que subiu pela minhas bochechas acho que funcionou.

Fui embora carregando minha mala decidida. Eu era uma Le Fay fofa, bonita, mas também era uma Slytherin, uma Gaunt, eu era uma cobra e tinha um veneno potente.

Vi um grupo gigante de ruivos e sabia que os Weasley estavam lá, vi a Marie e o irmão com seus pais – tinha algo de estranho neles, algo que eu estava deixando escapar. Mas não tive como ficar reparando já que alguma voz havia me chamado.

Virei e deparei com uma grande pança na minha frente.

–Oi, Joseph – falei. – Como vai?

–Bem, temos que ir.

–Vamos então.

Segui ele enquanto piscava para Marie e sorria para Ali. Talvez esse verão não fosse de todo ruim.

–Tchau, Charlie – uma voz sussurrou entre a multidão enquanto saíamos.

De relance pude ver longos cabelos loiros, mas depois vi Fred e Jorge e acenei para eles que acenaram de volta e tentaram me chamar, mas apontei para meus primos e pedi desculpas.

Enquanto andava até o beco que aparatamos da última vez com Thomás ao meu lado tudo que pensava era no cabelo loiro que havia visto e um nome veio a minha mente. Realmente teria que fazer algo sobre o assunto.

Malfoy.


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Notas finais do capítulo

Eu quero agradecer novamente a todos os meus leitores que me motivaram e acompanharam a história da Charlie ao longo desse ano.
Eu devo continuar a escrever o resto da história da Charlie nessa mesma página. E postarei o primeiro capítulo do segundo depois de ter recebido 10 reviews.
Espero falar com vocês em breve. E se tiverem qualquer dúvida ou curiosidade podem perguntar.
Até depois! ^^