Mind Clock escrita por Metal_Will


Capítulo 7
Capítulo 07




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Capítulo 07 - Agora você acredita?

- Cheguei! - falou Diego, abrindo as portas da casa e sentindo o inevitável cheiro de arroz queimado - Pai? Tá deixando o arroz queimar?

  E a cena se repetiu: o pobre Alberto correu para salvar o almoço, mas não teve muito jeito. É, Diego não conseguiu evitar isso.

- Droga! - reclamou o inventor - Eu estava ocupado montando uns circuitos e acabei esquecendo a panela no fogo. Acho que vamos ter que pedir comida chinesa de novo?

 Diego esforçou-se para lembrar o que falou naquele momento, mas conseguiu.

- Ou então esquentar alguns hambúrgueres - disse ele - Aquela mistura de torradeira com churrasqueira que você inventou ainda tá funcionando?

- Acho que sim...e, opa, não, espera, não, não tá não. Preciso consertar um resistor dela.

- Que pena...foi uma das suas melhores invenções

 Até ali a conversa estava caminhando de forma idêntica ao que já havia acontecido. Diego marcava os horários com exatidão. Ele sabia a hora que a comida chinesa chegaria e também saberia qual seria o momento certo de fazer seu pai lembrar do Mind Clock.

- E então? Como foi a escola hoje? - perguntou Alberto, quando os dois já estavam comendo yakisoba juntos.

- Normal - disse ele, coçando a cabeça e fazendo uma voz de preocupação propositadamente - Err...é...bem normal..

- Então tá?

- Não vai perguntar se tem alguma coisa me incomodando?

- Por quê? Tem alguma coisa te incomodando?

- Bom..já que perguntou - é, aquilo já estava bem forçado - Tem uma garota na minha sala...

- É a Vanessa?

- Não, não é a Vanessa.

- Desculpe, mas a Vanessa é a única menina que você conhece, não?

- Sim, eu sei, mas tem uma outra menina...acho que estou gostando dela?

- Sério? Nossa, vocês crescem tão rápido! Mas lembre-se de se prevenir, heim?

- E quem disse que ela correspondeu?

- Você já levou um fora?

- Eu...ainda não me declarei.

- Então ainda tem chance?

- Err..não sei, ela é tão bonita e eu tão..

- Você é inteligente e aposto que será rico no futuro. As meninas levam isso bastante em conta hoje em dia.

- Pai, isso é coisa que se diga?

- Mas é a realidade! Hoje tudo é muito pragmático!

- Eu nem sei se ela vai corresponder...bem que o senhor podia inventar uma poção do amor ou algo do tipo, não é?

- Poção do amor? Não acho que consiga fazer algo assim...ainda não dá pra quantificar emoções.

- É, talvez não desse certo, não é? - falou Diego, disfarçando, mas tentando ao máximo fazer o pai desembuchar sobre o Mind Clock.

- É difícil..

- Imagino. Deve ser mais fácil criar uma máquina do tempo, não é? Hehehe! - Diego riu de propósito. Alberto também sorriu.

- Não, não, acho que não, máquinas do tempo sempre dão encrenca.

- Por acaso o senhor já tentou?

- Já tentei o quê?

- Construir uma máquina do tempo, pai - agora ele já estava forçando - Do jeito que o senhor é esperto, deve ter pensando em algo assim alguma vez.

- Na verdade... - Alberto olhou para os lados - ...na verdade, sim, eu criei uma máquina do tempo!

- Sério?! - dessa vez Diego se fez de empolgado ao invés de cético. Precisava reproduzir direitinho a conversa do pai - Isso é sério mesmo, pai?

- Isso mesmo! Eu posso mostrar direitinho o que eu pensei!

 Nisso, Diego olhou para o relógio. Era hora do programa preferido dos dois.

- Ah! Padrinhos Mágicos! - os dois voltaram os olhos para a TV. Depois disso, Alberto levou Diego até seu pequeno laboratório na garagem e apresentou toda a sua teoria novamente. Foram mais longos minutos de conceitos científicos e filosóficos complicados, mas finalmente Alberto mostrou que sua invenção falhara estrondosamente.

- E por isso é um tremendo fracasso - disse Alberto - Eu não consigo sequer terminar de fazer o download da minha memória, quanto mais mandar isso aí pro passado. É uma pena, a ideia é tão boa.

- É uma pena mesmo - lamentou Diego, fingindo que dessa vez estava levando as maluquices do pai a sério - Sua ideia é muito original. Se funcionasse, o senhor revolucionaria a ciência!

- Tsc. Mas acho que é muita pretensão querer mudar a linha do tempo. Agora isso aí não passa de um celular velho.

- E o que o senhor planeja fazer com ele?

- Nada. Acho que só me resta jogá-lo fora.

- Posso ficar com ele?

- Para que você quer? - perguntou Alberto - Seu celular é muito melhor do que isso aí!

- Mas...vale pela nostalgia...ainda tem o jogo da cobrinha - disse Diego, com um sorriso pra lá de amarelo.

- Bom argumento - respondeu o pai - O jogo da cobrinha nos celulares antigos dão uma nostalgia e tanto. Tá legal. Faz o que quiser com ele.

- Valeu, pai! - comemorou Diego de forma bastante expansiva.

- Nossa, isso tudo é nostalgia? Não sabia que você gostava tanto desses jogos casuais...

 De qualquer forma, o celular já estava dado. Diego subiu as escadas para o seu quarto cantarolando e, ao mesmo tempo, maquinando o que poderia fazer de posse do novo brinquedo. Ele se jogou na cama e observou o Mind Clock com mais calma. Do bolso, ele tirou o cabo necessário para download de memória.  Agora tudo era pertence dele. Mas, calma. Ele precisava planejar bem seus próximos passos.

"Certo", Diego começou a raciocinar, "Tudo parece ter corrido bem. A Bianca me vê de forma simpática e o Mind Clock agora é meu. Posso voltar no tempo quando eu quiser, mas...seria melhor se eu tivesse a Vanessa pra me ajudar, mas aquela maldita não acreditou em nada do que falei, mesmo acertando todas as previsões, tsc. Um jeito de fazê-la acreditar é fazer previsões extremamente precisas...se ela acreditar em mim, vai me ajudar bastante", pensou ele, ainda admirado que aquela menina conseguisse acreditar em alienígenas, mas não em viagens no tempo.

  O rapaz observou a bateria do Mind Clock e decidiu desligá-lo para evitar gastos. Ainda não era hora de usá-lo. Na verdade, ele só poderia usá-lo bem depois.

"Vou deixar ele bem quietinho até amanhã à noite", pensou Diego, "Com isso eu garanto que sempre possa voltar a um passado onde eu já tenha posse do Mind Clock. E como amanhã é sábado...sim, isso mesmo, é a minha chance de fazer a Vanessa acreditar em mim!"

  O plano de Diego era bem simples. Ele passou o restante do dia normalmente e, no dia seguinte, sábado, acessou a Internet para reunir o máximo de notícias que conseguir. Pena que, para deixá-lo mais nervoso, Vanessa continuava a provocá-lo.

"E aí, viajante do tempo?", falou ela, entrando no chat apenas para provocar.

"Vanessa", digitou Diego, "Estou falando a verdade. Acredite em mim"

"Sem essa", digitou ela, "Você podia muito bem ter chutado tudo aquilo...e se fingir de confiante só pra zuar comigo"

"Não posso provar nada ainda, mas...logo, logo vou provar"

"Só quero saber como. Hahuahha"

 Ri melhor quem ri por último. Esse foi o pensamento de Diego. O rapaz passou o dia estudando todas as notícias relevantes de forma absurda, incluindo atualizações de site e lançamentos de vídeos, enquanto seu pai trabalhava em alguns artigos da faculdade, totalmente alheio às atividades de fim de semana do filho. Finalmente, às 22h30, ele percebeu que era hora de ganhar a aliança de sua amiga.

"Acho que já tá bom", pensou ele, "Certo...vamos mandar todas essas notícias para o passado!"

 Diego pegou o Mind Clock e fez o download da memória. Ele ficou com medo de acontecer alguma coisa e o sistema não funcionar, mas ficou feliz em ver o sucesso da transferência de dados. Agora, era só mandar para o passado. Às 22h30 ele estaria sozinho no quarto e não correria o risco de ser pego por seu pai. Era só mandar. Diego apertou o botão e...mais uma vez, suas memórias foram enviadas ao passado. E, por consequência, o futuro foi apagado para ser reescrito.

- Aaauuu - reclamou ele, assim que as memórias chegaram - A dor de cabeça que isso dá é horrível mesmo. Tsc. Mas tudo bem, agora eu lembro de boa parte das notícias. Vou anotar antes que esqueça!

  Diego fez isso, escondeu as anotações e foi dormir. No dia seguinte, Diego procurou ao máximo cumprir os mesmo passos e esperou que Vanessa entrasse em contato com ele. 

"E aí, viajante do tempo?", falou ela, a mesma frase, exatamente no mesmo horário. As coisas estavam indo bem até então.

"Oi", falou ele, "Agora estou pronto para provar que estou falando a verdade"

"Só agora?"

"Sim. Na verdade, eu já passei por esse chat e já passei por esse sábado. Sei tudo que vai acontecer."

"Tá bom...até parece. Para de me zuar, Diego"

"Ah, é? Então que tal isso: daqui a dez minutos, o Jack Bizarro vai colocar um vídeo novo no ar...e será sobre baleias!"

"Tá legal...acredito"

"E ele informará isso no Twitter dentro de cinco minutos"

"Tá forçando, heim?"

 No entanto, a previsão de Diego se cumpriu no tempo exato. Vanessa ficou espantada.

"Acertou"

"Eu disse. Eu já sabia"

"Mas ainda assim você poderia ter chutado. Quero ver você prever algo mais difícil."

"Hmmm..que tal isso? Ligue a televisão no canal 13, está passando aquele noticiário, não está?"

"Peraí"

 Alguns instantes depois

"Tá, tá sim, e daí?"

"Ele é ao vivo, certo? Dentro de dois minutos, entrará uma notícia sobre a chuva no centro de São Paulo...e terá uma entrevista com uma mulher de camisa amarela e florida. Ela vai falar algo como 'Eu vim visitar minha mãe e a chuva começou a cair...'"

Diego deu uma previsão bem detalhada da fala da moça. Dois minutos depois...

"Impossível", declarou Vanessa, "Como..."

"Eu já disse. Posso viajar no tempo..e agora posso te mostrar o Mind Clock que consegui com o meu pai"

"É verdade, mesmo? Caraca! Vem pra minha casa agora!"

"Agora?"

"A gente precisa conversar isso pessoalmente. E traga esse seu Mind Clock ou o que for com você. Preciso ver isso com meus próprios olhos!"

 Pelo que parecia, Vanessa finalmente tinha acreditado. Diego se arrumou e desceu as escadas, deparando-se com seu pai com os dedos voando pelos teclados do notebook.

- Pai...vou passar na casa da Vanessa. Ela quer me mostrar alguma coisa...

- O quê?! Você na casa de uma garota? Vocês crescem muito rápido mesmo!

- Não seja besta! Os pais dela estão em casa!

- Ah, e se não estivessem...não quero nem pensar no que poderia acontecer...apenas se cuide e..

- Pai! Fala sério...além disso, eu falei que gostava de outra pessoa, não disse?

- Gosta de uma e sai com outra. Que tipo de filho galinha eu criei?!

- Ah...deixa pra lá, vai! - reclamou Diego - Tô indo nessa.

 Apesar das provocações do pai, Diego já havia visitado Vanessa outras vezes. Os pais dela eram bem gente boa.

- Olha só, se não é o Diego? - disse a mãe dela, assim que atendeu a porta. Era relativamente jovem e só de olhar para ela poderíamos saber como Vanessa seria quando crescesse - Tá cada dia mais magrinho, anda comendo direito, menino?

- Oi, dona Maria - cumprimentou Diego - A Vanessa me chamou aqui e...

- Ah, é, é verdade - o pai dela, que lia um jornal ali na sala, se intrometeu na conversa. Tinha por volta de cinquenta anos, meio calvo, óculos grossos, mas um jeito engraçado - Ela tá lá no quarto. A Vanessa falou mesmo que você vinha pra cá.

- Então..com licença...

 Assim que Diego subiu, dona Maria comentou com o marido.

- Acha que ele combina com a nossa filha?

- Até que é um bom menino...mas esperava um genro um pouco mais fortinho.

- Huahuah.

 Diego bateu no quarto de Vanessa, que atendeu a porta prontamente. Estava usando shortinho e uma camiseta do Arquivo X. Seu quarto era repleto de bonecos de cultura nerd (de Star Wars a Senhor dos Aneis) e uma das estantes estava cheia de livros de ficção científica e DVDs. 

- Cheguei - disse ele.

- Entra logo! - ela puxou o rapaz imediatamente para o quarto.

- E então? Acredita em mim agora - falou Diego, sentando-se na beirada da cama dela sem olhar direito e quase caindo por- Err...eu tô bem, eu tô bem.

- Você é um viajante do tempo bem atrapalhado - reclamou Vanessa - Mas, tudo bem, acredito em você. Não dava pra prever aquilo tudo com tanta exatidão. Na verdade, desde que você previu os acontecimentos lá na sala de aula imaginei que estivesse falando a verdade.

- E por que duvidou tanto?

- Não sou do tipo que aceita informações facilmente.

- Falou a menina que coleciona revistas de ufologia.

- Isso é diferente! - reclamou ela - Mas eu acredito em você...mesmo.

 Diego sorriu. Agora, ele não estava mais sozinho para fazer suas travessuras com o Mind Clock.


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