Capítulo 05 - Nova chance

  Resumo da ópera: Diego conseguiu apagar um dia da linha do tempo e fez sua mente voltar ao passado, sendo assim, ele teve a oportunidade de refazer seus passos do dia anterior, o que incluía refazer o diálogo com a garota de seus sonhos: Bianca. Até aquele momento, tudo parecia estar ocorrendo bem e Diego precisava evitar gafes se quisesse ter sucesso em sua "investida amorosa".

- Você é da minha classe, não é? - perguntou Bianca. Até ali, tudo estava indo ocorrendo muito bem.

- Ah, sim - disse Diego, esbanjando confiança devido ao seu conhecimento prévio dos acontecimentos - Sou o Diego.

- Prazer, Bianca - respondeu a mocinha, com um sorriso no rosto. Sem dúvidas, era bem simpática. Até ali, nada mudou em relação à última vez, mas agora era hora de Diego alterar o futuro.

- Então..você está lendo "Dentes de Outro Mundo"...aquela série com vampiros e alienígenas? - perguntou Diego. Pois é, o nome era aquele mesmo.

- Ah, você conhece? Que legal! 

- Na verdade, eu ainda não li, mas fiquei curioso para saber como é - disse Diego. Na verdade, ele não estava muito curioso, mas quando se quer ganhar o coração de alguém, é preciso sacrificar o próprio ego.

- Sério? Ah, quando terminar de ler eu te empresto - disse ela.

- Mesmo?

- Claro. Queria muito ter mais pessoas para comentar. Minhas amigas não gostaram muito.

- Sério? Achei a história interessante...sempre tive uma quedinha por ficção científica.

- Mesmo? Do que mais você gosta?

- Já li um pouco de Isaac Asimov (*)

- Hmm. Bom, na verdade eu não conheço muito. Esse aqui é o primeiro livro que peguei para saber como é e estou gostando bastante.

- Ah, eu tenho alguns livros assim em casa. Posso te emprestar também.

- Opa. Legal. A gente vai trocando figurinha, ou melhor, livros, né?

- É.

 Os dois sorriram e houve um certo silêncio constrangedor.

"Ótimo...e agora? Preciso continuar a conversa", pensou Diego, "Devo chamá-la para sair e.."

- Então...faz tempo que você estuda nessa escola?

- Err..desde a primeira série - disse Diego.

- Ah, é que eu entrei esse ano - disse ela - Até que tô gostando.

- Mesmo? 

- É, até que é boa, comparando com outras escolas estaduais por aí...o pessoal é bem legal.

- Hmm - Diego não tinha muito o que falar.

- Você conhece muita gente?

- E-Então - agora ele já começou a gaguejar (isso não estava previsto no seu planejamento) - Eu sou meio tímido, tenho uma certa dificuldade de me aproximar das pessoas...mas quando vi você lendo o livro que queria, resolvi puxar assunto.

- Ah, o que é isso? Você parece tão simpático!

- M-Mesmo?! - Diego gaguejou, deixando transparecer sua verdadeira natureza. As coisas pareciam estar dando certo.

- É. Não é?

- Bom, nunca me achei uma pessoa muito interessante, mas...

- Ah, deixa disso. Pelo que eu lembro, você tirou uma nota boa na última prova de Matemática, não tirou?

- Você percebeu?

- Acho que era você...então, você parece ser inteligente. Gosta de ler e tudo.

- Ah, não acho tanto assim.

- Haha. Se vai bem em matemática, é inteligente - disse Bianca, depois olhando para frente e observando algumas amigas chegando - Ah, as meninas estão vindo.

 E, de fato, ali longe algumas garotas amigas de Bianca estavam chegando. Hora de parar de enrolar e agir rápido.

"Mais gente? Droga, assim vai ficar difícil, mas eu previ que isso poderia acontecer", pensou Diego, lembrando que era óbvio que Bianca não ficaria sozinha por tanto tempo.

- Putz...lembrei que ainda preciso pegar uma coisa com a Vanessa - disse ele - Err...mas a gente se vê. Você tem algum perfil na internet, não tem?

- Ah, sim. É só procurar por Bianca Fado. Pode me adicionar lá - falou a mocinha.

- Beleza. Eu vou me lembrar. Hehe - falou Diego - Até mais!

-  Beleza. Quando acabar de ler o livro eu te empresto - disse Bianca - Até.

- Até - Diego ainda acenou sorridente, enquanto voltava para perto de Vanessa, que ainda estava boquiaberta.

- Não acredito. Você foi lá mesmo?! - Vanessa estava mesmo espantada.

- Sim. E adivinhe o que aconteceu?

- Chamou ela pra sair?

- Não - disse Diego, em tom de vitória - Mas consegui o nome dela no Facebook!

 Dois segundos de silêncio. Vanessa apenas sentiu uma gotinha escorrendo pela sua cabeça. 

- Como é que é?

- É uma vitória, não acha?

- Você já sabia o nome completo dela! Que diferença isso faz?

- Mas eu não poderia adicioná-la sem conhecer, poderia? Imagine...se eu adicionasse, sem permissão e sem conhecê-la, mesmo sendo da sala, ela poderia desconfiar de mim, ou me achar um psicopata ou algo assim...

 Vanessa ainda estava custando a acreditar que toda aquela confiança gerou só aquilo.

- Do jeito que estava confiante, achei que iria de sair de lá beijando a garota.

- Ei, as coisas não são assim tão rápidas. Tem que planejar, conversar, preparar...

- Você é metódico demais. Desse jeito, você só vai pedir pra ficar com ela quando for velhinho.

- Ei, também não é assim. Eu já tenho o contato, agora só preciso começar a me aproximar, conhecer os gostos, convidar para sair..e uma hora, vai rolar!

 Mais dois segundos de silêncio constrangedor, até que Vanessa abriu a boca para destilar sua sabedoria feminina.

- Se demorar muito, ela vai te considerar o novo amigo cabeleireiro dela.

- Ei, também não é assim...

- Diego, meu caro, existe uma coisa chamada zona da amizade.

- Zona da amizade?

- Exatamente - continuou Vanessa - Garotas que criam um laço afetivo com um rapaz sem atração física tem grandes chances de considerá-lo apenas um amigo, sem mais nenhum tipo de interesse mais amoroso.

- Isso não estava nos meus planos - disse Diego, após alguns segundos de reflexão - Mas namorados não são apenas amigos que podem beijar na boca?

- Só que não, Diego - respondeu Vanessa - Existe uma coisa chamada química. Se não tiver isso, fique feliz de apenas ser amigo dela.

- Química? Algo a ver com reações ou algo assim?

- Mais ou menos. Mas não temos um controle tão grande como as reações de substâncias. É difícil definir a química dos relacionamentos!

- A ciência é tão mais simples... - balbuciou Diego.

- Pois é. Mas não desista. Se você agir mais rápido, talvez tenha mesmo uma chance. É só não cometer erros.

- Não cometer erros... - repetiu Diego - É isso! Basta eu não cometer nenhum erro!

- E como você garante que não vá cometer erro nenhum? - perguntou Vanessa.

- Intuição - falou Diego - Estou mesmo muito confiante nesse dias.

- O que aconteceu? Você tá me escondendo alguma coisa, Diego? Tá escondendo coisas da sua única amiga?

- Calma, calma, é que eu preciso arrumar umas coisas - falou o garoto - Mas logo, logo eu te conto.

- Hmmm...acho bom você falar, heim? Vai, fala, fala logo, não me deixa curiosa!

  Diego refletiu um pouco enquanto Vanessa continuava a chacoalhar o pobre garoto. Ele percebeu que talvez fosse útil ter mais alguém que conhecesse sobre o Mind Clock para ajudá-lo. E Vanessa, além de ser sua única amiga, também era a única pessoa que conhecia capaz de entrar de cabeça naquela loucura toda.

- Tá bom, tá bom, eu falo. Mas é uma coisa bem esquisita - disse Diego - Acho que você não vai acreditar...

- Ah, vai, vai, fala! São alienígenas mesmo, não é? Você teve contato com extraterrestres e eles te contaram todos os segredos da mente humana? Foi isso, não é? Por isso você tá tão confiante?

- Não, não, não tem nada a ver com alienígenas.

- Então o quê?

 Diego olhou para os lados e chamou Vanessa de canto para falar em voz baixa o seu segredo.

- Você promete que não vai gritar e nem fazer escândalo?

- E você acha que eu sou mulher de fazer escândalo? Vai, desembucha logo!

 Diego pigarreou e contou o extraordinário.

- Eu descobri como voltar no tempo - disse ele em voz baixa.

- O QUÊ?! - gritou Vanessa, quebrando imediatamente sua promessa de não fazer escândalos. É...não é algo tão simples de acreditar quanto alienígenas.

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(*) : Isaac Asimov, escritor do século XX, foi autor de vários livros de ficção científica, como "Eu, robô"