Mind Clock escrita por Metal_Will


Capítulo 4
Capítulo 04


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo de Mind Clock pra vocês! ;)



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Capítulo 04 - Refazendo os passos

  Difícil de acreditar, se não estivesse mesmo acontecendo. Se antes de fechar os olhos, Diego estava ali, na frente de seu pai, discutindo sobre o funcionamento do Mind Clock e, logo após apertar o botão de envio de sua mente por acidente, o rapaz abriu os olhos e se viu no seu quarto, com as mesmas roupas do dia anterior e com o calendário do computador marcando exatamente o mesmo dia anterior, das duas uma: ou ele fez mesmo a linha do tempo retroceder com o envio da memória ou aquela era a pegadinha mais bem elaborada da história.

- Impossível - Diego ainda estava pasmo - Não posso ter voltado ao passado...ou posso?

  Era inegável. Ao ligar a televisão de seu quarto, viu que o noticiário estava passando exatamente as mesmas notícias do dia anterior. Ao mexer na Internet, conferiu alguns sites e viu que todas as atualizações correspondiam ao dia anterior. Não havia dúvidas, ou havia?

"Espera aí, espera aí", pensou Diego, "Ainda resta a alternativa de tudo não ter passado de um sonho, mas...se fosse um sonho, eu não deveria ter acordado na cama? Mas agora são exatamente oito e vinte e seis da noite, o mesmo horário que eu estava discutindo com o meu pai sobre o funcionamento do Mind Clock...eu nunca durmo antes da meia-noite...e nunca tive nenhum tipo de alucinação antes. Será que foi uma visão do futuro? Mas e essa sensação de que eu realmente passei por tudo aquilo? Quer dizer, passei ou vou passar...então o futuro na verdade é passado e...oh, droga, isso é muito complicado."

 Quando Diego pensava demais, a dor de cabeça voltava um pouco. E não havia outras razões para ele estar com dor de cabeça. Apesar de todas essas evidências, Diego ainda estava confuso.

"Não poderia estar sonhando dentro de um sonho?", perguntou-se ele, "Mas normalmente eu não fico pensando se estou sonhando quando estou sonhando...é muito improvável que eu esteja dormindo. Será?"

  Na opinião de Diego, era muito difícil aquilo tudo ser um sonho, considerando as vezes que Diego sonhou antes. Ele não tinha habilidade de ter sonhos lúcidos (*) e, naquele momento, estava perfeitamente consciente do que estava havendo. Além disso, ele se lembrava perfeitamente de tudo que ocorrera. Era muito claro. Não podia ser um sonho. O Mind Clock devia funcionar mesmo.

"Tá legal, tá legal, vamos supor que o Mind Clock funcionou...e minha mente voltou mesmo ao passado", pensou Diego, "Isso significa...que posso refazer o meu dia de ontem inteiro, não posso? Se for mesmo verdade..."

- Diego! A comida tá pronta! - gritou o pai dele, interrompendo as questões filosóficas em que o rapaz havia se metido.

- E-Eu já vou! - gaguejou ele.

 No entanto, antes de descer, Diego pensou mais um pouco.

"Espere um pouco...se eu voltei mesmo ao passado, meu pai ainda não me contou nada sobre o Mind Clock", pensou ele, "Eu poderia contar para ele e certamente ele acreditaria, afinal, não teria outra forma de eu saber sobre o assunto, a menos que tivesse entrado no laboratório sem querer...e mesmo que ele duvidasse, bastaria predizer o que aconteceria na novela, por exemplo. Só que...se eu falar a verdade, poderia causar alguma alteração mais drástica nos acontecimentos dos fatos"

 A lógica era simples: se Diego agisse de forma diferente, por exemplo, fazendo seu pai falar sobre o Mind Clock antes da hora que ele deveria falar, talvez causasse uma alteração em todos os acontecimentos. É um princípio básico de teoria do caos (**): causas mínimas podem gerar efeitos monstruosos.  E, dentro de seu consciente e de sua mente altamente racional, Diego já tinha certos desejos de aproveitar dessa oportunidade que a vida lhe deu.

"Preciso refazer todos os meus passos direitinho, de modo que o futuro não mude até o momento de eu me encontrar com a Bianca", pensou ele, "Sim, isso mesmo, se o princípio que meu pai considerou estiver correto, então o futuro está sendo redigitado agora. Mas para manter a lógica, a Bianca terá que aparecer no colégio amanhã, no mesmo horário, e ficar ali, sozinha, lendo o livro. É uma ótima oportunidade de ser menos idiota e falar de verdade com ela. Isso. Vou fazer isso. Meu pai ficará muito feliz em saber que o Mind Clock funciona, mas a ciência pode esperar...hehe."

  Vale salientar que Diego é mesmo uma pessoa admirável por raciocinar tão friamente em uma situação tão incomum, não acham? Mas, de qualquer forma, com exceção do pai dele, poucas pessoas acreditariam. O garoto, então, resolveu fingir que nada aconteceu e desceu para o jantar. Se lembrava bem do jantar daquele dia, seria salsicha com batata cozida.

- Tcharam! Salsicha e batata cozida! - disse seu pai, apresentando orgulhoso seu elaborado prato de pai solteiro. Diego achou incrível que até mesmo os trejeitos do pai eram idênticos ao dia anterior. É, tudo indicava que ele havia mesmo retornado ao passado. 

  De qualquer forma, Diego pretendia fingir que nada aconteceu, pelo menos até ter certeza de que tudo ocorreria da mesma maneira que ocorreu. Ele procurou ao máximo lembrar das respostas que deu, agir da forma que agiu e, depois do jantar e de volta ao seu quarto, procurou planejar o que falar com Bianca. Dessa vez, ele deveria ter um resultado positivo. Lembrou-se do livro que ela estava lendo e aproveitou a chance para pesquisar tudo que podia sobre o assunto, muito embora tenha achado a história meio sem graça. De qualquer maneira, já era uma prevenção. Agora ele tinha sobre o que falar. Feito isso, tentou lembrar ao máximo o que Bianca disse e elaborou algumas respostas. Terminado tudo isso, foi para cama plenamente confiante de seus bons resultados.

   A noite passou, o Sol raiou. Hora de começar o dia. De novo, ele procurou ao máximo reproduzir seus passos com fidelidade, embora seu pai tenha percebido que ele estava mais bem-humorado naquela manhã.

- Não tá sorridente demais para quem acordou cedo? - reparou Alberto, enquanto esquentava seu leite no microondas.

- Ah, parece? - disse ele - É que hoje vai sair um episódio novo da série que estou baixando. Hehe.

- Ah, tá, entendi.

 Por sorte, isso era verdade mesmo, mas Diego precisava de uma desculpa. Feito isso, agora era só manter o mesmo ritmo até chegar na escola. Já eram quase seis e meia, se ele não estivesse enganado, naquela hora, Bianca estaria passando. Sim, isso mesmo, ele podia vê-la chegar à distância. Como era o dia anterior, Diego ainda não havia falado com ela, portanto, Bianca não o cumprimentou. Mas tudo bem, agora ele estava mais preparado. E, se ele não estivesse enganado, naquela hora sua amiga Vanessa chegaria.

- Oi, Vanessa - disse Diego, voltando-se para trás com um sorriso no rosto.

- Ah, que saco, queria te dar um susto - reclamou a garota - Tá esperto hoje, heim?

- Sabe que também estou sentindo isso? - disse ele - Acho que hoje será meu dia de sorte.

- É? - perguntou Vanessa - Bom te ver otimista de vez em quando.

- E para provar isso, vou fazer algo que já devia ter feito antes - continuou o rapaz, com uma voz confiante fora do comum.

- O quê?

- Vou chamar a Bianca Fado para sair! - disse ele.

- Hã? Sério? Você tá bem? Bateu a cabeça? Você é um nerd tímido, esqueceu? Você devia estar inseguro, fazendo perguntas e achando que ela vai te dar um fora antes mesmo de tentar e...

- Pois hoje eu sou um novo homem! - retrucou Diego - Nunca me senti tão bem antes!

- M-Medo - gaguejou Vanessa - Você deve ser um alienígena..que raptou meu amigo Diego e está usando a forma dele para investigar os terráqueos. Confesse. É isso, não é?

- Que absurdo...como se algo tão surreal assim fosse acontecer - disse Diego, que, por mais séria fosse sua resposta, não deixava de ser irônica (sequestros alienígenas não eram tão absurdos assim perto de viagens no tempo).

- Então você mudou mesmo - falou Vanessa - Como é que pode? Essas mudanças deveriam ser mais sutis...

- É...andei assistindo uns vídeos de auto-ajuda na internet e resolvi dar uma revolução de 180 graus na minha vida - disse ele, enquanto ajeitava a gola da camisa - Agora, se me dá licença, vou ali falar com a Bianca.

 E o rapaz foi rumo ao seu destino. Vanessa ainda estava pasma com aquilo. Como um rapaz tão inseguro começou a ficar tão confiante de si assim, da noite para o dia? De qualquer forma, ela estava ali, vendo com os próprios olhos, a confiança de Diego. E Bianca estava lá, sozinha, lendo seu livro de vampiros com alienígenas. Era hora de refazer o diálogo de forma adequada.

- Bom dia - disse Diego para a mocinha.

- Oh, bom dia - ela sorriu  simpaticamente.

"Perfeito", pensou ele, "Tudo parece caminhar igualzinho ao que aconteceu ontem. Agora é só levar a conversa para o caminho certo!"

  Que rumo essa conversa iria tomar?

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(*) = Sonho lúcido é quando você sonha e sabe que está sonhando. Dizem que isso é possível com a prática de anotar seus sonhos, acostumando assim o seu cérebro a permanecer consciente dos fatos mesmo em sono profundo. Infelizmente, nunca consegui ter um sonho desses.

(**) = Teoria do caos é uma teoria física em que uma alteração mínima nas condições iniciais de um sistema é capaz de gerar um resultado completamente inesperado. Uma ilustração famosa dessa  teoria é o chamado "Efeito Borboleta", onde o simples bater de asas de uma borboleta em um lado do mundo é a causa de um furacão do outro lado do mundo.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, veremos como será a conversa.
Até lá!