Capítulo 15 – Revelação

Diego, de uma hora para outra, começou a suar frio. Mas, ao pensar por alguns instantes, chegou à conclusão de que tudo aquilo era um absurdo. Não fazia sentido nenhum. Ele logo começou a rir.

-Heh...hauhauha! - ria Diego – Desculpa, mas...acho que ouvi você dizer que conhece o futuro melhor do que eu..

-Talvez não a curto prazo como você – respondeu ela – Mas a longo prazo, sei muito bem o que nos aguarda.

-Impossível – disse ele – Mesmo que o Mind Clock funcionasse com você e eu te deixasse usá-lo algum dia, duvido que algum ser humano consiga aguentar usar o Mind Clock para voltar mais de um dia.

-Não esse Mind Clock antigo – falou Vanessa, sem tirar os olhos de Diego – Mas uma máquina do tempo mais avançada do que essa é perfeitamente possível de existir em um futuro distante...na verdade, nem tão distante assim.

-Pode provar o que está dizendo? - perguntou Diego.

-Hmm? Provar?

-Não posso acreditar numa coisa dessas sem uma prova.

-E pensar que você me achava cética alguns dias atrás – provocou a garota. Ponto para ela.

-Tá legal – disse Diego – Vou pelo menos ouvir a sua história. E então? Por que diabos você mandou sua mente tantos anos para o passado?

-Eu podia fazer isso. Porque era sua melhor amiga no colegial.

-Explique melhor.

-Você, Diego, é a causa da desgraça desse mundo no futuro!

-O quê?! - Diego não podia acreditar em seus ouvidos – Tá dizendo que eu sou uma ameaça para o futuro?

-Se o futuro ocorrer do mesmo jeito, sim, é. Por sua culpa, a população será reduzida em 30%¨.

-Redução da população em 30%? Como assim?

-Você sabe que é um cara inteligente, não sabe? - falou Vanessa, colocando os cotovelos em cima da mesinha e entrelaçando as mãos. Ela assumia uma postura tão séria que sequer lembrava a garota alegre que Diego conhecia.

-Er...nem tanto assim – falou ele.

-No mínimo, herdou os genes geniais de seu pai – disse Vanessa – Não estou brincando, você realmente é um gênio.

-E isso é um problema?

-Sim. Quando se usa sua genialidade para propósitos bizarros.

-Só se eu fosse um cientista louco – brincou Diego.

-Exatamente.

Os dois pararam e uma pausa de três segundos se fez, dando tempo para o vento soprar suavemente pelas folhas das árvores.

-Tá querendo dizer que eu vou me tornar um cientista louco no futuro?

-Isso mesmo – confirmou Vanessa – O fato de você ter sido rejeitado por Bianca o jogou em uma desilusão amorosa fora do comum. Isso te deixou louco e você usou toda sua inteligência para criar algo ainda mais absurdo.

-O que pode ser mais absurdo do que eu me tornar um cientista louco?

-Você se tornar um cientista louco tarado.

-Tarado?! - Diego corou com isso – Eu nunca seria um tarado.

-Diga isso para todas as horas que você ficou acordado de madrugada entrando naqueles sites – provocou Vanessa.

-Espera aí, espera aí, uma coisa é ver um pornôzinho aqui e outro ali. Outra é dizer que me tornei um tarado.

-Pela sua invenção, não dá pra tirar outra conclusão.

-Invenção? Que invenção? O que afinal eu criei?

-Uma poção.

-Poção? - estranhou Diego – Que tipo de poção?

-Uma poção do amor – respondeu Vanessa – Você criou um tipo de substância que faz qualquer mulher se sentir apaixonada por você.

-O quê?! Fala sério!

-Estou falando sério – disse Vanessa – Pode parece roteiro de um filme de comédia ou de um desenho animado, mas é tão real quanto esquisito.

-E como é essa poção do amor?

-A fórmula era sua – disse Vanessa – Totalmente secreta. Só soubemos dela, porque você mesmo disse isso em rede internacional.

-Como assim?

-Assim que você criou a poção, você a ofereceu ao maior número de mulheres que, por sua vez, ofereceram para outras mulheres e assim por diante. Você conquistou um número absurdo de mulheres no país e no mundo. Todas queriam ficar com você.

-Como um negócio desses pode ser verdade?

-Simples. O mundo no futuro é altamente globalizado. Se hoje as fronteiras entre países são poucas, no futuro são menores ainda. Você também tinha criado um tradutor universal, que legendava as frases de cada pessoa para sua língua, então, não era um problema se comunicar.

-E eu fiquei com quantas mulheres?

-Milhares – disse Vanessa – Muitas mesmo. Mas não havia risco de assumir filhos. Você mesmo se esterilizou para evitar isso.

-Já estou começando a ficar com medo dessa história...

-Mas eu ainda nem contei a pior parte.

-E consegue ser pior que isso?

-Sim. Algo que ajudou a diminuir a população terrestre ainda mais. O fato da sua poção não deixar apenas qualquer mulher apaixonada por você, mas também...deixá-las jovens para sempre.

-Jovens...para sempre? - estranhou Diego.

-Sua poção só funcionava com mulheres – disse Vanessa – E enquanto elas permaneciam jovens, todos os outros homens envelheciam. Era uma questão de tempo para a população diminuir. Sua poção se espalhou como um vírus e não demorou para atingir o mundo todo. O resultado é que grande parte das mulheres do mundo pensavam apenas em você e começaram a rejeitar outros homens.

-E você tomou essa poção também? - perguntou Diego, meio envergonhado.

-Claro que não! - reclamou ela, também corada – Pelo contrário, fui uma das primeiras a suspeitar dela.

-Hã?

-Eu acompanhei sua decepção amorosa e vi como você foi enlouquecendo com o passar dos anos. Não demorou para perdermos contato e você ficar sozinho. Um dia, sua solidão se transformou em loucura e você criou essa porcaria toda. Eu era uma das únicas mulheres do mundo que envelhecia e isso já me fechava várias portas.

-Quer dizer que ainda contribui para a pobreza de várias mulheres? - perguntou Diego.

-Sim – respondeu Vanessa – Por isso estou dizendo que você foi um dos maiores males da humanidade depois de Hitler. Você pode não ter matado milhões de pessoas, mas certamente impediu milhões de nascer!

-Tá bom...e onde entra a máquina do tempo nessa história?

-Seu pai – respondeu Vanessa – O Alberto estava desenvolvendo um projeto secreto, que nem você conhecia. Afinal, você também perdeu contato com seu pai no passar dos anos.

-Era o Mind Clock?

-Ele já tinha planejado o Mind Clock anos atrás, mas ele retomou o projeto e com o avanço da ciência da época, ele já podia pensar numa máquina do tempo muito mais potente.

-Capaz de enviar memórias para muitos anos no passado?

-Exato – disse ela – Ele aumentou a capacidade do Mind Clock utilizando computadores muito mais eficientes. Diante da situação do mundo, ele me chamou e disse que eu era a única pessoa capaz de mudar o passado.

-Você?

-Sim. Eu era sua confidente na época que você estava atrás da Bianca – respondeu Vanessa – Só eu podia te aconselhar a não surtar com uma decepção amorosa. Eu tinha certeza que essa desilusão foi o evento que desencadeou a desgraça do mundo.

-E o meu pai já tinha testado a máquina?

-Um Mind Clock daquele porte, não – disse ela – Mas ele já havia testado um Mind Clock mais primitivo, capaz de mandar memórias até uma semana para o passado.

-Já é mais eficiente que o meu Mind Clock – comentou Diego.

-Daí...eu voltei para o passado – disse Vanessa – Lembro que fiquei o dia inteiro com dor de cabeça aquele dia. Mas já prevíamos isso. Minha mente iria pousar em um domingo, onde não teríamos aula. Ninguém suspeitaria de nada. Para os meus pais, era só uma dor de cabeça.

-Em um domingo? Qual domingo?

-Exatamente no domingo anterior ao dia que você me falou do Mind Clock – respondeu Vanessa.

-Foi essa semana – reparou Diego.

-Bem, o seu pai já tinha um protótipo de Mind Clock há muitos anos. Eu só precisava mandar algumas fórmulas para ele criá-lo nessa época.

-E quando você fez isso?

-Naquele dia que você saiu para ir ao dentista – falou Vanessa – Era o tempo que eu precisava para conversar com Alberto.

-Quer dizer que...

-Exatamente – Vanessa sorriu – Se você está usando o Mind Clock hoje, é graças a mim.

Diego sentiu o suor escorrer de novo. Como, como aquilo tudo poderia ser verdade?

-Tá dizendo que o fato de eu usar o Mind Clock hoje...é porque você deu as últimas teorias para o meu pai.

-Seu pai precisava de algumas poucas equações que ele desenvolveu no futuro – disse Vanessa – Essa teoria é inexistente nessa época, mas a tecnologia necessária para ela é mínima. Seu pai só conseguiu fazer o Mind Clock por minha causa.

-E por que você queria que eu usasse o Mind Clock?

-Porque você poderia voltar um dia antes e usá-lo quantas vezes quisesse até ficar com Bianca – disse ela – Meu plano era apenas fazê-lo ficar com ela e impedir que tivesse uma desilusão. Mas os últimos acontecimentos...me deixaram preocupada.

Diego ainda estava pasmo. Aquilo tudo só podia ser uma piada ou uma brincadeira de mau gosto, por mais séria que Vanessa parecia. Como explicar uma maluquice dessas?