Sublimes Sonhos escrita por Jonathan Loppes


Capítulo 4
Perfeição




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Senti raiva se esvaindo pelos poros, meu coração oscilava e os hormônios de adrenalina estavam a todo vapor, enquanto a terra molhada dominava meu olfato, a escuridão dominava minha visão, as copas das árvores eram altas e latifoliadas; aos poucos fui perdendo a noção de relevo, as pedras e galhos no caminho me faziam tropeçar a cada poucos passos, o barulho de trotes me davam a determinação necessária para não parar. Pensei que tudo isso pudesse vir a ser apenas mais um sonho, mas as veias que pulsam junto a minha carne me fizeram ter a certeza do quanto tudo estava sendo vivo, dentro de mim.

Não era mais possível ver a luz ou saber em que ponto da floresta estava, quando vi o que me tirava o sono há noites. O desconhecido. O dono da porta do céu. De repente não senti meus joelhos e caí em reverência aquele olhar, todavia não fora como nos sonhos. Havia urgência em cada piscadela do desconhecido, senti tanto quanto vi aqueles olhos se aproximarem, aqueles lindos olhos perdidos entre o verde e o azul. Senti seu hálito de menta com o leve cheiro de canela que seduzia meu olfato quando sussurrou: "Confie em mim, apenas confie em mim." Separou as últimas sílabas dando a ênfase necessária para me fazer tremer. Como se tivesse fechado os olhos a luz que vinha de sua pupila se cessou e ouvi um novo som, como se alguém movesse o ar imóvel. Foi quando senti o toque que me arrepiou o corpo e alma. Ele tocou minha mão, me guiando no escuro. Me lembrei de quantas vezes desejei tocar o dono daquele olhar, do quanto aqueles olhos me fizeram sentir prazer. Se alguém me perguntar se existe amor a primeira vista, serei obrigado a dizer que sim, tive a certeza disso quando ele me tocou. Eu estava perdidamente apaixonada por ele.

Zhaã

" Em uma tribo na América, 42 d.C uma camponesa deu à luz a uma menina que batizou como Zhaã, o pai havia morrido na guerra contra povos inimigos e a camponesa passara a cuidar sozinha da criança. Zhaã era um exemplo de beleza, sua pele parecia não sofrer com o sol, e a palma da sua mão demonstrava erroneamente que Zhaã nunca tocara em uma enxada de pedra. Zhaã ajudava a mãe no trabalho do campo todos os dias, nunca mentia, não sentia inveja das filhas dos senhores ou as tentava algum mal. Em uma civilização perversa, marcada por sangue, construida em cima de guerras e dores alheias, Zhaã era cheia de virtudes, capaz de deixar de comer se um cão ao seu lado passasse fome. Zhaã apreciava o som das aves como alguém que ouve música, agradecia deus todas as noites pela colheita, sendo ela satisfatória ou não. Amava os dias em que a lua ficava amarelada, desejava que a guerra acabasse tanto quanto seus pulmões desejavam ar.

Quando alcançou a adolescência a beleza de Zhaã chamava a atenção de todos os homens da tribo, todos desejavam o corpo de Zhaã, até mesmo os homens inimigos de sua tribo. Em uma das disputas por território Zhaã foi levada de sua mãe, um guerreiro inimigo a tinha sequestrado."

Ele pausou a história como se sofresse com tudo aquilo, e disse: "Dias depois ela foi morta pela espada do homem que a raptou."

Ele me trouxe a beira do rio Jenna, as estrelas estavam penduradas no céu e a lua não estava a vista, o rio raso corria pelos meus dedos finos enquanto sua voz me impedia de dar a atenção necessária a história que contava. E ter seu rosto revelado sob a luz das estrelas foi a sensação mais prazerosa que uma mulher já sentiu na face da Terra. Seu rosto era a descrição mais perfeita do perfeito. Sua pele negra e viva em contraste com seus lábios carnudos avermelhados, que desenhados abaixo do fino e levemente arrebitado nariz me faziam o desejar imediatamente. Cabelos lisos se estendiam pelas costas presos por um pedaço de cipó, vestia roupas comuns para alguém tão extraordinário, e estava acompanhado de um cavalo branco, com dentes a imitar sua cor-isso não só explicou os trotes como me fez sentir como se fosse uma princesa salva pelo príncipe e seu cavalo branco.

A única coisa que descobri sobre ele é que se chama Pedro e o cavalo Rex. Agora o desconhecido tem nome.

"Parece que isso te deixa triste, não que não seja, mas , 42 d.C!" Comentei ainda tímida com a sua presença imponente.

Ele fitou meus olhos e perdi o controle da respiração.

"É que Zhaã foi a primeira de muitas outras."


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