Sublimes Sonhos escrita por Jonathan Loppes


Capítulo 3
Uma pedra no sonho.




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Desde a formatura meus dias vem sendo vazios por inteiro, o tédio é a visita mais frequente que recebo, às vezes ajudo a mamãe a costurar, outras apenas fico observando o quanto se concentra ao passar a linha na agulha. Mas nos últimos dias a visita do desconhecido, dono dos olhos mais doces e simultaneamente selvagens, vem me trazendo um jorro de emoções icodificáveis. Os dias que sucederam a minha formatura do ensino médio só venho trocando mensagens com Mia , minha melhor amiga, e pensando no desconhecido, e as poucas vezes que ela pode me ligar é pra contar sobre como é trabalhar no único educandário da cidade. Comentei com Mia sobre os sonhos mas ela não pareceu muito interessada, não mencionei que tenho o mesmo sonho a dias, e que tudo o que acontece enquanto durmo não altera somente a minha mente como também o meu corpo, acho que ela não acreditaria que após um sonho como qualquer outro onde eu me machucasse, acordaria com o pé machucado.

Sim. Eu assumo que nada disso é normal , mas o meu aborrecimento, não é a ausência de normalidade, mas sim a ausência de controle que foge das minhas mãos. E se tudo isso vira um pesadelo...Ouvi trotes, e se o dono daqueles sublimes olhos é um animal falante...Isso me soa como um absurdo...E se ele me ataca...O quão machucada ficaria fisicamente?...E aquela voz...Aquela voz não é desse mundo, ela é capaz de me fazer obedecer a cada um de seus comandos. Aquele olhar totalmente envolto pela escuridão me deixa terrivelmente submissa.

Os dias em que as nuvens se dissipam e revelam o sol tímido que visita Del Selena são raríssimos, e quando eles acontecem a minúscula população se reúne no centro da cidade para se enfurecem nas compras e o rio Jenna fica lotado de crianças que abandonam o educandário. A floresta permanece escura e úmida. Minha mãe, Susi, aproveitou para varrer as folhas da varanda e se sentou nos degraus da escada e começou uma nova colcha de crochê. E eu fiz as mesmas coisas de sempre. Nada.

Mesmo vivendo escondida do sol minha pele carrega um bronzeamento natural, meu cabelo cacheado negro com as pontas descoloridas naturalmente caiu sob a minha cor morena corada, o meu corpo desajeitado e magrelo ficava ainda mais explícito com as regatas de verão. Me desliguei do espelho quando o celular tocou. Mia me mandou uma mennsagem. "AMIG@ , tô aí em meia hr.!"

Desci a escada indo em direção a sala ouvindo as gargalhadas da mamãe enquanto assistia um stand-up comedy, sem comedy, que passava na TV local.

"A Mia vem daqui a pouco, mamãe." Comentei enquanto minha mãe se despedia de uma única gargalhada.

"Que bom! Assim ela pode te fazer companhia enquanto eu vou lá no centro comprar uns panos. Tenho que fazer umas camisetas para a sua irmã." Falou já pegando a bolsa no sofá.

"hum! Você vai passar lá?" Perguntei.

"Provavelmente. Quer que eu dê noticias ao seu pai?" Disse se aproximando da porta.

"Não. Mas lembre a Melanie do lance do emprego."

"Está bem! Não apronte enquanto eu estiver fora , hein!" Falou enquanto cruzava a porta.

Há alguns anos Melanie fora morar com o papai no centro de Del Selena, logo após a separação de Susi e papai ela simplesmente entrou em desespero, parece que ter sua família perfeita se desfazendo, não era algo muito atraente para Melanie. Também não foi pra mim, mas sempre preferi os dois felizes separados do que juntos infelizes.

Sonhar é sonhar. Às vezes é mais que isso

Ele se mantinha me fitando a alma, por momentos esquecia da escuridão que me cercava e amava o dono daquele olhar. Cada partícula do meu corpo se movia a cada suspiro e expiro que ele fazia do ar quente.

"O tempo está acabando, temos que fugir." Falou o desconhecido, sua voz era como a voz de deus, me deixou tímida imediatamente.

Não poderia falar nada. Como poderia teimar com Deus? E se ele fosse? O mais absurdo pensamento me fez pensar se iria ao inferno por imaginar deus em demasiada escuridão. Interrompendo os meus pensamentos o som de trotes vindos de longe voltaram a emergir na escuridão, porém não era apenas um trote, mas sim vários. Foi quando um Relincho invadiu como rugindo o cenário.

Olhar é olhar. Às vezes mais que isso

Meus olhos se abriram como se tivesse emergido da água após quase me afogar. Os risos forçados da plateia do programa de TV me incomodaram instantaneamente, me sentei no sofá alcançando o controle, apertei o botão de desligar fitando a última gargalhada que o cara de orelhas grande dava na minha presença, assim que a TV desligou a minha imagem se revelou no reflexo da TV, me intriguei com a maneira com que me cabelo fazia um emaranhado de nós, enquanto fitava a minha imagem eu vi os olhos do desconhecido ao meu lado no reflexo da TV. E gritei de susto...Eu só podia estar loca. Corri para a varanda tropeçando no terceiro degrau e caindo sobre um saco de lixo, cheio de folhas. O desespero fora estampado no meu rosto. A remota responsabilidade de me perguntar sobre o que estaria acontecendo me causava medo, com cuidado fui me levantando do chão. Podia sentir o quanto meu olhar estava perdido na paisagem. Fitei a mata e do nada ouvi trotes.

Disparei correndo, tropeçando e me estabilizando no chão. Invadi a floresta correndo por toda trilha que via limpa, pulando galhos, fui cada vez mais mata adentro. Tendo certeza de que não era uma sonho.



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