Amor Na Bagagem escrita por gabi13


Capítulo 4
Capítulo 4 - Jantar de Despedida




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Depois de arrumar tudo e tentando ignorar o mal estar causado pelo flashback que tive, entro no banho. A água corrente sempre me fez bem, como se levasse embora tudo o que eu possa ter sentido de ruim nos últimos meses. Passo os olhos pelos diversos potes de shampoo, trazidos pela minha mãe do instituto dela, e acabo escolhendo o de sempre. Formo a espuma em meus cabelos e começo a cantarolar alguma música sobre um verão perfeito, tirada de um musical da Broadway, cujo nome não consigo me lembrar. Eu estou estranhamente positiva sobre essa viagem, já que eu tenho a mania de ver o lado mal de todas as coisas, sempre. Passo tanto tempo perdida em meus pensamentos que minha mãe chega em casa, se indignando ao descobrir que eu ainda estou no chuveiro.

–Alice, minha filha, não acredito! Saia daí agora e quem sabe ainda dá um tempo para a gente arrumar esse cabelo! Trouxe umas coisas do salão pra você levar.

Eu me seco, visto meus pijamas favoritos e vou até ela. Ela puxa uma sacola cheia de produtos para cuidados com o cabelo, desde protetor solar, máscara, até hidratante. Ela me manda levar tudo até o meu quarto, e depois de obedecer à ordem, eu volto para falar com ela. Manda-me sentar em uma cadeira e começa a passar o secador no meu cabelo, dizendo que antes de eu viajar, ela quer me levar para comer num lugar muito especial para fazer uma despedida oficial. Sinceramente, eu ainda não entendi o porquê de tanto drama, mas não posso dizer que não estou gostando desse tratamento todo diferente...

–Ok, a que horas você reservou o La Plata? – Perguntei sorrindo, pois já sabia que ela tinha reservado meu restaurante favorito... Era o que ela sempre fazia. Ela revira os olhos, como quem já soubesse que eu iria acertar.

–Ah, não acredito, você sempre estraga minhas surpresas, acho que estou ficando previsível demais! – Ela sorri. – E eu reservei para as oito.

Assinto silenciosamente, e fico apenas sentindo os puxões no meu cabelo, vindos da tentativa dela de fazê-los parar quietos e lisos e não no ondulado um pouco bagunçado de sempre. Depois de algumas tentativas ela consegue, liberando-me para me vestir e me arrumar.

Em meu quarto, coloco um vestido simples xadrez e sandálias de salto baixinho, abrindo em seguida meu porta-joias. Ponho um par de brincos prata, um colar, e vou à busca de um anel que combinasse... Lembro-me da caixinha de Mark. Ah, eu não poderia usar aquilo, não é? Mas ninguém saberia de nada... Não falei nem para Becky sobre o anel e, além disso, é só uma joia, que mal poderia ter? Tiro a pequena peça de sua caixa e a coloco em meu dedo. É realmente linda. Penteio meus cabelos, passo a maquiagem, pego uma bolsa e desço as escadas, ansiosa. Meu pai acabou de chegar da empresa, e me olha de cima a baixo.

–Quando minha princesinha se tornou essa coisa linda? – Ele dá o mesmo sorriso de quando eu estava pronta para as apresentações da escola, na primeira e segunda série. – Você está maravilhosa!

Agradeço, e digo que ele, com uma camisa social e calça jeans, também está muito bem. Ele sorri.

–Então, vamos? –Eu pergunto impaciente.

–Espere sua mãe, ela já vai descer.

Como uma deixa, ouço um barulho de salto na escada. Minha mãe desce, usando uma saia xadrez e uma blusa branca, realmente linda e parecendo jovem para seus quarenta e cinco anos. Elogio-a, e ela, depois de agradecer, nos manda entrar no carro. Aconchego-me no banco e sinto o cheiro de lavanda predominante lá dentro, devido a um pequeno aromatizador. O cheiro me tranquiliza, e me sinto totalmente bem.

Não demora muito para que cheguemos ao La Plata, e ele está exatamente como eu me lembrava da última vez em que o vi. Eu não gosto quando as coisas mudam a ponto de você não poder reconhecê-las, e pode ser por isso que este seja meu restaurante favorito. Antigamente, era uma casa de imigrantes alemães, mas acabou sendo transformada em restaurante... E continua com a mesma aparência desde então. Robustas colunas de madeira, assoalho xadrez, paredes antigas. Sem falar na comida, que é simplesmente maravilhosa. Subo a escadaria que se encontra na frente, que sempre me lembrou da história da Cinderela, minha princesa favorita. Sempre quis viver uma história de amor como a dela. Adentro o ambiente, sentindo o aroma de algum tipo de molho, novinho, e meu estômago ronca. Eu nem percebi, mas passei a tarde sem comer nada, e agora estou morrendo de fome. Sento-me na mesa com minha família, e, para minha surpresa, logo chega Becky, saltitando.

–Não sabia que você vinha! – Digo.

–Ué, não queria me ver? –Ela diz, ironizando.

–É claro que eu queria, palhaça. – Sorrio e me levanto para dar um abraço nela, que retribui. Ela se senta a mesa e começa a tagarelar sobre algum tipo de liquidação, mas não consigo prestar a mínima atenção. Meus olhos estão travados na mesa atrás dela... Mark. Ele está ali com aquela garota, a Lisa. Raciocino rápido e tento tirar o anel da minha mão, mas simplesmente não consigo, então faço de conta que não o vi e tento ignorar sua presença, torcendo para que ele não venha até mim.

O garçom chega, usando smoking e sapatos sociais, como se realmente estivesse num baile real de contos de fadas. Ele pede o que gostaríamos de comer ou beber, e entrega-nos um cardápio. Rapidamente, escolho a massa quatro queijos, minha favorita, e um filé. Becky acaba se decidindo por um filé de peixe, batatas e salada. Meus pais dividem um prato de risoto entre si. A comida não demora a chegar, e como até não aguentar mais, pedindo licença para ir até o banheiro me lavar. Entro, passo água no rosto e mãos, seco e saio... Para dar direto de cara com Mark. Ele estende a mão e fica me olhando fixo, enquanto eu fico inteiramente vermelha. Resistindo ao meu impulso de mandá-lo para o inferno, o cumprimento também.

–Oi. –Estendo a mão para ele, me esquecendo de um detalhe.

–Oi! Você está usando o anel que eu te dei, que amor!

Ah, droga, o maldito anel.

–É, estou usando sim, ele é muito bonito. – Idiota, estúpida, burra.

–Ah, que bom que gostou. Nossa, você andou mudando, né?

Ele me olha de cima a baixo. Ele está realmente flertando comigo? Com a namorada na mesa ao lado? Meu Deus, qual o problema dele?

– É, talvez. – Respondo, pois seria impróprio verbalizar o que eu estava pensando de verdade.

Ele me dá uma piscada.

– Eu perdi o número do seu celular, poderia me passar ele de novo? 

Ah, desgraçado.

– 99314521.

 Ok, o que eu poderia fazer? Dizer não, não vou dar meu telefone, você é um idiota e partiu meu coração, até nunca mais? Isso seria muito rude, e eu não consigo ser assim... Pelo menos não com ele.

– Ok, mando uma mensagem e a gente combina de se encontrar, beleza?

 Sem esperar minha resposta, ele volta para a mesa, onde Lisa está distraída olhando o cardápio e não percebe minha presença.

Decido fingir que aquele encontro nunca aconteceu, me dirijo para minha mesa e fico sentada, alheia a todas as conversas e tentando me desviar do olhar fixo de Mark, no outro lado do restaurante. Becky chama minha atenção diversas vezes, até olhar para ele e entender o que havia acontecido.

–Ah não, Alice, não mesmo. – Ela diz, incrédula.

–Calma, não é o que você está pensando, é só... Estranho, depois de todo esse tempo.

–Ok, acho ótimo que seja só estranho mesmo. Esse cara não te merece!

–Eu sei Becky, eu sei.

Acabamos a janta em silêncio, descemos a escadaria e entramos no carro. Meus pensamentos me atormentaram durante todo o caminho de volta, assim como o olhar ameaçador de Becky. Em casa, limpo toda a maquiagem com um removedor, prendo meus cabelos em um rabo, coloco o pijama, jogo tudo o que estava na cama no chão e me deito, tentando resolver aquela confusão em minha mente. Adormeço feliz, lembrando-me de que amanhã, as oito da manhã, finalmente minhas férias vão começar de verdade.



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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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