Sinal Positivo escrita por Milk


Capítulo 30
Capítulo XXIX


Notas iniciais do capítulo

~Hey people! Sei que o último capítulo veio como ejaculação precoce (imitando a expressão de uma leitora), tentei fazer o possível para agilizar esse capítulo, mas o universo conspirou contra Milk. Vejamos alguns exemplos:
Projeto da Feira de Ciências ATRASADO
Acabei ficando doente
Voltei a trabalhar (a vida é dura)
Entre outros empecilhos
.
Preciso falar sobre o mangá 643? Confesso que já amei e desejei mais o Sasuke... Hoje em dia ele está parecendo uma bicha revoltada. Já avisei para ele que meu amor está acabando, ainda assim ele continua aprontando... Não podemos fazer nada, não é mesmo, meninas? Acho que vou canalizar meu amor no seu falecido irmão Itachi, porque não aceito nenhum homem que não seja Uchiha, de preferência proveniente do útero da Mikoto, a expert em parir criaturas lindas.
.
Bom, deixo vocês com o penúltimo capítulo de Sinal Positivo! :')
Enjoy.



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Acordei aos poucos, primeiro despertei de um sonho confuso, em seguida me situei nos sons e cheiros do lugar onde eu estava, só então abri os olhos lentamente, quase que lamentando por ter que fazer isso. Fiquei quietinha, deitada completamente imóvel, com exceção dos olhos e o tórax subindo e descendo a cada respiração. Comecei a ponderar se eu ficasse paralisada as pessoas não me notariam e se esqueceriam da minha existência. Seria conveniente.

Não demorou muito para uma enfermeira entrar no quarto para me observar. Quase passei despercebida estando lá quietinha, contudo ela reparou que meus olhos estavam bem abertos. Perguntou como eu me sentia e eu não soube bem o que responder, não sentia mais dor, mas algo me incomodava. Ela explicou que deveria ser a episiotomia¹. Falou sobre o horário de visitas quando eu perguntei e saiu dizendo que voltaria com minha janta. Achei estranho, pois nem parecia que ainda era o mesmo dia.

Terça-feira, vinte e um de julho. Eu estava nas últimas páginas de 1984, havia pintado meu cabelo e dado a luz. O dia havia sido longo e nem tinha acabado, parecia que tudo o que eu fiz antes de ir para o hospital foi há dias e não há horas. Uma sensação estranha de deslocamento me incomodava mais do que a tal episiotomia. Eu tentava organizar os fatos, mas nada parecia muito real, ou talvez parecesse real demais para eu acreditar.

Logo a mesma enfermeira voltou empurrando um carrinho típico de hotéis, com minha janta e algumas outras coisas nos suportes debaixo. A mulher tentava se entrosar comigo de uma maneira quase eficaz, era simpática, mas deixava escapar um pouco de pretensão na sua voz. Ela queria se aproximar de mim para conseguir algo, dava para perceber isso nas perguntas que fazia, à princípio pertinentes ao seu cargo e aos poucos se tornando cada vez mais pessoais. Continuei a falar com ela porque em momento algum, mesmo tentando fuxicar a minha vida, ela tocou na palavra bebê. Falava sobre Sasuke, meus pais, Mikoto, meu cabelo, sobre as outras enfermeiras, mas nem sequer passou perto de falar sobre a criança.

Assim que eu terminei de comer, ela me deu um analgésico e me ajudou a trocar a peça íntima, sempre com a simpatia forçada e puxando assuntos aleatórios para que eu não me sentisse tão constrangida. Assim que ela saísse, as visitas chegariam aos poucos, com meia hora cada dupla, perduraria até às dez horas, depois disso apenas a acompanhante poderia ficar comigo, provavelmente Mikoto, pois Mamãe não se disponibilizaria para tal. Acho que ela pegou tanta amizade com Mikoto porque achou mais alguém em quem escorar, alguém que não reclamava em fazer papel que não era dela.

Logo a mesma enfermeira retornou acompanhando meu pai. Quando ele me olhou, algo dentro de mim se agitou e eu escondi meu rosto atrás do lençol e comecei a chorar desenfreada. Não demorou para sentir os braços gordos e quente me envolverem naquele abraço tão característico de pai consolando a filha após um pesadelo. Pude ouvir a porta se fechando, então soube que estava só com ele. Seu abraço não vacilou um minuto sequer, ele me segurava como se a qualquer momento eu pudesse cair e me despedaçar. Senti meu ombro umedecer, presumi que ele também chorava comigo. Meu pai, aquele pai que quase nunca aparecia, aquele pai que não tinha muitas coisas para dizer, aquele pai que me olhava com um misto de pena e mágoa. Ele foi o primeiro a entrar e ficar ao meu lado, a acariciar meus cabelos sem me bronquear por eu tê-los pintado novamente de rosa, a secar minhas lágrimas com sua própria camisa, a segurar meu rosto vermelho e inchado, tirar os cabelos grudados na pele e me depositar um beijo na testa. Ele me olhava com os olhos pequenos e marejados, um sorriso bobo, sorriso de pai para sua menininha.

— Você foi uma guerreira — disse com a voz embargada — Não ia conseguir ficar parado assistindo minha filha sofrer, eu... — fez uma longa pausa — Não é isso que as pessoas esperam para os filhos. Não queremos vê-los sofrer, Sakura— secou as lágrimas — Quando eu te segurei no colo pela primeira vez eu prometi à mim mesmo que te daria uma estrela se você me pedisse, mas você nunca me pediu nada a mais do que eu te dava, ainda assim cresceu infeliz e eu sempre me culpei...

— Pai, isso não tem nada a ver com você.

— Não, filha, tem sim. Isso também foi erro meu e da sua mãe. Mil psicólogos podem dar explicações médicas para o que você supostamente tem, mas para mim não adianta, eu olho para você e vejo minha filha normal, uma filha saudável, porém infeliz e é inevitável não me culpar — afastou-se de mim para pegar um banco — Agora que você é mãe, vai entender como é isso.

— Eu não quero mais isso, pai — voltei a chorar — Por favor, eu não quero mais isso. Olha pra mim! Olha! Eu não sou mãe, eu sou apenas uma menina cheia de problemas. Eu não quero essa criança, pai. Eu não quero ser mãe. Eu só quero ir para casa e chorar.

— Você não tem que querer, Sakura, você é mãe agora e terá que lidar com isso. Você teve todos esses tempo para se conformar e se preparar, você teve apoio da família e a sorte de ter toda a ajuda de Mikoto e Sasuke. Esse discurso de “não quero, não sou” você deveria que ter feito antes, agora você já tem um bebê e precisa fazer algo sobre isso.

— Pai, por favor — eu chorava e ele olhava o relógio com os olhos vermelhos. Tínhamos mais uns dez minutos.

— Você tem que encarar isso como uma adulta agora.

— Não é fácil, pai.

— Você acha que eu não sei? Eu sou pai de três. Eu sou o seu pai. Nenhum pai quer ver a filha nessa situação.

— Eu tenho medo, eu sei que não vou conseguir.

— Consegue sim, assim como todas as outras mulheres conseguiram.

— Pai, eu não sei cuidar de criança!

— Sabe, cuidou de Reira e de Aidou, agora vai cuidar da sua.

— Pai, por favor, me ajuda — eu chorava desesperada, não sabia o que fazer, queria fugir de tudo aquilo.

— Estou aqui te ajudando, Sakura — me aninhou novamente em seus braços — Você vai se acalmar e vai pensar bem no que eu te disse, tudo bem? — assenti — Quando estiver melhor, você vai pegar a criança e amamentá-la.

Chegou um momento em que meu pai começou a perder a paciência, pois eu só chorava, praticamente não reagia. Passou-se meia hora e ele pediu para a enfermeira mandar as outras pessoas esperarem porque ele ficaria mais um tempo comigo.

— Isso não é o fim do mundo, filha, é só uma criança. Anda, para de chorar — meus olhos ardiam de tanto que eu havia chorado — Nem o frangote do Sasuke está sendo covarde, muito pelo contrário, está se saindo muito bem, melhor do que eu quando tive você. Eu o culpei por muito tempo, mas logo eu percebi como são as coisas, Sakura. Se não fosse com ele, poderia ser com Naruto ou com qualquer outro. Você nunca foi uma menina com malícia. Você teve sorte o tempo todo, Sakura. Você foi privilegiada por ter uma família que te apoiou, nos mudamos para cá a fim de que você não passasse por mais julgamentos, teve sorte pelo pai e a avó da criança estarem sempre dispostos a ajudá-la, você teve o melhor acompanhamento médico, você teve o enxoval, você teve tudo. Quantas adolescentes na sua situação tiveram? Todos nós estávamos perdendo noites em claro com diversas expectativas, eu posso não demonstrar, mas praticamente só pensava nisso. Veja Mikoto, ela quase não comia de tanta ansiedade, parecia que era ela quem teria o filho. Houve um movimento ao redor das suas lamúrias, todos te deram suporte, agora é com você. Tem uma criança que você gerou sendo amamentada pelo seio de outra mulher! É uma parte de você, é mais sua do que de qualquer um, então se responsabilize, pegue essa criança no seu colo e cuide dela porque ao contrário do que você materializou na sua cabeça, isso é um presente para vida toda, não uma consequência. Quando você estiver velha, eu já estarei só o pó à sete palmos do chão, quem irá te amar e cuidar serão os seus filhos

Eu ouvia aquelas palavras com o coração mais calmo. Seu olhar era sereno, mas rude.

— Eu te amo, Sakura. Você é minha primeira filha. O mesmo olhar apavorado que vejo no seu rosto era o olhar que via no rosto da sua mãe e do meu. É por conta disso que garanto que você será capaz de superar esse medo e logo o bebê representará a melhor coisa que você teve na vida. Então um dia você vai voltar para este lugar, num momento diferente e com sentimentos diferentes.

Papai deixou as flores que trouxera em cima do banco onde antes se sentara e saiu quando o seu tempo de acréscimo havia esgotado. Não demorou muito para Sasuke e Mikoto aparecerem afoitos, afinal, logo o horário de visitas acabaria e eles só poderiam falar comigo no dia seguinte. Segurei o impulso de perguntar onde estava minha mãe que não dava as caras há horas, mas Mikoto, como se tivesse adivinhado meus pensamentos, me abraçou explicando que Aidou estava febril e ela estava cuidando dele em outra Ala do hospital.

— Eu vou pernoitar com você por conta disso, se não se importa — neguei forçando um sorriso. Ela se sentou na ponta da cama e apertou levemente minha perna coberta pelo lençol — Como se sente?

— Não sei — o pior daquela resposta era que havia sido a mais sincera que eu poderia dar. Eu não sabia como estava me sentindo. Ela me olhou por longos instantes com aquelas orbes castanho-escuro, me perscrutava ponderando o que dizer.

— Eu vou deixá-la com Sasuke, só vim avisar isso mesmo, teremos toda a noite para conversar se você estiver acordada. Amanhã trarei os presentes para o quarto.

— Que presentes?

— De Hinata, alguns dos seus e dos meus familiares, todos já sabem da grande notícia — sorriu de ponta a ponta e eu apenas movi meus olhos para o Sasuke, pouco atrás dela, com uma expressão serena, quase afável. Ele devia ter fumado uma tabacaria inteira para aparentar tão calmo — Amanhã haverá mais tempo para visitas, mas não espere muitas, ninguém está muito livre nas quartas-feiras — deu um riso sem graça. Acho que ela quis dizer que pari no dia errado da semana — Já que está bem, vou deixá-la com o Sasuke, tudo bem? — assenti.

Mikoto havia saído do quarto há alguns segundos, mas meu olhar permanecia fixo na porta e o de Sasuke fixo em mim. Depois do beijo, aquele deveria ser o único momento em que ficamos a sós, com certeza um dos mais constrangedores que tive na vida.

— Quer conversar? — Dei os ombros. Ele suspirou e coçou a nuca, em seguida caminhou até o lado direito da cama, tirou as flores de cima do banco onde meu pai estava e sentou-se — Poderia ser uma poltrona de couro, pelo preço que pago nesse plano de saúde — reclamou e eu não segurei o riso — Ainda sente dor? — neguei — Tem certeza?

— Tenho — respondi entre risos envergonhados, ele tinha me visto agonizando.

— Temos vinte e quatro minutos para conversar, sobre o que quer falar?

— Qualquer coisa.

— Coisas boas ou ruins?

— Depende. Você tem algo para me contar?

— Tenho algumas coisas. Por qual começo?

— Pelas ruins, por favor.

— Por quê?

— Se as outras notícias forem muito boas, irão compensar a outras ruins.

— Nada a ver.

— Se você me contar as boas primeiro, em seguida as ruins irão me desanimar.

— Bobagem.

— Fala logo!

— Okay — se ajeitou melhor do banco — É sobre o Naruto.

— Ele está bem? — perguntei logo alarmada.

— Sim, quer dizer, mais ou menos — Era notável que ele não estava confortável em falar sobre aquilo, comecei a imaginar um milhão de coisas ruins — Não é bem sobre ele, é sobre a irmã dele — Logo imaginei o que havia acontecido e uma lágrima rapidamente se formou no canto do meu olho — Ela morreu nessa madrugada.

— Como? — perguntei rouca, meus olhos já ardiam de tanto que eu chorei ao longo no dia e continuava a chorar.

— Parece que todos os órgãos dela pararam de funcionar.

— Como o Naruto está?

— Como você acha? — me lançou aquele sorriso de deboche — Ele tinha muita esperança, acreditava que Mei se recuperasse, mas ela era um caso perdido. Era questão de tempo para ela morrer, os médicos haviam dado uma perspectiva que venceu há um mês atrás, então esses dias a mais que ela teve foi um milagre. Ela não tinha mais fígado. Kushina está inconsolável, Minato é o único que está firme, talvez por ser médico e ter noção de que a filha estava andando sobre brasas do jeito que vivia.

— Naruto me disse como a Mei estava, mas eu nunca imaginei que seria assim.

— Na verdade Naruto só estava a par da ponta do iceberg. Minato evitava revelar tudo. Eu só sei disso tudo porque minha mãe e a Kushina são amigas, elas conversam em casa, às vezes pego uma coisa ou outra.

— Meu Deus, que tragédia.

— Notícia boa, agora?

— Duvido que alguma notícia boa abata essa.

— Eu também.

— Fala.

— Você terá alta amanhã à noite.

— Isso é bom.

— Sabia que você iria gostar — Sorri e olhei para o lado — Você não pode se levantar?

— Posso, mas dói um pouco.

— Você disse que não estava sentindo dor.

— Não estou, é só um desconforto por causa dos pontos.

— Que pontos?

— Pergunte à enfermeira, não sei explicar.

— Acho que eu também não quero saber.

— Ótimo.

— Ótimo.

Perdemos alguns minutos da visita em silêncio. Tanto eu quanto ele sabíamos que aquele não era o momento apropriado para falar sobre a morte da irmã do nosso amigo ou sobre minha episiotomia. Nossa situação precisava ser discutida, mas nenhum de nós sabíamos como começar. Então Sasuke fez a pior coisa que poderia fazer:

— Por que fez aquilo?

— O quê?

— Você foi na minha casa, falou um monte de coisas, me beijou e depois fingiu que nada aconteceu — fiquei vermelha, dessa vez não por chorar, mas de vergonha.

— Agora não é hora de falar disso, Sasuke.

— Então qual é a hora? — Não respondi e ele ficou enfurecido — Vai me deixar de lado como deixou o bebê? — O olhei assustada — Sinto muito, mas vou ter que jogar baixo com você.

— Saia daqui, Sasuke.

— Não vou sair. Ainda tenho uns quinze minutos.

— Não queria mais problemas para mim.

— E desde quando falar comigo é um problema?

— Desde que você me engravidou. Se você controlasse seu pinto eu não estaria aqui.

— Ou talvez você estivesse aqui graças a falta de controle do pinto de outro cara — retrucou visivelmente ofendido — Foi-se o tempo de jogar isso na minha cara, Sakura. Vê se cresce.

— Sasuke, me deixe sozinha, por favor.

— Não vou sair daqui enquanto você não falar comigo.

— Você não me respeita nem em resguardo, que droga!

— Por que você me beijou?

— Porque eu gosto de você, porra! — me alterei. Não demorou muito para uma enfermeira aparecer, mas Sasuke a dispensou dizendo que estava tudo bem.

— Você gosta de mim? — virei o rosto para o lado oposto — Por que você gosta de mim?

— Devo ter alguma tendência a gostar de coisas prejudiciais.

— Não sou prejudicial ao ponto de te levar à uma overdose de antidepressivos ou escoriações nos braços.

— Você faz pior.

— Sou mais saudável e mais gostoso do que qualquer um dos seus vícios, Sakura, admita.

— Sasuke, eu não vou pedir mais uma vez, saia daqui.

— Não podemos deixar isso para depois.

— Você quer que eu faça o quê? Se não percebeu, eu tenho coisas muito mais importantes para lidar. O tempo de me lamuriar por gostar do rebelde sem causa ficou lá atrás.

Ele riu e apoiou as mãos nos joelhos para se levantar. Saiu do quarto deixando a porta aberta. Por um ínterim eu cheguei a imaginar que estava livre para me mortificar por tudo o que eu fiz em relação ao Sasuke, mas ele logo ressurge com um embrulho nos braços e eu sabia que aquilo não era um presente. Imediatamente cobri meu rosto com as mãos e comecei a chorar, meu coração batia forte como um barco a vapor, eu sabia que estava tremendo, sabia que estava suando, sabia que estava entrando em pânico.

Logo ouvi vozes femininas no quarto, bronqueavam Sasuke, mas ele parecia não se importar, só ria e falava para elas relaxarem. Meu pavor era tangível, eu chorava ao ponto de soluçar, uma das enfermeiras tirou a força um dos meus braços do rosto para medir minha pressão e a outra tentava me acalmar.

— Você não tem o direito de fazer isso, garoto. Vamos chamar a segurança para tirá-lo daq...

— Vocês não vão fazer nada, eu sou o pai do bebê e ela é a mãe, então sem drama, beleza?

Assim que me acalmei elas saíram bronqueando o Sasuke, que se segurava para não mandá-las para a puta que pariu. Eu ainda tremia, mas havia parado de chorar e me sentia mais calma.

— Segura — me estendeu o embrulho de gente.

— Sasuke, por favor, não — choramingava.

— É só um bebê, não é a Annabelle. Toma, segure! — voltei a olhar para o lado e contrair o lábio para não voltar a chorar. Eu só fazia aquilo, chorar, chorar e chorar. Irritado, ele se sentou ao meu lado e me fez escutá-lo — Eu também estava com medo até segurar. Olha pra ela — pediu com uma voz amorosa. Ela. Era uma garota? — Olha, Sakura! — falou num tom mais autoritário e eu cedi.

O que aconteceu naquele momento, só passando pela mesma coisa para saber. Parecia que eu havia sido mergulhada num sentimento distinto. Eu nunca havia sentido aquele fervor, aquela coisa preenchendo os cantos vazios que eu tinha na alma. Foi algo tão forte, tão intenso, que eu nem tinha percebido que prendera a respiração desde que a vi.

Era tão pequena, vermelha, quase não tinha cabelo, um fio ou dois denunciavam a característica que havia puxado de mim, um louro que posteriormente se revelaria mais dourado ou acinzentado. O nariz era tão pequeno que parecia afundar na face redonda do tamanho da palma do Sasuke. A pequena mão estava fechada com tanta força que ela parecia guardar ali algo muito precioso, algo que não queria soltar.

— Ela só abriu os olhos uma vez, nem sei de que cor são, aposto que são castanhos — Sasuke falou e eu sorri. De que cor seriam aqueles olhos? Seriam verdes como os meus ou escuros como os de Sasuke? — Pega ela — pediu me olhando nos olhos, baixinho, como se falasse com uma criança.

Olhei novamente para a menina e soube que se eu a pegasse, estaria perdida. Aquele cheiro de neném estava me dando um sentimento de pura nostalgia.

Quando Mamãe estava grávida de Aidou, eu tinha asco só de passar perto da barriga dela, não tinha muita ansiedade pela chegada dele, mas quando o vi pela primeira vez, quando ele segurei sua mão, soube que jamais o deixaria.

Estava sentindo algo parecido naquele momento, senão a mesma coisa, só que numa intensidade muito maior, tão forte que transformava todo o sentimento que eu tinha pelo meu irmão mais novo em quase nada comparado ao que eu sentia por aquela menina.

Antes que pegá-la, eu reparei no Sasuke. O seu rosto quase de desmanchava de puro deleite. Ele olhava para a garota como se ela fosse um Lamborghini Gallardo, talvez com mais paixão. Pela primeira vez o vi completamente relaxado sem uma bebida ou um cigarro nas suas mãos, ele tinha apenas a filha ali. Eu quase sentia inveja.

Aquele cara que deu os ombros por ter me engravidado, que me deu dinheiro para abortar, que me tirou dos nervos durante os nove meses, agora estava com o fruto da sua maior canalhice em seus braços e se deliciava com a sensação de ter feito alguma coisa boa, uma filha para amá-lo incondicionalmente.

Sasuke se ajoelhou e a estendeu para mim, quando demorei muito ele ralhou:

— Para de frescura, pega logo, ela é nossa.

“Ela é nossa”.

“Nossa”.

A segurei. Um pouco mais desajeitada do que o Sasuke, mas a segurei.

— Você está tremendo — ele riu e me observou mirá-la com a mais pura admiração — A enfermeira falou que tem que segurá-la pela nuca e pela bundinha — Não teve como não rir do Sasuke.

— Eu sei segurar bebês.

— Não parece — voltou a se sentar ao meu lado.

— Eu só — olhava os detalhes daquele rosto angelical imaginando como ela seria quando tivesse a minha idade — estou com medo de não saber o que fazer quando sair daqui.

— Se for como cuidar de um carro, vai ser fácil.

— Deixa de ser imbecil.

— É só ver o nível da água, trocar o óleo, limpar os bicos, abastecer com álcool — Como não podia bater nele, pois minhas mãos estavam ocupadas, mordi seu ombro. Ele urrou como um garotinho e puxou meu cabelo — E aí, o que achou da minha filha? Vai ser gatinha igual o pai! — Sasuke tinha o dom de estragar momentos mágicos com sua gabolice — Que nome vamos dar à ela?

Eu sabia exatamente que nome lhe daria, não precisei pensar muito.

— Mei — falei com um sorriso.

— Mei? É o nome da irmã do Naruto.

— É.

— Pensei em Sara.

— Sara é bonito, mas quero que ela se chame Mei.

— Pode se chamar os dois, Sara Mei. Aí quando ela estiver doente a gente diz “Sara, Mei”, e ela irá — Ele nem terminou a piadinha e eu o mordi com mais força.

— Dá para ser menos idiota?

— Mas foi engraçado, admite!

Nem dei ouvidos para ele, voltei para a garotinha que esquentava os meus braços. Ela estava envolvida num manto branco e com uma roupinha da mesma cor. Reparei que ela sempre mexia a boca minúscula e às vezes se mexia como um bichinho preguiçoso.

Há um tempinho enfermeiras estavam do outro lado da vidraça do quarto sinalizando para o Sasuke sair, pois havia acabado o horário das visitas, mas nós dois as ignoramos, parte propositalmente, parte por estarmos muito envolvidos com aquilo tudo. Sabia que logo alguém entraria e interromperia o momento, esse alguém foi Mikoto, mas ela chegou de fininho, abriu a porta com o maior cuidado e sussurrou para ficarmos do jeito que estávamos. Ela estava com uma Nikon pendurada no pescoço e começou tirar várias fotos. Acho que fiquei mais vermelha do que a garotinha no meu colo.

— Ignora, aja naturalmente se não quiser vê-la dar um show de drama por não deixá-la registrar “este momento tão especial em nossas vidas”. Acredite, ela fez isso quando eu resisti e não foi legal.

— Imagino — ri e voltei minha total atenção para Mei.

Num instante ela abriu as mãozinhas e eu tive o impulso de encaixar meu dedo indicador ali, naquela pequena palma quentinha. Os dedos finíssimos se fecharam ao redor do meu quase que no mesmo instante. Ela me agarrou e não soltou mais. Ri e olhei para o Sasuke, meio que pedindo ajuda. Ele pegou minha mão e ficou balançando para os lados levemente, mas nem isso a fazia soltar meu dedo.

— Acho que ela não quer que você a abandone por esses corredores mais uma vez.

Eu também não queria.

Pensei nas palavras do meu pai com ciúmes, outra mulher havia amamentado primeiro a minha filha porque eu fui estúpida o suficiente para deixá-la de lado com medo de sentir esse turbilhão de emoções. Como eu fui ridícula. Contudo agora ela estava comigo e não iria me soltar, nem eu me desligaria dela.

Se eu fosse um tanto menos infantil, talvez houvesse percebido a riqueza de tudo o que estava acontecendo. As palavras de Papai, Mamãe, Mikoto, Sasuke e até de Hinata, faziam total sentido naquele momento. Eu estava cega olhando para o meu próprio umbigo, olhando para superfície, não através. Se eu encarasse desde o início que a criança que eu estava gerando seria a minha esperança, as coisas teriam sido mais fáceis.

As enfermeiras chamaram um segurança para tirar o Sasuke de lá e ele e Mikoto fizeram a maior confusão, pois Sasuke queria ficar com a bebê e Mikoto queria tirar fotos dele comigo, no fim, ambos acabaram cedendo. Sasuke disse que dormiria no carro e qualquer coisa era só chamá-lo (como se eu fosse sair do quarto e andar até o estacionamento do hospital, repleta de pontos e com a sensação de uns cinco quilos a menos no corpo). Antes de sair me deu um beijo na testa e cheirou a neném. Não sei explicar o que aconteceu depois, mas assim que ele foi embora, o quarto pareceu ter ficado vazio.

.o0o.

Acordei depois de uma noite péssima com vontade de ir para casa, tomar um banho e dormir o dia todo. Depois que “o quadro de rejeição pós-parto” não era mais o meu, transferiram um tipo de berço para meu quarto, para assim a bebê ficar comigo. De tempos em tempos eu tinha que amamentá-la e trocá-la, quase não tinha dormido. As enfermeiras e a Mikoto me ajudavam, mas sempre advertindo que eu deveria fazer isso sozinha, pois a partir do dia seguinte seria eu por mim mesma.

A primeira amamentação foi muito desconfortável, não foi uma sensação boa nem ruim, foi estranha, mas Mikoto disse que eu me acostumaria, afinal, teria mais seis meses pela frente para amamentar.

As trocas de fraudas foram mais fáceis, pois eu já fazia isso com Reira e Aidou. O ruim era que Mei sentia muito frio nas trocas e isso a fazia espernear, o que me deixava apavorada.

Mikoto estava radiante, nem parecia ter perdido diversas noites em claro pensando na neta. Falava sem parar como estava feliz e aliviada por ela ter nascido saudável e ser uma menina, afinal, sendo mãe de dois filhos homens, sentia falta de uma garotinha para iluminar seus dias. Disse que adorou a escolha do nome, mas algo que me intrigou foi a curiosidade sobre qual seria o primeiro sobrenome: Haruno ou Uchiha. Não soube responder. Precisava falar com Sasuke e pensar bem sobre isso.

Algo que também me deixou pensativa foi sua proposta de eu ir morar com ela. Mikoto me deu diversas vantagens nisso, a melhor desculpa era que na minha casa já tem um bebê. A casa de Mikoto era grande e quase sempre vazia, Sasuke passava o dia fora e Fugaku só viajava.

Todas as coisas importantes que eu deveria ter conversado com o Sasuke, Mikoto me trouxe sob perspectivas já montadas. Decidi deixar essa discussão para depois, afinal eu só voltaria para a antiga cidade no ano seguinte.

O dia estava uma bagunça. Tinha que cuidar da Mei e dar atenção para as visitas e às diversas fotos que foram tiradas. Mamãe, Reira, Hinata, Anko, alguns familiares meus e de Sasuke, todos extremamente cordiais, trazendo presentes tanto para o bebê quanto para mim.

Sasuke havia ganhado uma pulseira vermelha por desobedecer as regras do hospital e vivia fugindo das enfermeiras, por conta disso apareceu poucas vezes durante o dia, mas sempre que surgia fazia de tudo para levar Mei com ele. Mikoto já não sabia mais o que fazer em relação ao filho. Eu tinha desistido há muito tempo.

Como Mei já tinha feito todos os exames de recém-nascidos e eu estava bem, um pouco anêmica, mas bem, recebi alta às oito horas da noite daquele dia, assim como Sasuke tinha me dito. Fomos no carro da Mikoto, que por um acaso já havia comprado um cadeirão rosa para colocar a neta. Sasuke foi atrás comigo enquanto sua mãe dirigia ao lado de Hinata, sentada no banco de carona.

Como eu amava a Hinata... Ela tinha matando aula para ficar comigo no hospital e só saiu de lá comigo, era realmente o mais próximo que eu poderia ter de uma amiga, algo que eu nunca tive, mas apreciava muito. Hinata me deu um livro de contos de fada e mini sapatilhas de balé para a Mei.

Quando chegamos em casa, estranhei a quantidade de carros estacionados na entrada e no fundo do terreno. Sasuke me ajudou a sair do carro e colocou Mei no meu colo, ela ainda dormia tranquilamente, na verdade a coisa que ela mais fazia era isso: dormir. Assim que entramos em casa, várias pessoas começaram a bater palmas e fotos com flash, confesso que à princípio eu fiquei assustada, não conhecia muitas pessoas dali. Demorou alguns minutos para eu entender o que acontecia, era uma espécie de boas-vindas, uma viadagem que só, em compensação tinha doces e muitos presentes.

Cumprimentei todos, até mesmo aqueles que não conhecia, supostamente tios e primos de Sasuke, Mikoto me disse que a família Uchiha era grande. Mamãe e Reira não davam conta de servir todos, começaram a deixar os petiscos sobre a mesa de centro da sala para que cada um se servisse.

Os amigos de Sasuke chegaram posteriormente, Neji, Shikamaru e outros três que eu não conhecia. Até Itachi, seu irmão mais velho, surgiu com sua filhinha de três anos, uma coisinha meiga que logo se entrosou com Aidou.

Todos pareciam se divertir, somente eu me sentia um pouco deslocada, talvez pelo cansaço, talvez pela novidade, talvez por não estar tão alegre quanto eles. Era fato que eu adquiri uma posição completamente diferente da que eu tinha em relação a bebê, contudo, aquela aflição ao imaginar como seriam as coisas a partir daquele momento ainda oscilava.

As pessoas foram embora aos poucos e eu fui ficando mais aliviada, os últimos a sair foram os amigos de Sasuke, que Mikoto tomou a liberdade de expulsar porque eles estavam fazendo muito barulho, Sasuke acabou saindo com eles. Fingi não me importar.

Em meia hora eu já havia tomado banho, os remédios e me vestido com uma roupa leve, estava muito cansada. Pedi para que Mikoto me deixasse sozinha com Mei naquela noite, eu precisava aprender a me virar sozinha. Se eu precisasse, era só chamar, ela estaria no andar de cima.

Passei a noite cochilando entre uma vez e outra que Mei acordava, era estressante, mas em partes eu agradecia por ela ser meu despertador humano, me mantendo acordada para ver que horas seu pai chegaria.

Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, eu queria Sasuke ao meu lado, queria que ele segurasse Mei com aquela paixão que tanto invejei, queria que ele estivesse aqui me ajudando, mas eu sabia que era pedir demais. Com certeza um rolê com os amigos era uma proposta para a noite muito mais tentadora do que cuidar de uma recém-nascida.

Estava na cozinha bebendo água, tinha acabado de deixar Mei no berço, Sasuke girou a maçaneta da porta e soltou um palavrão ao encontrá-la trancada. Fui até a janela da sala ver sua cara patética de bêbado e me deparei com uma imagem melhor do que imaginei, ele não estava tão ruim para um fanfarrão.

— Bom dia — me cumprimentou com um sorriso sacana — Abre pra mim?

— Não tenho a chave — A chave estava no criado mudo da sala, a dois metros de mim.

— E agora?

— Dorme no carro — sugeri.

— De novo? — dei os ombros — Estou falando sério, Sakura, abre a porta.

— Não tenho a chave — repeti calmamente.

— Vai me deixa para fora mesmo?

— Por que não dormiu na casa de uma das vagabundas que comeu? — ele começou a rir igual um idiota, estava com mais álcool no corpo do que sangue.

— Você está com ciúmes, querida?

— Vai pra porra, Sasuke — fechei a janela e o deixei lá fora me chamando. Levei o copo de água vazio para a cozinha e fui para o meu quarto tentar descansar mais um pouco.

Pensei que ele tinha me deixado em paz até ouvir batidas na minha janela. Se ele acordasse a Mei eu juro que ia torcer suas bolas.

— Que foi? — perguntei com tédio.

— Deixa eu entrar?

— Vai dormir no carpete.

— Vou dormir na sua cama.

— Se você fizer barulho eu vou riscar seu carro todinho!

— Tá legal! Tá legal! — ele pulou a janela e entrou no meu quarto silenciosamente. Dei uma conferida no berço, Mei continuava dormindo, para variar.

— Você está bêbado, Sasuke.

— Só um pouco.

— Quando é que você vai deixar de ser tão idiota? Acabei de parir e você sai com seus amigos para a farra?

— Relaxa, Sakura — se jogou na minha cama tapando os olhos com o antebraço — Estou aproveitando agora porque quando formos casado não vou poder sair mais — Eu quase engasguei com a minha própria saliva.

— Para de me provocar e saia logo da minha cama — me deitei o empurrando para o lado, ele caiu igual abóbora no carpete, o que abafou o som.

— Eu estou falando sério, Danone — Sasuke falava sério rindo. Bem convincente.

— Pega um travesseiro e vá dormir ali naquele canto, vai! — falávamos sussurrando, ainda assim, no silêncio total da casa, parecia alto.

— Deixa eu dormir com você! Poxa vida, dormi no carro esses dias!

— Foi um dia só, para de drama.

— Me dá um espacinho — o infeliz se acomodou do meu lado. Minha sorte era que aquele quarto do térreo, onde eu estava dormindo, era o de hóspedes e a cama era de casal, minha cama de verdade estava no andar de cima, eu só voltaria para aquele quarto quando saísse do resguardo.

— Se meu pai te encontrar aqui...

— Ele vai gostar — completou — Ele aprova o casamento.

— Que casamento, Sasuke? Você bebeu o quê? Gasolina?

— Você quer, que eu sei.

— Eu só quero ficar em paz, Sasuke.

— Você gosta de mim.

— Dane-se.

— Se você aceitar se casar comigo, eu vou tentar parar de fumar, tudo bem?

— Grande coisa.

— O que você quer que eu faça?

— Sasuke, vai dormir, você tá bêbado.

— Se você não quiser casar comigo, tudo bem, mas quando você voltar para cidade, vai morar na minha casa.

— Uma ova.

— Vai sim.

— Okay, okay, vai dormir!

— Boa noite, esposa.

— Seu traste.

Sasuke já tinha dormido quando no meio da noite eu sussurrei que aceitava sua proposta. Eu não via problema em morar na casa dele, eu só queria que ele me pedisse, e ele o fez.


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Notas finais do capítulo

Episiotomia¹ = é um procedimento feito durante o parto, um pequeno corte na região pélvica para abrir mais passagem para o bebê sair. São dados alguns pontos que caem naturalmente depois de alguns dias.
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Alcohollica, jessica23, Ana Oliver, Clyra, Mrs Park, Haruka sempai, lays, lary_sakura, Misaki Uzumaki, St Sofia, YulYulk, Juh, simekal, MayoNessyMoon, chapeleira maluca, sakurita1544, BloodMary, RikuHarada e Vanessa Lima.

Obrigada à todas pelos reviews! Obrigada de coração, de pulmão, de fígado, de corpo e alma!

Estou com o coração apertado por estar encerrando essa fanfic, contudo feliz por ter escrito exatamente a história que eu queria contar, me inspirando em coisas que aconteceram comigo e com pessoas muito próximas de mim.

Peço perdão pelos erros de português, pelos atrasos, pelos reviews que esqueci de responder, pelos meus pitis nos grupos do Facebook...

Espero que tenham gostado do penúltimo capítulo de Sinal Positivo.

O final será postado dia 31 de Outubro!

Estão tão ansiosa quanto vocês!

Beijos açucarados!

Shalom!