Sinal Positivo escrita por Milk


Capítulo 28
Capítulo XXVII


Notas iniciais do capítulo

Hey, people! Voltei!
Muito obrigada à G marry e à RikuHarada que recomendaram e fanfic! Eu adorei o carinho de vocês!
O próximo capítulo eu posto ainda essa semana, dependendo do retorno, né. A situação dos reviews está crítica! --'
Este é o último capítulo com a Sakura prenha! Batam palmas!
*clap* *clap* *clap*
Isso quer dizer isso que vocês estão pensando, o próximo capítulo será o momento tão aguardado! hehehehehehe!
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Espero que gostem deste aqui, ficou enorme, mais de 5 mil palavras de puros momentos importantes para fechar essa fase.
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Erros de ortografia, gramática, blá blá blá, me avisem POR FAVOR que eu corrigirei na hora!
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Enjoy!



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Chegamos na clínica adiantados, como recompensa pela pontualidade, nos atenderam mais cedo, somente Sasuke e eu, Mikoto e Mamãe com Aidou permaneceram na sala de espera. Eu estava absolutamente calma, ao contrário de Sasuke que mexia os dedos sem parar, fomos chamados tão rápido que ele não teve tempo de sair para fumar e quietar seus neurônios viciados.

Seguíamos uma mulher alta por corredores que pareciam intermináveis, de fora a clínica não parecia ser tão ampla quanto seu interior. Enfim entramos numa sala fresca e com poucos móveis, apenas uma mesa logo à frente da porta, cadeiras paralelas a ela e um pequeno armário preso na parede. Sasuke e eu nos sentamos mesmo sem a permissão da mulher, que deu a volta na mesa e repetiu nosso gesto nos olhando com uma feição curiosa.

— Bom dia! — Sasuke e eu meneamos a cabeça em sincronia, sem responder a cortesia — Tão novinhos... — comentou num tom de lamentação mesclado com a simpatia do sorriso forçado — Antes de começarmos, preciso fazer algumas perguntas, okay? — Sasuke concordou com um gesto.

Havia perguntas absurdas merecedoras de respostas monossilábicas; respondíamos tudo rapidamente, com exceção de uma questão:

— Pretendem criar a criança juntos?

Depois de pensarmos um pouco, Sasuke deu os ombros e eu permaneci calada. Ao fim do interrogatório ela abriu o envelope que continha o resultado do DNA do bebê.

— E aí, Doutora? — Sasuke perguntou impaciente, inclinando-se sobre a mesa.

Era a última chance de Sasuke se livrar do fardo de ser um pai adolescente. O positivo do teste de DNA talvez pudesse ser tão devastador para ele quanto o positivo do teste de gravidez foi para mim.

— Está tudo okay. O seu código genético bate perfeitamente com o do bebê — respondeu analisando o papel.

Não consegui segurar o sorriso de vitória, quase exclamei um “eu falei”, só para provocar o Sasuke que ousou, juntamente com a mãe, a duvidar de mim. A reação de Sasuke foi apenas assentir levemente, nenhuma expressão pesarosa ou aliviada.

— Vocês são muito jovens, uma gravidez precoce pode abalar o estado psiquico de ambos.

— Estamos lidando bem com isto.

— Fale por si só — discordei.

Quando Sasuke se virou para me retrucar, a mulher o interrompeu e disse:

— Agora que você tem a absoluta certeza de que o filho é seu, sua postura deveria ser mais responsável. Não é vergonha assumir que precisa de ajuda para se adaptar a isso, o convênio está sendo pago para que vocês possam usufruir dele — virou-se para mim — Sakura, você já está com mais de vinte semanas de gestação, teve todo esse tempo para amadurecer e me dar uma resposta mais otimista. A ajuda que a psicologia cede às pessoas na sua condição serve apenas como impulso para que vocês mesmos tomem as primeiras providências para melhorar. Você, ainda mais do que ele, precisa se esforçar. Ainda há três meses para crescer mais coisas em você além da barriga.

Maio

7 meses

— Já pensou num Chá de Bebê, querida? — Mikoto perguntou de súbito. À princípio não dei atenção ao que ela havia dito, estava sob o efeito de uma fadiga palpável deitada na rede da varanda de casa.

— Sakura não tem amigos para isso — Mamãe respondeu por mim.

Não me ofendi mais porque era verdade e mesmo se não fosse eu não achava interessante chamar os amigos para um Chá de Bebê, eles nunca abandonariam os programas legais dos fins de semana para pintar a barriga de uma grávida com batom e dar presentes para um bebê.

— Ah, seria tão interessante! — exclamou tristonha, quase como uma garota mimada com um desejo recusado.

Mamãe e ela estavam sentadas na varanda da entrada bordando fronhas de travesseiro para o bebê, haviam aprendido usar linha e agulha nas revistas de costura de vovós entediadas. Estavam tentando bordar o desenho do Ursinho Pooh. Aidou estava sentado no chão comendo uma salada de frutas e Sasuke com o Papai no pesqueiro.

— Se já soubéssemos o sexo da criança, poderíamos bordar o nome também — Mamãe comentou com Mikoto.

— Sim, bordar letras é bem mais fácil — acrescentou.

— É só bordarem depois que nascer — falei irritada, pois as duas não respeitavam a minha decisão de preferir saber o sexo da criança no nascimento.

— Quando nascer não teremos tempo nem para pensar em bordar alguma coisa.

Meus olhos que até então estavam fechados, buscando um cochilo de fim de tarde, abriram-se como se alguém os tivesse desabotoado. Comecei a refletir sobre essa falta de tempo depois que o bebê nascesse, comecei a imaginar se ainda teria momentos como aquele, deitada na rede no mormaço de um fim de domingo, um olho dormindo e o outro acordado. Eu adorava aquela paz; o sossego do campo e até as conversas sem pé nem cabeça de Mamãe e Mikoto; imaginava se aquilo tudo se perderia por causa de um bebê. Aidou não tinha nem um ano e não atrapalhava em nada momentos como aquele. Olhei minha barriga enorme e branquela, logo um pé começaria a chutá-la de dentro para fora, nessa fase da gravidez parecia impossível para ele ou ela ficar quieto. Dali algumas semanas eu ainda poderia contemplar a paz de uma tarde de domingo deitada na rede, só que a barriga gigantesca seria substituída por um bebê dormindo sobre ela. De fato eu não perderia aqueles momentos, só seriam modificados.

De longe avistei Papai e Sasuke voltando a pé do pesqueiro; o mais velho carregando as varas de pesca e a maleta de iscas e o mais jovem com baldes. Quando estavam mais próximos de casa pude reparar em ambos: Papai de bermuda e uma regata ensopada com o seu suor e Sasuke sem camisa, com a calça jeans dobrada até o meio da canela e óculos de sol que lhe caiam tão bem que pareciam fazer parte do seu rosto.

— Vejo que a pesca rendeu — Mikoto exclamou ao notar que os baldes que Sasuke trazia estavam cheios de peixe.

Os homens deixaram as coisas na varanda e desceram para se refrescar com um banho de mangueira. Aidou parou tudo o que estava fazendo para seguir o pai, Mamãe tratou de providenciar um tapete para a porta de casa, pois sabia que quando eles entrassem com os pés cheios de lama deixariam a casa um chiqueiro, aproveitou e trouxe toalhas e roupas secas.

O banho não estava dando muito certo porque Sasuke era egoísta e não queria dividir a mangueira, depois de tanto disputar o jato de água, Papai cedeu e foi se refrescar com Aidou nos fundos de casa com a água do poço (lembram daquele poço que eu disse que morria de medo, pois me lembrava da Samara do filme O Chamado? Então, meu pai resolveu estreá-lo), Mamãe foi atrás para cuidar de Aidou. Na varanda sobrou apenas eu na rede, Mikoto na escada bordando e Sasuke se banhando com água gelada.

Alguns respingos caiam em mim, contudo eu não reclamava, o observava calada. O cabelo negro e liso grudado na cabeça, os olhos cerrados, as gotas de água brilhando em seu corpo com o reflexo do sol, a calça jeans colada nas suas pernas, parecia a verdadeira reencarnação de um astro de cinema dos anos cinquenta uma mistura de James Dean e Clark Gable. Eu reparava nele com admiração, pois além de bonito, ele tinha um charme que prendia a atenção, dominava seu corpo como se aqueles movimentos fossem previamente ensaiados para um tape comercial de um perfume qualquer. Aquela foi a primeira vez que eu me dei conta dessa virtude pecaminosa de Sasuke.

A consequência de ter baixado a guarda foi o olhar certeiro de Mikoto sobre mim, observando minha admiração pelo seu filho desnudo. Um sorriso desabotoado de orgulho surgiu, um pouco por causa da beleza do seu filho, um pouco pela constatação de que eu sentia sim alguma coisa por ele, nem que fosse fogo de palha. Tratei logo de desgrudar o olhos da imagem de Sasuke e voltei a cochilar, mas tudo o que eu enxergava na minha mente eram gotas de água descendo curvilíneas pelo corpo viril do Uchiha.

.o0o.

Sasuke tinha chegado animado no outro fim de semana, algo fora do normal. Já imaginei que ele deveria estar pegando alguma menina ou ganhado um carro, algo relacionado com essas futilidades que o deixava alegre.

Eu estava na sala com o Aidou assistindo Peppa Pig e Sasuke já chegou me intimando, sem cortesias nem vergonha na cara:

— Vista-se, vamos sair — anunciou jogando-se na poltrona do Papai de forma desleixada.

— Primeiramente bom dia, Sasuke — Nem me movi no sofá.

— Estou falando sério, vamos sair.

— Você tem que perguntar se eu quero sair com você.

— Quer sair comigo?

— Não.

— Sakura! — ralhou dando um salto da poltrona — Deixa de birra, vamos ver a Anko!

— Anko? — provei o nome que me era familiar.

— A tatuadora, lembra?

— Ah, sim.

— Então, vista-se, quero chegar cedo.

— Não.

— Argh! — puxou os próprios cabelos com irritação — Porra, Sakura! Qual é, vamos lá!

— Por que quer tanto que eu vá?

— Porque se eu ir sozinho minha mãe vai encher o saco. Ela quer que eu fique com você “no estágio final desta fase linda” — revirou os olhos — Eu marquei de fazer minha segunda tattoo hoje — sussurrou empolgado.

Pensei, pensei e pensei. Olhei para Aidou hipnotizado pela TV (nem piscava); olhei para a Peppa Pig em sua primeira aula de balé; por fim olhei para Sasuke com cara de garoto arteiro e mimado.

— Sua mãe sabe que você vai fazer uma tatuagem? — Ele negou — Ela vai achar que eu fui cumplice.

— Não vai, não — Fiquei mais uns instantes fitando seu olhar travesso, parecia uma criança, suspirei e cedi:

— Tudo bem, eu vou com você — Ele abraçou minha perna (não me abraçava como gente normal porque tinha medo da minha barriga estourar) —, mas...

— Que foi? — olhou-me desconfiado.

— Vai ficar me devendo esse favor — pisquei e me apoiei nos ombros dele para levantar do sofá. Fui para o quarto arrastando os pés inchados em busca de alguma roupa de sair que me servisse.

No carro tocava Ramones, A poisen heart, e na minha barriga um bebê chutava como se conversasse com a batida da música. Por conta disso já fui para a cidade irritada e com vontade de fazer xixi, não imaginava como Mamãe e Mikoto poderiam dizer que a sensação de uma criança se mexendo dentro de você era gostosa, não era, acreditem em mim.

— Não precisa ficar no estúdio se não quiser.

— Então onde eu vou ficar?

— Ah, sei lá, vai dar uma volta na praça, comer um crepe...

— Falando assim até parece que essa cidade é interessante.

— Não sei o que você vai fazer, só estou falando que se você não quiser ficar no estúdio, não fique! — explicou irritado — Eu vou fazer uma tatuagem, não abastecer o carro, não é algo que você faz em dez minutos!

— Ah! Tá bom! Entendi! — exclamei —Só que eu não faço ideia para onde ir.

— Vá na casa de alguma amiga.

— A única que eu tenho está na escola agora.

— Vá... Sei lá. Comprar um sorvete — sugeriu.

— Estou sem dinheiro.

— Que garota complicada — resmungou com o olhar no caminho e a mão livre procurando a carteira no bolso — Pega aí uns trocados e vá fazer o que quiser.

— Não quero dinheiro seu!

— Não é meu, é roubado, pega logo! — disse sem paciência.

— Credo!

— Que inferno! — exclamou parando o carro no acostamento e me fitando — Por que você é tão irritante?

— Vai pra porra, Sasuke — virei-me para a janela, não estava a fim de ouvir sermão de garoto mimado.

— Olha aqui — pegou meu rosto e virou para ele — Por que você pelo menos não tenta colaborar com a minha paciência? Porra! Te tirei daquela cabana de madeira para dar uma volta e é assim que você me agradece?

— Eu não pedi para sair de casa, estava muito bem assistindo Peppa Pig, você que veio chorar pela minha companhia para fazer uma tatuagem e agora quer me despachar em algum canto da cidade. Eu nem estou me sentindo mal com isso, por que você deveria estar irritado comigo sendo que eu estou colaborando com você desde que saí de casa e menti para sua mãe?

Sasuke bufou, parou o carro no acostamento e saiu batendo a porta, sentando-se no capô com um cigarro entre os dedos. Eu estava muito zen para ficar grilada com as birras dele, eu estava sendo “usada” para os interesses dele e nem reclamava por isso. Estava incontestável porque achei um absurdo ele me tirar de casa para acompanhá-lo numa sessão de tatuagem e depois querer me despachar em algum lugar da cidade.

Ele ficou uns cinco minutos tragando, pensando, depois retornou ao seu banco de motorista com aquele cheiro forte de nicotina. Abri as janelas para não vomitar.

— Se quiser ir comigo na Anko, vá, mas se ficar entediada eu não vou interromper nada para te levar para casa, até porque você só voltará pra casa comigo — assenti — E aí, o que vai ser?

— Me leve com você.

.o0o.

— Meus queridos! — Fomos recepcionados no estúdio do motel com essa empolgação toda — Garota... Você está fazendo cosplay de Júpiter ou algo assim? — cutucou minha barriga — Quantas semanas?

— Estou contando pelos meses, estou com sete.

— Vai nascer em breve — falou baixo, como se dissesse para si mesma — Ansioso, Sasuke, meu amado?

— Tô normal — Anko revirou os olhos e me guiou até uma daquelas cadeiras de dentista.

— Vai fazer alguma tatuagem também, princesa?

— Por enquanto não.

— Sasuke já te mostrou o que quer tatuar? — Neguei — Uma tatuagem de baitola.

— Baitola é seu pai — Sasuke retrucou.

— Meu pai não tem culpa pelo seu mal gosto, Sasuke.

— Bem a cara do Sasuke essas tatuagens de gente fresca.

— Sakura, não teste minha paciência.

— Ou então o quê? — Anko o indagou com um ar de seriedade — Ela está grávida de um filho seu, é bom começar a tratá-la com respeito. Pensa que é fácil expelir um pedaço de gente?

— Você nunca ficou grávida, não sei por que está falando.

— Foda-se, respeite-a — voltou-se para mim — Não ligue para o Sasuke, ele é moleque ainda.

— Ela é muito adulta — revirou os olhos soltando um riso de deboche.

— Calado — Me segurei para não rir da submissão de Sasuke em relação a Anko — Quer beber alguma coisa, querida?

— Quero ir ao banheiro.

— Pode ir, é naquela porta ali.

Lá dentro, sentada no vaso sanitário, eu olhava para os meus pés inchados e tentava me concentrar no meu xixi ao invés da discussão lá fora, mas parecia algo impossível.

Anko bronqueava o Sasuke, dizia que ele me desprezava e que já estava na hora de ele crescer; Sasuke retrucava dizendo que não precisava viver de aparências para criar uma criança, que iria me tratar como tratava qualquer outra garota. Eu já havia terminado o que estava fazendo, ouvi claramente quando Anko mandou Sasuke me levar de volta para casa, então lavei as mãos e saí do banheiro rapidamente.

— Sasuke está te esperando no carro — falou sem cerimônias, mal me olhou. Quando passei por ela para ir embora, ela segurou o meu braço e disse — Ele gosta de você. Dê um susto nele, se ele não mudar, pode largá-lo sem remorsos.

— Mas eu não...

— Boa sorte — fechou a porta na minha cara.

“Mas eu nunca estive com ele”

“Mas eu nunca tive a intenção de ficar com ele”

“Mas eu nunca disse que gostava dele”

Frases que morreram na minha boca.

Voltei para o carro emburrada. Ao contrário do que Anko havia dito, Sasuke não estava me esperando lá dentro, podia vê-lo claramente na conveniência do posto de gasolina comprando lá se sabe o quê. Passaram-se dez minutos, nada dele aparecer. Liguei o som do carro e coloquei o último álbum do Arctic Monkeys. Me senti estúpida quando começou a tocar I wanna be yours e com raiva em Why'd you only call me when you're high.Tinha escutado todo o disco e ele ainda não havia aparecido, ia completar uma hora.

Saí do carro e entrei furiosa na conveniência, o encontrei numa mesa com uns caras, bebendo e jogando cartas; quando me viu parada na entrada soltando fogo pelas ventas, tomou mais uma dose pura do que supostamente era uma tequila. Sem vergonha nenhuma comecei a esbravejar, ele fingia que nem me escutava. Nesse ponto eu já estava rubra de tanto ódio de Sasuke. Inclinei a mesa de modo que todas as cartas, copos e garrafas de bebida caíram no chão do estabelecimento fazendo um grande caos. Os caras que estavam com Sasuke e as outras pessoas do lugar ficaram indignadas e furiosas com o meu ato, mas eu só tinha saco para brigar com o Sasuke.

— Eu estou te esperando na droga daquele carro tem quase uma hora e você estava aqui bebendo?

— Se eu não posso fazer minha tatuagem, você também não pode voltar para casa — falou com um sorriso de vitorioso no rosto — Ou não se importa de pegar carona com um bêbado?

Minhas mãos estavam trêmulas, minhas boca dormente e minha vista começou a escurecer. As vozes pareciam murmurar frases indecifráveis de algum lugar muito distante, me sentia numa realidade paralela. Naquele mal estar, saí da conveniência me escorando nas paredes. Eu precisava chegar à Anko. O caminho até ela pareceu-me uma maratona. Um homem da recepção do motel, percebendo o meu estado, a chamou imediatamente. Sem me questionar nada, ela pediu para que o mesmo homem que a chamou me pegar e levar-me para o seu carro. Depois disso, não me lembrava de mais nada.

.o0o.

Acordei no hospital, pelo cheiro de químicos e o ambiente branco e mórbido. Me recordei com humor de como era comum, há um ano atrás, eu acordar meio desnorteada. Cortava os pulsos dentro do guarda-roupa do meu quarto, acabava dormindo de tanto chorar, quando acordava, estava fitando um teto branco, cercada por paredes brancas, sustentada por um piso branco. Só eu manchava o lugar límpido.

A diferença de todas as outras vezes que acordei no hospital, é que desta eu não sabia o porquê de eu estar ali. Pouco tempo depois um homem entrou no quarto, deveria ser um enfermeiro, ao me notar desperta, abriu um sorriso e fez a clássica pergunta “como se sente?”, respondi que estava com sede. Ele foi buscar o copo de água, quando voltou trouxe Mamãe e mais uma moça que supus ser a médica. Essa última me observou tomar a água, se apresentou e repetiu a clássica pergunta “como se sente?”. Suspirei e respondi “sinto que tem alguma coisa errada”. Ela assentiu.

Ela e o enfermeiro me ajudaram a sentar escorada na cabeceira da cama, Mamãe me olhava aflita. Já imaginei o pior e olhei para minha barriga, parecia-me normal, a mesma bola de carne e água.

— Sakura, sua pressão sanguínea caiu muito, o que resultou no desmaio — Eu não pensava que tinha desmaiado, apenas adormecido. Antes que ela terminasse sua fala, perguntei:

— Como está a criança?

— Ficará bem se você se manter estável. Essas variações de pressão são extremamente perigosas. A partir de agora sua gravidez é considerada de risco.

— O que isso quer dizer? — Minhas mãos estavam gélidas, se eu pudesse me ver, tinha certeza de que estava branca como uma sulfite.

— Quer dizer que cuidados redobrados deverão ser tomados a partir de agora. Pode-se considerar até mesmo um parto pré-maturo.

Praguejei Sasuke até ficar com dor de cabeça. Mamãe ficou comigo mais alguns minutos, sem dizer nada, depois deu lugar para Mikoto que pareceu ser mais mãe minha do que a primeira mulher era.

Mikoto puxou uma cadeira para perto de mim e segurou minhas mãos. Eu estava com muita vontade de chorar, mas me segurei, assim como Mikoto se esforçava para manter a postura. Ela conversou comigo sobre Aidou que havia feito algo muito engraçado, sobre Papai que havia viajado novamente e sobre si mesma. Acho que contou aquela história para me encorajar, seu terceiro filho não nascido.

Itachi, seu filho mais velho, tinha apenas dois anos quando Mikoto engravidou novamente (um acidente). Ansiava por uma garotinha, mas seu marido não estava contente com a gravidez. Em uma das discussões, ela contou-me que Fugaku excedeu os limites e a deixou muito estressada. Quando foi tomar banho e notou o excesso de sangue fugindo em direção ao ralo, não demorou muito para imaginar o que havia acontecido. Havia perdido o bebê, tinha apenas três meses. Ela disse que não gostava de se recordar dessa história, muito menos de contar, só que ao me ver no hospital naquele estado, semelhante a situação em que ela ficou há mais de vinte anos atrás, lhe despertou essas memórias dolorosas sobre um filho que não trouxe ao mundo.

Meu bebê estava bem, contudo em risco. Eu não poderia em hipótese alguma passar tanta raiva como passei com Sasuke naquela conveniência, aquilo podia matar tanto a criança quanto a mim. Mikoto havia brigado com Sasuke, disse-me isso como se compensasse o que ele me fez passar naquela manhã. Não era novidade vê-la brigando com ele, Mikoto sempre estava puxando a orelha do filho, seja para questões sérias ou trivialidades. O que me incomodava era que ela achava que isso bastava. Sasuke tinha que mudar ou nossa situação ficaria muito pior.

— Acho melhor vocês dois ficarem afastados por um tempo — concordei prontamente. Queria o Sasuke o mais longe de mim possível — Se importa se eu continuar vindo aqui vê-la? — Neguei com um sorriso fraco. Ela arrumou melhor minhas cobertas e me ajudou a deitar-me novamente, acariciando meus cabelos e ficando do meu lado a noite toda.

Teria que permanecer vinte e quatro horas no hospital para os médicos realizarem um balanço da minha frequência cardíaca e dezenas de outras baboseiras das quais eu dependia de um bom resultado para ter alta. Mikoto revezou com Mamãe e essa revezou com Hinata, sim, a Hinata da escola. Ela soube que eu estava no hospital e faltou na escola para ficar comigo, já achava que eu ia dar a luz.

De todas as outras acompanhantes, Hinata era a que eu mais conversava. Me contava coisas da escola, estórias que viveu, curiosidades sobre Naruto e Sasuke, brincávamos com o futuro, fazendo planos e hipóteses, imaginávamos como deveria ser o bebê, discutíamos nomes, falávamos mal da comida do hospital. Quando recebi alta, era ela quem estava me distraindo, o dia passou tão rápido que nem tempo sobrou para agradecê-la por ter me livrado da melancolia de Mamãe e Mikoto.

Os médicos já me deram uma declaração de afastamento da escola, pois segundo eles eu poderia dar a luz em breve, o que não era uma informação agradável para meus ouvidos. Não havia mais a contagem regressiva, havia a constante preocupação do feto querer sair assim, sem mais nem menos. Era muito pior porque sete meses foi pouquíssimo tempo para eu me preparar para isso. A única coisa positiva que eu via na aproximação do parto era que minha barriga iria voltar ao normal (na medida do possível).

Na primeira semana que eu havia saído do hospital, Mikoto praticamente não saiu do meu lado, parecia que eu estava gerando o Messias ou algo assim. Ela já não saía muito de casa, depois da minha internação, usou a gravidez de risco como pretexto para ficar ainda mais em cima de mim. Eu era grata por toda a atenção e cuidado que ela tinha comigo, sabia que era algo verdadeiro, tanto comigo quanto com Mamãe, mas ela estava tão envolvida em toda essa situação que parecia que o filho seria dela, que a gravidez era dela, que todos os problemas que eu estava passando eram dela. Em uma das visitas de Hinata, falamos sobre isso:

— Às vezes fico em dúvida sobre quem é sua mãe — Hinata comentou com humor assim que Mikoto saiu do meu quarto improvisado no piso debaixo.

— Às vezes até eu fico sem saber.

— Antes ser amada do que odiada, Danone.

— Não sei, não... Às vezes ela me sufoca com tantos cuidados. Me sinto pior quando comparo o tratamento dela entre o Sasuke e eu.

— Ah, o Sasuke é um cretino. Se ele apanha da mãe até hoje, é porque merece.

— Mesmo assim, me sinto mal.

— Por ela ou pelo Sasuke?

— Por ambos.

— Por ela eu até entendo, apesar da ajuda, ela parece querer se fundir a sua vida e a sua gravidez, contudo o Sasuke... — fez uma careta.

— Ele está sendo jogado de lado por ela.

— Sakura, acorda! Estamos falando de um homem de quase dezenove anos, ele tem mais é que desgrudar da Sra. Mikoto mesmo.

— Ele estava cooperando, Hinata — Ela me olhou com uma cara cética — Sério! Ele não estava tão ruim. Um dia desses até foi pescar com o meu pai, já deu banho no Aidou e trouxe carrinhos com asas para pendurar na ara do berço do bebê — Sua expressão não se alterara — Ele estava evoluindo, no tempo dele, do jeito dele.

— Você quer vê-lo.

— Não — neguei prontamente — Só achei injusto a Mikoto ser tão dura com ele.

— Ela só o afastou de você, nada mais do que você queria e do que você precisa neste momento.

— Você não entende...

— Acho que você está tendo um precipício pelo Sasuke — afirmou com um sorriso decepcionado.

— O quê? Precipício?

— Sim. Geralmente as pessoas têm uma queda, mas você está tendo um precipício.

— Você tá maluca? Eu hein! — joguei uma almofada nela que ria como uma criança, aquela risada pura e contagiosa. Acabou com nós duas rindo, trocando de assunto subitamente.

Essa ideia ela ignorou prontamente, pois deixara claro diversas vezes que um romance entre Sasuke e eu seria algo como o Nick e a Amy do livro Garota Exemplar. Quanto a mim, eu comecei a rever meus conceitos. Ficava de cama praticamente o dia inteiro, tinha tempo de sobra para pensar tolices e mais tolices.

A TV estava sem volume durante um programa de cartoons. Eu estava entediada havia tanto tempo que não tinha mais saco para reclamar de nada. Fiquei praticamente o dia inteiro com um dos carrinhos que Sasuke havia pendurado no berço. Era velho e desgastado, provavelmente um brinquedo antigo dele mesmo. As asas do carro eram recortes da caixa de cereal coladas no brinquedo com durex. Criativo, mas eu esperava mais dele. Só eram úteis para ficar brincando com eles na minha barriga, onde o bebê chutava eu passava com o carrinho em cima para ver se ele se tocava de que aquilo não era nada bacana.

Comecei a imaginar como que aquela coisa que me chutava seria. Eu não entendia como eu sentia um amor incondicional pelo meu irmão Aidou, mas não conseguia sentir nada pelo meu próprio filho. A preocupação de Mikoto era que a gravidez ocorresse bem, a de Mamãe era que eu me casasse com o Sasuke para ter direito ao dinheiro dele e a de Hinata, introduzida recentemente nessa confusão toda, era que eu passasse a considerar o bebê. Hinata perguntava se eu já tinha pensado em nomes, me dava sugestões e para algumas delas, até uma explicação; mostrava-me imagens de objetos para recém-nascidos, umas frescuras bonitinhas que até quem não quer ter filho (meu caso contraditório) desejava ter.

Eu era grata, mas me sentia mal porque eu acordava todos os dias rezando para que tudo não fosse um pesadelo. Acordaria normalmente como uma garota magrela de cabelos rosas, baixinha, desarrumada, em cima de um par de patins atrasada para a escola.

Essa é a Sakura.

Essa era a Sakura.

Uma Sakura morta e enterrada.

Depois daquela semana cheia de cuidados, passaram a me dar mais liberdade, voltei a andar pela casa, pelo quintal e até subi as escadas algumas vezes. Me cansava rápido porque eu estava com mais de dez quilos a mais do meu peso normal, contudo me esforçava para continuar em atividade, se eu ficasse mais uma semana trancada no quarto, recebendo tudo na cama, tinha quase certeza que enlouqueceria. Mencionei meu demasiado estresse? Eu não estava mais aturando nem as gentilezas de Mikoto. Depois de uma discussão que tive com Mamãe e ela — que queriam me obrigar a ir com elas à capital para comprar o enxoval para o bebê —, afastou-se um pouco de nós. Passou a aparecer quinzenalmente, sempre trazendo consigo uma sacola de roupas e tranqueiras de bebê. Falava pouco comigo, perguntava o básico. Depois que eu disse que ela estava me sufocando, ela concordou dizendo que me deixaria em paz. Depois de duas semanas agindo estranhamente comigo, comecei a temer as consequências das minhas palavras.

Depois da confusão, ela começou a reintroduzir o Sasuke, ou seja, ele ficou apenas duas semanas (depois da minha internação) sem dar as caras. Pouco tempo para ele rever suas atitudes e muito tempo para eu revê-lo.

Na primeira semana eu o vi da da rede da varanda de casa, dentro do carro. Mikoto estava com uma sacola leve, deu um beijo no filho e trouxe a bagagem para casa sozinha. Sasuke manobrou o carro e partiu, retornara apenas para buscar a mãe e foi praticamente a mesma cena.

Na segunda semana, após quinze dias, Mikoto trazia sacolas maiores e mais pesadas, obrigatoriamente Sasuke teve que sair do carro para ajudá-la, então ele subiu até a varanda e deixou as sacolas de trapos na porta. Papai havia voltado de viagem, o cumprimentou cordialmente e o convidou para tomar alguma bebida, Sasuke negou de forma educada e prometeu voltar outro dia. Eu estava sentada no sofá da sala, a certa distância da porta de entrada, mas claramente visível para que ele me notasse e ao menos me cumprimentasse, contudo ele nem sequer lançou seu olhar para alguma coisa além das sacolas e do meu pai. Quando ele desceu a varanda para partir novamente, eu quase não acreditei que havia sido ignorada. Mikoto e Papai carregavam as sacolas que Sasuke havia deixado na porta para o meu quarto, quando viram a minha cara de tacho, riram com cumplicidade. Todos já haviam percebido o que estava acontecendo, menos eu.

No intervalo entre uma visita e outra, foram duas semanas de realidade: Papai, Mamãe e eu. Eu não sabia o que era pior, ter Papai longe de casa e a “paz” por não vê-lo discutindo como Mamãe ou se o pior era não tê-lo por perto e ser obrigada a ver o fracasso que Mamãe era. Comecei a me envolver nas brigas, comecei a ser envolvida. Questões mal resolvidas sobre minha gravidez precoce começaram a vir à tona e minhas lágrimas desciam junto. Eu queria fugir daquele lugar, sair de perto daquelas pessoas, queria dar reset em tudo, queria que as coisas melhorasse, porém eu já estava com mais de oito meses de gestação, estava uma bola, estava toda inchada, estava depressiva e nada parecia melhorar, pelo contrário.

Na terceira semana, mais quinze dias depois do último encontro, eu já estava à flor da pele de tanto nervosismo. Hinata me fazia visitas diárias (graças a Deus, shalom), sempre me atualizando de tretas da escola sobre pessoas que eu nem conhecia. Passei a conhecer a escola e as pessoas quando me afastei dela. Estranho, não? Pois bem, era uma quinta, Mikoto estaria em casa no sábado, sabia que se eu quisesse fazer alguma coisa para reverter minha situação, precisaria de ajuda, no caso, da Hinata e o mais rápido possível.

— Não entendi nada — confessou depois de eu explicar rapidamente e sussurrando o que eu queria fazer.

— Não precisa entender, eu só quero que me leve até a minha antiga cidade. Não fica tão longe, dá para irmos e voltarmos no mesmo dia, também não vou me demorar lá, só preciso falar com ele.

— Ele Naruto ou Ele Sasuke?

— Ele Sasuke — respondi com vergonha de mim mesma. Por sorte, nenhuma daquelas expressões estranhar surgiu em seu rosto, pelo contrário, ela fixou o olhar em algum ponto do teto, pensativa e serena, processando tudo o que eu havia dito.

— Eu te ajudaria se eu soubesse dirigir — falou ainda divagando com o olhar — Mas posso conseguir alguém para nos levar lá — Mal contive o sorriso — O problema maior é como ir sem que seus pais percebam, porque se você não está lembrada, não iríamos ali na esquina.

— Eu deixaria alguns travesseiros enfileirados na cama e uma peruca rosa que eu tenho do Halloween da terceira série aqui na cabeceira, então é só cobrir tudo com o edredom e parece que tem uma pessoa dormindo — explicava como se fosse o plano mais genial do universo.

— Você não tá falando sério, né? Leu isso em romance da Meg Cabot? Que clichê! — bateu-me com uma almofada — Quem é o louco de achar que você dormiria o dia todo sem sair do quarto nem para usar o banheiro ou comer? Iriam achar que você morreu debaixo das cobertas.

— Então me dá um plano melhor. Eles não me deixarão sair, ainda mais agora que estou enorme.

— Vamos pedir para você passar o dia na minha casa, seu pai pode até nos levar lá, para dar mais credibilidade, à noite ele também nos busca.

— Para isso precisamos ter um horário certo, só que eu não sei quanto tempo vamos demorar.

— Ida e volta soma umas quatro horas, suponha que fiquemos lá também umas quatro horas, então no total pedimos umas dez horas de freedom para o seu pai. Das 10h às 20h, que tal?

— Melhor do que o plano dos travesseiros — ela riu concordando — E quem irá nos levar?

— Isso é o de menos.


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Notas finais do capítulo

Vish! Será que vai dar certo? Sakura ainda tem pique para aprontar, eu com dezessete mal apronto a minha cama para dormir! Tô com orgulho da minha personagem rebelde! :')
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O que acharam da Sakura ferir os fellings da Mikoto?
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O que esperam para o próximo capítulo?
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Abraços e beijos da Milk!

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