Sinal Positivo escrita por Milk


Capítulo 27
Capítulo XXVI


Notas iniciais do capítulo

DEMOREEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEI! Isso não é novidade. Me desculpem, por favor, diversas coisas me impediram, mas não vou negar que houve momentos em que eu poderia adiantar mais as coisas e não fiz isso. Ahm... Sem mais delongas.
Se não estou enganada, esse é o penúltimo capítulo com a Sakura prenha.
Tem mais uns seis capítulo pela frente, todos enormes como este. Não me perguntem quando vou postá-los porque não sei!
Dedico este capítulo à @scerealkiller que ficou no Twitter me instigando a acelerar o processo! Dedico também à Juh Bittencourt pelas críticas que me fizeram abrir as pestanas e agradeço às haters na Ask falando que sou uma autora que "só quer chamar atenção" (y)
.
Boa leitura!



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Só tinha mais uma pessoa em quem eu podia confiar e que poderia me dizer se o Naruto de fato viu o vídeo e por que não me respondeu, o próprio pai dele.

No ápice do meu desespero, liguei para o Minato em busca de alguma informação que cessasse pelo menos um pouco da agonia que eu sentia. Sasuke não me ajudaria, deixou isso mais do que claro, diferente de Minato que sempre afirmava que me ajudaria em tudo o que fosse possível. Encontrei o seu número anotado em um papel qualquer colado na penteadeira, estava apenas com suas iniciais, liguei e rezei para que ele atendesse ao invés da Sra. Uzumaki.

— Alô? — Azar. Era a voz de uma mulher. — Alô? Quem fala? — repetiu.

— Uma paciente do Sr. Minato. — Do outro lado da linha pude ouvir um breve chiado, ela estava pensativa. Com certeza aquela não era a resposta que ela gostaria de ouvir.

— Minato não costuma passar o telefone de casa para pacientes... — Estremeci, mordi o lábio inferior e praguejei alguns palavrões enquanto buscava uma resposta à altura da minha mentira.

— Eh... Bem... Ele me passou este. — Aquilo não era uma mentira. Antes que ela fizesse mais perguntas ou observações, acrescentei – Sabe, é muito importante. Se ele estiver aí eu posso falar com ele?

— Agora ele não está. — informou mais branda.

— Pode me dizer quando ele chega? — Estava arranhando toda a palma da minha mão de tanto nervosismo.

— Provavelmente bem tarde, talvez só volte amanhã. — falou num tom pesaroso, não sei se pelo infortúnio dela, por ficar sem o marido, ou pelo meu, por ficar sem ajuda. — Ele foi atender um paciente em outra cidade. — explicou.

— Oh, sim, entendo. — sem querer, deixei transparecer meu desapontamento na voz. Do outro ponto da ligação, ouvi um suspiro e me senti ridícula, quase envergonhada por estar mendigando ajuda.

— Você não quer deixar recado?

— Não.

— É muito importante? — quando ela deu o ênfase eu imaginei se ela estava ponderando a real importância do caso do paciente que Minato iria visitar ou do meu.

— Acho que posso esperar mais um dia - já havia esperado tanto, o que é um respingo pra quem já está molhado?

— Assim que ele voltar eu aviso que uma paciente ligou.

Sem muitas cortesias desligamos o telefone. Deixei uma mulher desconfiada de um lado e ela deixou uma menina desamparada do outro.

Sentei na sala e fiquei por ali durante alguns minutos, pensando que talvez eu estivesse muito ansiosa. Responder-me ou não é um decisão totalmente do Naruto, não é certo envolver Sasuke ou até mesmo o pai dele em questões pessoais como esta. Comi uma fruta e subi para o meu quarto, fiquei deitada folheando uma dessas revistas teens até mamãe bater na porta do meu quarto novamente.

— Telefone pra você - como se tivessem vida própria, meus olhos rolaram da revista para ela, me preocupando com uma expressão de falsa normalidade. Mamãe tentando disfarçar suas reações era tão péssima quanto Aidou tentando pronunciar meu nome.

Até ouvi o telefone tocar, mas achei que era para mamãe, como sempre. Quando ela disse que a ligação era para mim, meu coração bateu como um barco a vapor, pois não consigo imaginar uma pessoa que pudesse me ligar para dizer algo otimista. Passei por minha mãe que continuou escorada no batente da porta, desci as escadas e depois de alguns suspiros, atendi:

— Alô?

— Oi! — minhas pernas ficaram moles ao reconhecer a voz — Você não foi para a escola hoje? Naruto está aqui falando com uma amiga sua que diz que você não entrou na aula — olhei para o topo da escada buscando a minha mãe, só consegui ver seus pés dando meia volta e me deixando sem ajuda — Tá aí?

— Tô — respondi meio gaguejando, meio perdendo o dom da fala. A verdade era que eu sentia como se a qualquer momento eu fosse cair dura. Com medo de que isso acontecesse, fui me apoiando nos móveis até sentar no sofá e respirar fundo.

— Você mora aqui por perto?

— Um pouco — fiquei com medo de dizer prontamente que sim e ele se oferecer para dirigir até aqui.

— Podemos passar aí? — perguntou num tom receoso. Minha tática de trocar o “sim, é perto” pelo “é um pouco perto” foi um fracasso.

Olhei o topo da escada, nem o gralhar do Aidou eu escutava, mamãe parecia fugir disso.

— Acho melhor não — ele suspirou daquele lado e eu bati os pés nervosamente no assoalho.

— Sakura, Naruto veio de muito longe só para falar com você.

— Eu sei, Sr. Minato, mas…

— Se não pode nos receber, eu entendo. Pelo menos pode vir aqui nos ver, já que é um pouco perto? — minhas mãos suavam e eu não parava de olhar o topo da escada, torcendo para que minha mãe aparecesse e me dissesse o que fazer — Creio que seria bom para os dois resolverem isso cara a cara.

— Poderia ter me avisado antes.

— Você se esconderia! — ele riu e eu corei, pois sabia que era verdade — Eu que sugeri para o Naruto virmos até aqui. Ele já conhece a cidade, tem alguns amigos, então na pior das hipóteses, essas horinhas de viagem não serão em vão — sorri com o pensamento otimista daquele que já foi meu sogro — Você vem? — perguntou com a voz mais branda e séria. Pela última vez olhei a escada vazia e respondi:

— Estou saindo.

Assim que desliguei o telefone corri até os fundos da casa à procura dos meus patins. Meus pés de grávida estavam um pouco inchados, mas sem meia elas se encaixariam à forma do meu querido meio de transporte.

Avistei o Kadeting vinho de longe, a lataria brilhando com a luz do sol, parecia acenar para mim. Desacelerei os impulsos nas rodinhas para que ficasse mais fácil de fugir caso eu decidisse no meio do caminho a dar meia volta e conviver com a culpa.

Apesar da minha barriga não estar grande, sentia como se já estivesse comprometendo o meu equilíbrio, não tinha mais condições de eu ir para todos os lugares de patins, como eu fazia na outra cidade. O pior é que andar não combina com gravidez. Contudo, lá estava eu, indo contra as prescrições médicas, como de costume. Me arrastando cautelosa em direção à eles.

O carro estava estacionado no acostamento, bem em frente à escola na beira da estrada asfaltada; um loiro no volante e outro encostado na porta, de costas para mim, conversando com uma garota que, pelo tom azulado do cabelo pretíssimo, deveria ser a Hinata, a tal amiga que disse ao Minato que eu havia faltado na aula (mas ela também havia faltado, o que estava fazendo ali?).

Quando vi tudo isso à alguns impulsos de onde eu estava parada, senti medo, aquela sensação horrível na boca do estômago que faz com que eu queira me trancar num armário e não sair jamais. Eu queria dar meia volta, me refugiar nas plantações do logradouro de chão batido, atrás dos caminhões da transportadora ou no fundo do pesqueiro e quem sabe no poço de casa. Eu queria, até Minato me avistar e buzinar, chamando atenção de todos. Ele tinha um carro e eu um patins, não tinha mais como voltar atrás. Algo me dizia que se eu tentasse fugir, ele faria alguma manobra estilo Velozes e Furiosos 4 e me cercaria naquele pedacinho de estrada de terra, levantando aquela detestável poeira vermelha que ataca minha renite.

Naruto agora me olhava, daquela distância não sei dizer com que expressão, mas me senti mal só de imaginar o desgosto que deveria ser. Encabulada, tentei afrouxar o nó formado na minha garganta e pedi para o tornado dentro de mim se acalmar pelos próximos minutos, não posso dizer que deu certo, mas meu psicológico foi enganado com maestria. Soube disso quando me via avançando em direção à eles. Não os olhava, me concentrava nos meus pés deslizando na terra, analisava as duas mãos da rodovia e atravessava no momento certo, escorrendo pelo asfalto como água pelo ralo da cozinha.

Este era meu pensamento: Está acabando.

Só alguns instantes. O pior momento da nossa vida passa, pode durar o tempo que for, seja quem for que protagonize isso, vai passar, eu sabia que passaria, seriam só alguns instantes. Seria como um parto, logo viria o alívio.

Ria de mim mesma por ter passado tanto tempo almejando o dia em que encararia Naruto, por ter corrido atrás de pessoas para me transmitir os pensamentos dele e, quando o momento chega, eu penso mil vezes em recorrer à covardia do que à vontade de tirar esse fardo dos ombros. Estava envergonhada do meu caráter. Talvez no fundo eu houvesse herdado algumas características de mamãe.

Cheguei mais perto deles, me parecia mais com um robô, me movendo controlada, contudo só foi preciso inalar a fragância do perfume que eu tanto conhecia para eu sair completamente da névoa de devaneios que me afastava do momento presente. Naruto estava mesmo ali, eu ainda não tinha desviado o olhar do chão, mas sabia que estava tão próxima dele que ela possível ouvir sua risada silenciosa ao me ver tão desconcertada.

Hinata parecia ter adivinhado que minhas pernas estavam molengas, minha mão tremia levemente. Antes que eu tivesse alguma reação que quebrasse aquele silêncio inconfortável, ela encaixou seu braço na curvatura do meu, puxando-me para o seu lado, quase me derrubando do patins. A agradeci mentalmente por ter me segurado de todas as maneira naquele momento, agradeci à conspiração favorável do universo que a colocou no lugar certo e na hora certa.

Por alguns segundos intermináveis, os únicos sons eram dos carros em alta velocidade na rodovia e um folk qualquer do Philip Philips. Alguma coisa me dizia que se eu deixasse Naruto começar uma conversa, eu não teria forças para prosseguir por muito tempo com aquilo.

— Esperava uma recepção mais calorosa, Danone! — começou com o costumeiro bom humor na fala. Ergui o olhar o suficiente apenas para ver Minato tamborilando os dedos no volante ao ritmo da música.

— Então da próxima vez avise antes de vir — Não contive o impulso de olhar para Hinata, tão recatada, retrucando daquela forma.

— Falando assim vou me sentir mal — sorriu. O vi, fitei seu rosto exausto e ainda assim vivo, com aquele sorriso ofuscante de ia de orelha à orelha.

— Vocês preferem ficar aí mesmo ou querem ir para algum lugar? — Minato sugeriu, inclinando-se sobre o banco de passageiro para nos encarar, me encarar, principalmente.

— Bom, eu estou indo para minha casa, só vim deixar minha irmã.

Ela foi soltando meu braço delicadamente, só consegui encara-la e pensar “traidora”. Um pensamento egoísta e infantil, já que ela não tinha que estar ali, entretanto eu me sentia sozinha no meio da estrada com meu exs namorado e sogro. Estava com medo de ficar com ali, como se eles fossem estranhos, e não entendia bem o por que disso. Eram apenas Minato e Naruto, eu não deveria agir como se fossem duas feras prestes a me devorar, ainda mais porque ambos demonstravam calma e simpatia.

— Depois eu passo lá no Pérola¹ para colocarmos a conversa em dia.

Hinata pareceu ignorar, me abraçou e disse rapidamente no meu ouvido “Fica calma, está tudo bem”. Assistindo-a se distanciar, imaginei o que eles devem ter conversado durante a espera.

— Vamos para o Viseu? — sugeriu abrindo a porta do carro para eu entrar. Quando esbocei não conhecer o local, ele me fitou com estranhamento — Não conhece o Viseu? — neguei antes de entrar no carro — Há quanto tempo está morando aqui mesmo? — perguntou assim que sentou na frente, passando o cinto de segurança enquanto Minato dava partida.

— Alguns meses — Minato sorria, mascando seu chiclete. Acho que me encarava por trás dos óculos escuros no ângulo do espelho retrovisor.

— Você não deve sair muito, não é? — o olhar reprovador que Minato lançou pra ele fez calar minha resposta grosseira — Bom — retomou meio sem graça — O Viseu é o point da cidade, a melhor cafeteria-lanchonete-bar da rota. Fica do outro lado. Da última vez que vim aqui, lembro que eles promoviam festas no último final de semana do mês.

O deixei falar, com entusiasmo, sobre cada aventura que ele viveu de todas as poucas vezes que visitou a cidade. Ele se impressionava com o fato de eu não conhecer praticamente nada além da pracinha. Quis estufar minha barriga pra ele como resposta para qualquer pergunta desse tipo, mas achei que seria muita grosseria, fora que eu não teria coragem de fazer isso.

Naruto levava aquela situação como algo comum, parecia que havíamos nos visto há pouco tempo e estávamos indo para um lugar qualquer, era como se aquilo fosse rotina.

Uma das coisas que eu mais apreciava no Naruto era esse seu desapego com decepções. Talvez ele estivesse tão nervoso quanto eu, magoado e inseguro, mas seu sorriso descartava toda e qualquer ideia de que para ele estava sendo difícil estar ali, tão próximo de mim depois de tantos meses, depois de tudo o que aconteceu.

Durante o caminho só pensei sobre isso e em como Naruto pareceu chateado quando falei com ele pela primeira vez desde que fui embora. Aquela conversa pode ter sido pior do que qualquer outra que eu venha a ter com ele, mesmo que na época Naruto não soubesse a pior parte que envolve o seu melhor amigo e um feto no meu útero. Não importa o quanto eu observe aquele rosto que eu tanto amava, eu não via um traço do ódio que eu esperava, pela contrário, ele só sorria, e em nenhum momento olhou para minha barriga ou disse algo a respeito. Passou todo o trajeto comentando os lugares da cidade que conheceu, sobre como conheceu de Hinata, a tatuadora que eu havia conhecido no final de semana e outros elementos; falou brevemente do pessoal da minha antiga cidade quando perguntei como eles estavam e então falou da irmã, a Mei.

— Meu pai já te contou sobre minha irmã?

— Não — respondi confusa, olhando para Minato.

Minato que até então parecia se deliciar com meu constrangimento, de repente ficou com uma expressão sóbria. Se os óculos escuros não escondessem seu olhar, poderia jurar que eles estariam mais opacos do que os meus.

— Ela teve uma piora — o fitei preocupada.

Conheci Mei no Natal. Ela já estava debilitada pela químio e pela radioterapia. Quando Naruto disse que ela teve uma piora só pensei no pior.

— Vamos levá-la para a Universidade do Texas.

— Texas? — exlcamei e ele assentiu — Mas é muito longe.

— Kushina e eu vamos nos mudar para lá até Mei melhorar e poder ficar nos hospitais daqui — explicou Minato.

— Onde ela está agora?

— Em casa com minha mãe. Ela pergunta de você — Corei. Não sabia que ela se lembrava de mim.

— E o que você diz?

— Que você teve que ir, ora — e riu sem graça. Mais sem graça ainda quem ficou foi eu.

— Chegamos — Minato informou, estacionando num posto de gasolina — Vou abastecer e dar uma volta pela cidade, quando quiserem ir embora, é só ligar que eu venho buscá-los.

— Valeu, pai! — e lá se foi mais um.

Ali sozinhos, não havia assunto que quebrasse o desconforto que se materializou entre nós dois. Não havia lugares interessantes para comentar, não havia irmãs com câncer terminal para consolar, só um bocado de coisas mal resolvidas.

— Quer ajuda? — estendeu a mão para mim.

— Tá tudo bem — neguei arrastando as rodinhas de silicone pelo paralelepípedo.

Como era cerca de meio-dia, a cafeteria-lanchonete-bar estava com mais cara de lanchonete do que do restante. Era um lugar fresco e rústico, os bancos próximos às janelas pareciam confortáveis, então foram eles que escolhi. Não vieram nos atender.

— À noite é mais incrível do que de dia — disse ao notar que o lugar não estava suprindo as expectativas — Garanto!

Foi inevitável não rir da cara dele. Eu amava aquele garoto, mas me sentia mal de estar ali com ele. Logo fiquei olhando para os lados, deslizando os pés para frente e para trás no assoalho encerado. Contudo Naruto me conhecia bem, logo percebeu minha inquietação. Eu não agiria normal depois de tudo. Da última vez que nos vimos éramos namorados, naquele momento eu nem sabia o que éramos.

— Pensei que ficaria feliz em me ver — comentou com o sorriso que dificilmente abandonava seu rosto.

— Não sei o que esperar de você agora — respondi fugindo do olhar dele — Se ao menos vocês me respondesse… Eu saberia como reagir à isso.

— Por que minha resposta é tão importante pra você?

— Não sei.

— Como não?

— Ah, sei lá, deve ser porque ainda namorávamos quando tudo aconteceu — respondi nervosa, sentindo as mãos voltarem a ficar trêmulas.

— Sabe o que eu acho?

— O quê? — me virei para ele.

— Que você só quer se aliviar da culpa e somente eu posso livra-la disso — Não respondi, também nem precisava, ele sabia que essa era mesmo a verdade — Só que o que aconteceu foi um acidente, se estávamos namorando ou não, não foi algo que você quis, certo? Você não se drogou e se engraçou com o meu melhor amigo de propósito, né?

— Claro que não! — respondi ofendida.

— Então pra quê tanta culpa? — pergunto mais brando. O olhei e fiquei por um tempo presa naquele tom de azul, vidrada na serenidade que aqueles anéis transpareciam — Você se sente culpada por ter mentido pra mim e conviver com este sentimento é o mínimo que você merece por não ter sido verdadeira desde o início.

— Eu ia te contar! No dia seguinte! Você não estava na cidade, não tive coragem de contar pelo telefone, e o Sasuke…

— Sakura, naquela hora que você me ligou eu já estava sabendo sobre a festa e sobre você ter ficado alterada. Horas depois me enviaram o vídeo.

— O vídeo? — exclamei. Não estava acreditando que Naruto tinha visto,

— Sim. Não adianta fazer essa cara, eu achei que fosse montagem, mas quando me convenci de que era bem real, a única coisa que eu pensei foi em pesquisar na internet maneiras de tortura para aplicar em você e no Sasuke. Na hora eu quis mata-los. As duas pessoas mais próximas de mim estavam me apunhalando pelas costas. Na hora foi terrível — dizia brincando com o guardanapo da mesa — Não foi pior porque ao mesmo tempo minha irmã mais nova estava na UTI sendo cortada e costurada, não tem como comparar a dor que eu sentia pela minha irmã com a mágoa que eu sentia por vocês. Você tem irmão mais novo e eu sei como o ama, você tem sorte de tê-lo com saúde, poder vê-lo crescer e concretizar seus objetivos… A única expectativa da Mei é viver pelo menos até os quinze, meus pais e eu estamos movendo céu e terra para que ela viva mais, só que…

A esse ponto tanto ele quanto eu já estávamos em lágrimas. Eu queria abraçá-lo e confortá-lo exatamente como ele fazia comigo, mas havia um campo de força entre nós, maior do que qualquer instinto.

Novamente meu egoísmo se fez presente. Eu aqui pensando que Naruto sofria por mim, sua expressão abatida era causada por uma dor diversas vezes maior. Não posso imaginar uma vida sem Aidou, até mesmo sem Reira. Eu sempre fui a mais doente de casa, papai dizia com desgosto que eu gostava de andar na corda bamba, nunca tive ninguém tão próximo de mim prestes a sumir da minha vida para sempre. Eu não era capaz de cogitar a imensidão da angústia de Naruto e seus pais.

— Bom — riu constrangido enquanto tentava se desfazer dos vestígios de choro — Talvez eu ainda a ame um pouco, do contrario não teria me desmunhecado na sua frente!

Mais risos e uma confusão na minha mente. Talvez eu ainda a ame um pouco.

— Eu decidi que não tomaria nenhuma atitude sobre a festa do Sasuke — retomou o principal objetivo da conversa —, confesso que tinha certeza de que quando eu chegasse de viagem um de vocês dois me contaria, porém novamente meu otimismo só fez brotar expectativas sem fundos — sua boca fez uma linha e seu olhar só passou decepção.

Me sentia cada vez pior, cada vez mais encurralada nas minhas próprias mentiras. Me encolhia com os ombros, escondendo-me de mim mesma, procurando na minha “culpa” um buraco onde eu pudesse me esconder.

Eu preferia gritos, xingos, até tapas eu preferiria, embora soubesse que você não teria esses tipos de atitudes pelo seu jeito ameno, mas pelo menos suas palavras angustiadas, sua revolta e sua resposta eu imaginada ouvir, eu preferia ouvir do que receber aquela expressão de decepção. Abaixei a cabeça como uma aluna envergonhada por tirar notas ruins diante da expressão de um professor conformado de que fez o que deveria fazer.

Aquela expressão, as palavras anteriores e todo o conjunto só me dizia uma coisa: eu estou bem com isso, apenas você tem sofrido pelo o que você mesma causa.

— Então por que continuou namorando comigo mesmo sabendo de tudo? Por que me deu presentes, por que disse todas aquelas coisa?

— À princípio eu só queria ver até quando você e Sasuke levariam aquela mentira numa boa, eu percebia que você se saía muito mal em esconder que havia algo errado, você havia mudado muito desde que eu havia voltado de viagem e, se eu não soubesse o motivo, descobriria com o tempo. Agora Sasuke é um verdadeiro filho da mãe, continuou sendo o mesmo canalha e agindo da mesma forma comigo, a única coisa de estranha que notei foi o afastamento de vocês (já que antes eram bons amigos).

— Ele fez de tudo para apagar os vídeos, subornou todos os que estavam na festa e…

— E você acreditou? — me olhou com aquela cara de superioridade, um adulto falando com uma criança — Sasuke os ameaçou e a galera só acreditou porque a cidade toda sabe que a família Uchiha é toda da Milícia, então caíram nas baboseiras que ele disse e apagaram o vídeo, mas os que conhecem a persuasão fajuta de Sasuke não se intimidaram, um deles me enviou antes de excluir — Fiquei pensativa, meio que inconformada pelo fato do Naruto ter mais informações até que eu — Sasuke já fez coisas semelhantes outras vezes, Sakura, ele não teme consequências, nem mesmo esta — se referiu à minha gravidez.

— Também já sabia que eu estava grávida?

— Até antes de ontem, não. A única coisa que me contou naquele vídeo que eu já não sabia foi isso. Dei replay naquela parte diversas vezes — riu —, não estava acreditando. Me perdoe se soar rude, mas só pensei no azar que vocês tiveram. Ter um filho nessa idade não é brincadeira.

— Me conte uma novidade.

— O que espera que eu diga? — virou as palmas — Ter um filho com dezesseis anos não é uma coisa legal e você vai perder muita coisa por conta disso — Mal acreditei quando ouvi aquelas palavras saírem da boca do Naruto — Não me olhe assim, não vou ser hipócrita.

— Só estou surpresa com sua reação. Você parece estar muito bem com essa situação toda.

— Que reação esperava? — riu balançando a cabeça para os lado — Sakura, o único sinal positivo em ter um bebê na adolescência é o que aparece no teste de gravidez.

“Eu te conheci sob o efeito de remédios estabilizadores de humor, eu amei sua insensibilidade com coisas difíceis e sua emoção com coisas simples, eu sabia que você não era a Sakura bacana que se mostrava para as pessoas. Conversando com o meu pai, eu acabei percebendo que eu nunca fui realmente apaixonado por você, me apaixonei pelo desafio de amar uma pessoa tão problemática, me apaixonei pela forma como você me tratava. Você sempre tão carente que quando estava comigo eu me sentia capaz, você me tratava como se eu fosse único e suficiente, eu a tratava como uma criança que eu tinha que zelar e afagar quando se sentisse só. Quando você sumiu eu fiquei mal, eu fiquei magoado, fiquei até bravo, mas acredito que não foi apenas por você, e sim porque mais uma vez eu havia fracassado com uma garota”.

Nesse ponto eu já apertava minhas mãos com tanta força e as unhas chegavam a machucar a palma. O Naruto à minha frente não se parecia com o Naruto do Natal. Eu fiquei meses me remoendo de culpa achando que Naruto ficaria arrasado com tudo isso, para ele não passou de uma fatalidade.

— Isso não foi culpa sua, Naruto… — dizia com o peso da cabeça apoiada nos cotovelos, não estava me sentindo bem.

— Claro que não. Não é de ninguém. Aconteceu. Coisas ruins acontecem com as pessoas todos os dias, é inevitável não se frustrar.

— Você me parece muito bem.

— Não estou bem! Acabei de chorar na sua frente — riu envergonhado — Minha irmã tá morrendo, eu não tô legal. Se o que você quer dizer é em relação à isso — gesticulou ao redor de nós — Estou bem desde que entrou em contato comigo pela primeira vez desde que desapareceu.

“Naquele dia em que nos falamos por Skype eu esperava que você me contasse tudo, só que você apenas chorou, mentiu, chorou mais e se preocupou apenas em saber se continuaríamos juntos. Eu não quis deixar muito explícito (justamente pelo seu estado), porém desde aquele eu falei, mesmo que vagamente, que não queria namorar uma garota à quilômetros de mim. E você mentiu mais. Essas pequenas grandes coisas foram somando-se e me desencantou totalmente. Ainda assim eu gosto muito de você, à cada conversa eu sentia falta de estar com você, mas logo me frustrava ao lembrar todas as falhas no nosso relacionamento. Eu tive que cortar isso, do contrário eu iria me prender cada vez mais num caso naufragado.

Eu oficialmente terminei com você aquele dia (ou hoje, se ainda não se cituou) não só pela festa, pelo Sasuke ou agora pela gravidez, minha maior mágoa foram as mentiras. Pareceu-me que os meses que ficamos juntos não serviram de nada porque não houve confiança mútua. Conheci seus cortes, seu passado, seu modo doentio de se alimentar, seus filmes, seu cheiro, seus toques… Recebi uma grande dose diária de você para um dia eu acordar e não sentiu mais sua abstinência. Dormia pensando em te ver e de repente passei a acordar sem saber se você existia."

— Eu sinto muito — eu ia levantar, fugir dali, mas ele segurou meu braço antes que eu ficasse de pé.

Não suportava mais ouvi-lo, vê-lo numa sobriedade que me deixava nervosa. Eu preferiria ser insultada, julgada e repreendida do que significar tão menos do que nada para alguém que um dia disse me amar.

— Você sem a sua dor por ser mãe e eu sinto a minha por estar perdendo minha irmã. Eu viajei até aqui para te aliviar disso, pois eu estou bem. Eu não sinto mágoa por você, só carinho pelo o que vivemos.. Você foi realmente uma garota muito especial, porém o nosso Maktub não está ligado, então precisamos seguir rumos diferentes. Você terá o seu bebê e eu a minha irmã. Vim aqui apenas para resolver isso cara a cara.

Ele parou de falar assim que eu não conseguia mais me conter. Algumas pessoas ao redor me olhavam e um atendente se aproximava para fazer a clássica pergunta: “posso ajudar?”. Naruto gesticulou que estava tudo bem e segurou minhas duas mãos, eu só olhava para meus patin, a mancha redonda de café na mesa, a poeira no peitoral da janela, qualquer coisa longe dos olhos dele.

Todo o tempo ele falava como se estivesse lendo um texto, falava como se contasse uma história, falava como se não houvesse sentimentos emendando suas palavras. Ele foi prático, quase frio, mas disse o que eu deveria ter ouvido há muito tempo.

Depois que me acalmei um pouco com um suco de laranja, Naruto começou a fazer piadas para descontrair (típico dele), logo me senti mais à vontade. Em busca de qualquer saída para esquecer os últimos minutos, perguntei:

— Você já tem outra garota?

— Além da Mei? — brincou — Apenas o meu Kadetin — rimos. Confesso que gostei da parte que ele deixou claro não estar com ninguém — E você e Sasuke, como ficarão?

— Vou ficar por aqui até a criança nascer, depois minha família e eu voltaremos para a cidade — dizia entre goles de suco — Vou ficar com o bebê nos primeiros meses, mas quando ele estiver mais criado, vai ficar com o Sasuke também.

— Aparentemente ele está colaborando — sorriu satisfeito.

— Só porque tem medo da mãe — Naruto riu e concordou, pelo tempo de amizade com o Sasuke deve conhecer bem a figura da mãe dele.

— Vocês não pensam em ficar junto? — perguntou com uma expressão séria e receosa.

— Não — respondi de imediato tomando o restante do delicioso suco — Não temos nenhum tipo de afeição. Mas Mikoto quer nos casar.

— Mas vocês não precisam ser um casa, só ficarem na mesma casa para cuidarem juntos do bebê, sei lá.

— Dispenso. Sempre achei esse tipo de coisa desnecessária, fora que nunca daria certo. Eu não admitiria Sasuke chegar em casa de madrugada, bêbado com uma puta debaixo de cada braço, independente de sermos um casal.

— Bom, você não gosta mesmo dele! — riu e eu fui no embalo, timidamente — Em pensar que vocês eram tão amigos…

— Se ele fosse meu amigo não me engravidaria. Mas por falar nele, vocês dois estão de boa um com o outro? — perguntei curiosa, afinal, o Naruto que se fazia presente parecia não se importar muito do melhor amigo ter me pegado, o que eu achava uma pena porque queria que o Sasuke levasse uma surra.

— Ah sim, com certeza! Sou uma pessoa de paz. O que passou, passou. Apesar do Sasuke ser o maior filho da puta, ainda é meu amigo!

Sexta-feira

— O quê que aconteceu com o seu rosto? — exclamei ao vê-lo no banco de motorista, tentando esconder o estrago com um mísero óculos escuros.

— Caí da escada — respondeu impaciente.

— Mentira, Naruto deu uma surra nele — Mikoto o desmentiu.

Ri sozinha no banco de trás, olhando para o retrovisor vez ou outra para contemplar as caretas de ódio que Sasuke fazia. Algo dentro de mim ficou mais quente, uma sensação leve e reconfortante. Não importava como, Naruto ainda tinha um efeito anestesiante na minha vida. Sem esforços me surpreendia e com algumas coleções de palavras me desprendera de algemas que eu jurava nunca destrancar.

Eu estava feliz. Eu estava começando a entender o que uma gravidez significava e o que ela trazia consigo. Eu estava aprendendo a deixar ir.

— Acabou a graça, Sakura, pode parar com isso! — ralhava nervoso no volante. O olhei com ternura.

Eu estava aprendendo que há mais sinais positivos nessa situação do que o do teste de gravidez.






















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Notas finais do capítulo

Se não quiserem deixar reviews, fiquem à vontade!
Se quiserem, serão lidos e respondidos!
Um beijo no bumbum de cada uma!
¹ = Pérola é aquele bar da família Hyuuga ondeo Sasuke levou a Sakura há alguns capítulos atrás.