Sinal Positivo escrita por Milk


Capítulo 26
Capítulo XXV


Notas iniciais do capítulo

Hey people! Querendo me matar? Sim, claro ou com certeza? Acho que todas as respostas se aplicam a mim. Perdão. Não vou ficar perdendo o meu tempo e o de vocês dando as mesmas justificativas (escola, trabalho, problemas com o computador e etc) porque eu SEMPRE atraso os prazos que estipulo, eu sei que estou errada e não será dando mil e uma desculpas que vou remediar minhas falta de compromisso com você.
Acho que nunca deixei Sinal Positivo chegar ao ponto de ter o detestável triângulo laranja na última coluna dos acompanhamentos, isso pra mim é uma vergonha, mas aconteceu e eu peço novamente desculpas. Esse capítulo deveria ter sido postado há 10 dias atrás, quando anunciei no grupo, mas a maré de má sorte me deu um repuxo e só agora estou dando as caras.
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Agradeço por cada review, cada MP, cada recomendação que recebi, você são uns amores! Obrigada, de verdade.
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Avisei no grupo Coffee do Facebook e agora aviso nas notas que este será o penúltimo capítulo com a Sakura grávida, ou seja, o tal esperado final de Sinal Positivo se aproxima.
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O capítulo está enorme e eu revisei apenas uma vez, perdoem possíveis erros.
Boa leitura!



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Abri os olhos de manhã com uma preguiça maior do que a usual, estava perdida sobre o que fazer em seguida, então recapitulei tudo o que havia acontecido no dia anterior: a ultrassonografia; o almoço; minha conversa com o Sasuke; o passeio na cidade e por fim o vídeo que gravei. Eu estava com uma sensação de desconforto tão ruim... Quase um pânico de sair daquela posição inerte e encarar todos os meus problemas.

Quando me virei à procura de uma posição mais confortável, notei o pisca-pisca apagado e me senti culpada. De forma metafórica, era como se eu tivesse apagado os resquícios de esperança que tinha do Naruto me perdoar. Na noite anterior eu havia gravado o vídeo e enviado do jeito que salvei, sem assistí-lo, sem editá-lo nem nada. Cru e direto como deveria ser. Enviei e desliguei o computador tão rápido quanto liguei antes que mudasse de ideia. Já tinha noção do que esperar do Naruto, pensando nisso durante o café-da-manhã eu entendi tudo o que o Sasuke quis dizer.

Percebi que a reação do Naruto era uma consequência premeditada e eu já estava esperando por aquilo, o medo que persiste é do efeito que isso terá em mim. Sentimentos de puro e simples egoísmo.

–Quer falar sobre ontem à noite? –Mamãe começou se sentando à mesa ao lado do cadeirão de Aidou.

–Tenho escolha? –Perguntei espalhando requeijão no miolo do pão de forma. Mamãe suspirou e voltou a falar quando eu já estava terminando de comer.

–Sasuke tem se esforçado, Sakura. –Disse num tom mais sério do que o que usou para me abordar. Fui obrigada a fita-la pela primeira vez no dia, a cara de sonsa não tava mais lá. Me interessei, arrumando a postura e me preparando para as próximas palavras. –Mikoto e eu temos conversado sobre vocês dois e...

–Para. –Disse espremendo os olhos. Aquele comentário infeliz havia azedado meu leite. –Já sei o que vai dizer e me adianto em dizer que não rola! –Comi o restante do pão e já peguei outro par, apressada pra colocar tudo na boca e não ter que respondê-la.

–Por que não? Sasuke é um bom garoto –ri da inocência da mulher à minha frente -, de família estruturada, tem sobrenome, tem capital, além de ser um menino muito atraente e inteligente. –Ergui meu olhar mais irônico para ela, dizendo de forma automática:

–Não perdoa nem o Sasuke, mamãe? –Ela juntou as sobrancelhas. –Até pro pai do meu filho você tá se arreganhando? –Aquilo foi a gota d’água para ela, e com razão, mas ela não parecia entender que eu estava com o pavio curtíssimo para suas intromissões em minha vida.

Ela levantou-se de supetão e descansou sua palma em uma das minhas faces de forma que minha pele branca ficou com o molde dos seus dedos. Logo reparei aos pés da escada um conjunto de malas, papai estava em casa depois de uma longa viagem e eu havia mencionado o caráter da mamãe que ele desconhece. Ela ainda estava em brasa, com o rosto distorcido pela fúria (ou pelo medo de ser indagada pelo esposo, caso este tivesse mesmo me escutado), ainda assim sorri alisando a cara molestada. Ora, eu havia merecido, isso não quer dizer que ela estava certa. Apanhei o pão, a faca e o queijo e voltei a atenção para meu café-da-manhã ignorando a agressão de mamãe, a mulher educada e controlada que fingia ser 24 horas por dia.

–Acha que eu não a ouvi falando com o Naruto ontem à noite? –falou num tom baixo. –Quando viemos para cá, a intenção era manter tudo às escuras, mas você não segura essa sua maldita boca! –vociferava entre dentes, segurando a voz para não berrar. –Pensava que você criaria um pouco mais de bom senso na sua cabeça depois de algum tempo Sakura, mas você não para na realidade! Acredita mesmo que Naruto vai querer você depois que souber disso? –Neste ponto, eu não pude mais me segurar. –Cresça, minha filha! Foi um namorinho tolo de adolescente que não ia passar do colegial! Olha aqui para sua mãe! –Ergueu meu queixo, fitando minhas lágrimas com repugnância. –Você tá grávida com dezesseis anos e ainda se preocupa com namoradinhos de Ensino Medio? Pelo amor de Deus, Sakura! Olha para o pai do seu filho!

–Eu não vou esquecer o Naruto! Não quero o Sasuke, não gosto do Sasuke, ele muito menos de mim!

–Mas pelo menos ele está disposto a tentar gostar, pelo menos ele tem mais inteligência que você! –falou me largando, pois Aidou já gralhava por mais leite em sua mamadeira. Olhei para meu pão com requeijão transbordando.

–Eu não sou obrigada a ouvir isso de você. –Disse com a voz fria. –Se não sabe, você não é referência! –Provoquei.

–Não vou acordar seu pai discutindo com você se é isso que quer, garota. –disse colocando mais leite na mamadeira e agitando para misturar o açúcar, nem me olhou.

Ela sabe que sou uma ameaça para a canalhice dela e que não hesitaria em falar para papai o que acontece quando ele viaja. Mamãe já é mais crente no meu transtorno, sabe que posso mudar de ideia em segundos e mesmo eu tendo garantido que jamais contaria, ela sabe que posso romper a promessa rapidamente.

–Você me julga por eu não valorizar homem nenhum na minha vida, mas você é uma criança, você não conheceu ainda o amor. Eu conheci. –disse com o olhar distante. –Só parei de sofrer quando percebi que eu deveria ser prioridade na minha vida, não eles. Pode cuspir na minha cara que não sou um exemplo de esposa, mas não pode me negar como mãe. –Virou-se para mim. –Sabe o que é acordar ao lado de um homem que não ama só para zelar o conforto dos filhos? –Vi seus olhos brilharem, lágrimas se formavam ali em sua retina, porém não caiam. –Não, você não sabe, não ainda. –Levantou-se e pegou Aidou, sumiu da minha vista com ele subindo as escadas, ia trocá-lo.

Fiquei sentada à mesa sozinha, com cara de paisagem pensando nas coisas que mamãe havia me dito. Ela só poderia estar ao extremo das emoções para se abrir daquele jeito. Eu sempre soube que o casamento dos meus pais era um fracasso, mas nunca pensei que nós, filhos, fôssemos os principais responsáveis pela sina deles.

Toquei minha barriga. Eu não amava aquele ser que crescia em mim, mas sentia a necessidade de protegê-lo e queria que ele ou ela fosse uma criança feliz, porém não sabia se chegaria ao ponto de me casar com um menino que não amo só para o bem-estar de um recém-nascido. Sasuke seria pai de qualquer forma, não via sentido em casar por conta de uma criança. Uma aliança na mão esquerda faria um bebê mais feliz? Acho que a felicidade de uma criança depende da felicidade dos pais e eu tenho certeza que minha felicidade não passa nem perto de um casamento com o Sasuke. Quantas famílias pelo mundo a fora são assim?

Não quero me casar com ninguém a não ser o Naruto. Não quero casar sem amor, não quero que com o passar do tempo meu rancor faça eu enxergar o que mamãe faz correto por conta das circunstâncias.

Comi o pão e saí da mesa.

Mamãe não tinha direito algum de dizer o que é ou o que não é bom para meu bebê.

.o0o.

Segunda-feira

Escola

Demorei um pouco mais na cama pensando se deveria mesmo me trocar, ir para a escola e encarar a Hinata depois de um fim de semana tão conturbado. Quando as batidas na minha porta ficaram muito insistentes eu vi que não tinha mesmo escolha, tinha que ir para escola enquanto podia porque ia passar seis meses afastada, precisava garantir presença e notas suficientes para não ter que repetir o segundo ano.

Lavei o rosto, passei o creme que previne manchas de gravidez, amarrei meu cabelo num rabo-de-cavalo frouxo e me abriguei em um moletom G. Estava pronta. Ao chegar no fim da estrada de terra, onde as pessoas tinham que atravessar a rodovia para chegar à escola, sinto a presença se alguém atrás de mim. Era ela. Me preparava para encará-la, mas não imaginava que seria tão cedo e de repente. Seu sorriso radiante foi substituído por um olhar cansado que era o que mais chamava atenção em seu rosto.

Hinata possuía olhos de um azul claríssimo, quase branco. Às vezes é assustador olhar diretamente para ela quando está séria, contudo quando sorri, seu sorriso é como um imã que faz os olhos rolarem sem permissão.

–Se conforta saber, eu e a metade da escola já imaginava há tempos sobre o que havia debaixo desses moletons largos. –anunciou com a meiguice extinta na voz. Me virei para ela. –É possível esconder seu passado num lugar onde ninguém a conhece, mas isso aí é um segredo que não dá para guardar por muito tempo. –Olhei para a minha barriga sob o moletom. Era verdade, em breve ficaria muito difícil disfarçar. Olhei Hinata, ela me olhou irritada. Suspirei.

–Olha, eu ía contar...

–Quando? –Sua voz tinha um timbre mais alto. –Quando fugisse para a outra cidade? Porque aparentemente foi isso que você fez quando veio para cá. Fugiu. –Revirei os olhos. Seria difícil. –Será isso que dirá aos seus amigos quando voltar para lá? “Eu ia contar”? Ah Sakura, isso não é amizade!

–Você mal me conhece, Hinata, como pode me julgar? –questionei. –Ninguém além dos envolvidos precisavam saber disso; a decisão de fugir não foi minha; contar para você não era uma escolha já que saberia mais cedo ou mais tarde.

–Neji se recusou a me dizer algo a respeito, eu o entendo, isso não é problema dele, mas se tornou meu. –Revirei os olhos e atravessei a rodovia quando tive a oportunidade. Ela veio atrás. –Não me deixe falando sozinha! –pegou no meu pulso e me virou para ela. Inconscientemente puxei meu braço de volta e gemi com a dorzinha chata dos cortes que senti com o aperto. Fazia muito tempo que havia me cortado, mas as cicatrizes qua havia ali sob a manga ainda estavam doloridas ao toque.

–Não gosto que peguem em mim! –disse. Ela só me observou alisar o local onde sua mão estava e dar alguns passos para trás.

Sakura, se vamos ser amigas precisamos ser sinceras uma para a outra. –falou com a voz mais mansa. –Se fosse somente a gravidez, você não precisaria me dizer nada, porém ficou claro no sábado que estamos na mesma teia de amizade e isso automaticamente faz com que eu tenha sim a ver com isso. –Rolei os olhos para o lado com cara de poucos amigos. Queria mais do que tudo adiar aquela conversa, eu tinha acabado de acordar, meu dia estava começando, eu não queria falar sobre nada daquilo naquele momento, entretanto Hinata estava decidida a tirar o máximo de informações de mim e depois do que o Sasuke me contou sobre o romance do Naruto com ela, me sentia na obrigação de esclarecer algumas coisas.

Eu esperava que aquela conversa fosse difícil, mas pelo visto eu subestimei Hinata.

Okay. – Cruzei os braços e parei na frente dela há poucos passos da entrada na escola. O sinal já havia batido e os alunos se apressavam para entrar, passavam por nós levando nosso ombro, nosso corpo e nossa paciência para a sala de aula. - O que quer saber? -indaguei sem muito interesse.

Tudo. -respondeu sem ponderar um minuto sequer. Eu devia isso a ela.

A inspetora nos chamou duas ou três vezes, como Hinata não saiu do lugar, eu também fiz o mesmo. Ainda com o olhar fixo nas íris incríveis dela, pude ouvir o portão se fechar atrás de mim e a inspetora lançar o aviso de uma advertência.

Hinata pareceu não se importar e isso me assustou um pouco. Ela era a representante de classe, fazia diversos trabalhos extra para a escola, era o exemplo nato de um aluna exemplar, vivia pelos estudos, mas naquele momento ela não tirava seus olhos assustadoramente bonitos de cima de mim.

Para onde iremos? -perguntei com um suspiro.

Para a praça. -E saiu na minha frente.

Da escola até a praça era uma boa caminhada, dava para suar e ouvir todo o álbum do Oasis sem pular nenhuma música. A parte positiva é que eu teria tempo para pensar nas respostas das previsíveis perguntas de que Hinata me faria.

Como conseguiu ficar noiva do Sasuke? - perguntou assim que chegamos na pracinha. O tom dela foi ofensivo, algo como “como você cheia de remela no canto do olho conseguiu conquistar um cara galinha como o Sasuke? Fez amarração na Mãe Diná? Simpatia do João Bidu? Chá de calcinha?”, mas não me importei porque no lugar dela essa seria minha primeira pergunta. Era até difícil saber qual era a melhor piada: Sasuke noivo ou Sasuke noivo da Sakura. Quase respondi “engravidei dele”, mas ela já sabia que eu estava grávida e também deveria saber que a única forma de eu prender um cara como o Sasuke seria ficando prenha do próprio. A pergunta agora deveria ser: como você conseguiu fazê-lo transar com você?

Não estamos noivos, pra falar a verdade. Ele fala isso porque é um retardado e quer me irritar.

Ele gosta de você? - perguntou mais séria quando percebeu que eu não babo ovo para o Uchiha.

Não. - respondi automaticamente.

Você gosta dele?

Mal suporto aquela voz de dublador de desenho animado! - Achei que seria mais eficaz lançar uma resposta mais elaborada do que um 'não' seco. Se a voz dele era uma das dezenas de coisas que me irritava nele, Hinata poderia imaginar sem a minha ajuda que todo o resto me somado me fazia odiá-lo.

Ele tem uma voz parecida com a do Johnny Depp... - Tive que rir, desculpa leitores. Hinata é minha amiga, entretanto tá merecendo umas palmadas.

Como ousa compará-lo com o Sir João profundo? - perguntei no ápice da minha indignação depois de rir um bocado.

Parece. - deu os ombros e se sentou no banquinho. Eu fiz o mesmo.

Só se for no papel de Wonka! - Um homem passou soprando a fumaça de um cigarro na minha frente e eu quase quebrei meu pescoço para inalar o cheiro. Aquela conversa era do tipo que acompanha cigarros e amendoim torrado (para quem gosta de amêndoas).

Ele é o pai. - concluiu.

Sim. - confirmei o óbvio com desgosto.

Como aconteceu? - Tá querendo demais, não acha Hyuuga? Se aproveitando da minha boa vontade? Será que não percebeu pelo meu tom de voz que essa conversa me perturba?/

Nem eu sei... - falei com um tom distante. Uma das partes que eu mais odiava de tudo isso era não lembrar de como começou. Um sorriso sem graça escorreu pelo canto dos meus lábios ao percerber que eu era a pessoa mais desnorteada para informar à Hinata qualquer coisa que possa ter acontecido naquela festa do Dia das Bruxas.

Sakura! - chamou minha atenção – Você disse que contaria!

Batizaram minha bebida! - respondi irritada. Queria tanto ter um cigarro para tragar... -Eu bebi, fiquei fora de mim, não lembro de nada, apenas de acordar ao lado do Sasuke! - dizia rapidamente, num fôlego só. Em menos de vinte e quatro horas revelei meu segredo para duas pessoas que nunca deveriam saber de nada disso. Já estava decorando o discurso, me acostumando com a sensação de pânico ao imaginar as mais diversas reações. Se eu pelo menos tivesse algo para segurar entre os dedos enquanto contava...

Batizaram sua bebida com o que para você se esquecer de tudo dessa forma? - perguntou num tom desconfiado.

E eu vou saber? Não entendo de drogas, mas agradeço a Ino por ter escolhido essa por mim. - Sentei num banco, estava cansada de perambular com Hinata sem um rumo certo. - Acabou com a minha vida, contudo me deu o benefício do esquecimento. - Fitei as tulipas num canteiro.

E o Sasuke?

O quê que tem ele? - olhei para ela desconfiada.

Ele se lembra? - Voltei a fitar o canteiro colorido.

Até sábado eu achava que não, mas ele me disse que se lembra, sim. - resquícios de raiva surgiram no meu tom de voz.

E como descobriu que estava grávida?

Fiz o teste, oras! - Estava ficando sem paciência para Hinata. Sabia que estava sendo grossa, mas ela precisava entender que aquele assunto me incomodava e que perguntas óbvias como aquela não precisavam ser respondidas por mim, nem fariam a diferença. Ele cruzou os braços e me lançou um olhar reprovador, como se aquilo não tivesse sido suficiênte. - Comecei ter o famoso mal-estar matinal, até achei que estava com problemas de estômago, paladar... Gravidez foi a última coisa que se passou pela minha cabeça.

Então você fez o teste.

No banheiro de um bar! - ri. - Quando vi o sinal positivo foi como ver o chão se diluir sob meus pés. - falei num tom mais pesaroso, com olhar preso às tulipas. - Eu tinha quinze anos. Onde você está numa segunda-feira à tarde quando se tem quinze anos? Provavelmente na internet, jogando videogames, num parque, num cinema, num restaurante com seus amigos ou na pior das hipóteses em casa bebendo sozinha, se cortando e chorando até seus olhos te obrigarem a dormir. É isso que meninas de quinze anos fazem nas segundas à tarde, só que eu não, eu estava me entopindo de suco de laranja num bar falido para fazer xixi num palitinho guru que iria ditar o rumo da minha vida. - suspirei.

Ela se sentou ao meu lado e segurou minha mão. Observei seus dedos magros e compridos, azinzentados de tão pálidos segurarem os meus. Dedos gélidos, delicados de unhas compridas.

Você não é a única que passa por isso, Sakura. - A olhei confusa. - É muito comum meninas da nossa idade engravidarem.

Não me lembro de ter conhecido nenhuma...

Grande parte aborta. - Voltei a atenção para seus dedos finos. - Você faz parte da parcela de garotas que tem coragem de...

Eu já quis fazer parte da maioria, Hinata. - Estava envergonhada demais para olhá-la, principalmente porque nos momentos e desespero eu imaginava onde eu poderia estar atualmente se tivesse de fato abortado o bebê.

Seu toque ficou mais retraído, pelo menos ela cessou com o discurso moralista, já era um ganho.

Vai ter o bebê, não vai? - perguntou aproximando-se do meu rosto.

Claro! - revirei os olhos e puxei minha mão debaixo da dela. Era tarde demais para cometer qualquer crime.

Quis dizer se você irá criá-lo. - Fiz que sim com a cabeça. - Você e Sasuke. - Afirmou.

Basicamente. - respondi ponderando.

Não sabia se criar uma criança era somente pagar pensão e aparecer de vez em quando para saber se tudo está bem. Às vezes pensava que esse é o conceito de criar um filho para o Sasuke, às vezes eu tenho certeza.

Embora Mikoto fique em cima dele, embora o próprio tenha dito que será um verdadeiro pai para a criança, eu me dou o benefício da dúvida. Eu mesma acho aterrorizante a ideia de segurar nos braços uma coisa que foi gerada dentro de mim e saiu pelas minhas beiras. Algo que já fez parte de mim agora é um pedaço de gente no meu colo.

Já imaginaram que louco isto é? É como se um órgão do seu corpo se desenvolvesse por nove meses depois saísse de você para se desenvolver mais e agir por conta própria. Não adianta me bombardear com aulas sobre reprodução humana, eu sempre vou achar isso muito incrível ao ponto de ser assustador, e vejam que belza, está acontecendo comigo!

Vão morar juntos? - a pergunta veio acompanhada de preocupação e isso me agradou. Eu não gosto do Sasuke, ele não gosta de mim, colocar nós dois na mesma casa é o mesmo que nos mandar para o corredor da morte. Seríamos um típico casal nos índices absurdos de violência doméstica, pois cá entre nós, eu sou doida, maluquinha, para avançar com as unhas na cara linda do Sasuke eu não pensaria duas vezes e conhecendo o diabo, sabemos que ele também não hesitaria em revidar.

Rezo todas as noites para que mamãe não tenha essa ideia. - A convivência com o Sasuke em apenas um final de semana foi uma catástrofe, não me arriscaria tornar isso uma rotina, provavelmente eu voltarei a ser uma suicida.

É. - disse emendando num suspiro entediado – Você realmente não gosta dele. - Demorou um pouco para entender, mas a perdoo porque são muitas informações para armazenar em pouco tempo. - O legal é que eu também não gosto dele. - sorriu torto e eu a olhei surpresa. Tudo bem que as ironias no domingo foram explícitas e ela sair batendo o pé não poderia significar amor pelo Sasuke, mas entendam que até poucas horas eu achava que ela era peguete dele no passado. - Sakura – me chamou com um tom totalmente diferente de todos que usou até então – Aquele anel que você usava nos primeiros dias de aula e o namorado de quem você falava... É real? Ele existe? - engoli um seco – Você deixou mais do que claro que não suporta o Sasuke e eu acredito na sua fala, só que isso contradiz tudo o que você me disse antes, sabe... - ela não me acusava, ela estava realmente confusa e isso fez com que apenas meu coração acelerace mais, só não entendia o por quê.

Eu não mentia, Hinata. - disse olhando nos olhos dela – Até ontem eu tinha um namorado e não era o Sasuke. - quando ela abriu a boca para falar eu já previ o que viria e me adiantei – Sasuke transou comigo numa festa, meu namorado estava viajando. Ele supostamente deveria cuidar de mim, foi isso que me convenceu a ir naquela festa sozinha, só que tudo deu errado.

Lembrei de todos os amigos de Naruto que viram tudo acontecer naquela noite e não fizeram nada. Meus amigos eu sei que não eram, obrigação de me vigiar também não tinham, uns estavam piores do que eu, ainda assim me pergunto se eles podem ser considerados amigos de alguém.

Como te disse, batizaram minha bebida.

Você sabe quem fez isso?

Uma garota idiota metida da minha sala. O Sasuke já se cansou de comer ela. - comentei um pouco incomodada com aquela constatação. Sasuke comia a garota que complicou a nossa vida. Como ele conseguia?

Se não fosse Ino não haveria bebida alterada, não haveria Sakura desgovernada, não haveria brechas para Sasuke, não haveria beijo, não haveria transa, não haveria gravidez. Eu estaria naquela adorável cidade cursando o segundo ano do Ensino Médio com eu namorado loiro e romântico.

Tá, então quem é seu namorado? - Qual a necessidade de saber disso, querida Hinata?

Eu não entendia por que estava tão nervosa só de pensar em revelar à Hinata que o ex dela era meu namorado. Não entendia porque não havia com o que me preocupar, ele era ex ficante dela, pelo o que eu saiba. Quando Naruto e eu começamos a namorar éramos solteiros, não devíamos nada para ninguém. Minha apreensão de contar para Hinata só poderia ser pela forma como ela me julgaria. Vejam, eu namorava o Naruto e fiquei grávida do Sasuke, cadê meu caráter nisso? Até explicar por que isso aconteceu a pessoa já vira as costas me chamando de puta. É isso o que você e eu faríamos, vamos ser francos.

O melhor amigo do Sasuke. - disse e ela estreitou os olhos. Não tive paciência para esperar ela esboçar uma reação, disse de uma vez, num fôlego só, com um desconforto na altura da garganta ao pronunciar o nome do Naruto.

Ela levou a mão até a boca e tirou o olhar de mim para fitar as tulipas que antes eu contemplava. Seus olhos claríssimos estavam arregalados, as expressões pasmas escondidas embaixo da palma, o tronco curvado para frente, os pensamentos perdidos. Tudo aquilo me assustava. Quando a chamei ela levantou a mão como se me pedisse um tempo. Eu lhe cedi esse tempo. Por cerca de meia hora eu esperei. Então ela esfregou o rosto na palma das mãos e sentou ereta, ainda fitando as tulipas no canteiro. Não chorava, mas estava visivelmente chateada.

Com uma risada sem graça ela me olhou. Um olhar conformado e um sorriso forçado. Respirou fundo e riu mais um pouco sem nenhum humor.

Então vocês começaram a namorar em setembro, pelas minhas contas. - disse com a voz diferente, um tom incomum.

Por aí. - Eu estava imutável. Minha preocupação com a reação dela eram maiores do que a minha boa vontade de entrar em seu jogo de “vamos ser casuais e fingir que isso não é tão ruim quanto parece” - Como sabe?

Trocávamos mensagens até o ano passado, por volta de agosto e setembro cortamos o contato.

Por causa de mim? - perguntei com resquícios de culpa na voz.

Você foi uma das causas, a decisão foi mútua. - sorriu serena. - Eu já falei disso para você, Sakura. Essa coisa à distância não funciona. - dizia com uma falsa aceitação. Pelo jeito que ela falava eu podia perceber que essa era uma verdade que ela se obrigava a acreditar. - Estávamos nos iludindo. - Ficamos em silêncio por alguns minutos até ela dizer a pior coisa que eu poderia ouvir. - Quando fiquei sabendo que ele estava namorando, juro que fiquei feliz e rezei para que essa garota o fizesse feliz pelo tempo que ficassem juntos. Eu realmente sinto pena do Naruto.

Hinata me surpreendeu com a maturidade e imparcialidade que teve para comigo, esperava choro, gritos, tapas... Ela simplesmente refletiu e me disse o que pensara enquanto minha tola consciência tombava de tão pesada. Eu só fazia careta de choro e tentava me justificar. Justificar o quê, Sakura? Namoramos o mesmo cara em épocas diferentes! É um acaso da vida termos nos conhecido assim, relaxa! Ela era ótima em disfarçar as coisas, mas eu já a conhecia um pouco mais e sabia que ela se entregava pela voz. Uma voz insegura, vacilante nas oxítonas, essa é uma observação muito apurada do estado de uma amiga quando ela está mentindo. Pena que nenhuma de nós deu sorte com ele, pois Naruto é um homem completo. Contei para ela sobre o vídeo que fiz e enviei para Naruto na noite anterior, disse que ainda não sabia se tínhamos terminado oficialmente. Ela riu e balançou a cabeça para os lados, os fios lisos e pretos acompanhando o movimento com sincronia. Você abalou o orgulho de um homem orgulhoso, Sakura. Simplesmente esqueça. Não falo isso por você, falo por ele. Só o fará sofrer se alimentar esperanças.

Com isso fiquei mal pelo resto do dia e mais algumas horas.

Trocamos mais palavras, bem mais palavras do que o necessário, ressaltei o mais importante. A questão é que não quero e não vou estender isso, pois é cansativo para ambos os lados.

Eu nunca tive uma amiga. Quando pensei ter encontrado uma ela me drogou. Encontro Hinata e curiosamente me entroso com ela de forma natural, sem a ajuda de remédios ou mentiras para mantê-la perto de mim. Ela aceita com quem eu sou (ou pelo menos aceitava)e não me cobra nada além do que eu possa dar. Então descubro que ela é a ex do meu (provável ex) namorado. Apesar de termos nos despedidos com um abraço e palavras de conforto, sabia que quando nos escontrarmos novamente nada será tão caloroso quanto um dia foi.

Voltei para casa e me deparei com mamãe pendurada no telefone, se assustou quando me viu tão cedo em casa e pressionou o aparelho no pescoço para abafar sua pergunta sobre o que havia acontecido.

Não entrei na escola. - disse casualmente e fui na cozinha procurar alguma fruta. Ela não demorou para desligar o telefone e vir atrás de mim à procura de uma explicação para aquela rebeldia.

Disse a verdade, que minha única amiga Hinata descobriu minha gravidez e que tirei a manhã para conversar com ela e convencê-la de que não sou uma depravada. Acrescentei um pouco de drama, frases como ela é a única amiga que eu consegui aqui, sem ela ficarei sozinha, pois ninguém me dá apoio, ninguém me aguenta nessa casa e utilizei também um pouco da minha fragilidade habitual da gravidez para forçar umas lágrimas. Mamãe me abraçou e pediu desculpas pelo tapa dessa manhã. Chorei mais um pouco pra manter a farsa e depois nos separamos. Ela subiu para atender o Aidou e eu subi para checar meu Skype.

Tranquei a porta, sentei, liguei o botão de iniciar, respirei fundo, mirei o monitor dando sinais de vida. Eu sabia que não era o momento certo para eu ser abatida por uma mensagem negativa do Naruto, eu não precisava confirmar o que já estava certo.

Algo dentro de mim me confortava por aquele ser o momento em que toda a agonia e expectativa pela reação do Naruto seriam supridas com um click. Precisaria apenas clicar na núvem branca com um S azul chanfrado, era tudo o que eu tinha que fazer, era o que determinaria minha sanidade, minha liberdade, minha consciência limpa. Sem mentiras, sem máscaras, sem rodeios, tudo o que ele precisava fazer era clicar no play e ver eu dar o laço da corda no meu próprio pescoço.

Fiquei sentada olhando a desktop por um tempo que não sei estimar, pensativa, ansiosa, temerosa, distante. Questionava a mim mesma por que a resposta de Naruto era tão importante e ao mesmo tempo brigava comigo por me perguntar o por que. Ele era meu namorado. Estava em um conflito tão grande que nem chorar eu conseguia de tantas emoções que me bombardeavam ao mesmo tempo.

Cansada de hesitar, abri o Skype. Eu decidi que contaria, eu tinha ir até o final. Cliquei na aba da conversa e para a minha surpresa, decepção, alívio, não sei, não havia nada. Absolutamente nada e isso era pior do que receber a pior mensagem do mundo. Ele não havia respondido nada, mas assistiu ao vídeo.

Naquele final de manhã eu encarei o monitor do computador com tanta veemência que por um minuto cogitei estar hipinotisada. Eu não tinha reação. Eu queria uma reação, mas não obtive nada. Imaginava Naruto asssitindo o vídeo até o final, em seguida desligando o computador e indo atrás de Sasuke, ou de mim. Entrei em desespero. Não ia me importar se Sasuke levasse uma surra bem dada, o problema era quer eu não sabia se o Naruto descontaria toda sua raiva apenas socando o Sasuke. Acredito que se os dois se trombarem, Naruto mata o Sasuke. Pode não matar com recursos, mas mata no punho, diferente de Sasuke que é um doente e anda com armas brancas.

Atordoada com aqueles pensamentos, desci correndo as escadas e liguei para a casa da Mikoto. Quando ela atendeu já foi direta falando comigo como se fosse mamãe, reclamando pela forma como mamãe desligou o telefone há alguns minutos.

Você não deveria estar na aula, Sakura? - indagou assim que reconheceu minha voz.

Tive um mal estar, voltei para casa. - menti. Só precisava avisar minha mãe para manter a farsa. Mikoto era muito rígida com estudos, o que é irônico já que seu filho repetiu mais de um ano o colegial. - Sasuke está em casa?

Não, foi para a escola. Ele é do período diurno, lembra?

Ah, sim! - Como sou idiota! Só porque sou vagabunda acho que todo mundo também seja. - Quando ele chega mesmo?

Não quer o celular dele? - ela parecia impaciente, nem respondeu minha pergunta. Respondi que sim e ela me passou com a aviso de não ligar no meio da aula. Agradeci e desliguei o telefone logo em seguida discando o número do Sasuke. Que se dane se ele está no meio da aula, preciso saber se ele está vivo, antes de tudo. Ele atendeu no segundo toque dizendo “Sasuke”. Acho que é a única pessoa que conheço que não diz “alô” quando atende o celular. -Hey, sou eu, Sakura.

Danone. - disse com tédio, juro que não me magoei. - O que foi? - Seco, cretino!

Eu contei para o Naruto, mas ele não me respondeu nada. Queria saber se ele falou com você...

Não o vi, não fui para a escola.

Por que não?

Porque eu tava a fim de transar os pais da Tenten não estão em casa. - revirei os olhos de raiva, nojo e impaciência com o Sasuke. Parecia um babaca falando daquele jeito. Odiava quando ele agia assim tão vulgar e falava essas coisas pra mim como se fosse um dos amigos dele. Sasuke não tem um pingo de respeito comigo.

Que droga, Sasuke! Não perguntei quem você comeu hoje! - falei alto demais e mamãe apareceu no topo da escada pra saber o que estava acontecendo. Gesticulei para ela esperar porque eu estava no telefone e ela voltou para o quarto de Aidou me olhando de rabo de olho.

Mas perguntou o por que faltei na escola. Não vou mentir.

Não tenho obrigação nenhuma de ouvir essas coisas. - reclamei.

Se você ligou para encher meu saco pode parar por aí, tenho muita coisa pra fazer!

Uma delas é procurar o Naruto!

Ele virá até mim de qualquer forma, vou permanecer no meu canto.

Você é um covarde.

Sou um covarde que tem mais o que fazer do que ficar correndo atrás de homem.

Sasuke, eu to falando sério! Preciso que converse com o Naruto e me fale o que...

Olha, o que ele não disse para você ele não dirá para mim. Nosso assunto será completamente diferente do seu com ele, então pode tirar essa ideia da cabeça de que você vai conseguir a resposta que ele não te deu através de mim. - fiquei sem palavras quando Sasuke me disse aquilo.

Eu estava contando com isso, que Sasuke pudesse me dizer aquilo que o Naruto não me disse. Claro que não, eu não havia pensado nisso. Voltei à estaca zero do meu problema que era descobrir o que o Naruto faria. Com o Sasuke à metros dele naquela cidade minúscula eu só multiplicava minhas preocupações. Só tinha mais uma pessoa em quem eu podia confiar e que poderia me dizer se o Naruto de fato viu o vídeo e por que não me respondeu, o próprio pai dele.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?
Confesso que eu adorei escrever esse capítulo, mas tive um bloqueio. Ele foi escrito há mais de dois meses, mas estava preso no meu computador que estava no conserto e eu me recusava a reescrevê-lo porque a briga da Sakura e da mãe dela nunca ficaria tão satisfatória como esta que escrevi primeiro.
Enfim, bj bj



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