Sinal Positivo escrita por Milk


Capítulo 2
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

~ Aê está!!!



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Eu tinha quinze anos. Hoje eu tenho dezessete, mas isso não releva, sinto que sou a mesma pessoa desde que nasci. Há dois anos eu era assunto de família e de reunião de professores. Não era rebelde, não era patricinha e nem nerd. Não me encaixava em nenhum grupo e achava que estava tudo bem assim, só que isso começou a parecer preocupante para os professores, pois eu tinha atitudes muito inconvenientes do nada.

Ou eu era muito eufórica, ou eu era muito depressiva, ou muito gentil, ou muito agressiva. Ia de zero á cem em questão de segundos e isso começou a perturbar todos a minha volta, inclusive à mim.

-Se você pudesse ser alguém, quem você gostaria de ser? –Perguntou Shizune, uma médica que não era médica, ela tinha diploma só para conversas com as pessoas. A profissão dela é psicóloga na verdade, mas gosto de chama-la de médica que não é médica para as pessoas não me olharem com aquela expressão estranha que odeio.

-Anne Frank. –Respondi com toda a cordialidade possível.

-Anne Frank? –Ela arqueou a sobrancelha. –Você conhece a história dela?

-Sim. É muito triste. –Acrescentei.

-Você queria estar na situação dela? Ser obrigada a se esconder do mundo por tempo indeterminado, fadada a lidar com coisas que a perturbavam tanto? –Tenteava me persuadir de que minha resposta era impensada.

-Eu não iria me perturbar com adultos ignorantes como aqueles com quem ela convivia, para mim seria uma benção poder me refugiar num anexo e talvez ficar lá para sempre longe de tudo e de todos, só lendo e escrevendo para ninguém. Sem trabalho, sem escola, sem adultos, sem humanos, só eu e minha respiração. Perfeito! –Falei com ênfase.

-Por que tem essa revolta pelo mundo? Ainda não sabe nada da vida.

-Nada já foi suficiente para me desanimar.

-Me conte sobre sua infância.

-Não.

-Por que não? Aconteceu algo que você não gostou?

-Não.

-Então por que não me conta?

-Porque você já sabe toda a minha história.

-Quem te disse isso?

-Ninguém.

-E por que você acha que já sei tudo sobre você?

-Porque para me encaminharem pra esse você precisaria de uma ficha do sobre o meu quadro e minha mãe já conversou com você, e você com certeza perguntou essas coisas para ela também e ela respondeu, então, supostamente você sabe quem eu sou e o por que estou aqui.

-E você sabe?

-Também não. –Sorri. –Estamos quites. –Recostei minhas costas na cadeira.

-Ok. –Suspirou e retirou os óculos para limpar as lentes. –Eu não posso te passar remédio, mas creio que você vai precisar.

-Já tem um diagnóstico?

-Parece que sim. –Começou escrever.

-Pensei que médicos pudessem passar remédios.

-Eu não.

-Então se você não pode passar, quem é que vai...

-A psiquiatra. –Me entregou um papel. –É a sala da frente. Bate três vezes na porta e entregue isso à ele.

-Ok. –Dei os ombros e me levantei.

-Até mais.

-Acho que não. –Respondi fechando a porta atrás de mim. Não tinha a intensão de voltar para aquele lugar novamente.

A porta da frente era a onze. Estava escrito em dourado o nome e sobrenome da sujeita: Tsunade Senju. Bati várias vezes até ela abrir, irritadiça, com os olhos despejando fúria, mas não me intimidei, afinal, com uma mãe advogada você tem acesso à leis muito interessantes, como por exemplo uma lei que protege pacientes de médicas loiras e loucas. Estendi o papel pra ela e exibi meu melhor sorriso. Ela entrou em sua sala, não olhou mais para a minha cara, não me convidou para sentar ou entrar, então fiquei encostada no batente da porta fazendo barulhos com a boca. Ela estava extremamente irritada e eu estava gostando de atingir seu clímax de paciência.

Pensava que esses médicos que lidam com loucos eram mais tolerantes...

-Retira na secretaria. –Informou estendendo o papel. Entrei na sala cautelosa. Peguei o papel, agradeci e me virei para sair.

-Quarta no mesmo horário.

-Creio que não. –Respondi.

-Vai vir sim.

Isso foi em meados de agosto para setembro, meus meses favoritos do ano, pois várias pessoas fazem aniversário e 80% destas fazem festas. Numa dessas que tudo aconteceu. Não exatamente tudo, mas o começo de tudo.

Já havia umas duas semanas que eu estava tomando o remédio e percebi notável melhora na minha personalidade e na minha vida social. Tomava três vezes ao dia e ficava em um estado zen, nada me importa nada me afeta. Isso me ajudou a relacionar-me melhor com meus colegas de classe e de rua, afinal não tinha amizade com nenhum deles, havia me mudado para aquela cidade há menos de um ano e meu transtorno bipolar(o do diagnóstico da médica que não é médica que se diz psicóloga) não era um ponto positivo para eu conseguir me enturmar.

Enfim. Mudei. Artificialmente, mas mudei e todo mundo percebeu e aprovou essa mudança. Comecei usar roupas mais normais para ir à escola ao invés de camisas sociais masculinas e gravatas, isso chamou atenção das pessoas porque finalmente eu estava agindo como uma pessoa normal, embora ainda me recusasse a pentear o cabelo mais de duas vezes por semana. Também dei início à uma rotina e um conjunto de regras pessoais como só cumprimentar quem eu devo ou quem eu sei que irá me corresponder, diferente de como eu fazia antes, saindo pelo corredor e pela rua dando bom dia para Deus e o mundo e na volta cometendo vandalismo, quebrando telefones públicos e queimando coisas, gritando ‘’vá se foder’’ para qualquer um que quisesse ouvir.

Foi uma mudança adorável.

Mesmo eu sendo contra medicamentos e esse diagnóstico que me deram, tinha que admitir que melhorou muito minha vida. Mamãe a princípio ficou melodramática com a fatalidade de ter uma filha mentalmente transtornada, mas ao notar o que os medicamentos estavam fazendo, podia ver o brilho do seu olhar de alívio porque finalmente as coisas estavam acontecendo exatamente como deveriam acontecer. Ela tinha a filha normal que sempre quis ter.

Então passou-se duas semanas, eu tomando o medicamento diariamente a cada oito horas e vendo tudo mudar, sentindo-me inteiramente bem pela primeira vez. Como eu disse, arranjei amigos, e como eu também disse, aquela era uma época de muitas festas e é claro que eu fui convidada para quase todas elas. Mamãe não me prendia, mas dava horário de volta, regras e consequências caso não seguisse tudo como o ordenado. Era só andar na linha e tudo ficava bem para nós duas. Ela também não fazia muitas exigências, pois ela sabia que estas eram oportunidades perfeitas para eu me enturmar.

Era uma chance de ela sentir como é ser mãe de uma adolescente normal.

Eu fui de carona com um carinha muito legal que o ano todo sentou atrás de mim e sempre puxou assunto, tem os mesmos gostos musicais que eu, os mesmos para filmes e comidas. Não o considerava como o meu amigo por vários fatores. Um era porque eu achava que ele era gay e sou de uma família tradicionalmente católica, consequentemente contra o homossexualismo. E não, eu não tenho preconceito nenhum, só não apoio essa iniciativa.

Nessa festa descobri que ele não era gay, pois ele me beijou.

Eu nunca tinha beijado nenhum menino, não sabia o que fazer direito com a língua, com a boca, com as mãos ou com os meus pés que estavam mais interessados em bater ritmados com a música que tocava. Resumindo: eu não sabia o que estava fazendo! Não havia me preparado mentalmente para isso. Eu também não sabia o que era um beijo bom ou um beijo ruim, porém digo sinceramente que gostei do que o Naruto fez.

Descobri nessa festa que o nome dele era Naruto. A escola onde eu estudo fazia chamada pelo sobrenome, graças a esse fator eu só devia saber o nome de umas quatro pessoas da sala. Disse à Naruto que achava que ele era gay e por isso não o considerava meu amigo, ele riu e disse que não, perguntou por que e eu respondi:

-Nunca o vi conversando com nenhum menino nem ficando com nenhuma menina.

-É porque você só me vê dentro de sala de aula e lá ninguém conversa com ninguém. –Bem observado. –E eu não sou como os outros meninos que ficam com as meninas no meio de todo mundo como se fosse um caçador exibindo sua caça. –Ri. –Só por isso pensava que eu era gay? –Afirmei com a cabeça. Eu sei que disse que tinha vários motivos para achar que Naruto era gay, mas não, era puro achismo mesmo. –Quer conhecer os meus amigos. –Fiz que sim com a cabeça. –Por que não responde com palavras? –Perguntou bem humorado. Tudo o que fiz foi erguer os ombros para a infelicidade dele, ou felicidade, porque ele riu e saiu do carro.

Fiz o mesmo antes que ele tentasse dar a volta no carro e abrir a porta pra mim.

Ah, o Naruto tem carro porque ele tem dezenove anos(sim, dezenove e está no primeiro ano, deprimente) e o carro dele também não é nenhum Camaro ou Honda Civic, é um Kadeting 98 cor de vinho que me lembra aquelas músicas do Dire Straints. Ele me disse que ganhou aquele carro em uma aposta. E o que ele fez? Repetiu quatro anos na escola.

Aí você pensa “o que uma criatura dessa tem na cabeça para atrasar toda a vida por um carro?”. Agora pensa bem, mas pensa bem mesmo! Com dezenove anos, ele já tem um carro. Quantos jovens que estudam arduamente tem isso nesse país? E outra, ele é maior de idade, pode fazer supletivo ano que vem e ficar tudo bem. Aos vinte ele começa uma faculdade e se forma aos vinte e quatro. Perfeito! À princípio pensei que ele não passava de um idiota, depois vi que ele não era tudo aquilo de idiota que eu pensava, só uns 60%.

A festa rolava, as horas passavam e nós permanecíamos ali sentados num cantinho conversando, trocando experiências e gostos, às vezes nos beijando ou comentando sobre alguém dançando de um jeito esquisito. Lá para o final da noite ele se lembrou de apresentar os amigos. Eram todos da sua faixa etária e garotos bonitos. Só bonitos. Uns muito altos outros muito magrelos, outros muito normais, outros muito excêntricos, grande maioria bêbados e com no mínimo uma mulher debaixo de cada braço.

Não ficamos muito tempo com eles pois estavam altos e gritavam ao invés de falar, o que tornava tudo muito mais incômodo. Resolvemos então ir embora, chegamos em casa antes da meia noite e ele se despediu com um beijo. Perguntou se eu queria sair com ele de novo e eu disse que sim. Trocamos telefone e ele esperou eu abrir a porta para dar partida no carro. Contei para minha mãe tudo o que aconteceu e ela fez aquelas caras de mãe, mas não disse nada demais, só pediu para que eu deixasse meu quarto organizado antes de dormir.

A partir dessa festa fiquei muito próxima do Naruto e dos amigos dele, e quando eu dei por mim, já estava com o status no meu facebook como ‘em relacionamento sério com Naruto Uzumaki’. Foi um susto de tão rápido que as coisas aconteceram. Tinha festas uma atrás da outra, passeios, churrascos na casa deles, cine pipoca na minha e minha mãe estava feliz em ver que eu estava me enturmando. Ela gostava do Naruto e do Sai que sempre a ajudava na cozinha, entretanto, um dia, arrumando a zona que os meninos fizeram, ela comentou “você bem que podia ter amigas também”.

-O Sai é gay mãe. –Contei o segredo dele para ela porque ela era minha mãe e eu sei que não contaria para ninguém, só esqueci do fato dela ser extremamente religiosa, mas para minha surpresa, ela nem relevou, não desviou o foco do assunto.

-Digo meninas Sakura. –Explicou. –Seus amigos são legais, muito educados e respeitosos com você, mas acho importante você se relacionar com meninas também, sabe?

-Sei.

Então comecei me enturmar com meninas como a Ino. Ela era louca, mas não igual à mim, ela era uma louca normal que fazia coisas loucas, entende? Não? Exemplo: ela usa roupas vulgares e encaixa palavras grotescas em todas as frases que diz, bebe, fuma e já beijou vários garotos. Tipo, às vezes me pergunto por que comecei andar com ela, daí eu fico em dúvida se é porque não tive opção ou porque fiquei com preguiça de procurar, afinal, foi um erro enorme termos nos aproximado pois graças à ela fodi com a minha vida.

Quando tudo aconteceu, culpei a minha mãe, mas depois me arrependi porque a errada fui eu por ter confiado na Ino.

Dia das Bruxas, a festa foi na casa do Sasuke, amigo meu e do Naruto, que estava em outra cidade auxiliando seus familiares por conta do estado de saúde da sua irmã mais nova. Ela tinha leucemia. Eu não bebia nem fumava, só que depois que bebi um suco que Ino preparou para mim, comecei fazer de tudo e nesse dia não tinha Naruto para estar ali em cima de mim, porque se tivesse nem deixar eu beber o suco ele deixaria antes de provar primeiro(entre o grupo, eles tem uma brincadeira besta de batizar a bebida dos outros com um pozinho mágico) e ver se era seguro.

Ino havia colocado o pozinho no meu suco e eu fiquei alterada, comecei beber e fumar, dançar, rir e falar alto. Até hoje só me lembro disso, o resto da noite é uma página em branco na minha cabeça. A partir daí consigo me lembrar da manhã seguinte, estava num quarto que não era meu deitada num travesseiro macio demais, diferente do meu quarto, o que me cobria era um lençol ao invés do edredom e para a minha desgraça eu não estava vestida com nenhum dos meus pijamas da linha Bichos da Amazônia que comprei na promoção no shopping, eu estava nua. A cabeça latejava, ao tentar abrir os olhos era como se tivessem grãos de areia sob as pálpebras, o corpo dolorido, algo pegajoso entre as pernas. Não raciocinava direito, não queria saber de mais nada, só sei que quando olhei para o lado à procura de um norte e vi Sasuke na mesma situação eu pensei “puta que pariu”.

Ao tentar levantar sem acordá-lo mas inevitavelmente o acordando eu pensei “fodeu”.

O resto do dia eu só pensei nisso “puta que pariu fodeu”.


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Notas finais do capítulo

- Comentem. Se não comentarem significa que a mãe de vocês é feia. u.u



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