White Lies escrita por Factory Girl


Capítulo 3
Factory Girl


Notas iniciais do capítulo

Então, deletei o cap 3 de antes por que achei que não tinha ficado bom, e aqui está o novo. Ficou tão maior que dividi em dois, então vocês já terão um cap 3 e um 4.
Outra coisa é que substitui o noma da Kate por Brittany, como sugerido pela margarida (quase literalmente rs) da Vamp Writer, pra não ficar muito confuso e tudo mais.
É isso...
(se você já começou a ler com a história atualizada, desconsidere ok?)
Factory Girl - The Pretty Reckless



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Katerina POV


A manhã de volta ás aulas não era nada animadora. Não que eu esperasse que fosse, de qualquer modo. Era como todos os anos, só que agora era pior por que, apesar de tudo estar igual, nada parecia o mesmo. Tudo parecia mais assustador, mais perigoso, como se cada movimento implicasse a possibilidade de ser descoberta.



Sempre fiquei pensando no que aconteceria se meus amigos e colegas, de algum modo, descobrissem o eu era, e tenho que admitir que, as conclusões a que chegava nunca eram boas. Mas era melhor não pensar nisso agora. Não quando eu tinha que sorrir animadamente e responder a todos os “Oi Kath!”, “Bom dia Kath!” e “Como foi o verão Kath?” como se tudo tivesse sido ótimo.


A verdade é que esse verão tinha sido um saco! Eu passei todos os dois meses trancada em casa com Caleb em um programa de reabilitação completamente fadado ao fracasso.

Não é que eu fosse pessimista, ou muito menos que eu não quisesse melhorar, não mesmo! Mas quando alguém já viu e viveu tanto quando eu, não havia muito que se pudesse fazer.

É claro que, eu não disse nada disso a ele. Caleb era o tipo de pessoa que tinha que acreditar que tudo daria certo no final. Que todos ficaríamos bem, e que algum dia eu encontraria meu príncipe encantado, ele encontraria sua princesa, e ambos viveríamos felizes para sempre. Besteira! Não havia um “felizes para sempre” para mim, nunca haveria, e eu estava bem com isso, conformada, e apesar de tentar fazê-lo entender isso várias e várias vezes, em grande parte delas ele agiu como uma criança de cinco anos, tampando os ouvidos e cantarolando alto, o que só reforçava a minha teoria de que eu era a mais madura de nós dois, e sempre me fazia rir e revirar os olhos.

A maioria das pessoas acharia o prédio, imponente e monocromático, em estilo gótico que abrigava a sede da Spencer assustador. Eu não. Aquele lugar era, de certa forma, reconfortante para mim, como uma segunda, ou talvez terceira casa, se considerarmos a casa de Caleb. Eu estudara ali desde que me entendia por gente, assim como meu pai, e meu avó, e meu bisavô antes dele, e assim por diante. Os Grayson, os Simms, os Danvers, os Parry e os Garwin estavam nessa maldita cidade desde a fundação, efetuada pelos próprios, logo, estavam aqui quando a Spencer se estabeleceu aqui, e obviamente, foram alguns dos primeiros alunos a se matricularem. Era patético que cada família tivesse uma ala na biblioteca, e eu era apenas grata por ter mudado meu sobrenome para Petrova depois da “morte” do meu pai. É claro que aquilo só valia extraoficialmente. Nos documentos e contratos meu nome aparecia como Anna Katerina P. Grayson, mas eu desconsiderava o primeiro e ultimo nas apresentações formais.

Costumava ser divertido sabe? O modo como as pessoas se viravam para me olhar quando eu estacionava minha FF preta reluzente no estacionamento ao lado do prédio, acessível através das portas laterais e, após descer as escadas, os vários caminhos cimentados para a passagem, que serpenteavam através de todo o gramado, circulando as árvores, seguindo diversas direções. Era especialmente engraçado com os novatos que, geralmente ficavam surpresos, fosse com o carro ou comigo, mas não dessa vez. Apesar de eu ter certeza que seus olhares ainda eram de admiração e principalmente desejo, no caso dos garotos, como todos os outros anos, em alguma parte do meu cérebro, algo me dizia que eles estavam á espreita, me observando, medindo, examinando.

Era sim, o que eles faziam, mas dessa vez assumia uma conotação completamente diferente e nada lisonjeira para mim, e me deixava desconfortável.

Senti um tremor, que não tinha nada á ver com o vento frio que soprava fortemente, atirando várias mechas soltas de meu rabo de cavalo longo contra o rosto, atravessar meu corpo, minhas pernas, mais nuas do que deveriam, permanecendo arrepiadas até que a ventania repentina parasse e as folhas alaranjadas e amarronzadas começassem á planar, de volta ao chão. Bom, talvez tivesse sido um pouco de frio também, afinal, eu nunca usei o uniforme do modo como ele deveria ser usado.

Minhas saias eram todas mais curtas do que deveriam e, devido á customização, atingiam mais ou menos a metade da minha coxa. Eu usaria calças jeans tranquilamente, se fosse esse o caso, mas a única vez que o fizera, havia me causado mais problemas do que a mini saia, e um sermão de meia hora sobre postura moral.

Pro diabo com elas!, eu me lembrava de ter exclamado quando Winters, o diretor da escola, começou a falar sobre as tradições da escola. Isso me rendeu um trabalho de cinco páginas sobre a Marcha Feminista, mas valeu á pena. Eu também me recusava a usar o blazer azul marinho, e o suéter cinza xadrez ridículo, que me lembrava nerds com óculos fundo de garrafa e aparelho dental e não combinava nada com a saia azul escura.

Nada contra os nerds, é claro! Eles até me ajudavam de vez em quando, com alguns trabalhos de física e trigonometria que ninguém com um QI médio como o meu seria capaz de resolver.

As únicas peças que eu mantinha inalteradas eram a camisa social branca, desabotoada até o busto, e a gravata azul petróleo. Eu intercalava os dias que usava e não usava essa ultima, e quando a usava era quase completamente solta, de modo que não fazia muita diferença. Toda essa rebeldia de vestuário havia me criado problemas no início, é claro, mas tudo se resolveu no instante em que minha herança foi liberada.

Eu ainda não tinha acesso total á todos os bens da minha família. Como única herdeira, meu pai havia me deixado inúmeros conglomerados de empresas ao redor do mundo, e que agora eram comandados pelos diretores ou algo assim, e que continuavam á dar lucros gigantescos, o que mantinha a conta no banco sempre crescente.

Eu só tinha acesso á vinte por cento da quantia total, mas era o suficiente para que eu nunca precisasse me preocupar, não só agora como para o resto da vida e das vinte próximas gerações, ou mais.

Kath! Oooooi! – Uma voz conhecida me tirou de meus pensamentos, e me virei para ver minhas amigas, Mary Bretfort, Megan McClougth e Susan Welch, todas caminhando no topo de seus saltos altos em minha direção, sorrisos alegres estampando os lábios de cada uma delas.

Não sei se eu podia nos considerar verdadeiramente amigas. Não compartilhávamos segredos umas com as outras nem nada assim, mas andávamos juntas o tempo todo, fazíamos compras e passávamos noites inteiras assistindo romances e chorando como bebês com as histórias comoventes na tela. Acho que éramos mais como um grupinho exclusivo, mas isso não vinha ao caso agora.

– Hey! Como foi o verão de vocês? – perguntei entusiasticamente, abraçando cada uma delas por cerca de cinco segundos, sorrindo o mais genuinamente que podia.

Na verdade, ali, agora, com elas, tão alegres, normais e... humanas, não era tão difícil. Na verdade, era até fácil. Eu podia esquecer todos os meus problemas sobrenaturais e assustadores e simplesmente me focar em ouvir o que cada uma tinha a me dizer. Podia rir com elas, rir de verdade, e agir como a verdadeira garota superficial, fútil e popular que todos achavam que eu era.

Era uma máscara no mínimo interessante de se manter, mas era apenas isso... Uma máscara. É, talvez tivesse um fundinho de realidade naquilo ás vezes, nos pequenos chiliques desnecessários que eu dava, ou como quando encontramos um rato no jardim e eu sai correndo e gritando até para em cima de um dos vários bancos de concreto espalhados por toda a extensão dos gramados e jardins.

Eu realmente queria ser aquela garota. Ousaria até mesmo dizer que queria isso desesperadamente, e era indescritivelmente frustrante não poder.

Eu não queria tudo aquilo. Não queria ser uma “bruxa”, nem fazer parte de um pacto de sangue do qual não só a minha, como a vida de todos aqueles quatro idiotas, dependia. Não pedi ter todo esse fardo nas minhas costas, e nem para ter que me preocupar com cada movimento e cada vez que perco a cabeça por que, posso acabar matando alguém sem querer simplesmente por que erraram na quantidade de açúcar no meu Mocaccino e eu estava em um dia ruim. Mas pelo menos eu tinha esses momentos com as garotas, alegres e normais, e aproveitava cada um deles ao máximo.

Cada uma me contou cada detalhe de suas férias enquanto andávamos pelos corredores, abarrotados de alunos procurando seus armários, se abraçando, conversando, cada um mais alto que o outro, o que tornava tudo apenas um zumbido de vozes ao fundo. Detectava meu nome em algumas conversas, mas nunca ouvia o suficiente para saber de onde elas vinham.

Caminhamos até a secretaria e pegamos nossos horários. Tínhamos poucos em comum, e mesmo podendo resolver isso com apenas uma pequena carga de Poder, preferi não. Eu as adorava, mas durante as aulas, preferia ficar sozinha, pensando e tentando aprender a matéria, falhando constantemente nessa ultima.

Bom, eu não era um gênio. Nunca fui, e sempre soube disso, mas não fazia diferença nenhuma. Eu já tinha um futuro, que me fora sim, entregue no colo, diferente do que os professores viviam dizendo, na intenção de nos colocar medo e nos forçar a estudar mais. Nunca surtia muito efeito, porém, em quase ninguém. A maioria dos adolescentes ali já tinham futuros traçados também, alguns impostos pelos pais, como Aaron, alguns, como eu, simplesmente não ligavam, e outros, como Caleb, já se esforçavam bastante sem precisar de mais incentivos. Eu só tirava notas boas o suficiente para passar de ano, e quando não, fazia uma doação generosa á escola, mas nunca passava com méritos, e meu anuário continha poucas atividades extracurriculares de cambio intelectual. Não que eu tivesse tempo para praticar xadrez, apesar de saber sim, jogar, e de ser boa nisso.

Por fim, enquanto Susan terminava de falar sobre as fabulosas compras em Paris, Meg me lançou um olhar atrevido e divertido e a interrompeu.

– E você? O que fez nos últimos dois meses Srtª. Petrova? – perguntou, brincando com meu sobrenome com fazia quando mostrava que não queria ser enrolada, queria os detalhes sórdidos, e queria ! Mas fiquei decepcionada ao perceber que, dessa vez, talvez pela primeira vez, não havia detalhes sórdidos. Nem aventuras emocionantes, nem amores incríveis de uma semana no máximo, nem festas alucinantes até o sol raiar.

– Nada essencialmente... Passei o verão inteiro em casa, descansando um pouco. – falei, meu desânimo transparecendo minha voz completamente.

– Ah claro, e eu sou a fada do dente! – ironizou, cruzando os braços e me olhando, completamente cínica.

Então você é! É verdade. Eu passei as férias treinando, dormindo e comendo. Nada de fabuloso ou assustador, fazer o que? Aceitem! – exclamei, alterada de repente. Eu estava mesmo com os nervos á flor da pele, e qualquer brincadeira ou comentário que pudesse ter qualquer efeito “não positivo” sobre mim, era multiplicado por dez em minha cabeça, e eu me sentia ofendida, ou ultrajada.

– É só que você costumava ser um pouquinho mais divertida! – murmurou Mary, torcendo o nariz e cruzando os braços também. Revirei os olhos e respirei fundo, me lembrando que aquilo era só eu. Elas não tinham feito nada. Não tinha motivos para que eu fosse rude, e elas tinham mesmo razão. A proximidade de outubro, que trazia consigo aquela data tão temida... Meu aniversário. Céus, aquilo estava acabando comigo, me matando por dentro, tão avassalador que talvez eu nem chegasse viva ao maldito marco dos 18 anos.

Parte de mim queria isso. Por mais estúpido e egocêntrico que aquilo soasse, cerca de cinquenta por cento do meu ser ansiava por acabar com aquela ansiedade, com aquele sofrimento constante e todo o medo que me corroia.

Mas os outros cinquenta por cento não me deixariam fazer nada que resultasse em consequências perigosas. Essa era a minha metade boa, sã, responsável, e que nunca ousaria tirar a própria vida ou qualquer coisa do tipo por algo assim.

Era como naqueles desenhos animados onde os personagens tem um anjo e um capetinha, cada um em um ombro, gritando coisas completamente contraditórias em meus ouvidos.

Admito que segui o serzinho de roupa vermelha e calda pontuda mais vezes do que devia, mas não podia dizer que me arrependia disso. Tudo me levara á ser quem era hoje, e por mais narcisista que possa parecer, eu gosto de mim mesmo do jeito que sou. Forte, corajosa, irônica, e talvez até mesmo um pouco fria. Eu não gostava dessa ultima característica particularmente, mas ela era essencial no mundo louco ao qual eu tinha a sorte, ou o azar, de pertencer.

– Eu sei, me desculpem... Eu tenho andando meio estressada, não dormi direito ontem á noite depois da festa na represa. – O sinal do primeiro tempo tocou, alto e estridente, me interrompendo, mas minhas desculpas já haviam surtido o efeito desejado e as três tinham sorrisos compreensivos em seus rostos, aquiescendo e me reconfortando também, no caso de Meg, que acariciava momentânea e levemente meu braço direito.

Me despedi, não exatamente contente, mas satisfeita por saber que nada ficaria mal entre mim e elas, e segui com um sorriso de falso animo para a sala da trigonometria, me preparando para minha primeira aula do ano.

Era sim, o que eles faziam, mas dessa vez assumia uma conotação completamente diferente e nada lisonjeira para mim, e me deixava desconfortável.

Senti um tremor, que não tinha nada á ver com o vento frio que soprava fortemente, atirando várias mechas soltas de meu rabo de cavalo longo contra o rosto, atravessar meu corpo, minhas pernas, mais nuas do que deveriam, permanecendo arrepiadas até que a ventania repentina parasse e as folhas alaranjadas e amarronzadas começassem á planar, de volta ao chão. Bom, talvez tivesse sido um pouco de frio também, afinal, eu nunca usei o uniforme do modo como ele deveria ser usado.

Minhas saias eram todas mais curtas do que deveriam e, devido á customização, atingiam mais ou menos a metade da minha coxa. Eu usaria calças jeans tranquilamente, se fosse esse o caso, mas a única vez que o fizera, havia me causado mais problemas do que a mini saia, e um sermão de meia hora sobre postura moral.

Pro diabo com elas!, eu me lembrava de ter exclamado quando Winters, o diretor da escola, começou a falar sobre as tradições da escola. Isso me rendeu um trabalho de cinco páginas sobre a Marcha Feminista, mas valeu á pena. Eu também me recusava a usar o blazer azul marinho, e o suéter cinza xadrez ridículo, que me lembrava nerds com óculos fundo de garrafa e aparelho dental e não combinava nada com a saia azul escura.

Nada contra os nerds, é claro! Eles até me ajudavam de vez em quando, com alguns trabalhos de física e trigonometria que ninguém com um QI médio como o meu seria capaz de resolver.

As únicas peças que eu mantinha inalteradas eram a camisa social branca, desabotoada até o busto, e a gravata azul petróleo. Eu intercalava os dias que usava e não usava essa ultima, e quando a usava era quase completamente solta, de modo que não fazia muita diferença. Toda essa rebeldia de vestuário havia me criado problemas no início, é claro, mas tudo se resolveu no instante em que minha herança foi liberada.

Eu ainda não tinha acesso total á todos os bens da minha família. Como única herdeira, meu pai havia me deixado inúmeros conglomerados de empresas ao redor do mundo, e que agora eram comandados pelos diretores ou algo assim, e que continuavam á dar lucros gigantescos, o que mantinha a conta no banco sempre crescente.

Eu só tinha acesso á vinte por cento da quantia total, mas era o suficiente para que eu nunca precisasse me preocupar, não só agora como para o resto da vida e das vinte próximas gerações, ou mais.

Kath! Oooooi! – Uma voz conhecida me tirou de meus pensamentos, e me virei para ver minhas amigas, Mary Bretfort, Megan McClougth e Susan Welch, todas caminhando no topo de seus saltos altos em minha direção, sorrisos alegres estampando os lábios de cada uma delas.

Não sei se eu podia nos considerar verdadeiramente amigas. Não compartilhávamos segredos umas com as outras nem nada assim, mas andávamos juntas o tempo todo, fazíamos compras e passávamos noites inteiras assistindo romances e chorando como bebês com as histórias comoventes na tela. Acho que éramos mais como um grupinho exclusivo, mas isso não vinha ao caso agora.

– Hey! Como foi o verão de vocês? – perguntei entusiasticamente, abraçando cada uma delas por cerca de cinco segundos, sorrindo o mais genuinamente que podia.

Na verdade, ali, agora, com elas, tão alegres, normais e... humanas, não era tão difícil. Na verdade, era até fácil. Eu podia esquecer todos os meus problemas sobrenaturais e assustadores e simplesmente me focar em ouvir o que cada uma tinha a me dizer. Podia rir com elas, rir de verdade, e agir como a verdadeira garota superficial, fútil e popular que todos achavam que eu era.

Era uma máscara no mínimo interessante de se manter, mas era apenas isso... Uma máscara. É, talvez tivesse um fundinho de realidade naquilo ás vezes, nos pequenos chiliques desnecessários que eu dava, ou como quando encontramos um rato no jardim e eu sai correndo e gritando até para em cima de um dos vários bancos de concreto espalhados por toda a extensão dos gramados e jardins.

Eu realmente queria ser aquela garota. Ousaria até mesmo dizer que queria isso desesperadamente, e era indescritivelmente frustrante não poder.

Eu não queria tudo aquilo. Não queria ser uma “bruxa”, nem fazer parte de um pacto de sangue do qual não só a minha, como a vida de todos aqueles quatro idiotas, dependia. Não pedi ter todo esse fardo nas minhas costas, e nem para ter que me preocupar com cada movimento e cada vez que perco a cabeça por que, posso acabar matando alguém sem querer simplesmente por que erraram na quantidade de açúcar no meu Mocaccino e eu estava em um dia ruim. Mas pelo menos eu tinha esses momentos com as garotas, alegres e normais, e aproveitava cada um deles ao máximo.

Cada uma me contou cada detalhe de suas férias enquanto andávamos pelos corredores, abarrotados de alunos procurando seus armários, se abraçando, conversando, cada um mais alto que o outro, o que tornava tudo apenas um zumbido de vozes ao fundo. Detectava meu nome em algumas conversas, mas nunca ouvia o suficiente para saber de onde elas vinham.

Caminhamos até a secretaria e pegamos nossos horários. Tínhamos poucos em comum, e mesmo podendo resolver isso com apenas uma pequena carga de Poder, preferi não. Eu as adorava, mas durante as aulas, preferia ficar sozinha, pensando e tentando aprender a matéria, falhando constantemente nessa ultima.

Bom, eu não era um gênio. Nunca fui, e sempre soube disso, mas não fazia diferença nenhuma. Eu já tinha um futuro, que me fora sim, entregue no colo, diferente do que os professores viviam dizendo, na intenção de nos colocar medo e nos forçar a estudar mais. Nunca surtia muito efeito, porém, em quase ninguém. A maioria dos adolescentes ali já tinham futuros traçados também, alguns impostos pelos pais, como Aaron, alguns, como eu, simplesmente não ligavam, e outros, como Caleb, já se esforçavam bastante sem precisar de mais incentivos. Eu só tirava notas boas o suficiente para passar de ano, e quando não, fazia uma doação generosa á escola, mas nunca passava com méritos, e meu anuário continha poucas atividades extracurriculares de cambio intelectual. Não que eu tivesse tempo para praticar xadrez, apesar de saber sim, jogar, e de ser boa nisso.

Por fim, enquanto Susan terminava de falar sobre as fabulosas compras em Paris, Meg me lançou um olhar atrevido e divertido e a interrompeu.

– E você? O que fez nos últimos dois meses Srtª. Petrova? – perguntou, brincando com meu sobrenome com fazia quando mostrava que não queria ser enrolada, queria os detalhes sórdidos, e queria ! Mas fiquei decepcionada ao perceber que, dessa vez, talvez pela primeira vez, não havia detalhes sórdidos. Nem aventuras emocionantes, nem amores incríveis de uma semana no máximo, nem festas alucinantes até o sol raiar.

– Nada essencialmente... Passei o verão inteiro em casa, descansando um pouco. – falei, meu desânimo transparecendo minha voz completamente.

– Ah claro, e eu sou a fada do dente! – ironizou, cruzando os braços e me olhando, completamente cínica.

Então você é! É verdade. Eu passei as férias treinando, dormindo e comendo. Nada de fabuloso ou assustador, fazer o que? Aceitem! – exclamei, alterada de repente. Eu estava mesmo com os nervos á flor da pele, e qualquer brincadeira ou comentário que pudesse ter qualquer efeito “não positivo” sobre mim, era multiplicado por dez em minha cabeça, e eu me sentia ofendida, ou ultrajada.

– É só que você costumava ser um pouquinho mais divertida! – murmurou Mary, torcendo o nariz e cruzando os braços também. Revirei os olhos e respirei fundo, me lembrando que aquilo era só eu. Elas não tinham feito nada. Não tinha motivos para que eu fosse rude, e elas tinham mesmo razão. A proximidade de outubro, que trazia consigo aquela data tão temida... Meu aniversário. Céus, aquilo estava acabando comigo, me matando por dentro, tão avassalador que talvez eu nem chegasse viva ao maldito marco dos 18 anos.

Parte de mim queria isso. Por mais estúpido e egocêntrico que aquilo soasse, cerca de cinquenta por cento do meu ser ansiava por acabar com aquela ansiedade, com aquele sofrimento constante e todo o medo que me corroia.

Mas os outros cinquenta por cento não me deixariam fazer nada que resultasse em consequências perigosas. Essa era a minha metade boa, sã, responsável, e que nunca ousaria tirar a própria vida ou qualquer coisa do tipo por algo assim.

Era como naqueles desenhos animados onde os personagens tem um anjo e um capetinha, cada um em um ombro, gritando coisas completamente contraditórias em meus ouvidos.

Admito que segui o serzinho de roupa vermelha e calda pontuda mais vezes do que devia, mas não podia dizer que me arrependia disso. Tudo me levara á ser quem era hoje, e por mais narcisista que possa parecer, eu gosto de mim mesmo do jeito que sou. Forte, corajosa, irônica, e talvez até mesmo um pouco fria. Eu não gostava dessa ultima característica particularmente, mas ela era essencial no mundo louco ao qual eu tinha a sorte, ou o azar, de pertencer.

– Eu sei, me desculpem... Eu tenho andando meio estressada, não dormi direito ontem á noite depois da festa na represa. – O sinal do primeiro tempo tocou, alto e estridente, me interrompendo, mas minhas desculpas já haviam surtido o efeito desejado e as três tinham sorrisos compreensivos em seus rostos, aquiescendo e me reconfortando também, no caso de Meg, que acariciava momentânea e levemente meu braço direito.

Me despedi, não exatamente contente, mas satisfeita por saber que nada ficaria mal entre mim e elas, e segui com um sorriso de falso animo para a sala da trigonometria, me preparando para minha primeira aula do ano.



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Notas finais do capítulo

Ah, pra quem não sabe, FF é um modelo de Ferrari que é simplesmente top hahaha não consegui pensar em outra palavra para descrever...
Espero de todo o coração que tenham gostado! Reviews??



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