Agora Pule. escrita por loliveira


Capítulo 1
Agora, pule.


Notas iniciais do capítulo

o que vocês acham do meu lado filosofa?



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Eu nunca fui o tipo de garota que você veria hoje. Mas eu nunca fui o tipo de garota que serei amanhã também. Eu era acostumada com aquela vida: você acorda, você levanta e você cumprimenta seus pais ou irmãos ou colegas de quarto, tios, padrastos e primos ou quem quer que acorde com você na sua casa ou apartamento ou o que quer que seja.

Porque a vida é assim: uma rotina. Até mesmo para os aventureiros.

E então você vai para a escola, o trabalho, a faculdade ou se tiver sorte de ter pulado essa parte da vida, vai tomar chá da manhã com as senhoras do bairro. E então você almoça, e volta àquela rotina. E é sempre assim.

Eu realmente fazia isso tudo, como eu disse, uma rotina. Era confortável. Era seguro. Era esperável e estável. Até mesmo quando eu me apaixonava. Era seguro. Confortável. Estável. Era bom. Você conhece um bom homem ou uma boa mulher, em um bom shopping, uma boa cafeteria, um clube de golfe ou quem sabe um bar. Você troca palavras e decide se a pessoa vale a pena ou não. Caso valha você conversa mais um pouco. E a conversa leva a beijos, que levam a ‘Bom dias’ e ‘Boa noites’ e depois se você tiver sorte, leva à um anel de dez quilates e um vestido branco pronto para ser usado em x dias.

Os jovens diriam ser a lei da vida, nascer, crescer, reproduzir, morrer. Vivemos para criarmos vida. Os mais velhos chamariam de um ciclo, nada melhor que mais um ciclo para acrescentar a lista de milhares que essas pessoas já não tiveram que passar sua vida inteira.

Mas você tem momentos bons também. Você fica feliz quando consegue o emprego que sempre quis, e quando ganha um cachorro de sua mãe também. E sem nem comentar o quanto você fica feliz depois que as substâncias de um pedaço de chocolate se infiltram no seu sangue. Ou a resposta dos seus hormônios. E quando você vê sua amiga de infância se casar ou ter filhos. E quando você vê os filhos crescendo.

Ok. Eu não sou tão velha assim. Na verdade, eu não sou nem um pouco velha. A não ser que para você ter 23 é ser velha.

Mas a minha rotina me fazia velha. Todos os dias, eu ia para a biblioteca e vivia o mundo que os personagens viviam. Vivia o mundo que eu sabia que nunca iria viver. E no fundo era isso que eu queria. Como eu disse antes, era confortável e seguro. Era premeditado. Todos já sabiam o que iria acontecer comigo. Eu conheceria alguém nerd o suficiente para se apaixonar por mim e nós teríamos um caso de amor parecido com o de adolescentes – com medo um do outro, vergonha e hesitantes para tudo. Depois eu casaria com ele e nós ficaríamos nessa chata situação até termos nossos filhos e rezariamos para que eles não sejam como nós. Dois desafortunados regidos pelo destino que eles mesmos escolheram.

Mas a questão era eu não queria ser assim. Eu não queria ter o mesmo destino que eu via milhares de colegas terem. Mas porque era tão difícil? Porque era tão difícil mudar ou simplesmente aceitar o que todos falavam que eu teria que aceitar?

As coisas ficaram um pouco mais claras quando eu conheci Logan. E não ele não é italiano ou espanhol e muito menos francês. Ele é... ele. Eu não percebia naquela época, mas ele era tudo que eu precisava, mesmo que eu não conseguia ver. Eu precisava de alguém que pulasse quando eu dissesse ‘pule’ e que me empurrasse junto. Eu precisava de um motivo para amar a vida não para querer fugir dela. Eu precisava de alguém que me fizesse ver que a vida aqui e agora era melhor que qualquer história super hiper mega emocionante dos livros. Que eu poderia ser melhor que qualquer personagem. Eu. Aqui. Agora.

Acho que é meio inútil dizer que me apaixonei. Mas eu tive medo. Medo de mudanças. Medo de ter medo de pular se ele dissesse ‘pule’. Medo de me comprometer e acabar como minhas amigas casadas e com filhos presas a rotina. Medo de me tornar o que eu já estava sendo minha vida toda.

Mas lá ele estava. Gentil, com um senso de humor perfeito, aventureiro, que sabia sobre bebidas mais do que sabia sobre Deus e que sabia me fazer sentir como se fosse mais bonita que a personagem mais bonita do conto mais romântico que já existiu.

Eu estava... meio a meio. Mas quando ele me beijava... ah, quando ele me beijava era como se eu fosse inteira e certa. Como se tudo fosse certo. Eu não temia a rotina se a rotina fosse com ele.

Ele me ensinou coisas. Palavras também. Palavras como extraordinário ou fritura.

Me ensinou pôquer, ensinou a palavra ‘sim’ e a palavra ‘não’ e onde eu deveria usá-las. Ensinou que todos somos diferentes e que todas as histórias também eram diferentes e a prova disso era que ninguém na vida real era preso por plagiar a vida de outra pessoa. Isso só acontecia com livros. E filmes e propagandas. Mas não com a vida das pessoas. Porque cada uma vivia de uma maneira diferente de acordo com as escolhas que fez a vida inteira. Me ensinou uns bons palavrões também e me ensinou que gritar e brigar de vez em quando não é crime. Me ensinou que eu posso ser uma louca e as pessoas não vão me julgar porque ou serei como elas ou serei como elas sonham em ser.

Mas então, houve uma época, que eu estraguei tudo – como eu sempre estragava. Eu hesitei e o mandei embora ao mesmo tempo que fugia e foi a pior coisa que eu fiz na vida.

Mas então um dia, quando já estava cansada de lágrimas, eu fui para a biblioteca. E no dicionário  eu me deparei com uma palavra.

Extraordinário.

E eu sabia que minha vida seria assim desde Logan estivesse nela.

E então eu liguei para sua irmã, e ela me disse onde ele estava. Num lugar fora do país. Então eu aproveitei os feriados da faculdade e eu fui para onde ele estava. Em uma montanha, lá embaixo havia o mar e as pessoas de divertiam descendo até lá.

E então eu me declarei. Eu contei praticamente tudo que você está sabendo agora. E eu não ligava a mínima se eu estava falando de sexo em algumas partes e os pais dele estavam bem atrás de nós. Eu não ligava se eu falava de Deus ou de bebidas.

Ele ficou quieto quando terminei. Na verdade, todos ficaram. Mas então ele disse que acreditaria em mim se eu fizesse algo para ele.

Eu perguntei o que seria.

E ele respondeu:

–Agora, pule.

E eu não olhei para trás. Também não liguei para os protestos das pessoas atrás de nós, dizendo que furei a fila, e não liguei se eu estava totalmente vestida como cheguei ao lugar.

Eu não vou dizer onde era, onde estávamos ou em que época foi, porque nunca será a mais coisa para você como foi para mim. Você se sentirá bem a sua maneira. Como foi para mim.

Foi diferente de tudo que eu já havia vivenciado.

E eu sorri.

E ele sorriu.

E eu peguei a mão dele.

E eu não olhei para o que estava nos esperando lá embaixo.

E ele pulou.

E eu pulei.



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Notas finais do capítulo

SOOOOOOOOOOOOO?