Isabelle observava da janela de seu quarto, as pessoas caminhando pela rua coberta de neve, todas com expressões felizes, que mostrava que seus Natais provavelmente estavam recheados de alegria.

Ela bufou desanimada. Queria estar naquele espírito natalino. Lembrava-se do Natal do ano anterior, onde mais ou menos naquela mesma hora, ela entregara os presentes aos seus irmãos e seus pais. Agora, um de seus irmãos, Max, estava morto, e seus pais estavam se divorciando. Alec e Jace eram praticamente tudo o que lhe restava, e Jace estava ainda pior do que ela. No final, era só Alec.

Ouviu batidas na porta e mal se virou para atender. Alguns segundos depois, Alec entrou no quarto, parecendo meio confuso, como se não tivesse certeza se deveria ter entrado.

— Hey, Alec — Isabelle disse, mostrando que estava tudo bem. Alec sorriu suavemente e se sentou ao lado da irmã na cama, estendendo-lhe uma caixinha cor de rosa envolta com um laço branco.

— Feliz Natal — ele disse então. A garota tomou a caixa das mãos do irmão mais velho e a abriu.

— Obrigada, Alec... É lindo — agradeceu, enquanto tirava o colar da caixinha. Era uma bela corrente de prata com um pingente em ouro branco, que consistia em um “I” numa caligrafia refinada, cujo fim dava início a um “L”.

Não pôde deixar de notar que o irmão parecia orgulhoso consigo mesmo. E tinha motivos, afinal de contas, era a primeira vez que ele dera a Isabelle um presente do qual ela realmente gostasse. Isabelle imaginou que os meses que o irmão passara namorando Magnus os deram um melhor senso de moda, mas preferiu ficar quieta.

— Vamos — Alec chamou, levantando-se em seguida. — Eu comprei pizzas para comemorarmos o nosso Natal.

— Sinto muito, Alec. Eu não consigo fazer isso sem... — Não conseguiu terminar a frase. Nem precisou, porém. Ela jamais precisaria de muitas palavras para ser entendida pelo irmão.

— Sem o Max — ele completou, com a voz embargada. — Tudo bem, eu entendo — e saiu do quarto em seguida.

Isabelle não esperava que Alec viesse vê-la novamente, especialmente após deixa-lo sozinho num momento que para ele também deveria ser difícil de enfrentar. Estava conformada em permanecer na cama o resto do dia, quando ouviu a porta se abrindo novamente.

Imediatamente sentiu o aroma doce do chocolate quente com marshmellow que Alec fazia e, pela primeira vez naquele dia, conseguiu sorrir.

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Era Natal. Alec tinha dez anos, e Isabelle, oito. Todos estavam felizes naquela data, como era de costume em todos os Natais. Eram apenas eles, Max, e os pais. Nada poderia estar mais perfeito. Até a hora dos presentes.

Alec tinha ganhado uma linda lâmina serafim, e Isabelle, um kit de maquiagem. Não era que ela não gostasse do kit, já que desde criança sempre fora muito vaidosa, era que ela realmente queria uma lâmina serafim. Queria aprender a lutar com armas, como todos os outros Caçadores das Sombras.

Ficou extremamente irritada com os pais, especialmente quando lhe disseram que era muito nova para ter uma. Irrompeu em lágrimas e saiu, de braços cruzados e pisando forte. Fora correndo direto para o seu quarto, onde andou de um lado para outro, extremamente indignada.

Após aproximadamente uns cinco minutos, estava quase convencida que simplesmente lhe deixariam ali, emburrada com o além, quando a porta do quarto foi subitamente aberta e por ela entrou Alec, com a lâmina serafim em uma mão e uma caneca na outra. Apesar de estar curiosa em saber o porquê de o irmão ter ido atrás dela, estava determinada a não falar com ninguém até que lhe dessem uma lâmina igual à de Alec.

— Izzy, o que foi? — ele perguntou indo na direção dela. Tentou ignorá-lo por algum tempo, mas ele parecia tão determinado a falar com ela quanto ela estava a não falar com ele.

— Eu quero armas legais de presente. Iguais às suas — disse com uma voz baixa, quase inaudível ao garoto. Ele deu um sorriso e falou no ouvido da irmã num tom que só ela poderia ouvir.

— Eu te deixo brincar com a minha lâmina. — Ao ouvir aquelas palavras, os olhos de Isabelle automaticamente se iluminaram e ela quase pulou de alegria.

— Sério?

— Sério — ele respondeu. — Agora tome — e estendeu a caneca para a irmã. Só então ela parou para sentir o doce aroma de chocolate no ar. Aceitou a caneca e tomou um longo gole; quando a abaixou, provavelmente estava com um bigode de chocolate quente na boca, porque Alec começou a gargalhar. Ela começou a rir junto e assim eles ficaram por longos minutos.

— Por que você fez isso? — ela perguntou após terem se acalmado. O irmão mais velho deu de ombros.

— Não é isso que um irmão faz quando o outro está chateado? Chocolate quente? — ele deu um sorriso e saiu correndo do quarto, provavelmente indo brincar com o seu presente de Natal.

^~^

— Você não precisava ter feito isso — Isabelle disse quando o irmão entrou no quarto com a caneca na mão, embora não conseguisse esconder o sorriso.

— Precisava sim. E se você não quiser, eu quero — rebateu tentando parecer ofendido. A irmã pegou a caneca que até então estava segurando e deu um longo gole no chocolate quente, como da primeira vez. Quando a abaixou e olhou para Alec, ele deu um sorriso.

— Estou com bigode de chocolate? — ela perguntou, embora soubesse a resposta. O irmão concordou e os dois deram uma risada breve, muito menor do que aquela gargalhada que trocaram oito anos antes.

— Era tão mais fácil naquela época. Nós tínhamos Max, nossos pais... — ela comentou, olhando para o chão, triste.

— Hey, não fique assim. Você ainda tem a mim — Alec disse, a abraçando pelos ombros. Ela se aninhou nos braços do irmão e permaneceu em silêncio.

— Eu praticamente só tenho a você.

— E isso é tão terrível assim? — o garoto dizia fingindo estar ofendido. Isabelle sorriu.

— Não, não é terrível. Não tanto assim — ele deu um soco leve no ombro da irmã, que sorriu novamente. 

— Feliz Natal, Izzy.

— Pra você também, Alec.

Então eles permaneceram em silêncio por vários minutos, abraçados um no outro, e envolvidos pelo ainda remanescente aroma de chocolate que invadia o quarto.

Então Isabelle percebeu, com alívio, que ela podia não estar bem.

Mas enquanto tivesse Alec, ela estaria.