- Meu irmão ainda não se especializou, Adrian.

     Cinco pares de olhos se voltaram para meu irmão.

     Tá, isso não era totalmente verdade. Eu devia elaborar: ele tinha se especializado, só não sabia disso. Ele era um usuário de espírito. Mas eu nunca contei isso à ele, e nunca deixei meu pai contar, porque... Bem, eu não sei direito. Eu só queria proteger ele, e omitir essa informação até que fosse absolutamente necessário que ele soubesse, me pareceu a melhor maneira de fazer isso.

     Ele não sabia de nada, nem dos efeitos do espírito e nem de seus poderes. Só sabia que era muito bom em compulsão, e que tinha surtos de raiva. E ele tinha absoluta certeza de que isso tinha algo a ver com o fato de não ter se especializado.

    Lissa imediatamente verificou a aura de Alex. Para Adrian isso era algo mais fácil, quase instantâneo. E eu pude ver pelos olhos de Liss, a aura dourado brilhante de Alex, provando que ele realmente era um usuário de espírito. Lissa arquejou.

    - Eu sou uma aberração, não é? – falou meu irmão triste.

    - De jeito nenhum! – minha amiga se apressou – É só que...

    - É tão raro, que... – falou Adrian, dando de ombros. – Sabe, Alex, eu e Lissa também não somos especializados.

    Alex ficou atônito por um instante, e depois o canto de sua boca se levantou um pouquinho, no fantasma de um sorriso.

     Adrian riu: - Bem, não de verdade, claro, nós somos...

     Não, não, pensei. Olhei para Adrian com o cenho franzido e fiz um sinal de ''não'' na linha da minha cintura, onde Alex não pudesse ver. Adrian gaguejou.

     - Somos... Somos especiais, claro. – falou. – Somos diferentes.

     - É. – concordou Mia. – Esse mundo tem muita gente igual. Ser diferente aqui, é frequentemente algo bom.

     - Você definitivamente não devia se envergonhar disso. – Liss concordou.

     - Claro, não ter vergonha porque eu tenho 18 anos e não me especializei. Fácil. – zombou meu irmão.

     - Voce sabe quantos anos eu tenho? – falou Adrian, irritado. – Não responda.

     Todos rimos, e eu revirei os olhos: - Adrian, fala sério, você não é tão velho assim. – falei, e era verdade. Ele era o que, três, quatro anos mais velho que eu.

     - Bem, talvez você esteja ficando velha e caindo em negação. – provocou.

     Bufei enquanto todos riram, e percebi com alívio, que o assunto estava encerrado.

     Rose! Ele é usuário de espírito! Como você não nos contou que conhecia outro? E porque não contou isso pra ele? Você sabe que vamos conversar sobre isso depois, certo?, Liss projetou seus pensamentos pelo laço.

    Bem, encerrado por enquanto.

     - Mas voltando ao assunto, vocês estavam falando sobre a coroação de Liss? – perguntei, finalmente me sentando. Christian assentiu, não parecendo nem um pouco feliz.

     - Ela vive reclamando disso-

     - ''Disso'' o quê? – indaguei.

     Ele gesticulou raivosamente: - Tudo! Das preparações, dos deveres, da responsabilidade... Mas ao mesmo tempo, ela não desiste. E eu só queria saber porquê!

     - Porque é muito importante, Christian! Nós já conversamos sobre isso! – Liss tentou se defender. Ela parecia cansada.

     - Importante para quem? Pra você? Ou praqueles estúpidos Morois?

     - Uh, Chris, teoricamente, você também é um estúpido Moroi. – Adrian o lembrou.

     - Cale a boca, Adrian!

     - Liss. – falei, interrompendo a quase briga dos dois – Você não devia fazer isso se não quer.

     - Tem um monte de outros candidatos. – falou Eddie.

     - Por acaso vocês estão contra mim agora? – reclamou ela, jogando as mãos para cima.

     - Não, Lissa! Só achamos que você devia fazer o que gosta, o que quer. Não o que acha preciso. Acredite em mim, nada bom vem desse tipo de atitude. – falou Mia. – Lembra quando eu era horrível com vocês na Academia? Eu fazia aquelas coisas porque achava que as pessoas esperavam isso de mim.

     - É, tipo quando eu dei um soco na cara de Mia e- Ah, espere. – falei, botando um dedo no queixo – Não conta se você gostou, certo?

     Adrian gargalhou, e Mia franziu a testa: - Sabe, as vezes eu penso se fiz a coisa certa fazendo as pazes com você.

     Eu sorri: - Desde que você não me irrite de novo.

     Liss riu, mas logo parou. Ela olhou para algo atrás de mim, e parecia prestes a falar alguma coisa, quando alguém puxou meu ombro suavemente. Eu fiquei tão assustada que imediatamente me virei, pronta para dar um tapa em quem quer que fosse.

     Relaxei meu braço, toda a raiva se esvaindo. Me virei e vi um homem alto, de feições fortes e angulares. O cabelo castanho tão escuro que era quase preto caía sensualmente nos olhos azuis, eletrizantes.

     Ele usava uma calça jeans que apertava em todos os lugares certos, sapatos – italianos, se o conheço bem – e a camiseta social que dei de aniversário, as mangas dobradas até o meio de seu antebraço. Vestido todo de preto, ele estava sombrio e elegante de um jeito que eu nunca vira em outra pessoa, e me deu seu sorriso mais brilhante.

     - Sentiu minha falta?

     O barulho que eu fiz teria me envergonhado até a morte, mas eu estava muito ocupada processando o fato de que Nicholas estava aqui. Afundei o rosto no pescoço dele, e o cheiro de sua colônia quase me fez derreter ali mesmo.

     Seu peito vibrou com uma risada contida: - Vou tomar isso como um sim.

     E nenhum de nós dois gostávamos muito de ‘’demonstrações de afeto’’ em público, mas apenas porque eu não estava a fim de explicar para eles quem tinha acabado de chegar, eu o agarrei pela gola do terno e dei um beijo singelo em sua boca, me pressionando mais para perto dele.

     Nenhuma dúvida depois disso.

     Depois de alguns segundos de silêncio chocado, Christian se pronunciou: - Rose, você disse que não havia mais nada que não sabíamos sobre você!

     - Pare de reclamar, Ozera. Agora não tem mais nada. Juro.

     - Como se sua palavra valesse alguma coisa. Christian Ozera. – se apresentou, oferecendo a mão para meu namorado.

     - Nicholas Peter.

     Eddie franziu o cenho: - Eddie Castille, prazer. – Nick acenou e sorriu de leve. – ''Nicholas Peter''? Não quero ser rude, mas não se parece muito com Dragomir, ou Ozera.

     Nicholas deu de ombros: - Minha família vive com os humanos há muitos anos. Com o passar dos tempos, pareceu apropriado que nós... Americanizássemos a coisa. Meu nome verdadeiro é Nikolai Petrovskii, mas eu preferiria que me chamassem de Nicholas. – ele sorriu como quem se desculpa, e virou para Liss – Voce é a princesa Dragomir. Lissa, certo?

     Lissa pareceu surpresa, e pelo laço, senti seu deleite ao ouvir Lissa, e não Vasilisa. Ela me mandou um olhar  desconfiado, e eu dei de ombros.

     - Eu mesma. – sorriu.

     - Você deve ser Adrian, o bêbado com os cigarros.

     - Esse seria eu. – ele levantou o copo sorrindo, e todos rimos.

     - E eu? Não ganho um ''olá'' não, Nico?? – falou meu irmão.

     - Vê se para de me chamar de Nico, pirralho. – Nicholas falou, com uma sombra de sorriso nos lábios. Lissa e Tasha pareceram assustadas com a possível hostilidade de Nicholas, mas relaxaram quando eu sorri e os dois riram.

     - Ah, parem de se espetar, os dois. – sorri – Eu sei que se amam. Na verdade, eu tenho medo de que um dia voce me troque pelo meu irmão.

     - Pelo amor de Deus! – exclamou Alex. Nicholas apenas me abraçou e disse:

     - Eu não te trocaria por mais ninguém no mundo, e você sabe disso.

     - Aw, que fofo! – falou Lissa.

     - Aw, que nojento! – retrucou Christian, sempre sarcástico.

     - Cale a boca, Christian. Eu não posso contar quantas vezes acordei de madrugada com vocês... Quer saber, esquece. – zombei.

     Não sei quem ficou mais vermelho: Liss ou Christian. Ele abriu a boca várias vezes para falar, mas não saiu nada. Levantei as mãos em sinal de rendição:

     - Desculpe, Liss, mas seu namorado começou.

     Todos seguraram o riso. Nicholas beijou de leve meu cabelo.

     - Eu não sabia que voce era tão má. – comentou.

     Eu sorri de lado: - Voce não faz idéia.