Like A Shooting Star escrita por Li_VA


Capítulo 4
Causa e Consequência




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– Ótimo, Alex. Agora por culpa sua, estamos presos aqui. – falei. Eu acho que nunca na minha vida eu quis tanto bater em meu irmão quanto eu queria agora.

– Ah, Rose, nem vem! Se voce não tivesse entrado em pânico e contado pra Abe que eu tinha dormido com Tatiana, não estaríamos nessa situação agora!

Resisti ao impulso de jogar alguma coisa nele: - Por favor, você precisa dizer isso em voz alta? E como exatamente você sabe que não estaríamos aqui agora?

– Eu tinha um plano. – falou superiormente.

– Ah é? – perguntei com sarcasmo – E qual seria seu plano maravilhoso??

– Eu ia compelir ele. – falou, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Minha irritação imediatamente deu espaço para nervosismo: - Não! Alex, eu já disse, eu não quero que você faça isso! Não use compulsão nos outros! – pedi desesperada.

– Porque eu não devia?! Eu vou morrer se fizer isso, Rose? Eu tenho um maldito dom, me deixe usá-lo!! – falou, olhando para mim.

– Não! Olha, eu não poso explicar, eu só...

– Só é uma garota irritante que não me deixa fazer a única coisa em que sou bom. Que merda, Rose, pare de tentar controlar a minha vida! – falou, e foi para o quarto, o som da porta batendo ecoando forte em meus ouvidos.

A verdade era que eu não podia deixá-lo usar isso por motivos que ele não entendia. Eu tinha feito uma bosta de trabalho tentando ajudar ela, e eu não queria que Alex tivesse o mesmo destino infeliz.

Suspirei e fui para meu quarto, ouvindo o som distinto de algo se quebrando atrás de portas fechadas.

Eu. Estava. Morrendo. De. Tédio.

Não sabia quanto tempo mais aguentava ficar naquele quarto. Não tinha nada pra fazer no computador, nada passando na TV, e Abe tinha sumido com os dois cartões-chave – o original e outro que ele tinha pego hoje pela manhã e deixado no quarto -, nos trancando pelo lado de fora. Eu nem sabia que isso era possível. Uma grande falha de segurança, se analisássemos por um lado.

Meu celular tocou, e ao olhar o identificador de chamadas, vi o nome de Adrian. Graças a Deus.

– Alô?

– Pequena Dhampir! Tudo bem? Não te vi pelo resto do dia! – falou preocupado.

– Sim, Adrian, eu resolvi descansar um pouco. – falei de dentes trincados.

– Oh, bem. Ei, estou ligando pra dizer que estamos te esperando daqui a uma hora no salão de jantar, ok?

– Uma hora?? Adrian, você o quê, acha que eu acordo arrumada desse jeito? Me dá umas duas horas, pelo amor de Deus.

– Mas eu achei que sua beleza fosse natural! Você me enganou esse tempo todo?? – exclamou, num tom de falso choque. Bufei. – Rose, por favor, duas horas é muito tempo.

– Uma hora e meia?? Por favor? – pedi, na minha melhor voz de choro.

Eu praticamente vi ele revirando os olhos do outro lado da linha: - Tanto faz. Você pode comparecer, senhorita-negociante-atarefada??

Eu ri: - Claro que sim, Adrian. Sempre tenho tempo pra vocês.

– Ok. Não se atrase, Rose. Vejo você daqui a uma hora e meia. – e desligou.

Ok. Então, eu tenho uma hora e meia pra tomar banho, escolher uma roupa, fazer minha maquiagem, e mais importante de tudo, descobrir como sair desse quarto. Tudo bem. Sem pânico.

Durante dez minutos, eu olhei, procurei e pensei em todas as maneiras possíveis de sair dali, e nenhuma delas acabava bem. Geralmente envolvia uma fratura exposta ou um membro faltando. Sentei no sofá e olhei frustrada para a varanda. Porque Abe continuava nos tratando como crianças? Tá, eu sei a resposta pra essa. Porque nós agíamos como tais. Mas ele devia-

A varanda.

Como não pensei nisso antes?

Me levantei e analisei a queda. Era de uns bons seis metros, e definitivamente não era uma altura da qual alguém devia pular, mas era minha única esperança. Uma brisa gelada me causou um calafrio. Se ao menos houvesse algo que facilitasse a descida...

Me inclinei o máximo que pude e olhei para o prédio, não impedindo um sorriso. Uma trepadeira, que parecia firme e viva, crescera junto a parede. Era mantida no lugar por pequenos ganchos em pontos estratégicos, e seus galhos pareciam grossos o suficiente para suportar o peso de uma pessoa.

Pelo menos eu achava que sim.

Pesei minhas opções por alguns segundos. Eu podia arriscar descer por ela, o que dependeria muito da minha sorte no momento, ou podia tentar achar uma solução menos perigosa, o que ia contar muito com minha paciência e senso de absurdo.

Não era nem uma escolha.

Porém, minha vitória durou pouco quando percebi que teria que levar Alex. Por mais que eu não quisesse ter que ficar com ele por muito tempo, especialmente depois do que tinha acontecido de tarde, eu precisava dele perto de mim, para impedi-lo de fazer algo estúpido como dormir com Tatiana de novo.

– Alex!

– Que é? – gritou do quarto.

– Se arrume! Nós vamos sair!

– Rose, eu... Não que eu esteja com medo. Mas. Eu não acho que isso é uma boa idéia. – falou Alex do meu lado. Mal sabia ele que nem eu.

– Não seja bobo, Alex – eu falei, mas estava tremendo por dentro. – Vai dar tudo certo. Olha, eu desço primeiro, ok? Preste atenção em mim e tente não morrer.

– Não precisa jogar seus reflexos de Dhampir na minha cara, ok? Tudo bem, vai. Deus, tomara que eu não estrague essa camisa. – resmungou. Eu teria rido se qualquer outra pessoa tivesse dito isso, mas sabia que ele levava seu guarda-roupa tão a sério quanto eu.

– Idem. – murmurei. - Tudo bem, aqui vou eu.

Pulei o vidro e pisei com cuidado no parapeito. O vento frio novamente me fez tremer. Segurei no galho principal com as mãos e com o pé direito dei o impulso. Eu quase caí, mas reforcei meu aperto nos galhos, o que machucou levemente minha mão.

Coloquei meus pés em galhos mais baixos e comecei a descer, e tudo estava indo perfeitamente bem, até a hora em que eu me distraí e pisei em um galho mais fino.

Bem mais fino.

Perdi completamente meu equilíbrio, e de repente não havia mais nada sob meus pés.

Gritei enquanto caía. Alex imediatamente gritou meu nome, mas antes que eu chegasse no chão, joguei minhas pernas para a frente, e quando meus pés tocaram a parede eu me impulsionei, na esperança de diminuir o impacto. Pousei nada suavemente de quadril no chão, e sabia que iria acordar no dia seguinte com um hematoma gigantesco.

Mesmo assim, quis chorar de felicidade quando percebi que nada havia se deslocado. Precisei de toda minha força de vontade para não deitar no chão de alívio. Só porque não tinha morrido, não significava que eu ia sujar meu cabelo – e minha roupa mais ainda.

– Rose! Você está bem? – gritou Alex.

– E- Eu. Aham. – balbuciei.

– Sabe, eu acho que vou ficar por aqui. Tipo... Tá frio? – ele disse, mas pareceu uma pergunta.

– Nem pense – eu falei. Eu ia fazer ele descer por bem ou por mal. – Pode descer.

– Rose, eu vou cair! Eu não tenho seu equilíbrio!

– Deixe de besteira, Alex. Vem logo.

Ele olhou pra mim desesperado, mas eu não cedi. Simplesmente continuei olhando. Ele suspirou e começou a descer. Surpreendentemente, ele se saiu bem melhor que eu. Não caiu. E ainda se soltou da planta quando estava a quase um metro do chão – bem na hora que o galho quebrou e caiu do nosso lado. Suspirei de alívio.

– Voce está bem?? – perguntei, tirando uma folha do ombro dele. Ele estava mais pálido que o comum, mas sorriu.

– Isso foi muito irado! Na próxima vez que formos à Arena eu vou naquela parede de escalada. – falou.

Eu ri. Arena era um clube na Turquia, aonde costumávamos ir – ele, quase todo dia, eu, pelo menos nos fins de semana. Era um lugar gigantesco, durante o dia oferecia atividades mais pesadas, como equitação, esportes, e a famosa parede de escalada, com 28 metros de altura.

À noite, eles abriam a boate, e frequentemente haviam shows e eventos privados no salão de festas. E vamos apenas dizer que das três piscinas, a aquecida é maravilhosa.

– Vamos, já estamos atrasados. – falei.

Começamos a andar, mas logo começou a ventar muito. O sol ainda não havia nascido, deixando o ar noturno – diurno? – gelado até mesmo para mim.

– Deus, que frio. – murmurei.

Demos dois passos antes de Alex tirar sua jaqueta e a por sobre meus ombros.

Fiquei surpresa. Eram raros os momentos em que ele fazia esse tipo de coisa, e eu não esperava um gesto desses depois da discussão que tivemos.

Andamos num silêncio confortável até chegarmos no salão. Quando Alex abriu a porta, avistei Lissa e Christian sentados numa mesa, acompanhados por Adrian, Eddie e Mia. Dimitri e Tasha não estavam à vista, e não pude deixar de sorrir quando reparei nisso. Lissa se virou e acenou pra mim, levantando uma sombrancelha quando dirigiu o olhar a meu irmão. Sorri de volta.

– Rose?

– Hm?

– Eu... Olha, me desculpa por ter gritado com voce mais cedo... Quero dizer... Sei lá, às vezes eu só...

– Voce perde o controle. Eu sei. – falei. Ele botou a mão no meu braço, e eu me encolhi com o toque gélido. – Tudo bem, eu sei que não é culpa sua.

– É. Eu... Eu não sei, às vezes eu simplesmente falo sem pensar, você sabe que eu faço muito isso... E as coisas saem sem querer. De qualquer maneira, é como se eu não soubesse o que estou fazendo. E eu sei que isso não é desculpa, mas... – ele engasgou, tentando achar as palavras certas.

Decidi interromper antes que ele tivesse um ataque: - Tudo bem, Alex. Eu sei que você não quis dizer isso de verdade, então...

Claro, no segundo em que eu tentei acertar tudo entre nós, ele pulou de volta para seu jeito naturalmente sarcástico de ser: - Não que você não seja chata, mas...

Revirei os olhos: - Nem chegamos direito e já estou me arrependendo de ter trazido você.

– Até parece que você ia conseguir ficar longe de mim por muito tempo. – provocou.

Imediatamente, sacudi a jaqueta de meus ombros e deixei que caísse no chão.

– Rose! – exclamou, momentaneamente sério. – Isso é Armani!

– Olha a minha cara de preocupada!

– Eu estava brincando! – falou rindo. Eu tentei, mas não pude me impedir de rir com ele. – Viu, você tá rindo!

– Uma caridade faz bem de vez em quando.

Ele gargalhou, e vestiu a jaqueta: - Por favor. Você me ama, e nós dois sabemos disso.

– É, bem, só porque eu te amo não quer dizer que eu não te odeie às vezes.

Ele apenas riu mais alto e me acompanhou até a mesa.

– Ei. Boa noite. – cumprimentei. – Mia.

Ela pareceu chocada ao me ver, mas rapidamente sorriu e me abraçou, o que eu não esperava.

– Rose! É bom te ver, eu achei que... – ela nào terminou a frase, constrangida.

Dei de ombros, indicando que estava tudo bem: - É bom te ver também, Mia. Eu... Senti sua falta. – falei, me surpreendendo ao perceber que era verdade.

– Pequena Dhampir! Achei que você ia me dar um bolo. – Adrian se levantou e me abraçou rapidamente.

Mordi a língua: - Pois é. House um pequeno... Imprevisto. – olhei rigidamente para meu irmão, que apenas deu de ombros - Mudando de assunto. Eu queria apresentar vocês meu irmão, Alex.

– Meio-irmão. – Alex sorriu, debochado. – Se você olhar de perto, eu tenho o melhor cabelo.

– Nossa Alex, isso foi rude da sua parte. Vou me lembrar de contar isso pra Janine depois da sua hora de dormir. Sabe, quando os adultos de verdade estiverem conversando? – respondi.

Çok komik. – resmungou. Eu sorri. Três anos nem era tanta diferença assim, especialmente considerando que ele já tinha dezoito anos, mas eu gostava de implicar sempre que podia.

– Então podemos assumir que você é mais velha? – perguntou Liss, sorrindo.

– Uau! – exclamou Christian, chamando minha atenção. – Você some por três anos e volta com um pai assustador-

– Ele não é assustador. – dissemos eu e Alex, o que fez Adrian e Lissa rirem, e nós dois reviramos os olhos.

Christian continuou como se não tivesse sido interrompido: - E um irmão? O que mais não sabemos sobre você?

– Na verdade, nada. – falei, sem olhar para ele. – Sobre o que vocês estavam conversando agora?

– Sobre a coroação de Lissa. – Christian resmungou, todo o bom humor indo embora.

– Coroação? Você é a famosa princesa Dragomir? Nova rainha? – perguntou Alex. – Rose, porque eu só fiquei sabendo disso agora?

Dei de ombros, mostrando que claramente não ligava. Lissa corou.

– É, sou eu. Vasilisa Dragomir, mas me chame só de Lissa. – se apresentou. Liss olhou para os outros e tomou a tarefa de fazer as apresentações – Christian Ozera-

– Namorado dela. – ele acrescentou, sem dúvida mostrando para meu irmão que Lissa estava fora de limites.

Liss continuou: - Eddie Castille, um de meus guardiões, Mia Rinaldi, e... Adrian?

Adrian estava com a cara mais esquisita que eu já vi. Ele parecia em transe, e olhava para Alex vidrado. Não demorou mais que alguns segundos para eu fazer a conexão.

Ele está analisando a aura dele. Ah, merda.

– Então... Alex.... – começou.

– Adrian – interrompi. Não queria que ele tocasse nesse assunto. Perguntei a primeira coisa que veio na minha mente. – Como vai sua mãe?

Ele me ignorou completamente.

– Em qual elemento voce é especializado?

Silêncio.

Alex olhou pra mim daquele jeito meio desesperado meio triste. Eu só sabia de duas coisas que faziam meu irmão ficar daquele jeito: uma menção à Marina (longa história), ou alguém tocar nesse assunto.

– Ei, calma. Eles não vão ligar pra isso – murmurei, e apertei seu ombro de leve.

E depois me virei para Adrian. Estava meio chateada com ele, mas entendia porque ele tinha perguntado. Respirei fundo.

– Meu irmão ainda não se especializou, Adrian.



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