CAPÍTULO 008

Tóquio

Uma mulher de meia idade chegou em casa e viu a sala desarrumada, com pacotes de salgados e latinha de refrigerante. Ela, obviamente, limpou aquilo tudo, foi para a cozinha e depois para o quarto do seu sobrinho mais velho. Ela ficou batendo na porta, pois estava trancada. A pessoa do outro lado dela gostava de se trancar.

— Querido, você chegou finalmente do trabalho... Já faz três semanas que estava desaparecido.

— Tia, sou adulto, sei muito bem aonde ir. Não precisa ficar com medo quando passo tempo longe. Eu trouxe dinheiro, está sobre a mesa de centro da sala, dentro de um envelope.

— Eu não quero dinheiro, quero sua atenção. Ray, meu sobrinho...

Um rapaz de 14 anos, um pouco alto e magro chegou em casa e viu a tia batendo na porta do seu irmão mais velho.

— O que foi?

— O seu irmão. Ele chegou em casa e nem me avisou. Ele está agindo assim tão estranho de uns meses para cá. E isso foi culpa daquela viagem que ele fez para a Europa. Ele ficou antissocial desde que veio daquele país... como é?

— Nova Manchester?

— Sim. Olhe, fale com ele, pelo amor de Deus. E pelo amor que ele sente por seus falecidos pais. Não é justo eu ser deixada de lado...

— Tudo bem, tia. Falarei agora com ele.

A mulher saiu dali. O rapaz bateu na porta e o outro abriu. Não dava para ver seu rosto ainda pois ele preferia deixar a luz do quarto apagada.

— Você deve ser fã do Batman. Aqui tá igual uma batcaverna.

— Ei, olhe só, os digiescolhidos já chegaram na Ilha Arquivo. O Picodevimon está lá com alguns capangas. Vai ser a oportunidade única de testá-los.

— Não concordo com o que você está fazendo, irmão. Por nossa culpa, os digiescolhidos foram chamados para uma nova missão. O Digimundo estava em paz até vandalizarmos tudo.

— Aiko, cale a boca. Preciso dominar o Digimundo o mais rápido possível. Meros pivetes serão apenas uma distração para mim. Aliás, vamos voltar o mais rápido possível. A minha ajudante está ansiosa por mim.

— Eu a odeio.

Os dois entraram por um portal no computador. A tia deles aproveitou que o quarto estava quase aberto para entrar de uma vez. Surpreendeu-se ao ver que ali não havia mais ninguém.

...

Betamon olhava atentamente para o rosto de Mia e percebeu que a menina andava muito triste, sempre olhando para trás. Observou também Paulo e sentiu algo de muito estranho vindo dele, algo ameaçador.

— Mia, vamos voltar para os outros. Eu já estou com saudade — disse o digimon.

— Não, precisamos seguir o nosso próprio caminho. O Paulo está nos ajudando a encontrar respostas — respondeu a menina enquanto segurava os pequenos braços do seu digimon anfíbio. — Vai dar tudo certo.

— É verdade, Betamon, confie em mim. O meu parceiro, Impmon, é um digimon muito amável e alegre. Eu tenho certeza que vocês serão bons amigos. Agora precisamos subir ao topo da montanha o quanto antes. Nossas perguntas finalmente serão respondidas — conclui o rapaz.

Enquanto isso na montanha central, aliás, dentro da montanha central, existia um laboratório secreto, um imenso laboratório com vários televisores que vigiavam toda a ilha. Semelhante ao laboratório da pirâmide de Etemon. Servia também como uma espécie de prisão, com muitos corredores e túneis. Tudo isso fora construído pelo EXÉRCITO NEGRO muito antes de Paulo e Impmon entrarem nele. O motivo inicial da construção desse laboratório ainda é desconhecido. Porém, foi mudado para servir de prisão aos digiescolhidos. Alguns Mekanorimons vigiavam o local. Agora sabemos porque Mia corria um grande risco ao subir a montanha.

Ainda no Spa Digimon, Ruan lamentava muito por não ter feito nada para proteger sua amiga. Ele começou a socar a parede da fachada do estabelecimento. Jin tentava acalmá-lo, mas sem sucesso. Daí Ruan teve uma ideia.

— Venham, meus amigos. Eu contarei tudo o que sei.

— Ruan você vai mesmo contar? — perguntou Guardromon referindo-se sobre a verdade envolvendo Paulo. O androide já sabia, pois seu parceiro havia contado anteriormente.

— Contar o quê? O que tem pra nos contar? — perguntou Rose.

Eles foram novamente ao restaurante. Ruan criou coragem e começou a contar tudo que descobriu sobre o envolvimento de Paulo Victor com o Picodevimon e com os digimaus. Todos ficaram perplexos com o que o rapaz disse. Rose quase entrou em colapso, sendo acudida por Palmon. Jin não sabia o que dizer. Por um tempo eles não acreditaram, mas depois raciocinaram sobre o acontecimento na caverna e concluíram que Paulo era mau e Mia corria perigo.

— E agora, o que faremos? — perguntou Rose com grande preocupação.

— Vamos salvá-la. Derrotaremos Paulo e salvaremos Mi... — disse Jin, mas logo foi interrompido por uma grande explosão.

— Mas o que aconteceu?! — Ruan correu para fora ver o motivo da explosão. A fumaça se alastrou para todos os lados e vinha da fachada do spa. Era um ataque de digimaus.

Um Mekanorimon invadiu o Spa e começou a destruí-lo assustando todos os digimons que lá trabalhavam. Ruan ficou furioso e pediu ao Guardromon que o detesse. O androide foi lutar com o outro robô. Eles disputavam uma briga corpo a corpo.

— Guardromon, aguente firme. Venceremos ele como vencemos todos os outros — falou o rapaz.

— Eu acho que não — retrucou o...

— PICODEVIMON!! — responderam todos.

— Ora cale-se, nós o vencemos várias vezes. Seu medroso e covarde — disse Mushroomon enquanto mostrava a língua. A provocação foi tanta que o morcegou atacou com suas seringas. É claro que os digimons não deixaram barato.

— Palmon digivolve para... Togemon.

— Mushroomon digivolve para... Woodmon.

— E agora vai criar coragem e nos enfrentar? — perguntou Togemon.

Dessa vez Picodevimon soltou um sorriso parecendo que ia lutar, mas na verdade era outro. Apareceu DarkMeramon para finalmente lutar contra os digiescolhidos. Ele era um dos mais fortes do exército e não perdia facilmente.

— Digiescolhidos, finalmente. Acabarei com vocês num instante.

Enquanto o digimon de fogo ainda se apresentava, Guardromon lutava intensamente com Mekanorimon. Este atacava com um raio laser enquanto o outro com granadas que saíam de seu punho. A luta era acirrada.

— Rajada de Espinhos!

— Ataque de Madeira!

— Fogo! — o golpe que DarkMeramon fez o protegeu dos ataques dos outros dois. Ele era muito forte e revidava facilmente os ataques.

Ruan não aguentou mais ver a luta entre os digimons, e resolveu tentar "ajudar" Guardromon. Ele pegou uma pedra e jogou em Mekanorimon, este o golpeou facilmente jogando o menino para longe. Guardromon enfureceu-se ao ver isso e partiu para cima do outro.

Enquanto isso na trilha da montanha central, Mia ouviu uma explosão vinda da direção do Spa. Ela fica olhando mais atentamente junto com o Betamon. Paulo se distanciou um pouco, pegou um pequeno controle no bolso da calça e apertou em um botão. Um buraco sob Mia e Betamon surgiu e engoliu os dois, era uma armadilha planejada.

— Ótimo. No lugar certo e na hora certa — disse o rapaz. — Agora é melhor pegar a entrada secreta antes que alguém me veja.

O rapaz entrou dentro da parede na encosta da montanha. Era uma espécie de holograma para enganar.

Guardromon socou várias vezes Mekanorimon. O Bakemon que estava dentro do robô saiu com medo e tentou fugir.

— Guardromon, não deixe ele fugir. Destrua-o — disse Ruan.

— Granada! — a arma saiu do braço do androide e foi em direção ao Bakemon. O digimon fantasma foi destruído.

DarkMeramon era muito forte e derrotou Togemon e Woodmon facilmente, porém...

— Punho do Rei das Feras! — este golpe atingiu o digimau. Era Leomon que veio para ajudar os digiescolhidos.

— Ruan, você está bem?

— Estou, Guardromon. Obrigado.

DarkMeramon lutou contra Leomon, mas ficou em desvantagem pois o digimon leão ficara muito forte desde que morreu e reviveu na primeira temporada. Enfim, o digimon de fogo saiu e Picodevimon também.

— Digiescolhidos, finalmente eu encontrei vocês.

— Você é Leomon? — perguntou Jin.

— Sim, sou. Venham, rápido. Não temos muito tempo.

Mia acordou numa cela juntamente com Betamon. Ela ficou inconsciente por um bom tempo. Olhou para o seu parceiro que estava ao seu lado e o viu muito concentrado olhando para o lado de fora da cela. Ela olhou e viu Paulo com os braços cruzados e um sorriso no rosto.

— Paulo, nós fomos presos. Nos ajude a sair daqui.

— Mia não está vendo que foi ele o responsável de tudo isso? — falou Betamon.

— É verdade isso, Paulo? Foi você?

— Sim, fui eu.

— Mas por quê? — perguntou profundamente decepcionada.

— Porque eu fui mandado pelo Grande Soberano para destruí-los. Ele disse que vocês espalham o caos no digimundo. Vocês são a pestilência desse mundo.

— Você não sabe o que está falando! Não sei quem é esse Soberano, mas ele mentiu pra você. Somos inocentes, cara, inocentes — disse a garota tentando convencê-lo.

— Ele foi bondoso conosco. Nos deu um exército e ainda deu ordem dizendo para nos obedecer cegamente. Ele é um anjo, um homem bom. Ele quer a restauração do digimundo.

— Você é um digiescolhido com nós. Você tem um digivice, apesar de ser diferente. Isso não basta para você crer?

— Eu... eu não acredito — o garoto saiu correndo e foi se trancar no laboratório junto de Impmon.

Mia ficou muito decepcionada consigo mesma por não ter acreditado em Ruan. Ela se sentiu péssima.

Paulo ficou pensando nas palavras em que a garota lhe dissera, e pedia ajuda ao seu parceiro digimon para encontrar uma solução. Ele ficou com muita dúvida em relação ao seu passado e ao seu envolvimento com o Grande Soberano.

— Impmon me ajude, por favor. Eu estou confuso. Não sei mais em quem acreditar.

— Ai ai minha mente está confusa também.

— Nunca vimos o rosto dele, não o conhecemos de verdade... — o garoto foi interrompido por uma explosão. Um imenso buraco se abriu na parede do imenso laboratório. Dentre as fumaças surgiram DarkMeramon e Picodevimon.

— Por que fez isso, DarkMeramon? Vocês capturaram os digiescolhidos? — o rapaz se aproximou dos dois digimaus, mas foi atacado por Picodevimon. Impmon salvou o garoto de ser atingido por uma seringa.

— Que droga! Por que fez isso, Picodevimon? Nós somos os seus superiores — reclamou Impmon.

— Vocês nunca foram nossos superiores. Vocês sempre foram usados pelo Grande Soberano. Ele mentiu quando lhes deu autoridade sobre o Exército Negro. Agora acabou, vocês serão presos com os outros. Agora quem está no comando sou eu — finalizou DarkMeramon.

Paulo e Impmon não acreditaram, mas foram enganados todo esse tempo por alguém que eles acreditavam divino. A decepção não só ficou com Mia, mas sobrou para eles dois. Usados para um propósito: pegar os digiescolhidos. Isso foi um desgosto sem precedentes para os dois.