CAPÍTULO 004

Picodevimon observava os digiescolhidos de longe sempre com uma luneta. Ele agora era o ajudante de DarkMeramon ─ um digimon que foi enviado para destruir os digiescolhidos. Os vilões se mantinham à distância para poderem atacar quando as crianças fossem para um lugar aberto. Eles seguiam a mesma estrada que os garotos passaram.

─ Chefe ─ disse Picodevimon ─ Eles estão perto de um grande campo aberto perto da cidade de Monzaemon.

─ Isso. Finalmente os Bakemons e eu atacaremos os pirralhos! ─ disse DarkMeramon.

─ Não, vocês não atacarão agora ─ disse uma voz atrás de uma árvore. ─ Esperem até o momento certo para isso ─ ele apareceu.

─ Chefe Impmon, o senhor por aqui? ─ perguntou Picodevimon.

Das sombras apareceu a figura pequena de um digimon. O ser era pequeno em tamanho, com os pelos roxos, uma carinha amarela na barriga, luvas vermelhas e um lenço da mesma cor. O sujeitinho tinha grandes olhos verdes que ficaram intensos na sombra da floresta até a sua aparição.

DarkMeramon, o coronel responsável daquela operação, reconheceu a chefia daquele digimon.

DIGIMON: IMPMON

Atributo: Vírus;

Nível: Criança;

UM DIGIMON “PEQUENO DEMÔNIO” NA FORMA CRIANÇA. APESAR DE PEQUENO ELE CONSEGUE LUTAR CONTRA DIGIMONS BEM MAIORES. PARECE QUE TUDO INDICA QUE ELE É UM DOS COMANDANTES DA TROPAS DE DIGIMAUS QUE FORAM PARA A ILHA.

─ Senhor, quando chegou aqui? Veio acompanhado do seu parceiro? ─ perguntou DarkMeramon

─ Há algum tempo. Se eu vim só ou acompanhado isso não é problema seu, insolente! Não sei como o chefe máximo recrutou um bando de mongoloides burros e retardados feito vocês. Deixem os digiescolhidos dormirem tranquilos esta noite. Eles precisarão antes da verdadeira luta começar — Impmon soltou um sorriso maléfico.

Impmon deu um salto bastante alto ficando sobre a copa da árvore. Ele conseguiu ver a cidade de Monzaemon mais distante. Uma gota de suor apareceu em seu rosto. Ficou com a cara não mais confiante, e sim desconfiado ou com dúvidas.

“Será mesmo que esses digiescolhidos só vieram para causar o mau? Eles não parecem uma ameça ou grande coisa” ─ pensou

DarkMeramon começou a fechar os punhos e a aumentar cada vez mais o seu calor. Picodevimon ficou com medo pois o coronel jamais havia reagido assim. O semblante do digimon de fogo estava diferente, alterado. Era como se depois de ter levado a bronca do Impmon estivesse com muita raiva. Isso Picodevimon sentiu ao ver as chamas do monstro aumentaram. Segundos depois diminuiu, para o alívio do morcego.

Mia e os outros finalmente saíram da floresta e entraram num campo bem espaçoso. Rose não aguentou mais andar e sentou, os demais também se sentaram e puderam apreciar o vento gostoso que passava. Eles começavam a ligar para o fato de não terem nenhum tipo de proteção, porque já estava escurecendo e o sol não era mais o problema no fim de tarde. Rose, como sempre, chorava muito, o que despertava a fúria de Ruan.

─ Rose, eu quero conversar com você ─ disse Palmon

─ Agora não. Eu quero ficar sozinha ─ retrucou Rose

─ Mas eu quero conversar com você...

─ Já chega, Palmon! Maldita hora que vim parar no digimundo, que te conheci e que conheci os outros. Eu quero voltar pra casa!

─ Por que você é tão má comigo? ─ Palmon saiu correndo e chorando entrando na floresta.

─ Eu não preciso de você. Pode ir embora! ─ a menina jogou o digivice no chão.

─ Escuta aqui ─ disse Ruan enfurecido. ─ Você não tem o direito de falar assim com o seu digimon! Ele não tem culpa de ter escolhido uma garota chata e insuportável como parceira.

─ Não quero conversar com você, garoto imprestável ─ retrucou a burguesinha.

─ Parem os dois, por favor ─ interrompeu Mia. ─ Mais do que nunca precisamos ficar unidos e resolver essa situação com união. Não sabemos o que nos aguarda daqui por diante.

─ Pessoal venham aqui. O Jin conseguiu algo ─ chamou Mushroomon.

A novidade dessa vez era que o tablet de Jin estava funcionando perfeitamente mesmo com a bateria esgotada. Ele então acessou o GPS da localização de onde estava, mas não obteve êxito. Então algo muito estranho aconteceu, uma mensagem desconhecida surgiu na tela do tablet, era um mapa da ilha. Quem mandou essa mensagem?

─ Precisamos achar a Palmon. Já tá escuro ─ disse Mia.

─ Não se preocupem. Iremos atrás dela ─ disse Betamon.

─ Ela não deve estar muito longe, eu acho que ela não se afastaria pra tão longe ─ falou Hagurumon.

─ Eu também vou, não saiam daqui ─ concluiu Mushroomon.

Então os três digimons foram atrás de Palmon que havia se afastado do grupo. Eles se sentiam no dever de achar o outro digimon.

Enquanto isso, Palmon se encontrava sentada embaixo de uma árvore, sozinha, apenas pensando o motivo de sua parceira ser tão ignorante. Ela ficou sentada por alguns minutos, logo após ouviu um barulho vindo de um arbusto próximo.

─ Quem está ai? ─ ela ficou assustada com o barulho.

─ Olá Palmon, eu sou Impmon ─ o digimon roxo apareceu diante dela.

─ Impmon? Não existem Impmons na Ilha Arquivo.

─ Isso não importa agora. O que realmente importa é que eu vi tudo de longe. A discussão entre você e a digiescolhida. Eu posso afirmar, ela não te merece. Você é boa demais para ter uma pessoa assim que nem ela.

─ Eu só queria entender o motivo dela ser assim. Eu gosto dela, mas ela nunca me viu como parceira.

─ Então esta feito. Eu serei seu parceiro de agora em diante. Venha comigo, eu tenho muitos amigos legais. Deixe aquela menina má para lá.

─ Mas e a Rose?

─ Depois você conta pra ela que saiu comigo. Agora venha, por favor.

─ Sim, eu vou.

A voz de Betamon foi ouvida por todos os lados. Ele estava procurando a amiga que tinha se afastado do grupo. Os três digimons chamavam a amiga até que a veem sozinha.

─ O que vocês estão fazendo aqui? ─ perguntou Palmon.

─ Viemos te buscar ─ respondeu Betamon.

─ Todos estão preocupados com você ─ disse Hagurumon.

─ Pessoal vamos embora, está ficando tarde ─ disse Mushroomon assustado.

─ Vocês falam isso porque não têm uma parceira má.

─ Vem, não fique chateada com isso ─ concluiu Betamon.

─ Esperem. Eu quero apresentar um amigo ele... Sumiu?

Impmon sumiu para não ser descoberto pelos demais. Ele ficou escondido atrás de uma árvore.

...

Gennai desceu a sua nave num gramado bastante verde. Alguns homens armados estavam presente naquele lugar. O homem desceu da nave e caminhou em direção a um prédio alto com janelas de vidro. Era bem tecnológico. Havia uma rampa em que ele subiu até chegar na recepção. Retirou a identidade digital, dentro do seu aparelho (um tipo diferente de digivice), passou num painel e conseguiu passar na catraca automática. O elevador era de vidro e dava para ver a parte central do prédio. Muitos programas (pessoas que não são humanas nem digimons) trabalhavam ali. Além deles, havia digimons.

A mulher esperava-o no andar. Era a mesma em que ele havia visitado dias antes dos digiescolhidos irem ao digimundo e também quando o próprio deus dragão havia entregado os aparelhos.

─ Chegou mais cedo do que eu imaginava, Linx.

─ Quando o assunto em pauta é bom, eu sou uma das primeiras a chegar na reunião de Servidor. O Ädolphus está esperando por você.

Ambos chegaram na sala de reunião. O tal Ädolphus era um velho com o mesmo uniforme de Gennai. Ele tinha um vasto cabelo branco, liso que ia até a cintura; possuía um bigode alvo com uma barba um tanto longa. Possuía uma espada na cintura.

─ A nossa reunião não pode começar com nós três ─ disse Linx.

─ Cheguei. O LinK aqui é pontual ─ LinK, um dos cinco membros do servidor do digimundo. Era o mais jovem de todos, de estatura mediana, pálido, olhos verdes e cabelos pretos curtos.

Os quatro sentaram à uma mesa onde ao mesmo tempo era a área de trabalho de um computador holográfico. Gennai sentiu falta de mais alguém.

A porta abriu. Dois coturnos pretos apareceram. O loiro era o único do conselho a vestir preto. Possuía um cabelo loiro numa trança que ia além dos ombros. Retirou os óculos escuros e se sentou no seu lugar.

─ Quanto atraso, hein Weiz.

─ Chega de ironias, Gennai. Porque quis fazer essa reunião? ─ perguntou o recém chegado.

Gennai propôs discutir sobre o cenário do digimundo atual, sobre o digiescolhido que faltou para completar o time de cinco membros e sobre a ajuda que os veteranos podiam dar. Com uma votação de 3 a 2, a ideia de Gennai de trazer um casal foi aprovada. Linx, ele e Ädolphus foram os que votaram a favor; LinK e Weiz foram os que votaram contra.

─ O máximo que podemos trazer é três digiescolhidos adultos, não só um casal. Admito que os três são mais bem-vindos do que 2 ─ avisou Ädolphus.

─ A propósito, LinK, por que votou contra? ─ perguntou Gennai.

─ Tenho medo de que o nosso mundo possa se distorcer mais uma vez por causa dessa vinda de pessoas adultas.

─ E você Weiz?

─ Acho uma besteira trazer veteranos mais uma vez. Não faz sentido para mim ─ disse secamente o loiro.

─ Então está decidido. Trarei mais três digiescolhidos para ajudar as crianças lá da Ilha.

Weiz se levantou antes da reunião terminar, o que deixou Gennai bastante indignado. O loiro foi até a janela e ficou observando a linda paisagem da pradaria logo à frente.

─ Por que se levantou?

─ Gennai, não percebeu? Todas as suas decisões só causam conflitos neste mundo. Ainda não consegui entender o motivo de você permitir que aquele demônio pudesse ser o parceiro do primeiro digiescolhido. Por que fez aquilo?

─ W-Weiz-W, eu fiz o que achei que seria o certo. Aquele digimon teve um passado muito triste. Pesquisei sua história de vida e pude perceber que de algum jeito ele foi vítima de ALGUÉM que não sabemos quem.

─ Você é muito liberal. Cadê o conservadorismo? Digimons maus devem ser presos e ou exilados na ilha prisão, como aquele Astamon que nos deu tanto trabalho, ou até mesmo ser executado. Não importa se ele se arrependeu no passado, tinha que ter sido executado!

─ Parem de discutir, os dois ─ disse Linx. ─ Estamos com sérios problemas. As trevas estão crescendo mais e mais e vocês brigando por algo bobo.

─ Minha querida Linx, diga para o seu chefe que ele é o errado. Deixar um digimau ser parceiro de um digiescolhido é algo imperdoável. Ainda mais porque o digimon que deveria ter sido o verdadeiro parceiro dele ainda não foi achado. Talvez nem esteja vivo. Eu sei que essa história do Lorde Demônio é bastante diferente da ameaça atual. O que enfrentamos hoje é bem diferente. Existe um exército por aí pronto para massacrar as crianças e o Gennai permite que um demônio seja parceiro de uma criança, permite que humanos adultos retornem para este mundo... Quantas vezes você será leniente com o mau?

Weiz saiu da sala deixando os quatro para trás.

─ Weiz sendo Weiz. Por que eu não estou surpreso com isso? ─ indagou o mais velho.

─ Não se preocupe, Gennai. Tudo o que você fez foi o melhor. Se não fosse por você, os digiescolhidos antigos nunca teriam vencido o mau ─ disse Linx.

─ Sobre aquele assunto do primeiro digiescolhido, eu só considerei o que o digimon disse porque eu sabia que ele não era... totalmente digimon.

Bem distante dali, o sujeito chamado Weiz tinha uma base secreta. Nem mesmo os seus colegas sabiam da existência daquilo. Era uma montanha rochosa. Uma cachoeira podia ser vista do outro lado dela localizada numa floresta bem na base dessa mesma montanha.

O homem caminhou num local com as paredes de rochas. Mais parecia com uma caverna, porém havia uma porta metálica bem à frente. Ele colocou a mão dele no painel ao lado e a porta abriu. Apareceu um laboratório com vários aparelhos de última geração. Ele foi ao centro de controle onde uma Darcmon e um Dracmon trabalhavam.

─ Acharam alguma coisa?

─ Senhor, parece que o tal Exército do mau é liderado por uma figura chamada Grande Soberano. Mesmo assim nós nunca vimos essa figura. Nem sabemos se é real ou não ─ disse a Darcmon.

─ Chefinho, também descobrimos uma alteração violenta que aconteceu no digimundo nos últimos tempos. É como se alguém de fora daqui entrasse por meio de um portal alternativo. Acreditamos que essa pessoa seja da Terra e tenha alguma coisa a ver com esse exército ─ falou Dracmon.

─ Um humano adulto está conseguindo entrar no nosso mundo por meios alternativos. Quem será essa figura misteriosa e quais seus planos?

─ Chefe, quer que avisemos ao Gennai? ─ perguntou a mulher.

─ Nunca. Quero ver até aonde isso vai parar. Quero ver mais é o circo pegando fogo. Um dia esse Gennai cai por incompetência e eu entrarei no lugar dele como líder do conselho.

...

Voltando à Ilha Arquivo

Enquanto isso, um garoto aparentando ter 11 anos, observava de longe os digiescolhidos com um binóculo. Ele era o mesmo que Mia vira na praia no dia anterior. Ele trajava uma camisa preta, uma calça jeans preta cheia de correntes, luvas roxas, um boné preto com um símbolo da caveira, e sapatos pretos também com caveiras. Ele era moreno claro e tinha um cabelo curto que sempre ficava protegido com o boné; seus olhos chamavam atenção por serem azuis.

Retirou o digivice do bolso e viu as horas nele. Caminhou até chegar numa pequena lagoa onde bebeu água. Os grandes olhos verdes apareceram atrás dele.

─ Conseguiu controlar aqueles digimons idiotas?

─ Eles só fazem burradas ─ Impmon se aproximou dele. ─ Será mesmo que acertamos?

─ Do que está falando?

─ A gente deveria mesmo ter nos juntado com eles? Às vezes penso que caímos numa burrada. Os garotos digiescolhidos até agora não foram ameça alguma.

O garoto misterioso terminou de beber a água. Sorriu, observou o seu parceiro e fez carinho em sua cabeça.

─ O chefe é bondoso. Um anjo de luz, por assim dizer. Não creio que ele mentiria para nós. Agora vá.

Impmon voltou aos demais digimaus que estavam esperando. Ele deu uma ordem.

— Aproveitem pirralhos, pois o fim está próximo. Eu separarei todos, daí quando eles estiverem separados, darei o bote. Vejam o fim dos digiescolhidos a peste do digimundo. Como podem? Nunca perdoarei vocês por tentarem acabar com esse mundo.

DarkMeramon, Picodevimon e outros ouviam o pequeno digimon.

O digimon de fogo riu ao ouvir as palavras de Impmon. O DarkMeramon pensou:

"Idiota, acha que essa pose de autoridade toda vai durar para sempre? Espera só quando chegar a hora. Destruirei tanto você quanto o seu parceiro. Ordens do chefe".