5 Mulheres escrita por slytherina


Capítulo 1
Capítulo 1: O rompimento de Anne Marie


Notas iniciais do capítulo

Eu pretendia escrever as cinco histórias de uma vez só, como eu fiz com "O cotidiano de 5 homens" http://fanfiction.com.br/historia/115434/Misto_Frio/capitulo/1/ , o que provavelmente daria uma fic oneshot de 4 mil palavras, entretanto, esta fic não teve boa receptividade, provavelmente pelo tamanho, então resolvi postar uma história de cada vez.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/29689/chapter/1

Ela estava amarga. Dormira mal à noite. Tirou com gestos fracos a sua máscara para dormir, uma espécie de óculos de veludo negro que lhe tapava os olhos. Afastou os lençóis brancos e foi até a sacada de seu quarto, já iluminado pelo sol do meio-dia, enquanto as cortinas brancas da sacada pareciam ganhar vida, com toda aquela ventania. Admirou a vista esplêndida do mar azul cobalto a sua frente. Na primeira vez que lá estivera, apaixonara-se por aquele panorama, mas agora aquilo lhe parecia enfadonho. Alugara a peso de ouro aquela casa para passar férias. Arrebanhara alguns amigos e os arrastara consigo, para não sentir-se sozinha, abandonada, que era o que realmente estava sentindo. As grossas lágrimas que derramara na noite anterior, iniciaram novamente a escorrer por sua face e narinas. Detestava chorar. Ficava com os olhos empapados e com o nariz dilatado e pingando. Aquilo não fazia bem a sua imagem pública.

Retornou para a cama e embolou-se no lençol. Seus grossos cabelos oxigenados caíram sobre os olhos. Estavam empastados e deixando resíduos nos dedos. Estava na hora de lavá-los. Anne Marie levantou-se e foi até o banheiro. Tinha ódio de tudo aquilo. Suas férias na Sardenha, seus amigos sem personalidade, seus cabelos oxigenados, tudo era tão... frívolo. Abriu a torneira banhada a ouro. Sentiu necessidade de cigarros. Voltou para o quarto e procurou por sua cigarrilha no criado-mudo. A seguir procurou por sua piteira. Onde diabos deixara sua piteira? Achou-a sobre a long-chaise da sacada. Colocou o cigarro mentolado na piteira e o acendeu. Deu uma baforada e voltou para o banheiro. Fechou a torneira e despejou sais de sândalo. Continuou fumando a piteira enquanto retirava a camisola longa, de cetim branco que estava usando. Rapidamente acabou o cigarro. Estava ansiosa.

Voltou ao quarto e pegou outro cigarro. Sentia vontade de beber. Procurou por sua garrafinha de Scotch. Achou-a em sua bolsa Fendi. Voltou para a banheira e entrou nela. Segurava a piteira em uma mão e com a outra a garrafinha de Scotch. Ficou imaginando quantos papparazzi não dariam um rim, por uma foto sua naquela posição. Acalmou sua ansiedade por um pouco. Tomou um gole de Scotch e imaginou que deveria beber algo mais forte, para contrabalançar sua amargura. Resolveu que tomaria Absinto. Quando o cigarro acabou, tomou mais um gole de Scotch e colocou os objetos sobre a bancada da pia do banheiro. A seguir mergulhou na banheira e encharcou os cabelos.

Após o banho com shampoos e óleos aromáticos, Anne Marie enxugou-se e vestiu uma pantalona estampada com blusa de malha caqui. Colocou um largo cinto de couro na cintura e alguns colares étnicos como acessório. Secou os cabelos e escovou-os com dificuldade. Pareciam palha e eram muito longos, tornando tudo muito demorado. Irritou-se e atirou a escova longe. Sentou-se diante de sua penteadeira e procurou por seu material de maquiagem. Delineou bem os olhos e exagerou no rímel. Passou um batom cor de boca e um pouco de blush nas maçãs. Sabia se maquiar, graças a deus. Só aqueles cabelos é que estavam uma lástima. Enrolou-os num coque e colocou uma varinha japonesa para prendê-los. Sentia-se mal. Percebeu que iria recomeçar a chorar e que borraria aquela produção. Procurou por seus enormes óculos de sol em dégradés marrom.

Desceu as escadas em direção à copa. Alguns de seus amigos estavam refestelados no sofá da sala, e outros jogavam snooker. Todos a saudaram. A mais afetada de todas veio rápida num passo de marcha atlética, para dar-lhe um beijo de bom-dia. Anne Marie fez que não com a palma da mão aberta, e virou a cara. Seguiu para a cozinha e pediu café à cozinheira. Sentou-se em uma pequena mesinha que ficava na cozinha ventilada, graças a inúmeras portas que davam para a praia. A mulher serviu-a com ovo cozido, chá de hortelã e crepes suzettes. Anne Marie irritou-se. Queria café. Grasnou "café" para a mulher musculosa e magra que lhe servia o desjejum à uma hora da tarde. A outra prontamente serviu-lhe uma grande xícara de café preto fumegante.

Depois de comer um pouco e praticamente afogar-se em café, Anne Marie sentiu saudades dele. Foi até a sala e pegou o telefone estilo secador de cabelo, com o dial em uma extremidade. Ligou para Jean-Louis.

_Alô. - Uma voz feminina atendeu.

_Alô. Quero falar com Jean-Louis. Diga-lhe que é do estúdio de filmagem. - Anne Marie mentiu.

_Aguarde um momento. - A mulher deixou o telefone mudo por algum tempo.

_Alô. Aqui é Jean-Louis. Quem fala? - Uma voz grossa e rouca preencheu o ambiente. Anne Marie sentiu o coração atrasar uma batida.

_Jean, sou eu. Por favor, não desligue, eu só queria ouvir sua voz, só mais uma vez. - Anne Marie começou a chorar novamente.

_Que parte de "acabou" você não entendeu? Eu sou casado, e eu amo a minha esposa... - A voz de Jean-Louis ficou abafada, como se ele estivesse colocando a mão para não ouvirem o que falava. Provavelmente a "cobra" da mulher dele devia estar por perto.

_Jean, eu te amo e eu estou sofrendo muito. Eu sempre vou te amar. Eu sou capaz de largar tudo por você. Nada pra mim tem importância agora. Por favor, volta comigo. - Anne Marie já estava falando chorando, mas não queria largar o telefone. Este era o seu único vínculo com o homem amado.

Seus amigos da casa de férias pararam o que estavam fazendo, para escutar sua conversa ao telefone. Alguns ficaram constrangidos e saíram para a praia. Outros acenderam cigarros e encheram copos de gim, enquanto sentavam-se nos largos sofás de couro negro, para apreciar a "novela". Um deles aproximou-se de Anne Marie, abraçou-a por trás e massageou-lhe o ombro, enquanto beijava o alto de sua cabeça.

_Me esqueça Anne Marie. Eu não te amo mais. Eu não te quero mais. E não ligue mais para minha casa. - O som de um telefone sendo batido e de ligação interrompida ficaram ecoando na mente de Anne Marie, enquanto seu amigo "carinhoso" retirava o telefone de sua mão. Ele a virou para si e encarou-a.

_Não vale a pena sofrer por esse homem, capisce? Esqueça-se dele. Arranje outro namorado. Nada como outro amor para curar dores de amor. - Dizendo isso o "carinhoso" beijou-a sensualmente na boca.

Após separar-se dela ficou mirando-a nos olhos. Anne Marie, sem desviar os olhos dos dele, pegou um copo de Rum que alguém esquecera na mesinha do telefone. Jogou-o na cara de seu amigo carinhoso. A seguir saiu de casa em direção à praia. Os amigos que estavam assistindo à "novela" vaiaram o Romeu banhado em rum. O mesmo apenas sorriu e resolveu trocar a roupa estragada. Fez uma reverência exagerada para a platéia e dirigiu-se a um dos quartos de hóspedes.



Fim do ato 1


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ainda me exercitando em shortfics. A propósito, o primeiro ato situa-se entre 1968 a 1970. Anne Marie é uma atriz francesa. A fic não é uma apologia ao tabagismo ou ao alcoolismo, estes apenas eram hábitos muito difundidos nesta época.

Hey, quer ler outra fic original? Tente esta: http://fanfiction.com.br/historia/25759/Soldados/