Capítulo 22

   Elame fitou, sentada no sofá, com um olhar inocente. Ela sorriu levemente, tímida, e ficou de pé. Os cabelos eram longos e lisos, castanhos escuros. Os olhos eram verdes como os meus, e ela usava um vestidinho vermelho e um casaco da mesma cor.

   Mas o que ela me disse, faz o mundo girar ao meu redor.

   – Papai?

   Arfei, sentindo meu estômago se revirar.

   Papai? Papai?

   Ela me olhava com um leve sorriso inocente nos lábios, agarrada em seu coelhinho de pelúcia rosa.

- Q-Quem é você? – gaguejei com a voz fraca.

   A menininha rapidamente veio até mim, ela era muito pequena, um pouco menor do que Nessie. Batia um pouco abaixo da minha cintura. Ela estendeu a mão para mim.

- Sou Melanie. – ela disse com sua vozinha infantil. – Mas pode me chamar de Mel.

   Engoli em seco, sentindo meus olhos arderem. Melanie?

   Apertei sua mão, hesitante, e ela pareceu feliz com isso.

- A mamãe disse que você é o meu papai. – ela disse me tirando dos meus devaneios.

- Qual o nome da sua mãe? – perguntei, tentando controlar o tremor que percorreu meu corpo.

- Brianna. – ela disse, me olhando com curiosidade.

   Céus... Era a minha filha! Bem aqui, na minha frente!

- E onde ela está? – perguntei.

   Melanie abaixou os olhos.

- Eu não sei... Mamãe disse que eu ficaria com você agora, e me deixou aqui.

   Arregalei os olhos, estupefato. Como assim Brianna simplesmente deixava a criança aqui e ia embora?! Aquela mulher era louca, de fato!

- Mas como... – eu murmurava confuso.

    Melanie pegou em minha mão, me puxando até o sofá e me sentando lá. Rapidamente foi até sua pequena mala rosa e a abriu, retirando de lá uma bolsa com algo dentro.

- Mamãe disse para eu te entregar essas coisas. Eu não sei o que é. – ela murmurou, se sentando ao meu lado em seguida.

   Com as mãos trêmulas eu retirei o que havia dentro da bolsa de pano. Era um álbum de fotos todo branco e uma carta. Respirei fundo, tentando me acalmar.

- Ah, é o meu álbum! – Melanie disse, sorrindo abertamente e balançando levemente suas perninhas.

   Fiquei olhando para aquela garotinha ao meu lado, tão pequena, tão esperta... Era mesmo a minha filha? A minha Melanie?

   Ela levantou o rostinho para me olhar, e ao ver que eu a observava sorriu um sorriso banguela. Não pude evitar rir da visão, e ela rapidamente tapou a boca com as mãozinhas.

- Não ria! – ela disse, corando levemente.

   Tão linda...

- Você já sabia sobre mim? – perguntei me virando melhor no sofá para ficar de frente para ela.

- Não. A mamãe só falou de você ontem. – ela disse. Arregalei os olhos. – Ela chegou do trabalho e disse que eu ia ficar com você, aí me mostrou uma foto sua. Aí me trouxe para cá.

- E... E como vocês viviam? – perguntei. – Sua mãe trabalha?

- Ela trabalha em uma lanchonete perto da nossa casa. Aí a tia Maggie, uma amiga dela, cuidava de mim. – ela falou. – Mamãe não passava muito tempo comigo. Sempre estava no trabalho.

- E onde vocês moravam? – perguntei ansioso por explicações.

   Eu fiquei anos procurando por elas... E agora...

- A gente morava em Connec... – ela disse, fazendo uma careta em confusão. – Eu não sei dizer, é Connec... Ai...

   Arregalei os olhos.

- Connecticut? – perguntei.

   Melanie assentiu, sorrindo. Arfei. Eu passei esses anos todos atrás delas, mandei detetives rodarem o mundo, e elas sempre estiveram em Connecticut? Era o estado vizinho!

   Passei as mãos no rosto, e senti sua mãozinha em meu ombro. Ela me olhava com uma expressão confusa.

   Extremamente adorável.

   Quando ela ia abrir a boca para falar algo, meu celular tocou. Eu me sobressaltei devido ao susto, e rapidamente atendi.

   Bella.

- Onde você está, homem?! – ela perguntou risonha.

   Suspirei, pensando em como eu falaria aquilo...

- Er... Bella, não vai dar para eu ir. – falei, olhando para Melanie pelo canto dos olhos. Ela observava a tudo na sala, com curiosidade.

- Por que? Aconteceu algo? – ela perguntou preocupada, provavelmente notando o nervosismo em minha voz.

- Vocês não querem almoçar aqui em casa? Rose está com carro, não está? – perguntei.

   Bella suspirou no outro lado da linha.

- Quando eu chegar aí, você terá que me explicar o que está acontecendo. – ela disse.

- Tudo bem, amor. – murmurei. Pude ouvi-la rir no outro lado, e sorri.

   Logo desligamos, e eu olhei para a garotinha ao meu lado. A cópia perfeita minha e de Brianna.

   Melanie sorriu para mim, e eu me perguntei se ela tinha plena noção do que aconteceria agora... Brianna a havia deixado comigo. Não para uma visita, ou para apenas nos conhecermos. Ela basicamente abandonou a filha dela.

   Tudo bem, eu sou o pai dela, mas... Brianna realmente não tinha um pingo de amor por Melanie? Vê-la assim, tão linda... É meio impossível imaginar alguém não a amando.

   Ela só tinha 3 anos, ou seria 4?

- Quantos anos você tem? – perguntei.

   Ela olhou para os próprios dedos e me mostrou três.

- Tenho três! Vou fazer quatro aninhos no dia dezesseis de Outubro! – ela falou animada.

   Sorri para ela.

   A ficha ainda não havia caído muito bem... Era a minha filha. A minha filha que a louca da Brianna havia retirado de mim, anos atrás. E eu pensava que ela poderia estar morta, Brianna era louca o suficiente para fazer um aborto ou até mesmo se jogar da escada para perder o bebê já que chegou a tentar isso... Mas aqui está ela...

   Saudável, sorridente... Minha filha. Minha Melanie.

   Senti meus olhos arderem, e rapidamente peguei Melanie no colo, apertando-a contra meu peito. Senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, e engoli os soluços. Senti as mãozinhas quentes de Melanie em meu rosto, enxugando as lágrimas. Ela era tão pequena, era um neném.

- Você é o meu papai mesmo? – ela perguntou baixinho. – Mamãe nunca me disse nada sobre você quando eu perguntava...

   Céus, ela era tão esperta! E falava tão bem, mesmo que de um jeitinho meio enrolado! Sorri para aquela coisinha minúscula em meus braços, afastando sua franja que caía sobre seus olhos. Dei um beijo em sua testa, sentindo o cheirinho de chiclete que ela tinha. Sorri.

- Sim, eu sou seu papai. – falei.

   Melanie olhou nos meus olhos. Verde no verde. Tonalidades exatas.

   E ela sorriu.

(...)

   Luce havia levado Melanie para tomar um banho e trocar de roupa. De cara as duas se deram bem, afinal, Luce era um doce. Transmitia todo aquele carinho de mãe, era quase um tranquilizante. Eu já havia pedido para a cozinheira, a Sra. Katherine, preparar o almoço.

    Aproveitei esse momento para dar uma olhada na pequena mala de Melanie.

   Havia apenas algumas roupas, não eram muitas. No máximo uns cinco vestidinhos, três shorts e algumas blusas, assim como calcinhas cheias de babados e carneirinhos. Sorri.

   Nada além de roupas... E o álbum de fotos e a carta.

   Segurei o envelope e o álbum em minhas mãos, tentando tomar coragem para abrir ambos.

   Eu não conseguia.

   Suspirei, levando as mãos à cabeça. Logo o barulho da campainha pode ser ouvido, e eu corri até a porta. Assim que abri a mesma, vi Bella, Rose, Alice e Nessie.

   Os quatro pares de olhos me olharam com curiosidade. Bella crispou os olhos para mim, parecendo tentar ler minha mente. Vi que ela usava as muletas.

- Oi, amor! – falei, tentando parecer tranquilo e a abraçando.

   Bella virou o rosto quando fiz menção de beijá-la, e me olhou desconfiada.

- Desembucha o que aconteceu. – falou.

   Suspirei, dando um beijinho em sua testa e abrindo passagem para que elas entrassem.

   Nessie veio até mim, sorridente, e não pude evitar sorrir também. Eu a peguei no colo, enchendo sua bochecha de beijos, enquanto ela ria.

   Como será que ela reagiria quando soubesse de Melanie? E Bella, o que iria achar dessa história toda?

   Suspirei, sem saber ao certo o que fazer. Mas eu precisava delas, do apoio delas... Céus, eu precisava de Bella nesse momento. Eu realmente não sabia... Brianna deixou Melanie para viver comigo, e eu não fazia a mínima ideia de como criar um bebê. Ok, Melanie não era um bebê, mas ainda era muito pequena e usava fraldas.

   Levei todos para a sala, e a Sra. Katherine veio avisar que o almoço sairia dali em torno de meia hora. Assenti e as meninas se acomodaram no sofá.

- Sua casa é linda, Edward! – Rose disse sorrindo.

   Sorri e agradeci. Ajudei Bella com as muletas e ela sentou no sofá, claramente incomodada com todo o meu zelo.

- Edward, eu consigo andar sem essas muletas. Tem mesmo necessidade eu ficar carregando isso? – ela perguntou.

   Ri da sua expressão emburrada e apenas assenti. Bella bufou levemente e chegara o momento da verdade. Todas elas me olhavam da mesma forma: confusas.

   Esperavam explicações, provavelmente Bella contou o quanto eu estava estranho... E acho que estava estampado na minha cara que algo acontecera.

- Eu tenho uma coisa importante para contar para vocês. E mostrar também. – falei.

- Pode falar. – Bella disse rapidamente, me olhando ansiosa.

   Sorri levemente para ela, pegando em sua mão e dando um beijinho na testa de Nessie, que estava sentada do meu outro lado no sofá. Rose e Alice, sentadas no outro sofá à nossa frente, me olharam ansiosas.

   Assim que abri a boca para começar a contar, ouvimos passos e vozes vindas da escada. Engoli em seco, e todos os olhares se voltaram para a escada... E para quem descia dela.

   Melanie agora vestia outro vestidinho vermelho, diferente do de antes, e segurava firmemente na mão da Sra. Luce, que sorria carinhosamente para a pequena. Melanie ria e pulava um degrau de cada vez com cuidado, e sorri com essa visão.

   Logo as duas chegaram à sala e Melanie nos olhou, tímida ao ver tantas pessoas de repente. Mas ela sorriu levemente, colocando a mão na boca.

   Olhei para as meninas, e todas olhavam para Melanie surpresas. Bella tinha os olhos maiores que a cara, e dividia os olhares entre Melanie e eu.

- Edward, ela... – ela murmurou, parecendo sem saber o que falar.

- Gente, essa é Melanie. – falei. – Minha filha.

   Todas olharam para mim com clara surpresa.

- Puta que pariu! – Rose disse.

- Rose! – Bella e Alice recriminaram ao mesmo tempo.

- Oh, perdão. – se desculpou sem graça.

   Suspirei, e olhei para Nessie, que olhava para Melanie com uma expressão séria, parecendo avalia-la. Logo um pequeno sorriso foi surgindo em seus lábios, e ela se virou para mim, fazendo um sinal com as mãos ara que eu me aproximasse mais. Abaixei o rosto na altura do seu e ela sussurrou em meu ouvido:

- Ela será minha irmãzinha?

   Sorri, aliviado, e assenti. Os olhos de Nessie brilharam.

- Vem cá, Mel. – chamei-a.

   Melanie sorriu e soltou a mão da Sra. Luce, que logo se retirou, e veio até mim ainda tímida.

   Apresentei cada uma das meninas para Melanie, e ela sorriu toda fofa. Deixei Bella por último, que observa Melanie com um misto de surpresa e... Carinho. Ela tinha um pequeno sorriso nos lábios, e seus olhos brilhavam.

- Essa é a Bella, a minha namorada. – falei Melanie, mostrando-a Bella.

   Melanie observou Bella por alguns segundos, antes de sorrir e esconder o rosto em meu peito. Todos na sala riram inclusive Bella.

- O que foi? – perguntei para Melanie, tentando ver seu rostinho.

- Ela é bonita. – ela sussurrou, e pude ver que Bella escutou.

   Seu olhar encontrou com o meu, e sorrimos um para o outro. A Sra. Katherine apareceu, dizendo que o almoço seria servido, e todos nós fomos para a sala de jantar. Sentei na ponta da mesa, Bella ao meu lado esquerdo, seguida de Nessie e Rose. Do meu lado direito estava Melanie e Alice.

   Katherine e Luce serviram nosso almoço, e conversávamos entre si. Bella não falou nada, mas pelo seu olhar, eu sabia que teria que explicar tudo a ela após o jantar. Alice era toda sorrisos com Melanie, e a ajudava a comer e a cortar algumas coisas, e Nessie tagarelava sem parar, perguntando quais eram os desenhos preferidos de Melanie e coisas do tipo. Rose observava a tudo com um leve sorriso.

   Após o jantar, fomos todos para a sala.

- Bella, eu tenho que resolver algumas coisas, e Alice também. Você vai ficar aqui com Edward ou voltará com a gente? – Rose perguntou.

   Bella me olhou.

- Ela e Nessie vão ficar, Rose. Amanhã eu as levo para casa. – falei.

    Rose sorriu e ela e Alice se despediram de todos nós. Assim que fechei a porta da frente e voltei à sala, vi Bella observando sorrindo Nessie e Melanie. Mel mostrava à Nessie o seu coelhinho rosa, que falava e acendia umas luzes estranhas na barriga.

- Eddie, nós podemos ir brincar no jardim? – Nessie perguntou sorridente.

- É, papai! Podemos?! – Melanie perguntou, me olhando em expectativa.

   Suspirei me sentindo incapaz de dizer não àquelas duas.

- Tudo bem, eu pedirei para Luce ficar de olho em vocês. – falei, e as duas deram um gritinho, fazendo eu e Bella rirmos.

   Chamei Luce e pedi para que ela ficasse de olho nas meninas, e mais tarde preparasse um lanche. Ela prontamente concordou. Eu sabia o quanto ela gostava de crianças. 

   Ajudei Bella a andar até o meu escritório, no segundo andar da casa, e a acomodei no grande sofá que havia no cômodo. Eu me servi de uma dose de whisky e me sentei ao seu lado. Na mesinha em frente o sofá descansava a carta e o álbum de fotos, lado a lado.

- Edward. – Bella chamou. – Me explique o que aconteceu.

   Suspirei e comecei a narrar os acontecimentos. Como Melanie apareceu, as coisas que me dissera, e por fim, sobre o álbum e a carta.

- Ainda não os abriu? – Bella perguntou.

   Neguei, e ela revirou os olhos.

- É um homem ou um rato, Cullen? – ela perguntou sarcástica. – Abra a carta. Talvez Brianna tenha explicado o porquê de ter feito o que fez nessa carta.

- Eu não quero, Bella. – murmurei.

   Ela suspirou se aproximando mais de mim e me abraçando. Afundei o rosto na curvatura de seu pescoço, envolvendo sua cintura com meus braços. Bella passou a acariciar meus cabelos, e aquilo me acalmou.

- Amor, você precisa abrir a carta. – ela murmurou.

   Suspirei e assenti, esticando o braço para pegar o envelope em cima da mesa. O observei por alguns segundos e o estiquei para Bella. Ela me olhou confusa.

- Leia você. – pedi.

- Edward... – ela tentou contestar, mas pedi novamente, e acho que algo em minha expressão a fez aceitar.

   Bella abriu o envelope, retirando a carta de dentro dele. Pelo o que eu pude ver de relança, havia bastante coisa escrita. Envolvi a cintura de Bella novamente e deitei meu rosto em sua barriga. Ela estava praticamente deitada, encostada no encosto do sofá, e eu meio que deitei por cima dela, olhando para um ponto fixo no tapete.

   E logo ela começou a ler as palavras de Brianna:

   “Olá, Edward.

   Talvez você não se lembre mais de mim... Ou se lembre, mas me odeie. Não te culpo por isso, às vezes eu também sinto raiva de mim mesma. Não por apenas ter fugido, mas por ter te dado tanta dor de cabeça.

   Peço, por favor, que me perdoe por tudo. Eu realmente não sei o que me deu naquele dia, eu estava fora de mim...

   Bom, se está lendo essa carta, certamente já conheceu Melanie. Esse era o nome que você tantas vezes disse que queria pôr na filha que tivesse, portanto, realizei seu desejo. Você deve estar se perguntando o porquê de eu ter deixado Mel com você, ter mostrado ela a você depois de tanto tempo. Eu realmente não tive coragem o suficiente para bater à sua porta com ela nos braços. Portanto, esperei ela crescer e começar a perguntar pelo pai...

   Eu trabalho em uma lanchonete, e apesar da dificuldade, sempre tentei cuidar dela da melhor forma possível para, um dia, levá-la até você.

   Pode parecer mais uma loucura minha, mas peço que fique com ela. Ela é minha filha, saiu de mim, mas de certa forma, isso não a torna minha. Eu nunca a quis, essa é a verdade. Mas isso não me impede de amá-la. Eu a amei sim, e por esse motivo lhe deixo em suas mãos. Eu sei que será um bom pai.

   Vi nos jornais, algumas revistas e internet sobre o seu namoro com Isabella Swan... É uma mulher muito bonita. E vi algumas fotos suas com a irmã dela. Não me julgue mal, eu tinha que saber onde (e como) você estava para poder levar Melanie. E a julgar pelo carinho que você parece sentir por elas, mesmo por fotos, sei que será um bom pai.

   Melanie me perguntou muito sobre você. E quando essas perguntas começaram a se tornar ainda mais frequentes, mostrei uma foto sua a ela e arrumei suas malas. O lugar de Melanie é com você.

   Sei que ela será feliz. Eu nunca fui presente, nunca fui “mãe” para ela. E nunca poderia ser. Sinceramente, eu não nasci para isso, mas me esforcei para manter forte algo que é seu, e que você sempre desejou, portanto aí está.

   Eu não aparecerei, não manterei contato. Já conversei isso com ela, e ela entendeu. É uma menina esperta. Provavelmente puxou isso do pai.

   Aliás, tudo ela puxou do pai. Com o tempo você perceberá a semelhança entre vocês dois.

   Enfim, é isso.

   Seja feliz, e a faça feliz.

   Adeus.”