Eu, Fora De Controle escrita por Lionardo Fonseca Paiva


Capítulo 8
Capítulo 1 - Setima Parte




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Sétima Parte

No caminho para o hospital, estava com uma dúvida enorme martelando minha cabeça. Já sabia qual seria o diagnóstico do médico.

Ao meu lado, Sandra parecia tonta, alheia aos acontecimentos. Estava pálida, com os olhos vermelhos e tive a impressão de que ela, a todo momento, estava querendo dizer alguma coisa, mas não tinha forças suficientes. O que será que a deixou naquele estado? Dose excessiva de drogas? Ou só o efeito delas? Não entendia direito.

Nós a levamos para o Pronto Socorro e colocaram-na numa maca. Todos foram com ela e eu fiquei na portaria, cuidando da documentação. Aproveitei e pedi para usar telefone. Liguei para o escritório e avisei que não iria trabalhar.

Depois entrei pelo corredor, indo encontrar os meus pais sentados num banco, nervosos.

Não me lembro de quanto tempo ficamos ali, mas por certo não foi menos que duas horas de espera até que uma enfermeira nos chamou.  Minha irmã teve uma overdose.

Meus pais ficaram tensos e nervosos. Minha mãe elevou o tom de voz ao entrar em desespero, mas a enfermeira apenas continuou explicando o estado de saúde de Sandra sem se importar com aquele alvoroço. Quando ela terminou e saiu mamãe voltou para o banco e sentou começando a chorar baixinho. Papai, ainda em pé, andou devagar até uma janela e lá ficou olhando a rua com um profundo transtorno no rosto.

Sentei perto de minha mãe e prometi que aquilo jamais se repetiria. Mas ela apenas se calou e foi murchando no banco, os olhos foram ficando pesados. Parecia que estava caindo no sono, mas estava apenas tentando abafar seu choro. Ficou em silencio.

Durval pedira licença no trabalho e era quase uma hora da tarde quando chegou ao hospital. Apareceu resmungando que aquele dia estava sendo terrível para ele. Não conseguiu dormir por causa da gritaria de manhã e agora teve que se ausentar num dia de auditoria no banco. Ignorei as reclamações e contei-lhe tudo o que se passara ali.

Mamãe teve uma queda de pressão e teve que ser medicada mas parecia não ser muito grave.

— E Sandra? — ele perguntou.

Falei tudo o que a enfermeira me disse e vi que ele ficou vermelho de raiva.

— Que família. Você e Sandra trazem problemas que sobra para todo mundo! Não podem criar suas confusões e somente vocês sofrerem com as consequências? Tem que arrastar a família toda sempre? — Praguejou Durval

Falou e virou as contas sumindo pelo corredor. Meu pai estava próximo e apenas pediu para eu me sentar.

— Seu irmão sempre foi alterado. — disse ele. — Vamos ficar aqui esperando eles liberarem sua irmã.

Sentei-me no banco de espera.  Fiquei em silêncio e logo meus pensamentos trouxeram você, Raquel. Naquele momento  queria que você estivesse perto de mim, sentir o toque de suas mãos ou o calor de sua presença. Sim, queria você ali e olhei várias vezes para o telefone da recepção com ímpetos de pegá-lo e ligar para você. Inventaria alguma coisa que justificasse aquela ligação e com isto ouviria sua voz.

Uma enfermeira trouxe mamãe, que parecia melhor.

Fiquei perto de meus pais tentando animá-los mas estavam muito abatidos. Próximo deles havia outra enfermeira que  explicava que Sandra estava melhor e sendo levada para o quarto e em seguida poderiam entrar e vê-la. Mamãe finalmente sorriu aquele dia.

Já era tarde e eu precisava ir ao colégio. Senti uma necessidade de estar perto de você, Raquel. Sua imagem me perseguia e confesso que tive a impressão que todas as enfermeiras tinham seu rosto.

Cheguei ao colégio e todos estavam entrando para as salas de aula. Fui até a porta da minha sala de aula e não a vi.

— Dêner, não vai assistir à aula? — perguntou um dos alunos.

— Daqui a pouco.

Fui lá fora e fiquei esperando. Sabia que estava querendo fugir de todos os problemas e buscar um conforto ilusório junto de você. Era certo que você somente passaria por mim e me daria um rápido comprimento, entrando para a sala de aula, afinal estava atrasada. Mas em minha imaginação você chegava e me abraçava e me surpreenderia com beijos cheios de carinho. Mostrar-me-ia que tudo ia terminar bem, para nós e para Patrícia e Sandra.

Você não tinha ideia da sua importância em minha vida. Você se transformou na estrada que quero caminhar e jamais sair dela. Você sem querer mudou-me na essência e me fez encontrar o amor que somente agora percebo que nunca havia sentido com ninguém. Ganhei esperança de me fazer tornar mais humano, mais gente... e longe de você, não consigo ser. Esperança de poder amá-la e você me amar, fazendo-me crer que sou capaz de tal coisa, pois é difícil acreditar no amor quando não se é totalmente amado. Mas, eu sabia que me amar era algo longe de acontecer. Você vivia rodeada de rapazes ricos que lhe davam tudo que queria e nunca ficava muito tempo com um namorado.

Que aura era aquela que rodeava seu corpo emitindo uma forte atração em todo mundo?

Amava você demais para ser um desses seus namorados descartáveis que você rapidamente abandonava. Pobres criaturas. Você corria deles e eles continuam lhe assediando e ainda ganhava de você apenas o deboche.

Você estava, definitivamente, morando dentro de mim.

Absorvido em meio a estes pensamentos, não percebi que as horas se passaram e você não vinha. Fatalmente resolvera não assistir à aula naquele dia. Saí da escola mesmo diante do protesto do porteiro.

Fui andando devagar e pensando em minha vida. Tinha que voltar para o hospital, de onde eu não devia ter saído.


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