Lua Azul escrita por Mr Ferazza


Capítulo 6
V. COBAIAS


Notas iniciais do capítulo

Adiantei esse capítulo; espero que gostem. está meio longo, mas Jane tinha muito para falar.



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V. COBAIAS

JANE

Lá fora eu podia ouvir o chapinhar de calçados andando sobre a lama.

Então, com um sobressalto, percebi que a tempestade de ontem não havia acabado com o mundo, como eu pensava.

Certo, então o mundo não havia acabado. Mas o dia fora de casa deveria estar nojento. Alguém que se atrevesse a sair de casa teria de estar preparado para se afundar até a cabeça com aquela lama que emporcalhava o cenário já não muito bonito e nossa aldeia.

Abri a janela de madeira pesada de meu quarto e vi que o Sol brilhava no céu. Era um dia bonito — Isso, é claro, partindo do pressuposto que você não olhasse para o chão, porque a lama estava impossível até de encarar.

O calor do Sol me inundou fracamente, porque ele ainda não estava alto; só mínima coisa cima do horizonte, e, assim, eu soube que o dia não havia amanhecido há muito tempo — talvez uma hora e meia antes de eu acordar.

Enquanto me expunha ao Sol revigorante, pensei nos mitos idiotas que mamãe havia nos contado; eu simplesmente não podia acreditar que algo tão maravilhoso como o Sol pudesse fazer mal a alguém, mesmo que esse alguém fosse um demônio chupador de sangue e vivesse eternamente confinado às trevas. Certamente, entre todas as lendas absurdas sobre vampiros, queimar ao Sol era a mais ridícula, mesmo que houvesse uma forma magicamente insana de fazê-los prisioneiros da luz solar.

Aquela história toda estava além do ridículo e me censurei mentalmente por pensar nela. É claro que, talvez, Alec pensasse diferente de mim; ele era sempre o mente aberta de nós dois, e eu, de certa forma, o invejava por isso... Ser capaz e considerar coisas, ainda que você não acredite em sua veracidade, não era uma habilidade que seria conferia a muitos.

Vampiros — repeti a palavra mentalmente, e tentei uma agarrar àquela chance de conseguir considerar esse tipo de história sem me achar uma idiota completa, mas não era nada fácil, considerando que, em outras palavras, eu tentava pensar objetivamente — como se alguém pudesse ser objetivo quando se trata de demônios sobrenaturais.

Suspirei, me debrucei na janela aberta, e tentei pensar com clareza — algo que Alec, meu irmãozinho que estava roncando na cama que estava atrás de mim, faria. Eu não sabia muito sobre vampiros. Nada além do que mamãe nos dissera, o que não era muito, porque o essencial — que vampiros bebiam sangue — nós já sabíamos. Tentei raciocinar claramente. Obviamente, para que pudessem saborear uma refeição, vampiros teriam de ser mais fortes que humanos, e isso incluiria a velocidade. O sentidos deviam ser como os de um predador, porque deveria poder farejar sua presa.

E era só. O que eu sabia sobre vampiros basicamente acabava aqui. Qualquer coisa a além seria conjecturar demais.

Óbvio que também havia meu sonho. No entanto, confiar em uma situação criada por seu subconsciente não era lá muito confiável.

Argh! Mas o que eu sabia sobre minhas certezas? Eu estava aqui, em meu quarto que eu dividia com Alec, debruçada na janela com o queixo apoiado nos braços cruzados, pensando sobre vampiros.

Imaginei que, aos olhos de quem visse essa cena em perspectiva, eu não pareceria a pessoa mais lúcida do mundo.

Respirei fundo, resignada com meu pequeno surto de insanidade, e saí da janela.

Quando percebi que, estando na janela, na frente do Sol, meu corpo fazia sombra apara Alec, que dormia, já era tarde demais, e agora a luz batia em seus cabelos castanho-claros, que eram meio tom mais escuros do que os meus, refletia-se neles e voltava para janela.

Alec virou de lado e a luz do Sol atingiu seus olhos em cheio. Suspirei; eu conhecia aquela sensação desconfortável.

Virei de costas para um Alec que ainda estava grogue na cama, e me dirigi para fora do quarto iluminado.

Antes de abandonar o aposento por completo disse:

— Bom dia, irmão — falei, sem me incomodar de voltar-me para ele e verificar se havia ouvido — O último que acorda, faz as camas! — eu disse sorrindo, e saí, apressada, rumo à cozinha.

— Engraçadinha — ouvi seu murmúrio grogue vindo do quarto.


Naquela tarde, já era possível sair de casa sem que minha cabeça fosse enterrada na lama. Alec e eu estávamos, novamente, sentados no tronco tombado, à sombra da enorme árvore. (sim, nossos dias eram agitados dessa forma).

Mas eu não me sentia deprimida por não ter muita coisa para fazer — pelo menos isso significava que não havia problemas, e isso, mesmo com o tédio e a monotonia, era uma notícia boa. Não ter problemas significava não ter de discutir ou ouvir coisas realmente absurdas (que eu já estava me acostumando).

E não ouvir coisas absurdas significava não ter de ouvir as deliberações de Alec sobre essas coisas, porque as teorias de Alec sempre eram meio malucas e sem sentido — pelo menos para gente normal. — e, apesar de eu nunca acreditar nelas, sentia que havia um fundo razão ali. Uma razão um tanto doentia, mas, de qualquer forma, havia razão.

O Sol — hoje tremendamente necessário — batia em nosso rosto e nos fazia corar levemente, a sensação era boa. O calor era agradável. Enquanto o calor inundava-nos, pensei, de novo, sobre a história dos vampiros.

Era tremendamente ridículo, e eu sabia que as teorias e histórias loucas que Alec tinha eram perfeitamente ajustáveis à realidade. Era irritante saber que você tem um irmão que considera tudo o que lhe dizem. Mas Alec, por outro lado, não parecia se importar com isso. Ele sempre havia gostado desse tipo de distração, então ficara feliz em perceber que esse mistério novo estava só começando, e ainda teria muita coisa em que pensar antes de tirar suas conclusões.

Eu não gostava de pensar nisso, porque, mesmo sabendo que não diria a ninguém minhas deliberações, ainda assim me sentia tremendamente idiota somente por pensar em pensar nisso.

E ainda havia a questão de nossa descendência. Ele acabara, com essa história de vampiros, parecendo menos importante. No entanto, na verdade, era bem mais urgente do que um mito idiota.

— Alec — comecei hesitante; eu não sabia se ele havia tirado mais conclusões sobre a história.

— Sim? — respondeu. Ele tinha o rosto voltado para céu, os olhos fechado para que o Sol do início as tarde não os ferisse.

Hesitei novamente, não sabendo como pareceria a ele. Provavelmente, para outra pessoa, eu não passaria de uma idiota. Mas Alec não ele entendia, porque era dez vezes pior do que eu no quesito eu acredito em loucuras sobrenaturais. Na verdade, ele mesmo me contagiara com essas especulações, e então agora, eu me sentia curiosa a respeito desses assuntos também. Poderia parecer relutante por fora, mas estava curiosa.

— Bem... — comecei hesitante. —... É sobre aquele assunto.

Alec me fitou um pouco perplexo; eu tinha certeza de que ele achava que eu não dava muita importância para aquele assunto. E estava certo. No entanto, havia resolvido que, de qualquer forma, nunca seria bom ignorar completamente algum assunto.

— Sobre os vampiros? — perguntou ele.

Eu revirei os olhos; esse era o último assunto que tinha em mente agora. Apesar de ser algo mais interessante — porque era mais confortável —, eu não poderia escolher esse tema enquanto havia nossa ancestralidade não resolvida ainda por ser debatida.

— Não, Alec. — eu disse; eu admirava a capacidade que Alec tinha de pensar com clareza, mas, às vezes, ele era inacreditavelmente lento. — Estou falando sobre a história de nosso avô ser um... — hesitei porque sabia que ainda sentiria certo receio de dizer a palavra em voz alta — Bruxo.

Ele me estudou por um segundo e depois sorriu. Seus dentes brilharam, refletindo a luz do Sol.

— Não me diga que, de repente, você resolveu aceitar minhas teorias. — perguntou ele sarcasticamente.

Eu agitei a mão com desdém.

— Sabe perfeitamente que eu prefiro ter essa loucura explicada, ainda que de uma forma maluca, do que ficar totalmente no escuro, sem saber de absolutamente coisa alguma. — eu disse. E era verdade. O fato de essas coisas loucas ficarem sem explicação me assustava mais do que as conclusões de Alec.

Claro que eu ainda relutava em aceitar as teorias — frequentemente dizia a mim mesma de que tudo isso não passava de coincidência. No entanto, talvez em meu subconsciente, eu soubesse perfeitamente que isso parecia estranho demais, loucura demais, para que fosse só uma casualidade. Eu ficava em negação. Pelo menos de boca para fora.

Não era muito normal de minha parte acreditar nisso. No entanto, Alec parecia muitíssimo mais normal do que eu, e, ao contrário de mim, parecia não ter problemas em pelo menos considerar essa coisa estranha sobre nossos — nesse caso, um específico — antepassados.

Alec assentiu, me encorajando a continuar o que havia começado a dizer.

— Certo. — disse e soltei o ar ruidosamente. — Estive me perguntando se... Se você fez alguma “descoberta” nova.

Ele me olhou de uma forma indecifrável e depois fez uma careta estranha; eu sabia que era um tipo de objeção às aspas que ele ouvira na palavra descoberta. Porque, na verdade, não era bem uma descoberta, e sim uma conjectura.

Depois de algum tempo ele disse:

— Acho que sim — Admitiu Alec om um meio sorriso no rosto. No entanto, seus olhos pareciam pesarosos. Resolvi acreditar em seus olhos azuis e me sentir um pouco mais cautelosa com relação às conjecturas dele.

Na verdade, eu não tinha certeza se iria querer saber o que ele havia descoberto. Argh, fiz mentalmente um ruído de desdém: Pare com isso, Jane! Você já passou dessa fase. A Negação não vai ajuda-la em nada, pensei comigo mesma.

Eu esperei que ele continuasse.

— Jane... — ele pareceu hesitar — Acho que essas histórias sobre os... Talentos de vovô não são tão fantasiosas.

Eu suspirei.

— Sério? — perguntei, me esforçando ao máximo para tirar o sarcasmo e a incredulidade de minha voz — E porque pensa assim?

Aquela pergunta era maio idiota; ele diria algo sobre as coincidências não existirem.

Ele me fitou com uma sobrancelha erguida, como se perguntasse: De novo essa história?

— Minha querida irmã... — começou ele em um tom sarcástico. — Será que é possível que você não tenha visto tudo o que eu vi nas últimas semanas? — perguntou, irônico.

Eu nada disse.

— A história do desentendimento com Anne, a mãe dela... — ele começou a enumerar os vários incidentes; sim, eles não passavam disso. Incidentes.

Ah, cale a boca, eu disse a mim mesma. A negação outra vez me atingindo em cheio. Porque eu me negava tão veementemente a acreditar que aquilo podia acontecer? Que aquilo poderia não ser coincidência? Na verdade, eu não tinha a mínima ideia. Talvez fosse uma parte realmente grande de meu subconsciente que se recusava a acreditar que aquilo era verdade. Tudo isso por puro medo. Medo de quê? Eu não sabia.

Eu ainda não podia suportar a ideia de que o que acontecer àquelas pessoas era culpa minha; disse a Alec:

— PARE COM ISSO! — gritei — Por favor, não diga os nomes; não consigo suportar a ideia de que nós fizemos aquilo. Como pode pensar assim?

Ele deu de ombros.

— Mas é exatamente o que eu acho, irmã — disse ele, revirando os olhos. Como era possível que ele acreditasse que, de alguma forma, poderíamos ser capazes de matar uma pessoa? Pelo menos indiretamente.

Eu o mirei indignada. Eu não podia sequer pensar que ele pensava que éramos capazes daquilo. Contudo, ele parecia aceitar isso. E, aparentemente, parecia não ver problema nenhum nisso. Resolvi perguntar a ele.

— E você decide aceitar isso assim, sem problema algum? — perguntei com sarcasmo. Mentalmente, me recusava a aceitar uma resposta positiva.

Ele pareceu pensar naquilo por alguns segundos antes de dar uma resposta.

— Bem... — começou ele, hesitante — Obviamente é meio estranho. Meio, não. Completamente estranho. No entanto, precisamos considerar a ideia de que tudo isso é ridículo demais para ser considerado coincidência. Precisamos ter em mente que o que Noah disse poder ser verdade — disse Alec, e eu tinha certeza de que ele não estava muito mais confortável do que eu nessa situação.

— E posso saber, Sr. Mente Aberta, como pretende fazer isso? — eu perguntei, com sarcasmo.

Ele me olhou de novo, com uma sobrancelha erguida — Não sei o motivo, mas sempre que ele fazia aquilo, ficava parecendo um cara malvado.

— Observe, por favor, minha incrédula irmãzinha — disse ele, mirando em volta de nós. Talvez estivesse procurando alguém. Talvez fosse qualquer pessoa. Seus olhos varreram o ambiente em volta de nós: Atrás, dos lados e à nossa frente.

Ele continuava a buscar algo que eu não sabia o que era — talvez alguém em quem testar sua teoria. — Na floresta, as árvores, um pouco agitadas por causa do vento, balançavam preguiçosamente enquanto o sol as tornava de um verde surpreendente. As casas de madeira com o chão de feno, dispostas em um semicírculo do lado oposto à floresta, pareciam silenciosas. Alec não falou enquanto procurava o que queria.

Por alguns minutos, ele nada disse. Depois de algum tempo, ele viu uma jovem — de mais ou menos uns 5 anos a mais do que a gente — sair de casa, a terceira, no começo do vale, ao lado da montanha. Ele se virou discretamente para mim e disse baixinho, caso ela pudesse ouvir (algo que eu duvidava, mas Alec era sempre muito precavido):

— Veja, Jane. Observe bem e tire suas conclusões — disse ele em um tom desafiador.

Eu revirei os olhos de novo e depois lhe dei um tapa na nuca.

— Tudo bem — eu disse, desafiadora; com mais receio pelo que ele estava planejando do que poderia imaginar — Surpreenda-me, irmão.

Ele mirou a garota por algum tempo, depois suspirou pesadamente e disse:

— Certo. Quero que aquela garota caia com a cara na lama. — ele disse. Eu não pude deixar de sentir que aquilo era enormemente idiota.

Nós nos viramos para ela. Nada havia acontecido.

Eu tive de reprimir o riso quando vi que aquilo não dera em nada. Quando ia começar a rir da cara dele, um trovão ribombou no céu — Alto e ameaçador, como uma rugido de um animal feroz. — A garota, que andava tranquilamente, mirou o céu como quem se pergunta “E então: chove hoje?” A menina continuava a andar, com a cabeça em direção às nuvens. Como se pudesse descobrir mais sobre como o tempo se comportaria.

Então os pés da menina encontraram uma pedra. — Sim. Tinha uma pedra no meio do caminho. No meio do caminho tinha um pedra. Pena que ela não havia visto esse detalhe antes. — Ela tropeçou, ainda olhando o céu que, apesar da trovoada, continuava de um azul incrível. Depois já estava no chão, a cara enterrada na lama.

A menina levantou, trambalhando, e voltou para a casa.

Alec riu. Eu tentei me conter; não consegui. A cena havia sido engraçada demais para que pudéssemos conter nosso riso.

Alguns minutos depois, Alec parou com a gargalhada baixa e me disse:

— Está vendo? — perguntou ele — Não disse que era mais do que uma coincidência? Acredita em mim agora?

Era estranho: Por um lado, acontecera exatamente o que ele havia dito — a garota caíra com a cara na lama. — No entanto, obriguei-me a pensar que aquilo era somente uma coincidência; eu sabia que Alec iria, em sentido figurado, arrancar minha cabeça se eu dissesse a ele que tudo aquilo não passava de mera causalidade.

Eu revirei os olhos.

— Ah, por favor. — eu disse, minha voz impregnada de incredulidade — Você sabe que isso é inacreditavelmente ridículo, Alec. A garota tropeçou porque estava distraída olhando o céu e não porque você quis que ela tropeçasse. Seja realista... — eu hesitei por um longo tempo — Tem de admitir que isso não passa de... De... Uma... Coincidência. — me obriguei a dizer a palavra a depois encolhi os ombros, para o caso de ele surtar.

Ele não surtou. Simplesmente me olhou encolerizado e com uma expressão ao mesmo tempo incrédula no rosto. Era como se ele estivesse vendo um fantasma de algum inimigo: Com raiva do inimigo, mas, também, não acreditando no que estava vendo. Depois ele se recompôs e me fitou com uma expressão menos hostil... Era como se a raiva tivesse desaparecido de seus olhos cor de anil, e agora restasse apenas a curiosidade.

— O que quer para pelo menos tentar levar em consideração o que eu digo? — perguntou ele, cheio de ceticismo.

Eu sabia que aquela era uma pergunta retórica, mas respondi mesmo assim.

— Nada — disse, dando de ombros quando ele revirou os olhos por eu ter respondido a uma pergunta que dispensava resposta. — Não quero que me prove nada. Resolvi que, definitivamente, não acredito no que você disse. Isso tudo é uma insanidade sem tamanho.

Eu sabia que, no fundo, ele tinha razão; admitir isso seria como perder uma batalha — e eu sabia que estava sendo infantil, agindo dessa maneira —, então fiz algum esforço para que mantivesse minha expressão de “indiferente”. E funcionou, porque reconheci em seus olhos um brilho de exasperação desconhecido (era irritado e desafiador).

Ele suspirou alto e depois disse:

— Tudo bem, então — começou —, se não acredita, tente você... — ele desafiou, erguendo a sobrancelha daquele jeito irritante.

Eu fiz que não. Que tipo de convite era aquele? Estaria meu irmão me desafiando a amaldiçoar outra pessoa? Mesmo que não funcionasse — e eu sabia que não iria —, que tipo de brincadeira era aquela? Ele havia enlouquecido com essa ideia de provar algo para mim.

— Sabe que não vou fazer isso. É infantil, é ridículo e é idiota. — eu disse; minha voz parecia borbulhar com a raiva. Esse convite estúpido estava me dando nos nervos. Já não era o suficiente que ele acreditasse e saísse por aí azarando as pessoas para provar que tinha razão? Ele queria que eu também agisse daquela forma ridícula.

— Calma, Jane. Eu não quero provar nada. Eu sei que há alguma coisa... Só estou tentando dizer que não porque você mesma não acreditar. Foi um convite aberto. Pode recusar, se quiser.

Eu bufei.

— É claro que eu vou recusar; essa ideia é estúpida. — disse eu, ainda com raiva demais para me acalmar ou usar um tom de voz mais moderado.

— Você sabe que acredita no que eu estou falando — disse ele, presunçoso.

Argh! Mas que ousadia. Como se ele soubesse o que estava dentro de minha mente. Decidi ignorar o comentário.

Dei de ombros.

— Se não acreditasse, não estaria negando que acredita tão veementemente como está fazendo. Ficaria calada e fingiria que acredita, só para que eu parasse de falar. — disse ele.

Pela primeira fez eu fiquei sem palavras. Inacreditável era como Alec me conhecia tão bem. Estava evidente — eu pensava que só para mim — que eu acreditava, pelo menos subconscientemente. No entanto, eu não sabia que Alec sabia que eu sabia que acreditava. Pensava que o que eu sentia estava bem disfarçado. De repente, aquela máscara de “eu-não-acredito-nas-besteiras-que-você-diz” não parecia mais tão segura como eu pensava que fosse. Ela havia caído.

Ainda obstinada demais para reconhecer isso, eu disse:

Aucune idée de comment ça sonnait ridicule — eu disse; um hábito que eu havia adquirido de papai, que falava francês sempre que estava preocupado ou tremendamente irritado. Era óbvio que, pelo menos para mim, eu não precisava dizer aquilo. No entanto, talvez Alec precisasse que alguém que estivesse ouvindo suas besteiras em perspectiva, para que pudesse levar em conta como aquilo era ridiculamente tolo e tolamente ridículo.

Talvez a mudança de idioma indicasse para meu irmão que eu já havia perdido a paciência.

Alec nada disse. Ficamos em silêncio por alguns instantes. Minha raiva ainda borbulhava no fundo, e eu sentia que poderia ter dito muito mais a ele, no entanto, não arriscaria brigar sem um bom motivo.

— Por que não ouve seu irmão, garota? — perguntou uma voz familiar, porém incorpórea.

A voz era débil, como se pertencesse a alguém tão velho que deveria estar morto. A voz de quem havia morrido e esquecido de ser enterrado, esquecido de que seu corpo já não devia funcionar.

Alec e eu nos viramos na direção da voz que, provavelmente, pertencia a uma pessoa encarquilhada.

Enquanto procurava a origem do som, pensei em quem tinha uma voz assim. Ah, claro, a única pessoa em nosso povoado que era mais velha do que o manuscrito da Bíblia era o velhote inconveniente — Noah.

Senti o sangue deixar meu rosto, e parecia que eu ficaria perpetuamente pálida, imóvel e sem reação — física ou mental — alguma. Quem aquele velho intrometido pensava que era? Dar palpites em nossa vida? Confere. Ser a pessoa mais metida do vilarejo? Confere. A pessoa mais idiota e velha que eu já havia visto? Confere também. A única coisa que faltava na lista era: Ouvir a conversa de outros atrás de uma árvore? Confere — acrescentei frustrada.

Noah saiu mancando como um cachorro velho de trás da árvore na qual nosso tronco/cadeira estava apoiado.

— Noah — Alec e eu dissemos juntos. Alec com uma chama de raiva ardendo por baixo da voz contida.

Ele nos fitou com um ódio mortal e letal nos olhos.

Rá. Tudo bem, isso foi exagerado. Letal não seria a palavra mais adequada para descrever Noah. Na verdade, não havia nada de letal naquilo. O cara era um velhote de 95 mil anos e com um cabelo curto, negro, irregular e feio. Mancava e corria a uma velocidade de, mais ou menos, 0,02 Km/dia. Sem contar que era a pessoa que menos nos tolerava; sempre que havia alguma desgraça por aqui, ele era o primeiro a apontar seu dedo necrosado para nós. Eu não via problema nisso, porque, sinceramente, quem iria acreditar no que um velho com o pé na cova diria? Era de se esperar que a resposta fosse “ninguém”. No entanto, surpreendentemente, muitos acreditavam nele.

Alec, ao contrário de mim, não o suportava; sempre que o via passando, ou fazia um ruído de nojo ou corria para casa, a fim de não ver “aquela cara detestável”.

— E então, garota imunda, por que não acredita no que seu irmão diz? — perguntou ele, a voz mal me era audível.

Eu o fuzilei com os olhos. Depois ri alto.

— Olha quem você chama de imunda, Noah. — eu disse a ele sarcasticamente — Teve uma luta com a escova de cabelo e perdeu? Ah, me esqueci... Você mal tem cabelo. — eu disse, com uma pontada exagerada de inocência na voz.

Ele fez um ruído de aversão e disse:

— Seria bom se você aprendesse a ter respeito para com os mais velhos, garota — disse ele, como se fosse alguém com alguma autoridade sobre mim.

Revirei os olhos e repliquei:

— Respeito? Por acaso você sabe o que é isso? — perguntei; era como o sujo falando do mal lavado? Quem ele respeitava nessa vida para pedir o que o respeitassem? — No entanto, Noah, não tenho como discordar do “mais velhos”.

Ele me olhou novamente, com ódio nos olhos. Depois se voltou para Alec e disse:

— Fico satisfeito que você tenha descoberto que é uma aberração, moleque imundo — disse ele; Noah só sabia chamar as pessoas de “imundas”. Talvez ele devesse ampliar seu vocabulário. — acho que quanto mais vocês tiverem conhecimento das aberrações que são, mais atenção vão atrair e, assim, mais rápido arderão.

Eu agitei a mão, dando pouco importância às palavras sem sentido que ele dizia; obviamente eu já sabia dos supostos “dons”, no entanto, aquela história de “arder” me deixou confusa: eu não tinha ideia do que ele falava e, contudo, senti um arrepio subir por minhas costas. Sobre o que aquele velho doido falava?

Eu não tinha ideia. Talvez ele não tivesse ideia do que falava, então, porque considerar suas palavras? Eu não via sentido naquilo. Talvez Alec conseguisse ver, mas eu não pensei em perguntar a ele. Não agora quando os olhos do cachorro velho nos estudava — Alec e eu — com uma cautela perspicaz.

Alec e eu fizemos uma cara de “não entendi” para as últimas palavras de Noah.

— Vamos, seus moleques, não finjam que não sabe do que estou falando. Seu avô era uma aberração nojenta. Ele morreu. Vocês são uma aberração nojenta. Também morrerão.

De repente Alec explodiu em uma salva de palmas que me pareceu um pouco deslocada. O que ele estava fazendo? Ele havia enlouquecido também?

Virei-me para ele com a expressão confusa. Alec tinha os lábios franzidos, como se estivesse preocupado com alguma coisa. Continuava batendo palmas de um jeito estranho, porque eram deslocadas. Ele se levantou do tronco em que nós estávamos sentados como se estivesse em um show de alguma coisa. Repentinamente, ele parou com as palmas e disse:

— Meu Deus! — começou ele, em um tom enojado — Como sua lógica é admirável. Parabéns, Noah. — disse Alec, destilando seu sarcasmo em cima do Noah. Eu nunca pense que ele pudesse tomar uma atitude assim; em geral, Alec tinha medo de Noah. No entanto, talvez, o medo tivesse evoluído a tal ponto que se tronara pena. Ou ódio.

— O que quer dizer? — perguntou Noah com rispidez.

Alec deu de ombros e sentou-se novamente a meu lado, obviamente, recusando-se a responder.

— Sabem, seus moleques sujos... — começou Noah, mas Alec o interrompeu.

— Por que não vai cuidar da sua vida nojenta, Noah? — perguntou ele, a voz subindo algumas oitavas; pude reconhecer uma chama de ódio ardendo sob seu tom de voz. — Aposto que ela já está por um fio para que você fique desperdiçando-a com conversas que não o levarão a nada... Já que, ao que parece, você não vai vier o bastante para nos ver “arder”, seja lá o que for que queira dizer com isso.

Olhei para ele, chocada por ter reconhecido, em seu tom de voz — além do ódio —, uma ameaça mal disfarçada; estaria ele, por dentro, desejando que Noah morresse? Talvez. Talvez ele estivesse, de alguma forma, tentando encontrar um modo de comprovar sua teoria de novo. Talvez estivesse cansado das implicâncias de Noah (que já duravam 3 anos). Ou talvez estivesse declarando uma realidade, porque, com a idade dele, não deveria ter muito tempo de vida.

— Umpf! — exclamou Noah.

Depois ele deu de ombros e foi para casa.

Noah já estava alguns metros na nossa frente — nós o víamos de afastar mancando — quando um vento incrivelmente forte soprou em direção às casas; perecia vir de dentro da floresta, ou atravessá-la. O ar foi se tornando mais forte e veloz. Então, se repente, uma árvore da floresta foi arrancada pela força do vento, caindo em nossa direção, porém alguns metros mais longe... Justamente onde estava Noah.

Ele pôde ver a árvore caindo em sua direção. No entanto, não conseguiu correr tão rápido para evitar que a árvore inteira caísse sobre ele.

Eu gritei, o vento lançava meus cabelos para a esquerda, cobrindo quase completamente minha visão. Não vi a reação de Alec, mas ele estava quase tão inquieto quanto eu. Ele parecia não saber que fazer: Levantava-se do tronco, sentava e levantava novamente. Em um gesto de frustração, vi com minha visão periférica ele colocar as mãos na cabeça. Eu podia jurar que seus olhos estavam arregalados com o susto.

Em alguns instantes, não havia mais vento; a rajada violenta de ar se fora completamente. Depois eu ouvi papai gritando e o vi correndo em nossa direção — com certeza ouvira o grito e pensara haver algo de errado.

— JANE... ALEC — gritavam ele e mamãe. Eu pude ouvir uma pontada de pânico na voz dele.

Papai corria à frente de mamãe; como era mas alto, sua passada era bem maior.

Eles não pareciam estar notando a árvore caída ali no meio. Papai chegou, à minha, frente e vou meus cabelos no rosto. Removeu-os, ergueu minha cabeça pelo queixo — o gesto não parecia agressivo, só ansioso demais — e perguntou com seus olhos castanhos estudando-me cautelosamente:

Qu'est-ce qui s'est passé, ma chérie? Pourquoi que tu as pleuré? — perguntou ele em francês, como acontecia quando estava nervoso ou assustado.

A primeira e a segunda pergunta eram desnecessárias. Estava óbvio o que havia acontecido e o porquê eu gritara.

Seus cabelos escuros e curtos também estavam despenteados por causa do vento; ele levou a mão à cabeça para arrumá-lo e, só ali, pareceu notar que Alec estava completamente imóvel. Ele, de certa forma, havia ficado mais assustado do que eu

— Nada — eu respondi — Só tomei um susto por causa da árvore.

Eu havia me esquecido que nenhum deles havia visto a árvore que caíra — estranho, porque, daquele tamanho seria impossível não vê-la. Eles devia estar muito preocupados.

Papai franziu os lábios cheios e, de repente, pareceu notar que havia, atrás dele, uma árvore caída... Provavelmente com um senhor prensado — talvez até morto —entre ela e o chão enlameado.

Mamãe cutucou papai nas costas e, quando ele se virou, viu a árvore que fora tombada pelo vento. E algo mais, com certeza.

Eu me levantei, equilibrando-me no tronco e nas costas de papai.

Aquela visão era horrenda: Ali, entre a árvore e o chão. o corpo de Noah jazia aninhado de um modo grotesco. Precisei de um minuto para perceber que aquela poça de líquido não era a água barrenta que ficara da chuva, e sim o sangue de Noah que saía da artéria de seus pescoço descabeçado. A cabeça também estava ali, alguns centímetros antes do corpo, com os olhos revirados e apontando para direções diferentes.

Gritei quando vi que a parte superior do crânio já não estava junto ao restante da cabeça, e sim afastado para um lado; entre a parte superior da calota craniana e o resto do crânio só havia o cérebro, ensanguentado. O sangue brilhando de uma forma doentia sob a luz do Sol.

Ninguém se aproximou do cadáver ou da árvore — já que se aproximar de um era se aproximar de outro.

Logo os outro vizinhos começavam a sair de casa para ver o que havia acontecido. Se eu fosse eles, não iria querer saber.

De repente senti uma tontura se apoderando de meu corpo e meu estômago revirar. Cobri a boca com a mão para evitar vomitar nas costas de meu pai. No entanto, não tive como evitar o desmaio. A última coisa que senti foi os braços de papai me pegando antes que eu tombasse no chão.


Quando me recuperei do desmaio, já estava em casa; segura, sem vento ou árvores caídas por perto.

O que tinha sido aquilo? No momento, eu não conseguia pensar direito; só o que conseguia era ver Noah morto, o que não era uma visão muito agradável, obviamente.

De repente, ouvi a voz reconfortante e calorosa de meu pai, me chamando em algum lugar por ali. Era desorientador perceber que eu não havia aberto os olhos até aquele momento.

— Jane, querida — disse-me sua voz, carregada de um sotaque familiar e agradável. — Pode me ouvir?

Pensei em sua pergunta: Eu podia ouvi-lo? Sim. No entanto, não tinha certeza se podia escutá-lo — conectar uma palavra à outra e, assim, dar um sentido a elas. — Demorei alguns segundos para processar a pergunta.

Minha cabeça girava de modo desagradável; não era como se eu girasse e me desprendesse do mundo inteiro, restando espaço em minha mente para me acalmar. Era mais como se, com as voltas que meu cérebro dava, eu, de alguma forma, revivesse a cena horrenda que ainda estava gravada em minhas retinas — como quando você olha para uma luz muito forte e, mesmo fechando os olhos e piscando repetidamente, ainda pode ver o brilho, que só passa depois de alguns minutos.

Tentei responder; minha voz não saía. Eu estava fraca. Então, em vez de falar, eu assenti.

De repente me dei conta de Alec. Será que ele havia desmaiado também? — Eu já sabia que ele tinha um estômago mais fraco do que o meu — Não havia ficado consciente por tempo suficiente para saber disso. Talvez ele estivesse em estado de choque e não pudesse expressar nenhuma reação. Era menos vergonhoso do que desmaiar. Pelo menos eu não havia vomitado o almoço nas costas de meu pai; isso teria sido nojento.

Repentinamente, abri os olhos e me levantei — Papai saltou para trás com o movimento abrupto. Meu cabelo estava cheio do feno que recobria o chão de madeira de nossa casa.

Papai me fitou, os olhos escuros e profundos ainda assustados. Preocupados.

Mon Dieu, Jane! Tu m'as fait peur. — Disse ele.

Eu não estava realmente de com o quê exatamente eu o havia assustado — se fora o grito ou o desmaio. — Mas sabia que eu estava extraordinariamente assustada. O que havia acontecido? Talvez Alec tivesse respostas; era bom que tivesse. Eu não tinha nenhuma.

— Desculpe — disse, me colocando de pé. — Fiquei assustada quando a árvore caiu.

Eu trambalhei e ele segurou meu braço.

— Cuidado. Devagar, querida. — disse ele com um tom doce.

— Não era sobre isso que eu estava falando — ele estreitou os olhos e me estudou rapidamente — O desmaio.

Ah, é claro. O desmaio. Eu não conseguia pensar em uma linha de raciocínio reta; meus pensamentos oscilavam entre a expressão preocupada de meu pai, a árvore caída e a cabeça de Noah fora do restante do corpo.

— Desculpe — disse de novo, em uma voz baixa — Foi demais para minha lucidez — eu estaria rindo se aquilo não fosse tão horrendo; sabia que, se o fizesse, ele começaria a questionar minha sanidade; coloquei um tom sério na voz.

Ele me fitou como se eu tivesse dito algo óbvio. Mas, ainda assim, parecia perturbado demais para falar de qualquer outra coisa.

— Foi demais para todos. — disse ele, e sua voz parecia a ponto de explodir; uma chama de confusão ardeu por baixo de seus olhos escuros e eu também fiquei confusa. Ainda não sabia o que havia acontecido.

Não havia percebido, antes, que minha voz estava embargada; me dei conta deque deveria ter me dado conta quando vi que estava chorando.

Papai enxugou uma lágrima de meus olhos com o indicador.

— Eu... Eu... Não sei o que aconteceu, papai. — disse, agora as lágrimas escorriam de meus olhos freneticamente e minha voz tremia. — O vento... Foi como se aquilo estivesse planejado. A árvore caiu em cima dele no exato momento em que ele passava... Não pudemos fazer nada.

Papai me puxou para um abraço. Entre seus braços era quente e reconfortante, como se nada houvesse acontecido.

— Não chore, querida — disse ele, afagando meu ombro com as costas das mãos. — Não foi culpa sua... Nem de Alec. Acidentes acontecem, e ninguém pode culpá-los por isso.

Em sua voz, aquelas palavras pareciam que não deixavam espaço para contestações; enquanto ele dizia aquilo, pude sentir que era verdade. Que ninguém tinha culpa pelo que havia acontecido. No entanto, bastava que eu olhasse a situação em perspectiva para saber que as pessoas dali não se comportariam daquela maneira — Noah, de alguma forma, havia deixado seu legado às pessoas daqui; elas iriam culpar a Alec e a mim, não havia um meio de meu pai resolver esse problema. Ele podia ser a pessoa mais forte que eu conhecia (física e mentalmente), mas isso não faria que as pessoas mudassem suas opiniões preconcebidas. Era lastimável que as coisas tivessem de ser assim.

Pensei novamente em suas palavras “Não foi culpa sua... Nem de Alec”, dissera papai há pouco. Estremeci quando pensei que aquilo, de uma forma mais literal do que eu gostaria de imaginar, poderia ser um engano. Um engano dos feios. Sim, porque, apesar de, aparentemente, ter sido um acidente, eu não conseguia me livrar da sensação de certa culpa de das palavras que Alec dissera pouco antes de ocorrer o acidente horrendo: “... Aposto que ela já está por um fio para você ficar desperdiçando-a com conversas que não o levarão a nada. Já que, aparentemente, você não vai viver o bastante para nos ver “arder”, seja lá o que for que queira dizer com isso”.

Sim. Aquilo, da alguma forma, soava mais do que um desabafo — um momento em que Alec havia explodido — para que eu, nesse momento, mantivesse meus pensamentos calmos. Parecia que uma ameaça estava implícita em seu tom de voz. Uma ameaça que, eu, ao contrário de quem a havia ouvido, entendi muito bem...

Não, não, não, não. E não. Pensei comigo mesma. Aquilo era ridiculamente impossível e eu tive de lembrar a mim mesma que eu não acreditava nessa história de bruxos, ao contrário de Alec, que, comparado a mim, parecia estranhamente receptivo para com essa maluquice.

Eu teria arfado de pavor se estivesse sozinha; se os olhos inteligentemente perspicazes de meu pai não estivessem me estudando cautelosamente.

— O que foi? — perguntou papai, e só ali percebi que eu havia mesmo arfado.

Idiota, pensei — e desta vez me certifiquei que estivesse mesmo só pensandoE agora, como vai explicar isso? Perguntei a mim mesma.

— Alec — disse eu, colocando em minha voz um tom meio preocupado — Onde ele está?

Meu pai se levantou do meu lado — onde estivera ajoelhado esse tempo todo — e foi espiar pela janela; eu podia ter feito isso, já que estava de pé, mas parecia, até mesmo para mim, que estava desnorteada demais para fazer qualquer coisa que exigisse o movimento de um membro.

— Ele está lá fora; sua mãe está com ele — disse papai, sua voz agora era um pouco mais tranquila. — Ele pareceu reagir um pouco melhor do que você — comentou — Ele sequer se assustou.

Papai deu um meio sorriso e seus dentes perfeitos faiscaram à meia-luz do interior da casa.

Aquilo era assustador. No entanto, mais do que com medo, agora eu estava curiosa. E estava curiosa porque já estava imaginando o porquê de Alec não ter se assustado com a queda da árvore ou com a morte violenta de Noah.

Olhei pela janela sem ver nada do que estava lá fora. Na verdade, só estava refletindo sobre a situação bizarra.



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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado deste capítulo... Obrigado pelo acompanhamento.