Lua Azul escrita por Mr Ferazza


Capítulo 12
XI. REGISTROS


Notas iniciais do capítulo

Demorei bastante para postar, mas espero que essa parte sobre os "segredos" tenha ficado bem esclarecida.



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XI. REGISTROS

ALEC.

Eu não entendi — essas, provavelmente, eram as únicas palavras que eu podia dizer; eram as que eu queria dizer. Não por, naquele momento, não conseguir dizer mais nada, e sim porque eu não havia, de fato, entendido nada. No entanto, antes de fazer papel de idiota, pensei mais um pouco sobre o que meu pai tinha nos dito. Ou dito para mim, na verdade; Jane parecia estar viajando em outra dimensão nesse momento.

Pelo que eu havia entendido, eliminando as “enrolações”, papai também era um... bruxo. Noah estava errado. O “dom” não costumava saltar gerações, como Noah havia dito. Na verdade, ele sequer sabia de alguma coisa. Não era de se estranhar que ele estivesse mentindo sobre tudo aquilo e, por um simples acidente ou “casualidade” — palavra preferida de uma Jane que continuava a fitar o vazio como se algo muito interessante estivesse lá —, acertara em cheio sobre nossa ascendência.

E a história de sermos dois — Jane e eu — pelo fato de papai ser um... Bruxo era ainda mais esquisita. Eu, obviamente, não conseguiria adivinhar o que aquilo significava; pressupus, então, que papai nos diria alguma coisa depois que estivéssemos recuperados do “choque”... O que parecia que levaria muito tempo.

Era como se Jane não estivesse ao meu lado; suas reações estavam congeladas e ela não conseguia — ou não podia — se mexer. E não era para menos: Jane passara cada minuto do dia, desde que descobrimos esses boatos, negando-se veementemente a acreditar em uma palavra que fosse. Negando-se a considerar o assunto por o mínimo de tempo que fosse. Essas loucuras, que agora eu sabia que eram reais, a horrorizavam. Tanto quanto me deixavam curioso.

Ainda um pouco estarrecido demais para conseguir falar algo mais articulado e menos idiota, eu disse:

— Como?

— Isso mesmo que você deve ter entendido, Alec. Você não escutou errado, filho. — disse meu pai, dirigindo-se a mim enquanto Jane processava o que precisava ser processado em sua mente, para que pudesse sair de seu estado de incredulidade e choque.

— Então o “dom” não salta geração alguma? Mas o Noah disse...

— Noah não sabia de nada, querido; era apenas um velho supersticioso que acreditava com tudo o que ouvia e inventava o que não existia. Não tinha nada a ver com nossa família e não sabia muita coisa sobre nós.

— Então esse tal talento que há em nossa família não salta gerações? Você, obviamente, também é igual à Jane e eu?

— Noah estava, pelo menos, certo em uma coisa: O talento de nossa família salta, sim, uma geração. E não, não sou igual você e Jane.

Estava tudo muito bem explicado! O que aquilo queria dizer? Por Deus! Como aquela história, em vez de se esclarecer, se tornava mais complicada a cada palavra da explicação de meu pai? Aliás, ele viera a nosso quarto solucionar mistérios ou nos — nos porque Jane, querendo ou não, gostando ou não, fazia parte dele — dar mais meia dúzia deles?

— Não estou entendendo — disse arqueando uma sobrancelha, de modo interrogativo, para meu pai.

Ele suspirou de modo pesado e, lentamente, levou a mão para dentro de suas vestes. Quando tirou, havia algo em sua mão. Escondido no bolso interno, havia um pequeno caderno com uma capa de couro que parecia muito velho — talvez mais velho do que Noah. Na lateral dava para ver as páginas amareladas e manchadas. O caderno era realmente muito velho. Papai o folheou e depois fechou o caderno.

— Quero que saiba que tudo o que eu lhes direi está escrito nesse caderno. Tudo o que está escrito aqui, por sua vez, foi registrado por pessoas diferentes em diferentes gerações de nossa família. Todos os nossos antepassados herdaram esse... Diário. É, acho que posso chama-lo assim. No entanto, apenas os que possuem os talentos são autorizados a ler. Ou melhor... Apenas esses conseguem ler.

— Mas nós não aprendemos a ler... Digo, não há escolas. Mamãe não sabe ler e você só é alfabetizado em francês... Não vamos conseguir ler — objetei. E era verdade. Essa era só uma dentre as muitas coisas horríveis de se viver isolado do resto do planeta; ninguém aprende nada de útil.

Papai me estudou por alguns segundos, as sobrancelhas arqueadas.

— Não há problema, querido. Esse é mais um dos... Dons de nossa família; não precisamos aprender a ler. É algo instintivo. Pelo menos em latim.

— Quer dizer que todo esse diário está escrito em latim? — perguntei.

— Exatamente.

— E o que diz nele?

— Ele fala tudo. Tudo sobre os dons, a ascendência e a forma como ele se manifesta. Obviamente, diz também o que somos capazes de fazer com esses poderes — Disse papai, sua expressão não era alegre; obviamente, havia algumas consequências. Consequências que, eu podia apostar, não eram muito agradáveis.

Papai suspirou e, depois de algum tempo calado, recomeçou a contar a história e onde havia parado.

— O que vocês têm de entender, queridos — ele disse e depois olhou Jane pelo canto do olho; ela continuava com os olhos fixos no nada e nem parecia que estava se mexendo ou respirando normalmente. Provavelmente fingia que não estava ouvindo nada do que nosso pai dizia. Para ela, aquilo ainda continuava a ser uma besteira desproporcional a padrões de sanidade. —, é que é normal, sim, que o talento salte uma geração. Noah estava errado somente com relação a mim. Sim, eu não deveria ter talento ou poder algum — disse papai, interpretando corretamente minha expressão —, mas meu pai, seu avô, se casou com uma mulher que, coincidentemente, também tinha os mesmos poderes dele. Veja bem: eles não eram parentes e a probabilidade encontrar alguém com o mesmo dom e que não seja algum parente é bem pequena... Por isso ele jamais pensou que se casaria com alguém assim. Não posso me esquecer de que nenhum dos dois contou sua verdadeira identidade. Nenhum dos dois revelou seus segredos porque ficaram com medo de que não fossem aceitos um pelo outro.

“Assim, quando sua avó me deu à luz, meu pais perceberam, de alguma forma, que eu não era comum. Perceberam também que o talento não havia saltado geração alguma. Como ambos tinham conhecimento de como o talento de manifestava e da idade em que isso ocorria, descobriram que não era nada normal que um bebê de menos de 2 meses manifestasse uma “carga” de poder tão grande. Já sozinha, minha mãe cuidou para que o poder demasiado que eu tinha ficasse bem guardado dentro de mim — sim, meu poder subjugava o de meus pais com uma intensidade esmagadora”.

“A cada geração intercalada, nasce uma pessoa com um poder normal, como o de todos que o possui. No entanto, como meus dois progenitores tinham talentos, o poder deles não pôde ser silenciado dentro de mim e teve de se manifestar muito cedo. Eu já era tão poderoso quanto eles dois juntos e, como o poder não saltou geração alguma, ele duplicou e eu fiquei sendo quatro vezes mais poderoso do que um... bruxo normal”.

“Acabou que minha mãe, por ter de ocultar meus poderes com muita frequência e, para isso, usar todo seu próprio poder, esgotou suas forças muito cedo; morreu nove anos depois que eu nasci. A partir de então, eu soube como controlar meus dons de um modo muito eficiente, mas não era o bastante... Sabia que se, algum dia, tivesse um filho, ele seria tão poderoso quanto eu, e dois bruxos com poderes tão intensos assim seria algo devastador para qualquer comunidade e qualquer lugar onde eles vivam”.

“Então, tivemos de conceber gêmeos para que pudéssemos fragmentar o poder de quatro gerações juntas, que se manifestou em somente duas. Agora você e Jane têm, cada um, o poder de duas gerações. Eu sei que pode parecer muito pouco se você não conhece o poder que tem, mas é muito mais do que qualquer bruxo de uma geração normal pode fazer e, no entanto, é muito menos do que eu posso fazer”.

Eu não sabia o que pensar. Por um lado, estava incrivelmente satisfeito por ter tudo aquilo explicado. Por outro, estava com medo das consequências que meu pai não mencionara. E então, antes de qualquer coisa que eu pudesse dizer, antes mesmo que pudesse pensar em mais alguma coisa, me veio à mente uma pergunta que eu não pensara em fazer antes:

— Esse tipo de poder pode fazer algum mal? Digo... Se o usarmos muito? Há algum tipo de restrição?

— Não há restrição alguma no uso dos poderes. Desde que a esfera de atuação dos dons estejam corretamente definidas, não há limite ou esgotamento... O poder não é algo que está dentro de você e de mais ninguém. O poder está dentro de sua mente e é algo nato. Você o tem enquanto sua mente funcionar.

— O que quer dizer com “esfera de atuação”? — perguntei. Estava curioso para saber tudo o que podia. A informação parecia uma forma de poder controlar melhor o que eu era.

— Quero dizer que seus poderes, como você já deve ter percebido, vêm de sua mente... É assim que ele funciona; vem de uma mente e flui para outra mente. Você até pode fazer coisas reais acontecerem, como sei que faz, mas o principal é o poder se sua vontade e do seu pensamento consciente. Veja só...

Papai fechou os olhos e se concentrou. Um segundo depois, eu vi o que ele fazia: A luz do dia parecia estar se extinguindo aos poucos. O Sol, que antes brilhava forte no início da manhã, pareceu se esconder — sem, contudo, ter desaparecido — e a noite caiu de uma forma repentina, de modo que eu conseguia ver as estrelas que estavam lá antes, mas ofuscadas pelo brilho infinitamente mais intenso do Sol.

Eu arfei depois que meus olhos ficaram cegos para a luz solar. Obviamente aquilo era obra dos dons de meu pai. Ele abriu os olhos, mas não perdeu a concentração; eu continuava fitando a noite com um Sol surpreendentemente ineficaz alto no céu do início da manhã.

— Jane — Disse papai, tocando de leve seu braço para que ela despertasse de seu “transe” que, eu tinha desconfiança, era nada mais do que fingimento.

Ela o mirou de um jeito estranho, como se estivesse incomodada que ele a tivesse retirado de seu momento de negação. Pessoalmente eu não compreendia. Por que ela imaginaria, em algum momento, que estávamos correndo algum perigo? Será que ela não estivera ouvindo o que papai nos dissera? Estivera ela alheia ao fato de que, segundo nosso pai, tínhamos poderes incríveis? Eu via seu rosto na penumbra que papai conjurara e era evidente que Jane parecia estar se negando a acreditar no que escutara.

— O que? — perguntou ela, a voz embragada de um jeito que era evidente que, em alguns segundos, ela estaria se desmanchando em lágrimas de frustração.

Aquelas palavras embargadas pareciam ter tirado toda a concentração de nosso pai e o dia já estava clareando, o Sol tornando a assumir seu devido brilho quando ele respondeu a Jane de forma delicada:

— Não... Deixe para lá, querida. Sei que você detesta essa ideia. Eu tampouco gosto disso. Minha vida inteira eu aprendi a controlar o que sou e queria ter nascido uma pessoa “normal”. Sei o que você sente. É como se você se sentisse uma estranha a si mesma, como se estivesse presa em um corpo que não é o seu, que você não deveria ter. Sente que está infringindo as regras da natureza sendo assim. Acredite em mim: Já passei por isso. No entanto, não temos muitas opções a não ser tentar conviver com isso. Foi o que minha mãe me disse quando me contou tudo, e sabe de uma coisa? É realmente só o que nos resta, filha.

Jane abaixou os olhos do rosto de papai e uma lágrima caiu na cama, sendo absorvida instantaneamente pelos lençóis. Depois ela levou a mão aos olhos e secou a segunda lágrima com a parte lateral do indicador.

— Detesto isso. Odeio ser acusada dessas coisas — disse ela, sua voz ainda estava embargada, mas era um pouco mais clara e firme do que antes; não ameaçava mais desabar. — E odeio ainda mais saber que as pessoas tinham razão quando o fizeram.

— Eu sei que sim, querida. — disse papai, estendendo o braço para afagar os cabelos de Jane que pareciam brilhar como ouro à luz da manhã ensolarada. Uma mecha caiu por entre seus dedos e ele tornou a falar — Apesar de eu nunca ter passado pela situação de ser acusado, posso imaginar como você se sente. Mas é necessário que você aprenda a conviver com isso. Estarei aqui para ajudar, querida. Você também, Alec.

E, com essas palavras, ele se levantou da beira de minha cama onde estava sentado e, devagar, saiu do quarto, deixando Jane e eu sozinhos. A porta já estava quase fechada quando ele olhou por sobre o ombro e, depois de pensar em alguma coisa, voltou-se para nós com aquele caderno velho em suas mãos.

Ele folheou o diário por um momento — o pó saindo das páginas velhas — e, depois de mais alguns segundos com as sobrancelhas arqueadas, aparentemente pensando, ele o entregou a mim.

— Acho que talvez vocês queiram ficar com isso — ele disse, me fitando de um modo investigativo; eu, obviamente, não sabia no que ele estava pensando. Fingiu não ter visto Jane balançar a cabeça negativamente: Eu sabia que, por ela, já o teria queimado no instante em que papai o tirara do bolso. — Para que, se servir, ainda que tenuamente, de consolo, vocês saibam que não são os únicos a passar por isso. A vida de muitas pessoas, durante muitas gerações, foi tão difícil quanto a de vocês. Embora, é claro, nenhuma delas devesse ter tido o poder de duas gerações ininterruptas.

Eu estendi a mão e peguei o “diário” em minhas mãos. A capa não era lisa como o brilho me informou que seria; ao invés disso era áspera e parecia uma pedra pouco resistente. Folheei-o por alguns segundos e realmente saiu muita poeira do interior das páginas muito velhas.

— Vou... hmmm... Deixá-los a sós. — ele disse isso e, depois de algum tempo pensando, virou-se e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.

Jane continuou fitando a porta como se, através da madeira, pudesse ver alguma coisa que normalmente não lhe era possível enxergar. Ou talvez estivesse somente com os olhos no passado ou no que papai acabara de nos dizer. Talvez ela estivesse imersa em seus pensamentos de uma forma tão concentrada que não notava que eu a estava chamando.

Analisando mais atentamente aquele diário, percebi que havia muitas páginas escritas e nenhuma em branco — Talvez fosse uma compilação de registros sobre os “dons” da família. Parecia, também, muito velho. Velho de verdade. Mais do que Noah ou do que seu bisavô, que deveria ter vivido em épocas imemoráveis. Será que estava mesmo escrito em Latim? — Céus, eu não era assim tão desconfiado, mas havia aprendido a ser por conta das mentiras incessantes que papai havia me contado quando o questionava — Só havia uma maneira de saber; Abri o livro encadernado com couro, de páginas amareladas e fino e parei na primeira página; se o que meu pai me dissera fosse verdade, eu entenderia tudo o que havia ali.

A primeira página estava em branco, mas havia manchas de algum tipo de líquido e a página estava enrugada por conta disso. A folha era grossa, porém lisa. Eu virei essa página e, no canto superior esquerdo, bem em cima da página — quase onde ela acaba (ou começava, de outro ponto de vista) —, havia um nome seguido por uma data e, abaixo, o local.

Ali se lia:

Lael, 1165.

Roma.

No entanto, antes que eu pudesse pensar que aquilo havia ocorrido no futuro — grande pensamento idiota —, me dei conta de que era uma data em uma era anterior. Continuei lendo o “diário” para ver se encontrava alguma coisa de relevante.

Querido diário — Oh, meu deuses de Roma, sinto que essa frase vai virar clichê um dia! ,

Há algum tempo venho notando que, diferente das outras pessoas, minha mente parece funcionar um pouco mais rapidamente — Talvez seja uma bênção de Minerva, mas acho improvável. Muitas coisas nas quais eu penso ou desejo parecem se realizar de uma forma instantânea!

Certo dia havia uma pessoa desagradável na rua; ela gritava e roubava coisas das outras pessoas. Honestamente, parecia que estava sob influência de uma bebida ou algo assim, porque era incrivelmente maluca. Então desejei que a pessoa se retirasse das ruas, que fosse dormir ou fazer algo menos desagradável para ocupar seu tempo. Logo depois, ela pareceu se lembrar que tinha alguma coisa a fazer, e foi embora.

Certo, eu poderia ter imaginado. Poderia ser só uma coincidência, mas tenho de duvidar dessa hipótese pelo fato de isso estar ocorrendo há nada menos do que dois anos e meio.

Também consigo, com certa facilidade, adivinhar os pensamentos secretos das outras pessoas! Reconheço que poderia ser só uma boa interpretação facial, é claro. No entanto, isso parece ocorrer mesmo quando não estou mantendo um contato visual direto com meu interlocutor.

Certa vez, há algum tempo, perguntei sobre isso para meu pai, que não soube me responder e fez uma cara de quem realmente não sabia de nada. Já minha mãe deu a entender que sabia de muito mais do que deixava transparecer. Claramente notei sua expressão perplexa, desajeitada e nervosa quando perguntei a ela sobre isso. O suor porejava lhe a testa quando ela disse, no que mal passava de um sussurro, “Isso é imaginação sua, querido; não há nada, em nome de Júpiter, com que precise se preocupar agora”. Poderia ser imaginação, mas eu escutara um trovão baixo ribombar no céu quando ela fechou a boca; era um som de ultraje misturado ao som grave do trovão.

Notei que... — tive se voltar algumas páginas para me lembrar do nome do primeiro dono do diário — Lael havia enfrentado a mesma desonestidade com relação aos segredos que havia me frustrado tanto. Será que, como eu, ele um dia soubera a verdade? Parecia de incrivelmente provável que ele soubesse. Afinal, se ele havia escrito algo assim, provavelmente teria curiosidade por descobrir mais.

O que me chamou a atenção naquele pequeno trecho, transcrito em três ou quatro folhas estreitas e não muito grandes, foi a sua relatada capacidade de “adivinhar” os supostos pensamentos das pessoas. Aquilo não estava no que papai me dissera. Eu podia, é claro, fazer acontecer as coisas que eu queria que acontecesse; era o mais óbvio para mim. Essa capacidade era a que vinha chamando a atenção das pessoas em nosso vilarejo.

Para mim parecia estranhamente improvável que alguém se desse conta do que ele era capaz de fazer, já que, ao que parecia, seus dons não eram tão pronunciados quanto os meus ou os de Jane. Como se minha capacidade de deduzir coisas assim tivesse se transformado em um estalo alto e agudo, percebi — quase com um som assim — que ele, muito provavelmente, era o que papai chamaria de um... Bruxo — ainda não me sentia à vontade por sequer pensar nessa palavra — de uma geração intercalada. Seria esse o motivo de, aparentemente, ele não chamar tanta a atenção quanto Jane e eu? Seria porque o lugar onde ele viva era consideravelmente maior e, assim, os vizinhos não tinham tempo de ficar especulando a vida dele?

Eu, obviamente, não sabia nada sobre esses tais “dons” — não mais do que papai me dissera —, mas, muito provavelmente, seria algo que se fortalecia com o tempo e, consequentemente, se tornava mais pronunciado. Que idade teria esse tal de Lael? Seria ele, quando escrevera nessas páginas, mais jovem do que eu era agora, ou mais velho? Como isso era algo de que eu não podia ter certeza alguma, já que, aparentemente, seus registros não citavam idades. Só fatos de seu cotidiano que, eu tinha certeza, devia ser tão estranho quanto o meu ou o de Jane; mesmo com uma intensidade menor, isso, provavelmente, teria de causar alguma reação forte.

Figurativamente com um nó no cérebro, fechei o diário. Jane observava.

Antes, porém, de dizer a ela qualquer coisa, percebi, com um sobressalto de satisfação, que meu pai tinha toda a razão; mesmo sem saber ler uma vírgula, eu podia entender muito bem a língua em que o diário era escrito.


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Notas finais do capítulo

Posso demorar para postar o próximo. Gostaria de pedir, também, a quem lê a história, que deixa Reviews.