Pov. da Melany

Depois de muitas horas chorando, percebi que já havia escurecido. Levantei do chão e olhei ao redor. Me dirigi ao lavabo que tinha no primeiro andar e me encarei no espelho. Eu estava horrível! Meu rosto estava vermelho e inchado. Fui para meu quarto, tomei um banho e me sentei em minha cama, pensando no que eu faria a seguir. De jeito nenhum eu iria ficar nessa casa enorme sozinha. Minha única opção era ir morar com Bella. Ela era a única pessoa próxima que havia me restado em Forks. Arrumei minha mala e chamei um táxi.

— Para a casa do Chefe Swan. — Disse ao motorista assim que me acomodei no banco.

— Claro. Sei onde é. — Ele respondeu brevemente. 

Este era um dos aspectos positivos de morar em cidade pequena. Todo mundo se conhecia. Encostei minha cabeça na janela e fiquei pensando na vida. Não demorou muito e o motorista me tirou dos meus pensamentos.

— Chegamos. — Anunciou indicando a casa a nossa frente.

— Obrigada. — Agradeci descendo do carro.

O taxista me ajudou com a mala. Eu paguei a corrida e ele se foi. Caminhei até a porta da casa de Bella com as mãos suando frio. Tomei coragem e bati. Um homem de meia idade com uma farda de policial atendeu. Devia ser o Chefe Swan, pai da Bella.

— A Bella está? — Perguntei envergonhada.

— Ela não pode receber visitas... — Ele começou, porém a voz de Bella o interrompeu.

— Tudo bem, pai. — A escutei dizer. Quando ela chegou até a porta e me viu, ficou muito surpresa. — Melany?! — Exclamou.

— Melany? Melany Cullen? Os Cullens não foram embora da cidade? — Indagou Charlie confuso.

Ele, assim como a cidade inteira, me conhecia pelo menos de nome como a nova filha adotiva dos Cullen. Lembra que eu disse que uma das coisas boas de morar em cidade pequena é que todo mundo conhece todo mundo? Pois bem. Este também é um dos aspectos negativos.

— Sim. Os outros foram embora. Eu fiquei. — Esclareci olhando para Bella. — Quando terminar o ano letivo, eu vou morar com eles. — Completei a explicação.

— Bom... Entre. — Pediu Charlie depois de alguns instantes de silêncio desconfortável.

— Chefe Swan, eu sei que o senhor nem me conhece, mas será que eu podia ficar aqui? O senhor não imagina o quanto é assustador ficar naquela casa sozinha. — Implorei torcendo para ter conseguido comove-lo.  Ele intercalou seu olhar entre mim e Bella antes de responder. 

— Tudo bem, você pode ficar. Vai ser  bom para Bella ter uma companhia mais ou menos da idade dela. E realmente, deve ser assustador ficar numa casa grande como aquela no meio do mato sozinha. — Charlie se pronunciou, parecendo um pouco embaraçado.

— Muito obrigada! E não se preocupe, irei ajudar com as despesas. — Expressei minha gratidão. Estava muito aliviada por poder ficar ali.

— De jeito nenhum! Não precisa. — Recusou Charlie de imediato, parecia até um pouco ofendido.

— Eu faço questão. — Insisti abrindo um sorriso que costumava derreter todo mundo.

— Hoje você vai dormir no quarto da Bella. Amanhã arrumamos o quarto de hóspedes para você. — Ele explicou, deixando a discussão anterior de lado.

— Mais uma vez... Muito obrigada, Chefe Swan! — Agradeci novamente.

— Me chame de Charlie. Bella, ajude a garota a se ajeitar. Eu vou ficar aqui. Caso precisem, é só chamar. — Instruiu de forma simpática. 

Bella permanecia calada e eu sabia que ela estava esperando ficarmos a sós para conversarmos. Subimos a escada em silêncio. No segundo andar havia quatro portas.

— A primeira porta a direita é o meu quarto. A segunda é o quarto de hospedes. A porta do lado esquerdo é o quarto do Charlie e a do fim do corredor é o banheiro. — Bella informou, indicando os cômodos. Sua voz parecia com a de um robô. Totalmente sem vida.

Assenti e fomos para primeira porta a direita, ou seja, para o quarto dela. Seu quarto era muito aconchegante e bonito, apesar de ser relativamente pequeno e simples se comparado ao meu quarto. Mas eu gostei mesmo assim. Apesar de viver com grande luxo, eu não ligava muito para isso. Deixei minha mala no canto e encarei Bella, percebendo que ela já me olhava.

— Eles... — Ela começou e pela sua expressão eu sabia o que ela queria dizer.

— Sim, foram todos embora. Só eu fiquei. Pensando bem... Eu nem sei para onde eles foram. — Falei lutando contra a dor que me atingiu quando percebi que estava longe da minha família.

— Por que você ficou? — Questionou Bella curiosa e confusa.

— Porque eu não queria deixar a cidade e também porque eu não concordo com o Edward. Afinal se eu sobrevivi ao mundo deles, você também pode. — Respondi. Quando citei o nome de Edward, o rosto de Bella se retorceu em uma máscara de dor. — Bella, ele vai perceber que está errado. Edward é cabeça dura mas... — Iniciei uma tentativa de conforta-la.

— Ele não me quer. — Interrompeu-me Bella.

— O que? — Foi a minha vez de perguntar.

— Ele disse que não me queria mais e que tinha deixado as coisas irem longe demais entre a gente. — Ela contou com a voz quebrada.

Eu não acreditava nisso. Eu tinha certeza de que Edward a amava, porém eu também tinha certeza de que nunca brigaria com minha família e veja onde eu estou agora.

— Eu sinto muito. — Era a única coisa que eu podia dizer.

— E como foi? Como eles deixaram você ficar? — Indagou Bella mudando de assunto.

— Foi horrível. Eu terminei brigada com Rosalie e com Edward. — Lamentei com pesar.

— Eu sinto muito. — Bella repetiu minha fala anterior. Abri um sorriso triste.

— Nós sentimos muito. — Disse numa tentativa de fazer alguma graça com a situação. Bella me retribuiu com outro sorriso triste.

Depois dessa conversa, nos ajeitamos para dormir. Eu não conseguia pregar o olho e Bella também não. Esses meses iriam ser muito difíceis. Pela postura de Bella, ela também estava destruída por dentro. Ela e eu... Duas dores tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. Ambas desejando estar com quem amamos. Esses meses seriam sem dúvida os piores da minha vida. E eu só pedia força para suporta-los.

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O tempo foi passando e tudo só piorava. Fazia quatro meses que eles haviam ido embora. Bella estava a cada dia mais parecida com um zumbi e eu nem podia falar nada porque não estava muito melhor que isso. O único contato que eu tinha com eles era através do dinheiro que meu pai depositava todo mês. Na escola eu e Bella nos sentávamos na mesa que antes era ocupada pelos meus irmãos e praticamente nos isolamos do resto das pessoas. Charlie estava preocupado, pois Bella estava muito mal e eu, que deveria anima-la, estava igual ou pior do que ela. Entretanto, sempre que eu pensava em ir embora, Bella me implorava para não ir e eu sabia o porquê disso. Eu era a recordação mais viva que ela tinha deles.

Levantei pronta para suportar mais um dia. Na escola foi como sempre. Não falei com ninguém, apenas fiquei no meu canto. No intervalo sentei junto com Bella na mesa de sempre, ou seja, a mesa dos meus irmãos. Depois de mais algumas horas de tortura, voltamos para casa. Bella iria sair com Jessica esta noite após o ultimato de Charlie. Ou ela melhorava ou ele a mandaria para Jacksonville, para morar com a mãe. E como ela tinha esperanças deles voltarem, resolveu pelo menos fingir que estava bem. Eu não quis ir. Preferi ficar em casa mesmo, curtindo minha fossa. Acabei dormindo cedo e nem vi Bella chegar.

— Acorda, Melany. — Bella me chamou, chacoalhando meu ombro. Levei algum tempo para perceber que já era de manhã.

— O que foi? — Perguntei sonolenta, afinal era sábado. 

— Levanta! Vamos na casa de um amigo meu. — Ela respondeu sem dar muitas explicações.

— Que amigo? — Estranhei ainda com o raciocínio lento devido ao sono.

— Anda! Vai se arrumar! No caminho eu te explico. — Disse ela, ignorando meu questionamento e saindo do quarto.

Mesmo sem entender o que estava acontecendo, me levantei, fiz minha higiene matinal e desci. Bella já tinha posto o café da manhã.

— Cadê o Charlie? — Procurei saber dando pela ausência dele.

— Ele teve que trabalhar hoje. — Explicou se servindo um copo de suco.

Depois que terminamos de tomar café, lavei os pratos e Bella enxugou. Finalmente saímos. Durante o percurso, Bella me explicou que esse tal amigo era mecânico e que ela pretendia fazê-lo consertar umas motos para ela. Não entendi seu súbito interesse por motos, porém não fiz comentários. Estávamos a caminho de La Push, onde o amigo dela mora. Nãoo demorou muito, e ela parou o carro em frente a uma casa.

— Pronto. Chegamos! — Anunciou Bella.

 Quando ela desceu do carro, logo foi recepcionada por um cara enorme. Ele devia ter quase 1,90 de altura. A camisa simples que ele usava estava justa em seu corpo, evidenciando seus músculos bem definidos. O garoto parecia ter a idade de Bella. Sua pele possuía um tom avermelhado e seu cabelo negro e liso batia na altura dos seus os ombros. Em resumo, o amigo de Bella poderia ser descrito em uma palavra: Lindo.

— Bella, sua louca! Onde esteve? — Ele a cumprimentou animado enquanto a tirava do chão em um abraço de urso que me fez lembrar de Emmett.

Desci do carro antes que a dor causada pelas lembranças me atingisse em cheio. O amigo de Bella já a tinha colocado no chão e  aproveitei para me aproximar dos dois.

— Jacob, essa é Melany. Ela está passando uns tempos comigo e Charlie. — Apresentou-me Bella.

Agradeci mentalmente por ela não ter dito meu sobrenome. Além de escutá-lo ou até mesmo pronucia-lo, causar dor a nós duas, Jacob, como amigo dela, devia saber do seu namoro com Edward e também devia saber do desfecho do mesmo. Eu não queria que ele me tratasse diferente por eu ser uma Cullen. Jacob me analisou de cima a baixo antes de estender sua mão para mim.

— Muito prazer. — Me cumprimentou com um sorriso simpático.

— O prazer é todo meu. — Respondi, retribuindo seu sorriso. Eu tinha gostado de Jacob. Ele parecia ser uma pessoa muito legal.

— Bom... Jake, eu trouxe uma coisa para você. — Disse Bella após alguns instantes, tirando a capa que cobria a carroceria da picape e exibindo duas motos num estado deplorável.

— Sucata? Não precisava. — Jacob agradeceu num tom brincalhão.

— É... Eu sei. Mas pensei que um amigo mecânico poderia dar um jeito nelas. — Admitiu Bella um tanto embaraçada.

— E eu seria esse amigo? — Deduziu Jacob.

— Eu entendo se você disser que é idiotice e imprudência. — Alegou Bella, balançando-se nervosamente enquanto o encarava.

— É. É uma idiotice e imprudência total. — Afirmou Jacob num tom sério. Pensei que ele não toparia consertar as motos. até que ele fala — Quando começamos? — Emendou abrindo seu lindo sorriso.

Troquei um olhar com Bella que também parecia não acreditar no que tinha ouvido.

— Agora! — Respondeu Bella ainda um pouco atônita.

— Ok. — Jacob assentiu simplesmente, indo descarregar as motos.

A facilidade com a qual ele carregou as motos para o chão me surpreendeu. Motos costumam ser pesadas, porém Jacob as fez parecer leve. 

Fomos para a sua garagem, que parecia mais um celeiro, e começamos a conversar enquanto eu e Bella o ajudamos com as motos. Eu estava certa. Ele era muito legal e começou a me zoar dizendo que me chamaria de Barbie porque, segundo ele, eu era idêntica a boneca.

Depois de muitas risadas e conversa, voltamos para casa de Bella. Durante esse tempo que estivemos com Jacob, percebi que havia um interesse além da amizade entre os dois. Notei também que essas horas que passamos com Jacob deixou Bella mais feliz. Em meses, ela finalmente parecia estar viva. Até eu mesma me sentia melhor. Tinha me divertido verdadeiramente, coisa que não faço desde que minha família foi embora. Ao que parecia, a chegada de Jacob traria grandes mudanças para nós.