Gil anda lentamente e cabisbaixo, desta vez não trazia consigo guitarra ou spray para grafite. Lia foi acompanhando um pouco afastada para que ele não percebesse nada, ela queria ver aonde ele ia. Chega ao local, era onde fizera o grafite junto com ele. Gil senta-se, Lia se aproxima e sem dizer uma só palavra senta ao lado do grafiteiro.

Gil: Sabe, estou com saudade da Renata... – respira fundo - ... Eu fui um burro sabe.

Lia: Não, não sei. Como assim?

Gil: Enquanto a Renata está lá em coma, eu estava rindo com vocês.

Lia: Gil, eu sei que é difícil, mas nós estávamos pensando nela. Em nenhum momento a conversa a deixou de lado.

Gil: Eu sei disto, mas ... Eu não to aguentando mais Lia.

Lia tenta o tempo todo olhar o rosto do Grafiteiro, que além de estar com a cabeça abaixada, se esconde por trás do capuz da blusa.

Gil: Desculpa, as coisas também não estão fáceis pra você.

Lia: Não, não estão. Olha vai fazer quase dois meses eu acho que precisamos viver.

Gil: Mas isso é muito difícil, eu fui perceber tarde demais.

Lia: Pra mim também é difícil e só de pensar nisto é horrível. Você gosta dela não é isso?

Gil: Eu nunca sei o que estou sentindo, estou sempre confundindo as coisas, mas desta vez ... eu nunca me senti sem chão assim antes.

Lia: Então vamos começar a viver?

Gil: Não vai dá Lia, eu não vou conseguir ficar com sorrisinhos sabendo que a Renata pode morrer a qualquer hora e eu nunca tive a oportunidade de falar o que estou sentindo.

Lia: Não pensa assim. Nós não precisamos ficar com sorrisinhos, mas vamos ficar mais otimistas.

Gil: Otimista ... – diz pensativo.

Gil então vira-se pela primeira vez desde que sentou e olha para Lia. A roqueira vê o que Gil escondia, ele estava chorando, o rosto vermelho, os olhos inchados.

Gil: Sem ela eu não vou conseguir, otimismo pode ser uma boa palavra.

Lia: Vamos tentar?

Gil: Juntos?

Lia: Claro.

Lia abraça Gil, neste exato momento Guilherme passa com Dinho, o garoto vê tudo. Na mesma hora Guilherme olha para o amigo, este por sua vez deixa lagrimas escorrerem pelo seu rosto.

Dinho: Não pode ser!

Gui: Um abraço não significa nada.

Dinho: Não, mas um abraço do Gil e de madrugada ... as coisas mudam.

Todos vão para casa.