Dusk (Sombrio) escrita por MayaAbud


Capítulo 54
Conectados


Notas iniciais do capítulo

"Acabei de ouvir as notícias de hoje
Parece que a minha vida vai mudar
Fechei os meus olhos, comecei a rezar
Lágrimas de felicidade caíram logo pelo meu rosto
Com os braços bem abertos
Sob a luz do Sol
Bem-vindo a este lugar
Vou-te mostrar tudo"
Creed- With Arms Wide Open



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Eu já havia chegado a essa conclusão antes, no entanto, uma vez mais eu percebia: não havia ninguém que fosse suportável perder.

Um segundo infindável pareceu suspenso no ar, o mundo lá fora rompendo nosso momento de plenitude violentamente com as palavras de Leah. Parecia haver uma pressão na sala, uma força intangível nos oprimindo.

Ela cambaleou em direção ao sofá, Jacob levantou rapidamente em direção a ela, sustentando-a e levando o corpo em direção ao sofá de frente para mim. Eu assistia a cena como se fosse um filme, não conseguia registrar que isso estava acontecendo. Como aconteceu?! Não parava de me perguntar, como se saber fosse fazer as coisas ficarem melhores.

O bebê em meu colo, protestou com um gemido, tentando descoordenadamente alcançar meu seio; eu o ajudei mecanicamente, vendo baçamente, com os olhos cheios de lágrimas e ele abocanhou com satisfação. Uma contração leve e nós não estávamos mais unidos. Sem pensar, alcancei uma das toalhas que Leah trouxera minutos antes com o sonar portátil e envolvi o órgão que o alimentou através de mim nos últimos meses, o cordão ainda pulsava. Me obriguei a respirar e me concentrei na troca entre Leah e Jacob.

—Eles não dariam conta_ dizia ela. _Eu dei bobeira_ fez careta, sua voz era trêmula de dor. _Me distraí. Ouvi o choro de Anthony, foi um segundo, Jake...

—Vamos dar um jeito. Vamos dar um jeito_ a voz de Jacob era dolorosa, mas havia esperança em seu tom. Não, não era esperança, era determinação. _Nessie, você acha que se sugar o veneno... _Ele olhou para mim, por sobre o ombro enquanto o entendia, mais lentamente do que o normal, o que queria dizer.

Perguntei-me vagamente se eu estava em choque. Me percebi aquiescendo pausadamente. Eu não acreditava realmente que fosse dar certo, mas talvez ajudasse com a dor. Alcancei outra toalha e, sem querer me separar dele, retirei a boquinha frouxa de minha pele e o envolvi com ela. O bebê se agitou e gemeu, mas Jacob o pegou no colo murmurando alguma coisa em quileute, enquanto eu fechava o roupão úmido e com um pouco de sangue.

Jacob me apoiou com uma mão livre, seu braço passando por meu tronco e levantei, uma tontura leve me abatendo, a fim de caminhar 3 passos até onde Leah estava ofegante, aguentando o ardor bravamente.

—Vai ficar tudo bem, Leah_ murmurei e tentei engolir o nó em minha garganta.

Me inclinei sobre o braço ferido, pouco a baixo do ombro, onde as marcas de dentes jorravam sangue brilhante. O cheiro peculiar bailando entre humano e animal. O gosto foi surpreendentemente bom. De um jeito estranho. Eu busquei em minha mente quando fora a última vez que bebera sangue e me pareceu uma eternidade; eu não me apeteci de sangue durante a gestação e mesmo agora, o sangue não pareceu apelativo para mim até que eu provasse. Mesmo diluído ao veneno era saboroso.

—Nessie_ a voz gutural soou advertidamente.

Leah gemeu debilmente.

O amargor do veneno em fim enfraqueceu e desapareceu.

—Fique de olhos abertos, Lee, por favor?_ Jake pediu, preocupado. _Olhe, você nem conheceu Anthony. Olhe. Veja só. Sei que você gosta de bebês... _a voz dele falhou. _Você precisa conhecê-lo.

O coração forte parecia menos poderoso, mais denso e forçado. Fazia um trabalho difícil. E então Leah ofegou fraco e um som, algo como um riso, escapou de seus lábios. Só levou um segundo para a resolução me alcançar enquanto eu via sua expressão com a visão periférica. Uma expressão do tipo que só se vê poucas vezes na vida, ao que parecia, eu tinha muita sorte para presenciar essas coisas, pensei irritada.

—Para, Nessie. Já chega!_ a voz de Jacob me atingiu em meio ao turbilhão de sentimentos e sensações que me faziam girar mentalmente. Eu parei e me ergui do corpo de Leah. Senti minha cabeça balançar em negativa. Olhei para Jacob e sua expressão era séria, insondável, exceto pelas sobrancelhas unidas ao fitá-la. Senti minha boca escancarada, tive vontade de pegar o bebê nos braços de Jacob e correr para longe, mas estava atordoada demais para me mover.

Leah chorou, me tirando de meu torpor.

—Eu vou morrer... Vou morrer, logo agora! Que sorte!_ as palavras soavam fracas e distorcidas pelo choro e pela dor. Uma mão se ergueu em direção a Anthony, afagando o pequeno pé que escapulia das camadas de tecido.

Jake estava imóvel segurando-o de forma que Leah podia olhá-lo. O garotinho fitava na direção dela, os olhos completamente sem foco. Mas ainda assim, em algum momento os olhos se cruzaram o bastante para que ela tivesse imprinting por ele. Por meu filho. Engoli o nó em minha garganta e tentei ignorar a sensação incompreendida de desapontamento e pensar de forma coerente:

—Vamos dar um jeito, Leah_ minha voz soando fria. Ela não pareceu perceber, os olhos se fechando, seu coração enfraquecido persistia, mas o sangramento na ferida tinha cessado, talvez não tenha ficado sangue o bastante; me repreendi mentalmente por pensar isso. Era a Lee ali. Minha amiga. Algo parecia errado, ela era minha amiga, mas algo dentro de mim não estava como deveria ser. Não estava como era há horas atrás, minutos...

Jacob se moveu muito rápido, me ajudando a levantar. Me sentou no sofá do outro lado e me entregou nosso filho. Se afastou até perto da porta da frente e se metamorfoseou ali mesmo. Ele ganiu e se agitou, sem ver coisas que estavam de fato ali. Em menos de 30 segundos ele já era um homem.

Fitei o bebê quase pegando no sono em meus braços... Algumas coisas fazendo muito sentido, mesmo que eu me recusasse a pensar nelas daquela forma.

—Estão vindo ajudá-la_ murmurou Jacob fitando o corpo desfalecido no sofá enquanto se vestia mecanicamente e se precipitou tocando seu rosto. _Está tão fria.

—Precisa aquecê-la_ murmurei.

Jacob moveu Leah com delicadeza e a colocou no colo, mantendo junto de si sentado ao sofá.

—Você está bem?_ sua voz soou tão baixa que o olhei para ter certeza se falava comigo. Ele sustentou meu olhar por um longo momento. Suspirei tentando não chorar. Não era o melhor momento para ter esta conversa, obviamente, mas seus olhos eram perscrutadores em mim.

—Ele mal saiu de mim... Achei que não viveríamos o bastante para isso. Nem o conheço e Leah já o tem mais que eu_ não puder evitar a mágoa em minha voz falha.

Seu rosto se contorceu por meu sofrimento e me senti um pouco melhor, eu sabia que ele entendia, no entanto ele disse:

—Não é culpa dela. Leah não fez por mal.

Fechei a cara, desviando os olhos para o bebê adormecido em meu colo. Meu bebê.

—Renesmee_ sua voz era complacente, mas eu não o olhei. De qualquer forma, Edward se materializou no meio da sala, indo direto para Leah.

—O que as lendas dizem exatamente?_ perguntou ele para Jake.

—Nada muito específico, mas os lobos na história que já foram mordidos não sobreviveram, o que nos faz crer...

Edward assentiu iniciando um exame em Leah.

—Acredito que duas costelas estejam quebradas, não há indício de que esteja cicatrizando_ ele olhou atentamente a ferida enxágue da mordida. _Carlisle vai trazer o necessário para a transfusão, Seth e ela são compatíveis.

—E o veneno?_ indaguei. Edward me fitou com uma expressão lamurienta antes de responder.

—Não sabemos... Você sugou todo o sangue infectado, mas seu corpo não reage como o de um humano_ ele balançou a cabeça.

Baixei os olhos sem querer fitar o rosto de Jacob, sendo covarde e me apegando ao sentimento irracional de estar sendo roubada, no mesmo momento em que Seth, Carlisle, Rose e Bella chegavam. Eles cercaram Leah e Jacob enquanto elas vieram direto para mim.

Depois de me banhar e me vestir rapidamente com ajuda de Bella, encontrei Anthony já vestido com Rose, ela havia me examinado e a ele também, afirmando que tudo estava muito bem; cortou o cordão e retirou amostra de sangue dele para que Carlisle examinasse junto da placenta que agora estava num pequeno recipiente refrigerado. Eu mal podia acreditar que tudo tinha acabado, a angústia, a espera pela morte iminente... Embora eu ainda não soubesse como as coisas se resolveram, ninguém parecia muito interessado em falar a respeito, parecia que Leah fora a única ferida. Um guarda Volturi saiu, discretamente atrás de Jacob quando ele deixou o grupo, deu de cara com dois dos lobos novatos que, eu não sabia, haviam sido designados para minha proteção.

Foi isso que eles avisaram quando uivaram, fazendo Leah sair. Ela os defendeu da inexperiência, sendo mordida por distração, como falou antes de apagar.

Agora, alimentando o bebê ruivo que parecia precisar e se satisfazer unicamente com meus braços eu me sentia um pouco culpada por sentir raiva de Leah. Ela nos protegera, protegera a mim por mais de uma vez... No entanto, eu ainda me sentia bastante irritada ao pensar mais sobre este imprinting. Suspirei, me sentindo muito cansada, mas sem disposição alguma para dormir.

Jacob entrou no quarto hesitante, nem percebi quando minha mãe e Rose saíram, elas tinham ficado lá por minutos, apenas olhando enquanto Anthony se tranquilizava ao mamar. O sol raro numa tarde de verão em Forks entrava, iluminando uma parte da cama, fazendo uma áurea de luz dominar o quarto.

Ele não sorriu, mas nos olhou com encantamento por alguns segundos, antes de sentar à borda, de frente para nós.

—Eu mal pude olhá-lo, hoje_ um lado de sua boca repuxando. Jake se inclinou e inspirou na cabeça ruiva do bebê. _Não é o melhor cheiro do mundo?

Assenti, pensando que era uma pena que após o primeiro banho e no decorrer dos seguintes aquele cheiro em específico se perderia. Um pequeno mecanismo biológico para fazer bebês indefesos (ou nem tanto) serem amados e cuidados pelos genitores... Era indescritivelmente bom, eu poderia cheirá-lo por horas, exatamente como estava fazendo. Eu nunca esqueceria.

—Você está bem? Quero dizer, com relação ao parto... Rosalie disse que sim, mas prefiro ouvir de você._ ele sorriu, hesitante.

—Estou. Um pouco cansada, zonza... Fora um dia absurdamente cheio. Às vezes sinto que nada está acontecendo de fato, que Anthony vai sumir. Sinto... _Jake sempre fazia isso, me perguntava uma coisa e me ouvia, e eu falava e falava; ele sabia melhor que eu quando eu precisava falar. _Coisas deslocadas. Como se não fossem a minha mente.

—Descanse, durma um pouco. Eu vou ficar aqui. Não vou sair de perto pelo próximo... ano!_ ele sorriu abertamente aqui.

Eu não sentia que poderia dormir, mas não quis contrariá-lo. Afastei, lhe dando espaço, e depositei o bebê adormecido na cama, colado à minha barriga. Jacob deitou-se também, alcançou meus lábios com sua boca por um momento e depois minha testa. Afagou meu cabelo.

—Como está Leah?_ eu havia hesitado em perguntar, pois se ela estivesse muito pior, ele não pareceria tão tranquilo.

—Já esteve melhor. Mas poderia estar pior também... _ suas sobrancelhas se uniram, tensas. _Ela parece melhor depois da transfusão, mas as costelas estão quebradas e a mordida, você sabe. Não está se curando e a temperatura não parece com a de um lobo.

—Você acha que... Ter tirado tanto sangue pode ter ajudado com o veneno?_ eu sabia que havia piorado seu estado, deixando-a inconsciente, mas eu já estava me sentindo culpada por sentir raiva enquanto ela estava ferida, não queria ter culpa também por ter tirado demais.

—Edward disse que ela estaria gritando de dor conscientemente, agora. Mas ela teria morrido se tirasse um pouco mais... Então_ ele deu de ombros suavemente. _Não se preocupe, amor. Fizemos o que estava ao nosso alcance. Estamos dando tiros no escuro. De qualquer forma Carlisle levou amostras de pele dela. E minhas também_ ele mostrou as costas da mão esquerda, onde agora tinha uma cicatriz muito precisa, que provavelmente seria invisível no fim do dia.

—Vai estudar a reação do veneno?

—Sim. Disse que em algumas horas podemos ter uma ideia de como ajuda-la, se houver uma forma.

Havia movimento no andar de baixo, enquanto me banhava ouvi a voz chorosa e sobressaltada de Sue, sabia que Seth também estava lá e alguns outros lobos, além de meus pais. Deixei isso como um ruído ao fundo de minha mente, junto de tudo o mais. Então foquei no longo momento de silêncio, rompido quando uma canção desconhecida numa língua que eu não entendia foi entoada ritmicamente pela voz rouca de Jacob, tão baixo quanto nossas respirações...

Me espreguicei antes de abrir os olhos para o quarto iluminado apenas pelo abajur, passei a mão em minha barriga e sentei no mesmo movimento, sobressaltada com a sensação de que algo estava muito errado. Por um segundo muito longo eu lutei contra meus pensamento e a sensação de angustia que era um bolo em minha garganta antes de ver Jacob sentado na poltrona de amamentação, completamente deslocada, em nosso quarto.

Ele me fitava atento, balançando com o pequeno pacote aninhado entre seu peito e suas enormes mãos, os cabelos brilhando úmidos e o cheiro de banho me atingiu enquanto nos olhávamos. Respirei fundo deixando a certeza de que tudo estava bem me preencher.

—Um sonho ruim?_ o sussurro me fez olhá-lo.

—Por um segundo esqueci... Pareceu errado não tê-lo dentro de mim_ toquei a barriga estranha que me restara, apenas por reflexo. _Ele não está com fome? _ indaguei olhando pela janela a noite clara. Havia sido um dia quase quente, agora era uma noite de luar. Um dia realmente atípico.

—Ele chorou um pouco, mas se calou quando o peguei, estava esperando que ele reclamasse novamente antes de acordá-la_ ele sorriu, afagando a cabecinha com a bochecha inconscientemente. _Estamos nos conhecendo.

Sorri e olhei a poltrona entre nossa cama e a parede, bem debaixo da janela.

—Tive a sensação de que você ia preferir tê-lo bem perto. O que lembra que preciso instalar o berço em nossa cama_ ele parecia genuinamente contente, apesar de falar aos sussurros. Assenti me movendo para sair da cama. _Não se esforce, Nessie. A não ser que precise ir ao banheiro, descanse. Seus pais cozinharam, vou pedir que tragam...

—Eu estou bem. Você sabia que em algumas culturas mulheres deixam o trabalho braçal para darem à luz e depois continuam? Além disso eu me recupero bem rápido, me sinto ótima.

Sustentei seu olhar enquanto ele levantava, os lábios grossos apertados numa expressão contrariada. Anthony se esticou e emitiu um som agudo e abafado, que parecia irritado. Isso me deu uma sensação de urgência e algo molhou meu vestido, meu busto parecendo pesado. Jacob me passou ele enquanto eu falava que sentaria na poltrona e, desnecessariamente, ele me ajudou a dar dois passos até lá.

—O que eu perdi? Como está Leah?_ quis saber depois de me acomodar e acomodar Anthony em meu seio, a expressão de satisfação dele era lindo de ser ver, parecia não a ver nada melhor no mundo para ele. Jacob sentou no chão, as mãos apoiadas em meus joelhos e a cabeça apoiada nas mãos.

—Perdeu a primeira fralda suja _ele segurou uma risada que o fez tremer. _Acho que encontramos um cheiro que vampiros e lobos detestam igualmente.

Sorri, mas franzi o cenho: detestar parecia uma péssima palavra para se referir a qualquer coisa que viesse de Anthony. O olhei, a roupa diferente que ele vestia fazendo sentido, agora.

—E você o trocou?

—Sim. Rose me ajudou. E Bella também. E Edward... _ então rolou os olhos.

—Quero dar o primeiro banho, vocês não deram, não é?_ cheirei a cabecinha para ter certeza.

—Não.

Anui

—E Leah?

—Não parece muito bem, a temperatura aumentou, mas ela treme e fala coisas como se estivesse com febre. Carlisle pediu para medicá-la...

—E ela não melhorou?_ sua expressão era aflita.

—Melhorou_ confusa, esperei que ele olhasse para mim de novo. _Como se fosse apenas humana. Pode acreditar?! Eu já quebrei alguns ossos e nem morfina injetada ajudava por muito tempo e então umas gotas de antitérmico...

—Já faz horas, será que vovô não tem nenhuma novidade?

Ele encolheu os ombros parecendo cansado, transferi o pequeno peso de 3kg para um só braço e afaguei seu rosto, por um momento ele relaxou, seu peso recostando em mim e a cabeça deitando em minhas pernas.

—Jake? _ele me olhou, os olhos lânguidos para cima. _E se for isso? Não a morte definitiva, mas a morte do lobo, não da pessoa, mas do lobo dentro dela.

Ele ficou tenso por um momento, porém balançou a cabeça.

—Não... Os lobos que já foram mordidos, eles morreram mesmo. Bem que ela gostaria que fosse assim...

—Não mais. Não depois de ter imprinting. Você acha que ela gostaria de começar a envelhecer agora, sendo quase 30 anos mais velha que Anthony?_ a irritação soando clara em minha voz.

Jacob apertou os lábios, mas os olhos eram indulgentes enquanto sustentava meu olhar.

—Você também não quis um imprinting até ter um. Leah quis, você me disse que ela queria.

—Ela gostaria de deixar de ser lobo... Antes, quero dizer. Tem razão, isso não parece boa ideia agora, mesmo para ela, não pareceria mais tarde quando enfim isso importasse de alguma maneira na relação deles, se chegasse a importar... Mas não acredito que o veneno haja assim.

Dei de ombros para a forma como ele via esse acontecimento.

Anthony arrotou, um som muito alto para alguém do seu tamanho, quebrando completamente a tensão entre mim e Jacob, nós dois gargalhando.

*

A sala parecia completamente impecável, como se Leah e eu nunca houvéssemos sangrado ali, sem nenhum sinal de sangue (os Cullen eram muito bons em eliminar quaisquer vestígios de sangue), ela estava no quarto pensado para ser de Billy, no andar de baixo, então desde o dia anterior havia muita movimentação com Sue  os lobos indo e vindo... Billy e Charlie vieram também, cedo pela manhã, para ver Leah e a mim, no entanto não se demoraram, sensíveis a delicadeza do momento com Anthony ainda tão frágil e Leah doente...

—Como as coisas se resolveram, afinal? _coloquei o prato onde houveram fatias de frutas ao meu lado no sofá e me movi para recostar em Jacob, que tinha Anthony aninhado no lado oposto do peito, sorri para a forma como nós dois parecíamos caber ali.

Edward, que antes dedilhava em meu piano suavemente, parou e virou de frente para nós, uma faixa de sol multiplicando cores ao tocar uma mínima parte de seu rosto incrível. Ele me olhou longamente, enquanto Bella pegava o prato do sofá e levava para a cozinha.

—Houve uma combinação extraordinária de fatores. Primeiro, nós não tínhamos muitas chances até os lobos entrarem na equação, eles só ouviram por terem sido obrigados a parar. O escudo de Bella foi muito eficaz, impedindo-os de nos atacar enquanto falavam e, bom, as testemunhas deles provavelmente teriam um triste fim se eles optassem por isso.

—E os seus amigos pouco dispostos também, imagino_ murmurou Jacob. Olhei para cima, sem entender.

—Algumas de nossas testemunhas alegaram não lutar se chegasse a isso_ Edward explicou.

—E outras prometeram lutar contra nós _Jake bufou. _Muy amigos!

—Quem?_ minha voz soou horrorizada.

—O pai do baixinho Avatar_ eu, Edward e Bella (da cozinha) rimos. Anthony ergueu a cabecinha por um segundo e deitou de novo, Jake o afagou com a mão livre.

—Benjamin_ concluí enquanto meu pai dizia o nome de Amun acusatoriamente. Senti minhas sobrancelhas se ergueram com incredulidade.

—É, contra ou a favor, se atacassem após ter ouvido que as acusações eram falsas, não acho que alguém teria restado além deles próprios. Mas teve outra coisa também, uma coisa que honestamente...

Edward parou os braços apoiados nos joelhos, perdido em pensamentos por tempo o bastante para eu me perguntar se ele diria. Bella se materializou na sala, de pé, os olhos em meu pai. Jacob e eu nos encaramos em busca de resposta no outro.

—Pai?_ seus olhos de ouro líquido vieram para mim, tão profundos e questionadores que me senti culpada. Fosse o que fosse, a culpa era minha, me encolhi contra o corpo quente e acolhedor de Jacob.

—Você, Renesmee.

Um chiado se formou no peito de Jacob.

—Algo aconteceu quando seus dons se chocaram. Você impondo, ele sugando... De alguma forma você absorveu as memórias de Aro.

—Quê? Não!_ parecia ridículo.

—Foi bem estranho_ Olhei para Jacob, fitando o chão pensativo. E depois para Edward me encarando.

—Você pode não ter acesso agora, mas no fundo, inconscientemente, você sabe uma coisa que destruiria os Volturi.

Gelo pareceu nascer em meu estômago e se espalhar por todo meu corpo, minha respiração muito pesada de repente. Não conseguia acreditar. Jacob apertou seu braço a minha volta.

—Eleazar não diz desde que a viu, ainda um bebê, o quanto você é irresistível e poderosa?!

—Se eu soubesse algo que Aro visse como uma ameaça, não faria mais sentido me matar ali mesmo?_ me inclinei para frente, ansiosa, tentando encontrar um sentido naquilo que eu não acreditava que haveria.

—Aro sabe que nada nos importa mais que viver nossas vidas em paz. Além disso, o que você tem são... como informações criptografadas: você as tem, mas não sabe como codificá-las. No momento não valia o risco de abalar a reputação Volturi.

Nos olhamos por alguns segundos, meu pai e eu. Minha mente abarrotada, e parecendo lenta, chegou a conclusão ao mesmo tempo em que falei:

—Você sabe! Você sabe qual é o segredo.

Recostei no sofá, abismada, enquanto Bella e ele trocavam um olhar, ele sorriu para mim um sorriso de lado, que não era feliz nem divertido.

—E se um dia você também souber precisa guardar com você. Não pode contar a ninguém mais. Aro saber que está seguro, pode garantir nossas vidas.

—E porque...

—Querida, é um milênio de acontecimentos. Não só a vida dele, mas de todos que ele já tocou. Embora sua mente seja fantástica, é confuso até para mim... A mente de Aro é como um labirinto. Não se angustie por isso. Não saber é sempre melhor quando se trata dele.

—Mas conhecer o campo de batalha é sempre um favorecimento_ repeti a lição ensinada por Jasper e repetida tantas vezes, nas mais diversas situações.  Edward sorriu novamente, um sorriso mais parecido com um sorriso de verdade.

Bella se aproximou dele e ele fechou os braços em seus quadris, ela de pé apoiada nele, quase em seu colo.

—Eu sei que ele viu sua mente: mas você tem mais vantagem que ele podendo ler mentes à distância. Se você mudasse de ideia depois... Não acho que ele nos daria o benefício da dúvida. Há algo mais, não há?

Edward balançou a cabeça, num movimento longo e cansado. Havia. Me dissesse ou não, havia mais. Apertei as têmporas, mentalmente exausta. De repente, fazia sentido essa sensação de que eu não estava em meu corpo: eu tinha uma cópia da mente maligna de Aro em minha cabeça. Tremi com um calafrio. Obviamente não era como se nós estivéssemos ligados, mas aos poucos chegava a mim a dimensão de saber o mesmo que Aro e eu não queria. Não queria saber nada.

—Todos viram o interesse dele pelos lobos e Aro conhece a dimensão da ligação entre a matilha e de cada lobo com seu objeto de imprinting. Se ele a ferisse, tendo todos protegidos por Bella, lutando, não teria garantias de que algum lobisomem sairia vivo e tão pouco... Anthony!

—Não!_ Bella, Jacob e eu rosnamos ao mesmo tempo. Me inclinei de lado e abracei a Jacob e nosso bebê, que dormia ingenuamente, alheio a tudo que já o cercava apesar das poucas horas neste mundo.

—Porque perder a menor chance de aumentar o poder de sua guarda por algo que tem ainda menos chances de acontecer? É assim que ele pensa_ Edward olhou para Jacob. _Talvez Renesmee nunca lembre das coisas que viu, e não é como se eu estivesse contando a qualquer um. O que sei... _olhou para mim. _Sabemos. Ficará muito bem guardado. Como ele teria a lealdade de qualquer lobo se ferisse qualquer objeto de imprinting? Ele sabe o quanto vocês estão distantes de suas mãos, mas isso não o impede de pensar em formas para alcançá-los.

—Ele virá um dia, não virá?_ minha voz falhou, imaginando que eu viveria o resto de meus dias com a aflição que vivi nos últimos meses. Olhei para Anthony, tão lindo... A pequena boquinha aberta em forma de “o” como a de um peixinho rosado, bochecha prensada contra a pele de Jacob.

—E ainda terá um exército de bebês à sua espera_ Jacob respondeu, a expressão altiva e grave.

Edward sorriu para Jacob partilhando da mesma arrogância e com cumplicidade.

—Bebês que impressionaram bastante, pode ter certeza _eles sorriram abertamente um para o outro e, embora eu quisesse saber do que eles falavam, eu estava ainda mais interessada numa resposta. Então meu pai voltou sua atenção para mim.

—Pode ser que voltem ou pode ser que não. Provavelmente leve séculos até que se recuperem de ter encontrado um grupo à altura. _ele deu de ombros e algo na forma como ele olhou para minha mãe me fez acreditar que ele estava sendo honesto.

—Você tem sua própria família para proteger. Eu não a deixaria no escuro, Nessie. Você é a peça chave nisso e principalmente: é minha filha. A quem daria tudo para ver feliz.

Assenti, grata que ele não me excluísse disso como já fez um dia.

Havia mais que eu queria perguntar, mais coisas que eu precisava saber, mas olhando para Jacob... Não tive coragem, isso poderia esperar.

Então o carro de Carlisle, nós conhecíamos pelo som do motor, entrou na pequena estrada de nossa casa e nós esperamos impacientemente pelos minutos que levaram até que ele entrasse por minha sala.

—Trago notícias_ anunciou fechando a porta.

—Boas, eu espero, doutor!_ toquei o braço de Jacob numa advertência cautelosa, não era como se Carlisle quisesse trazer notícias ruins ou como se controlasse o que acontecia. Beijei seu rosto quando ele me olhou um tanto contrariado. Por fim, olhamos meu avô à espera.

—Sim, são boas notícias.

—Leah não corre risco de vida.

Ainda que no momento eu estivesse relutante quanto a ela, um peso que eu não sabia existir saiu de meu peito e talvez até aquele momento Jacob fosse o próprio Atlas segurando o mundo nas costas, porque subitamente ele tinha a expressão de quem enfim chega à praia depois de muito nadar. Ver a forma como ele relaxou, a cabeça pendendo para trás e o rosto, ainda cansado, parecendo rejuvenescer, me fez perceber como eu estava sendo egoísta.

Me ative à preocupação de dividir meu filho, ter minha vida invadida e pouco considerei o fato de que Jacob estava lidando com a provável perda de uma grande amiga; alguém que lhe ajudara a voltar à vida humana e a reconstruir sua vida. Uma irmã. Alguém com quem, de certa forma ele tinha ainda mais intimidade que comigo.

Eu recostei minha testa na lateral da sua, o acolhendo. Até sua respiração parecia mais leve.

—Pelo que pude compreender em tão pouco tempo: o veneno age como uma droga que a impede de se recuperar. Além disso tem a dor, que é incapacitante, mas isso foi aliviado retirando parte do sangue infectado. É como se seu metabolismo voltasse ao funcionamento humano.

“Repliquei várias quantidades das doses de veneno em laboratório em acredito que quando o período usual do fim do ciclo do veneno chegar ao fim, ela começará a se recuperar”

—Jacob está pensando na história deles, na razão para os lobos mordidos morreram, então.

—Somos mais fortes agora? _Jacob complementou Edward.

—Isso eu descobri com a sua amostra, Jacob. Na verdade, a provável causa da morte nesses casos tenham sido outros ferimentos. Leah teve sorte de só ter fraturado duas costelas e que essas não perfuraram nada e não há estilhaços. Se ela tivesse sofrido um ferimento mais grave, o veneno a impediria de se curar e sua morte seria primariamente em decorrência do ferimento.

—Vivendo e aprendendo_ murmurou Jacob, a expressão distante, exausto. Perguntei-me se ele havia dormido.

—Sim, vivendo e aprendendo! _ Carlisle parecia muito animado com suas descobertas. _Vou vê-la.

—Vou avisar a Sue_ disse Bella dicando no celular e caminhando em direção a cozinha.

Puxei Jacob, aninhando sua cabeça em meu ombro e me concentrando nele e em nosso bebê: nos corações, nas respirações.

Só o que eu conseguia sentir no momento era gratidão. A densidade da vida de Leah em minha vida não podendo mais ser ignorada: estávamos todos conectados.


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