Dusk (Sombrio) escrita por MayaAbud


Capítulo 52
Julgamento


Notas iniciais do capítulo

“E com o amanhecer caindo
Rumo ao certo
Não pude comprar uma noite de sono (...)
E depois do nascimento
Na silenciosa Terra
Deixe as manchas lembrarem você
Você pensou que havia feito um homem
É melhor pensar de novo
Antes que meu papel defina você
E nas suas mãos pacientes
Eu pousarei
E escaparei da minha própria pele
E nas suas horas finais, eu estarei
Pronto para começar”
Show Me How To Live- Audioslave



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Jake e eu caminhamos pela floresta em velocidade completamente humana, nossas mãos unidas entre nós e, embora não conversássemos, nos fitávamos constantemente em uma espécie de culto particular. Ainda que não víssemos, sabíamos, ouvíamos e sentíamos as passagens de vampiros e lobos à nossa volta, a metros e quilômetros de distância, como fantasmas apressados. Mas nós não estávamos. Cada passo era dado como se não houvesse lugar nenhum para ir.

Olhando-o majestoso e potente mesmo descalço e vestindo apenas uma calça de moletom, meu coração sobressaltava-se por sabê-lo meu, desde aquele primeiro olhar. Recordei o dia em que despertei, momentaneamente sem memória e confusa, despida numa cama quente e recoberta do aroma mais marcante que já sentira em toda minha vida. Jake me olhara tão aflito a princípio, parecia me conhecer, como se estivesse diante de um parente muito querido acamado, foi apenas um milissegundo, mas isso nunca saiu de minha cabeça. Os décimos de segundo após e cada minuto e hora depois disso foi da mais intensa adoração. Jacob me olhou com tal desprendimento e clara emoção, que foi impossível não devolver com afeto imediato. Ainda que eu tenha tentado ser racional, como sempre, afastar a sensação de simetria, me ater ao fato de que não nos conhecíamos e de que eu talvez não estava tão segura quanto parecia, no fundo eu sabia. Eu quis tudo que seus olhos me ofereceram em um segundo, para sempre, naquele mesmo momento.

Refleti e imaginei um mundo paralelo em que eu jamais fugira para Forks a fim de evitar uma conversa difícil, em que eu segui minha vida, deixando Jacob e seus amigos, minha família e todas essas vidas em segurança. Sorri, fitando nossas mãos unidas, eu não me arrependia. Se eu soubesse, eu faria de novo, teria cada momento, cada conversa, cada toque e cada olhar que tivera sem hesitar. Se isso fazia de mim alguém egoísta, eu era. Um monstro. Mas eu tivera Jacob. E tivera muito mais do que jamais fora ousada o bastante para desejar; toquei minha barriga saliente, parcialmente escondida pela roupa que escolhi usar. Eu tivera em minha curta vida tudo o que talvez nem Aro nem nenhum deles, em seus milênios puderam experimentar. Tentei encontrar conforto nisso e, embora não pudesse deixar de lamentar, encontrei.

A mão na minha apertou meus dedos, me tirando de meus pensamentos.

Paramos de frente um para o outro, minhas mãos em seu peito, as dele em meu rosto e em nosso filho. Seus olhos fixaram-se nos meus em silêncio e eu não precisei que ele dissesse, sorri e balancei a cabeça, anuindo.

—Amo você_ dissemos.

—Para sempre!_ garanti antes que ele me beijasse com paixão.

*

Estávamos numa clareira grande e rochosa, o chão era seco (para os padrões da região). Listras azul pintavam o céu cinza claro, o vento era fraco e o dia estaria muito agradável, não fosse por nossa atual situação. Não era irônico, viver sob chuva constante e dias escuros, para então morrer num lindo dia de sol?

Olhei enquanto avançava, deixando Jake em seus preparativos com tantos lobos quanto jamais imaginei. Carlisle conversava com nossos aliados, alguns olhos cor de mel e alguns outros escarlates brilhantes sorriram e me cumprimentaram enquanto eu andava em direção aos meus pais.

Os rosto de Bella transformou-se em pura agonia ao me olhar. A abracei.

—Amo você, mamãe!_ murmurei em seu pescoço de pedra.

—Também amo você. Mais que tudo_ ela se afastou para olhar em meus olhos, as duas mãos frias em meu rosto. Edward abraçou a nós duas.

Soltei-os cedo demais, temendo... olhei para trás, em direção à floresta, ansiosa por Jacob, foquei em esperá-lo. Ouvíamos as respirações dos lobos e o som pesado de seus corações.

Uma contração pontual me fez respirar fundo e me inclinar, apoiando-me nos joelhos, levando minha intenção de ocultá-la de meus pais como uma onda.  Quatro mãos frias me tocaram. Concentrei-me na respiração e esperei passar. Pensei apenas nisso. No fim me endireitei e evitei o olhar de meu pai.

—Qual a frequência?_ perguntou Bella, hesitei consciente de toda a atenção que recebíamos.

—Vinte minutos. Não estão longas o suficiente­_ uma meia verdade. Ela afagou meu braço, as sobrancelhas unidas.

Estavam moderadamente intensas, com duração de 30 a 45 segundos e cada 15 minutos, mas isso podia ficar pior a qualquer momento. Já fazia dias que variavam muito, nunca haviam ficado consistentes por tanto tempo. Elas mantinham ritmo já há 7 horas. No começo pouco intensas, apenas incômodas. Caminhava, respirava e acho que convenci Jake de que era apenas mais um alarme falso. Treinei ficar imóvel, em frente ao espelho quando elas vinham, era terrível, eu poderia manter a calma, mas não conseguiria agir como se nada estivesse acontecendo (talvez quando nossas vidas dependessem mesmo disso), fiz os exercícios de Yoga que Leah me ensinou... Tudo a fim de chamar o mínimo de atenção para meu trabalho de parto em andamento, eu tinha que suportar com calma até que ao menos desse meu depoimento direto a Aro.

Por favor, me apoie. Eu preciso fazer isso, você sabe! Me afastar antes de falar com Aro vai enfraquecer vocês e vai lhe dar motivos para nos questionar, pensei fervorosamente mudando de tática, ter Edward ao meu lado era melhor que ter contra.

Ele me deu um meio abraço, beijou minha têmpora e depois me deu um sorriso condescendente, eu não acreditei realmente que Edward me deixaria ali, tão facilmente, mas soube que teria um pouco mais de tempo. Ele me deu um sorriso discreto.

Olhei a mochila de couro que minha mãe tinha às costas e ergui as sobrancelhas numa indagação muda. Ela balançou a cabeça, negativamente e desviou os olhos de mim, em direção ao grande lobo ruivo em nossa direção. Não passou despercebido o longo olhar irritado entre Bella e Jacob. Olhei para meu pai e ele também desviou os olhos. Por fim, ergui uma sobrancelha para Jacob que rolou os olhos gigantes e balançou a cabeça, os ombros encolhendo levemente.

Me aborreci, em parte por não saber o que ocorria e em parte porque aquele não era o momento para nos aborrecermos uns com os outros.

 As testemunham agruparam-se a nossa volta. Meu pai se juntando a Carlisle, Emm, Rose, as irmãs Denali e Eleazar, numa linha de frente.

Eu, com Bella e Jake de cada lado e Benjamin, sentado no chão murmurando algo sobre falhas geológicas, e Zafrina austera e ferina, logo atrás de mim. Imaginei o porque e concluí que eles eram nossas armas de ataque, se minha mãe os mantivesse com a mente protegida o máximo de tempo possível... De repente eu lamentei ter evitado todo o planejamento. Se eu soubesse quais eram os planos... Não, eu pouco teria utilidade numa luta entre vampiros e lobos, grávida e com contrações... Afaguei a barriga, tudo já ia terminar, de uma forma ou de outra.

Segui o olhar de Edward e me vi procurando ouvir algum sinal de aproximação. Então meu pai sibilou, ao meu lado Jacob enrijeceu, eu assisti inquieta cada segundo escorregar para o passado.

Sua chegada era teatral, para intimidar e me perguntei se também não seria para distrair, fluíam das árvores numa sincronia ensaiada e hipnótica; numa formação que se assemelhava a uma flor quadrada que desabrochava, cinza para revelar seu interior muito escuro. Os rostos encapuzados avançaram, desdobrando-se sem pressa e revelando os matizes mais escuros em direção ao núcleo negro, num ritmo que poderia ser considerado propositalmente lento, tratando-se de vampiros. O roçar suave de seus mantos balançando soava cadenciadamente, a mim parecia agourento, como uma canção fúnebre.

—Alistair tinha razão. _Edward sussurrou para Carlisle, tão baixo que o farfalhar do vento nas árvores quase me impediu de ouvir: _Aro e Caius vieram para destruir e conquistar. Há muitas estratégias preparadas para nos acusarem se precisarem parar, o que eles não têm intenção de fazer.

Me senti zonza, mais alguns metros e eles atacariam. Havia tempo para me despedir?

Jacob soltou uma espécie de bufar, longo demais para ser desdém e baixo demais para parecer enfurecido.

E então, eles pararam. Os únicos sons de coisa viva eram os grandes corações constantes, agora muito mais perto que antes. Temi olhar em volta, me sentindo destoar em meio as estátuas, então me concentrei em seus sinais mentais. Eles contornavam todo o grupo de nosso lado.

Uma mudança fez a cena parecer onírica: mãos disciplinadamente sincronizadas ergueram-se e tiraram os capuzes no exato momento em que uma grande nuvem roxa rolou, revelando o sol à pino. Eu pisquei algumas vezes me adaptando ao súbito brilho de todos eles ao sol, me dando conta de que devia ser essa a visão que Alice tivera ao dar instruções sobre quando viriam. Jacob ganiu baixinho (o que me impediu de olhar para trás a fim de ver a expressão de minha pequenina tia) a grande cabeça de lado com o desconforto nos olhos. Levei a mão até abaixo de seus olhos perguntando à minha maneira se isso dificultaria as coisas para os lobos. Ele balançou a cabeça em negativa, como se fosse dizer que sim. Olhei para as nuvens espaças e para Jacob, um lobisomem ao meio dia, contive um sorriso irônico e a fagulha de esperança em meu peito.

Ao mesmo tempo, atrás de nós duas vozes desconhecidas murmuravam, tão baixo que podia ser um suspiro, algo sobre eles terem mesmo vindo e admirados que as esposas estivessem lá. Então me atentei às duas figuras de manto negro, no meio e atrás, parecendo de alguma forma afastadas das fileiras principais. Protegidas, saltou em minha mente, numa posição semelhante à minha, em nosso grupo menor. Atrás dos 32 encapuzados inexpressivos, surgiam outros, parecendo coloridos demais em contraste com o quadro sombrio dos primeiros: as testemunhas dos Volturi. Os que espalhavam as notícias da justiça e da generosidade dos 3 reis. Nossa desvantagem física ficando opressoramente clara para mim, meus olhos pinicaram com as lágrimas que eu não quis derramar. Num combate, não tínhamos chance alguma.

Surpreendendo-me Bella rosnou, baixo e ferozmente, ecoando-a Senna, Zafrina e Kachiri sibilaram e rosnaram. Meu coração acelerou, imaginando isso como uma afronta aos Volturi. Edward olhou para trás numa clara advertência, em seguida houve uma troca entre ele e Carlisle. Me angustiei, de repente percebendo quão inábil eu era comparada a todos ali, meus ouvidos não eram o bastante para captar a conversa baixa e rápida.

Carlisle deu vários passos à frente, os braços erguidos e as palmas para cima, em cumprimento.

—Aro, velho amigo. Já faz séculos.

Um longo silêncio seguiu. Edward irradiando tensão enquanto avaliava a percepção de Aro às palavras de meu avô. O vampiro de pele porosa e cabelos muito negros deu um passo à frente, saindo do centro da formação e os guardas iridescentes reagiram, um chiado percorreu as filas de carrancas, alguns se agacharam em posição de ataque.

—Paz_ Aro os advertiu e caminhou mais alguns passos. Ele inclinou a cabeça de lado, avaliando. Os estranhos olhos vermelhos de aparência cremosa, aguçados de curiosidade.

—Belas palavras, Carlisle_ a voz soando refinada e doce. _Mas parecem deslocadas considerando o exército que você reuniu para me matar e matar os que me são caros.

Meu avô sacudiu a cabeça e estendeu a mão, ignorando os quase 100 metros que haviam entre eles.

—Basta me tocar para saber que nunca tivemos essa intenção.

Os olhos de groselha e leite se estreitaram.

—De que adianta suas intenções, caro Carlisle, diante do que você fez?

—Não cometi o crime pelo qual você está aqui para punir.

—Então saia da frente e deixe-nos punir os responsáveis. Na verdade, Carlisle, nada me agradaria mais do que preservar sua vida hoje.

—Ninguém infringiu a lei, Aro. Deixe-me explicar_ novamente, vovô ofereceu a mão.

Antes de qualquer coisa, houve um movimento muito rápido e um vampiro de manto negro e aparência monocromática, tal era a falta de contraste entre sua pele e seus cabelos, estava ao lado de Aro. Caius, pensei.

—Tantas regras sem sentido e leis desnecessárias criou para si mesmo, Carlisle_ chiou o ancião. _Como pode defender a quebra de uma das mais importantes?

—Não há lei violada, se vocês ao menos ouvissem...

—Estamos vendo essa horda de lobisomens!_ Caius sibilou. _E seu exército de delirantes em defesa de sua associação criminosa.

Ao meu lado, Jacob ergueu suavemente a cabeça parecendo ainda mais majestoso em sua forma lupina.

—Eles não são lobisomens, estamos à beira do meio dia. Além disso, podemos provar...

—Um truque!

—Não há truque, Caius. Os outros são nossas testemunhas, como as que vocês mesmos trouxeram. Qualquer um desses amigos pode dizer a verdade sobre os transfiguradores— Carlisle deu ênfase a palavra.

—Onde está o informante? _sibilou o vampiro de cabelos brancos.

Nesse momento a formação Volturi desdobrou-se mais uma vez, revelando-nos que haviam mesmo parado, de forma inesperada, sua chegada e mais: Nahuel e Johan.

Me senti oscilar e não deve ter sido apenas a sensação, porque Jacob moveu um passo ao lado em minha direção e Bella envolveu meus ombros, me apoiando. Nahuel parecia abatido, um pouco sujo, desgrenhado e, principalmente, aterrorizado. Seus olhos escuros encontraram os meus por alguns décimos de segundo e dentre vários sentimentos eu pude ver o medo. Ele caminhou na direção onde Aro e Caius estavam com mais presença de espírito do que imaginei possível ao ver seu rosto; ladeando-o estavam dois guardas enormes, de mantos mais claros.

Caius progrediu os dois passos que faltavam e lhe deu um tapa, o som de pedras chocando-se e quebrando. O gesto tinha obviamente a intenção de humilhar e provocar.

Nahuel girou e caiu no chão com um baque, o som seco de sua pele contra o chão rochoso ecoando estranhamente. Seu pai rosnou furiosamente, sendo contido por outros dois guardas, e silvos soaram de atrás de mim, que não consegui reagir com mais que um arquejo.  Olhei e, duas fileiras atrás, estava Jennifer e duas mulheres jovens cujos os rostos eu nunca tinha visto pessoalmente, mas que eu sabia (por ter visto fotos no passado) se tratarem de Serena e Maysun, irmãs de Nahuel. Seth as escoltava.

Tornando a olhar, vertiginosamente apreensiva, em direção a contenda estabelecida, vi Nahuel se levantar sem pressa, como um humano cansado; seu rosto desdenhoso e ferido, um hematoma grande na pele marrom. Por um momento eu pensei que ele fosse sorrir, seu rosto se retorceu levemente com o que imaginei ser uma expressão zombadora e ele cuspiu de lado uma grande quantidade de saliva e sangue, antes de olhar friamente para Caius. Este crispou uma mão cor de osso em nossa direção.

—Foi este o lobisomem que viu em companhia de Renesmee Cullen?_indagou-o, ouvir meu nome naquela voz fez um arrepio percorrer meu corpo.

Nahuel relutou um segundo e então olhou para mim longamente.

—Me perdoe_ falou baixo como um suspiro e ainda assim com fervor, trinquei meus dentes para impedir um soluço, minha garganta doía com o nó. Caius se moveu impaciente e imaginei que ele quisesse bater no híbrido de novo. Então Nahuel olhou para Jacob e para o fundo de nosso grupo, antes de olhar para Jacob de novo, em clara avaliação e por fim para cima, por um momento.

—Eu... Ele, obviamente, não é um filho da lua_ falou comedindo as palavras.

—Foi ele que você viu?_ o tom de Caius era cortante.

Nahuel pareceu respirar fundo e seus olhos vieram para os meus novamente, ele fitou minha barriga discreta sobre o modelo da blusa, mas não escondida, e eu vi a resolução neles antes que ele dissesse:

—Era noite de lua cheia. Uma coincidência _murmurou fitando o chão por um instante, parecia falar para si. _Era ele. A mesma criatura que está aqui parada conscientemente e à luz do sol, a alguns minutos do meio dia...

Caius rosnou e Nahuel parou. Subitamente Aro tinha uma mão restritiva no ombro do Volturi monocromo.

—Componha-se, irmão. Temos tempo para esclarecer isso. _E caminhou afastando-se vários passos de Nahuel, Caius o seguiu pela metade da distância e parou parecendo contrariado.

—Ao que parece, temos um mistério em nossas mãos_ seus olhos faiscaram para Jacob e perpassou a longa linha que eram os lobos atrás de nós. _Lobisomens ao meio dia, quem diria_ sorriu, estupefato. Uma estátua iriante e perplexa.

—É o que estou tentando explicar_ disse Carlisle, e em seu tom pude perceber certo alívio, eu não me permiti isso. Quando meu avô ofereceu a mão, Aro hesitou.

—Prefiro ouvir alguém mais central nesta história _de novo, seu olhos vieram para Jacob, um rosnar longo e muito baixo reverberava em seu peito, ameaçando sair.

—Temos alguém que pode interessá-lo ouvir_ disse Edward.

Esperei, aflita, que Jacob se movesse, no entanto, a agitação veio de trás. Olhei bem a tempo de ver Leah avançar entre os vampiros em forma humana, muito bonita em jeans desgastados, uma camisa clara de mangas longas, muito colada ao corpo curvilíneo e botas de caminhada surradas, um rabo de cavalo despojado segurava seus cabelos lisos e longos em cima. Não fosse sua aparência atraente a qualquer um que tivesse olhos, sua postura confiante seria intrigante o bastante. Me movi, inquieta enquanto ela avançava decidida e agilmente os metros que separavam nosso grupo, sendo seguida por Edward e Emmett.

Quando ela parou, há míseros 8 metros de distância, sendo a ponta de flecha que eles formaram enquanto caminhavam, completamente exposta, senti Jake se tencionar e só então me dei conta de que estava rígida de apreensão.

Leah ergueu a mão, seu queixo no alto e a postura ereta, como se conferisse uma enorme honra ao rei vampiro. Aro pareceu se divertir com isso e caminhou com uma vampira de expressão amedrontada colada às suas costas, o escudo, eu soube.

Leah se tencionou ao ser tocada, mas não vacilou esperando enquanto ele fechava os olhos e absorvia todas as suas lembranças, cada canto consciente de sua mente, quem sabe até os inconscientes... Por fim, depois de longos segundos em que se pode ouvir um burburinho vindo das testemunhas Volturi, Aro abriu os olhos e endireitou o corpo fitando-a com encantamento e cautela, sem soltar sua mão.

—E é isso_ disse ela casualmente.

—Tanto o que refletir... Tanto o que saber! _Os olhos dele percorreram de novo, a fileira de lobos e eu senti como se tivesse engolido uma bola de gelo. Jacob se retesou, as pernas levemente flexionadas. Os rostos inexpressivos de toda a guarda tornaram-se incrédulos.

—Posso conhecê-los?_ Aro olhou de Leah para Edward, sua voz quase suplicante, ansiosa. _Nunca imaginei a existência de uma coisa dessas em todos os meus séculos. Que acréscimo a nossa história!

Minha mãe se tencionou, os braços ainda a minha volta, e senti os olhos de Jacob em mim. Era o que queríamos afinal, sermos ouvidos... Quis correr até lá, eu tinha os minutos contados e cada segundo era precioso.

—Do que se trata, Aro?_ Caius interveio antes que meu pai respondesse.

—Algo que você jamais sonhou, meu caro amigo pragmático. Reflita por um momento, pois a justiça que pretendíamos aplicar não é mais coerente.

Caius sibilou de surpresa e, eu apostaria, que de frustração também. Mas meu pai não parecia relaxado, tampouco me escapou a instrução para refletir: ainda haveriam mais argumentos fajutos.

Então Aro voltou sua atenção para Leah, a mão ainda segurando a dela.

—Você poderia nos mostrar?

Ela aquiesceu uma vez, solenemente. Ele finalmente soltou a mão dela que, se eu conhecia bem o bastante (e eu conhecia), conteve o instinto de esfregar a mão que esteve na do vampiro na calça jeans.

Leah se afastou sem desviar a atenção dele e tremeu. Ela não faria... Faria! A garota tremeu por um segundo, sua forma ficando borrada e então seu tamanho quase triplicou. Suas patas tocaram o chão com um som abafado e macio antes do resto de suas roupas, e alguns arquejos e burburinhos correram o campo.

—Não é mesmo incrível?_ demandou Aro para um Caius que parecia ver a coisa mais abominável que já existiu. Leah se agachou e bufou em direção ao vampiro de cabelo branco e depois se endireitou, afastando deles alguns passos.

—Agora deixe que eu conheça sua filha e o pai de seu neto_ Aro pediu com doçura a Edward. Ao que meu pai respondeu:

—Um meio termo seria aceitável. O encontro se dará no meio.

Aro tocou Edward, como se precisasse do apoio de seu braço a fim de cruzar o campo em nossa direção.

Não consegui me mover, observando toda a guarda acompanhá-los. Aro ergueu a mão, relaxado.

—Esperem meus caros. É verdade, eles não nos farão mal algum se formos pacíficos.

A guarda reagiu abertamente, desta vez, com rosnados e silvos de protesto, mas se manteve imóvel.

—Talvez deva levar alguns membros conosco_ sugeriu meu pai. _Isso os deixará mais à vontade.

Aro assentiu, a expressão como se ele mesmo devesse ter tido esta ideia, então estalou os dedos.

—Félix, Demetri.

No mesmo instante os dois estavam ao seu lado. Ambos altos, mas um magro e rígido e outro imenso e ameaçador.

Os 7 pararam no meio do campo.

—Jacob, Renesmee_ chamou meu pai, a voz impassível.

Suspirando e fazendo contas mentalmente, me soltei dos braços rígidos e relutantes de Bella, caminhando lado a lado com Jake, minha mão direita emaranhada nos pelos de seu dorso, eu gostaria de lhe dar a mão.

—Companhia interessante vocês têm_ murmurou o vampiro menor avaliando Leah e Jacob; ela grunhiu baixo em sua direção.

Paramos a cerca de 9 metros de Aro. Meu pai escapuliu de seus braços e veio até nós, um de seus braços em minha cintura larga; Leah se moveu de maneira a ladear Edward, Emmett se posicionando bem atrás de nós.

—Ah, mas ela é excepcional! _ os lábios pálidos abriram num riso fascinado, os olhos leitosos presos em mim com afinco. _Tão parecida com você e com Bella!_murmurava. Então falou mais alto, para mim, diretamente: _Olá, Renesmee.

—Olá, Aro_ ouvi minha voz soar alta, clara, imperiosa e mais indiferente do que pensei ser capaz alguns minutos antes. _Não acho que eu possa lhe dizer mais do que já sabe.

—Eu a compreendo, Renesmee_ disse com ternura. _Mas é importante que eu ouça todos os lados_ Aro falava com absoluta convicção, por um segundo inteiro acreditei fielmente. Mas algo em meus instintos fazia os pelos em minha nuca se eriçarem.

Aro me ofereceu uma mão, como se me cortejasse. Dei 4 passos enquanto ele fazia o mesmo encurtando, sozinho, o espaço entre nós. Eu hesitei, estendendo levemente a mão esquerda enquanto a direita se erguia em direção ao rosto poroso.

—Se me permite mostrar... _ofereci, relutando internamente. Aro teria o mesmo que eu. Cada momento com Jacob, cada descoberta e cada emoção e monotonia que eu já sentira em minha vida. Ele veria tudo. Suspirei, me rendendo.

Foi rápido e, no entanto, estranhamente longo; não há nada com que eu pudesse comparar a experiência.

Aro pegou minha mão estendida no mesmo momento em que toquei seu rosto impondo a ele todas as sensações em minhas memórias, então houve uma descarga, um impacto intangível e um estranho (e desconfortável) frêmito percorreu meu corpo, enquanto meus olhos eram preenchidos por tantas imagens que a sensação era desesperadora, me deixando cega e atordoada; e então acabou. A sensação foi a mesma de acordar direto de um sonho, a mente cheia e indistinta.

Dei um passo para trás, as mãos instintivamente sobre o ventre e pisquei perdida, tentando encontrar a saída daquela espécie de transe;  me livrar da aflição de, por alguns segundos, não saber quem eu era e o que eu fazia ali, fitando o inumano pálido e seus olhos que me fitavam cheios de algo cujo o significado me escapava. Ele se recompôs muito mais rápido que eu do que quer que tenha havido, aparentemente. Levou dois segundos enquanto eu o olhava com um horror incompreendido, até que ele sorriu e disse:

—Então, a qualquer momento a família Cullen-Black estará maior!_ ele soava como um amigo íntimo, quase feliz. Eu não sabia se era paranoia da minha cabeça ou havia cobiça em sua voz. Mas eu me sentia confusa, ainda incerta do que acontecia.

No terceiro segundo tudo se encaixou, todos estavam a minha volta novamente, os braços de meu pai e o olhar do lobo-Jacob me amparando.

Senti a mão de meu pai endurecer em minha cintura e me retesei sabendo que ele lia a mente de Aro. A cabeça de Jacob virou-se em minha direção, mas não ousei encará-lo.

—Não funciona assim_ Edward rebateu, o tom se tornando áspero.

—Foi uma ideia errante_ Aro avaliava Jacob abertamente, os olhos lentamente moveram-se em direção aos lobos atrás de nós. Seu interesse, seu desejo na verdade, muito mais claro do que tinha se mostrado até agora.

Eu desconfiava de que era uma distração, o fascínio era real, entretanto o assunto agora era um desvio, eu soube com absoluta certeza. O olhar de Aro encontrou os meus e percebi com a visão periférica que meu pai estreitou os olhos. Algo no jogo havia mudado, mas minha mente não era rápida o bastante para entender agora.

—Eles não nos pertencem, Aro. Eles não seguem nossos comandos desta maneira. Estão aqui porque querem.

À minha direita Jacob rosnou uma advertência, Leah agachou levemente, bufando com o que parecia escárnio.

—Mas estão muito ligados a você, sua família... À Renesmee_ ponderou Aro. _São leais— ele acariciou a palavra com candura.

—Uma das razões é que têm o compromisso de proteger a vida humana, Aro. Isso os torna capazes de coexistir conosco, mas não com você, a não ser que esteja repensando seu estilo de vida.

Aro riu, divertido.

—Só uma ideia errante_ repetiu. _Você sabe muito bem como é isso. Nenhum de nós pode controlar inteiramente nossos desejos subconscientes.

—Sei como é isso. E sei a diferença entre esse tipo de ideia e o tipo que tem um propósito por trás. _Parecia um aviso ambíguo.

Olhei para cima, para Edward, curiosa.

—Ele está intrigado com a ideia de... Cães de guarda_ respondeu, eu não poderia dizer a quem.

Um longo momento de silêncio absoluto pairou no ar, mas então, rosnados furiosos encheram a clareira, dentro de mim houve uma pequena guinada. Jacob emitiu um som, um latido brusco, porém baixo o suficiente para parecer mais um ganido e o espaço aberto afundou no mutismo, parecendo um túmulo; outro segundo funesto passou enquanto uma nuvem encobria o sol. O contraste com a claridade anterior fazendo o espaço aberto parecer escuro demais.

—Imagino que isto responda à pergunta_ Aro riu, novamente. _Este bando escolheu seu lado.

Os olhos lampejaram para meu ventre, tão rápido que eu poderia ter apenas imaginado, mas um rosnado se formou em meu peito e antes que eu pudesse contê-lo ele saiu como um silvo. Edward sibilou ao meu lado, se inclinando levemente, enquanto Emmett reagiu me puxando delicadamente para trás dele. Jacob mostrou os dentes, mas deu um passo atrás me acompanhando. Leah rosnou.

Félix e Demetri se agacharam em sincronia, mas Aro os dispensou com um aceno. Meu pai se pôs ereto e meu tio relaxou, um braço ainda estendido em torno de mim, os grandes olhos de Jake adejando de mim à Aro.

—Vamos então a outro ponto, à lei que verdadeiramente foi violada: vampiros foram revelados a uma humana que não têm intenção de transformar. Hannah.

Outra onda de rosnados varreu a clareira estática. Jake me olhou de esguelha, mas não ousei fitá-lo, apenas imaginando os conflitos que ele administrava no momento, sentindo a tensão de Embry ecoada por todas as mentes que compartilhava. Jacob apenas bufou e o silêncio retornou, embora a tensão fosse como uma nuvem densa.

—Não, Aro_ disse meu pai. _Esta é uma porta que não precisa ser aberta.

Houve uma longa troca de olhares entre os dois.

—Está nos ameaçando?_ grunhiu Caius, sedento por sangue. Como eu queria poder socá-lo bem na boca.

—Espero que o clã Cullen compreenda que não podemos ignorar uma violação dessa magnitude. Precisamos manter a ordem_ Aro falava com preocupação.

—Sabe, tendo tido acesso as minhas memórias, que Hannah sabia da existência do mundo sobrenatural muitos anos antes de nos conhecer. E que outros vampiros foram responsáveis por isso. Que ela desistiu de falar qualquer coisa a respeito após passar algum tempo sendo tratada como alguém mentalmente incapaz.

Os murmúrios a respeito das palavras comedidas de Edward eram com o farfalhar do vento, Aro parecia ignorá-las, mas Caius parecia cada vez mais incomodado, então:

—E sua... família não ilustrou, ensinou ou explicou nada a respeito de nosso mundo?_ demandou o vampiro parecendo satisfeito com o que viu no rosto de Edward.

—Ainda que não fosse por nossa família_ ousei falar, afinal Aro já sabia mesmo, aquilo era um teatro e nossa função era convencer as testemunhas de que nossos argumentos eram os mais verdadeiros, deixar as coisas claras e impedir que os Volturi usassem as informações a seu favor. _Hannah soube antes de nós e teria suas explicações mais cedo ou mais tarde, uma vez que estava ligada a um dos lobos. O segredo que ela protege, é o deles e por isso não temos nada a temer. Ela não está menos comprometida com nosso segredo que os humanos na fachada de Volterra.

Edward acariciou a base de minhas costas e entendi como um incentivo.

—Vampiros não são os únicos seres sobrenaturais existentes que dependem da proteção dos contos de fada e do anonimato. Nem mesmo são os mais poderosos_ percebi. _Talvez sejam só os únicos que acreditam nisso.

—Há muito que discutir_ disse Aro subitamente assoberbado. _Muito que decidir.

—Aro_ chamou Edward. _Para que as coisas fiquem ainda mais claras: nada nos importa mais que viver nossas vidas em paz.

O líder Volturi ficou imóvel por menos que um segundo, e seus olhos encontraram os meus; sustentei seu olhar e ergui o queixo com petulância velada. Ele assentiu uma vez.

—Se me derem licença, meus caros, devo conferenciar com meus irmãos.

Toda a guarda avançou enquanto meu pai mal me deixava caminhar, me levando para o meio de nossa família, Jacob me seguindo de perto e Leah recuando lentamente, os pelos de seus ombros eriçados.

Voltamos para a posição anterior, dispostos no meio, entre os clãs e nômades. Meu tempo acabara: uma pontada no meio da base de minhas costas, a dor alastrando-se, cingindo-me enquanto se alongava e abrandava na parte mais baixa de minha barriga. Fiquei tão imóvel quanto pude, sem querer chamar atenção. Respirei fundo imaginando o caminho que a dor percorreria antes do fim. A verdade é que eu queria correr, fica imóvel fazia a dor parecer muito maior. Soltei o ar pela boca. Jacob encostou o focinho na lateral de meu tronco.

—Como pode tolerar esta infâmia? Por que estamos aqui, parados e impotentes diante de um crime tão ultrajante? _Caius parecia um cão bravo cujo dono não lhe dava permissão para morder e destruir.

—Porque é tudo verdade. Veja quantas testemunhas estão prontas para confirmar cada palavra dita_ Aro disse calmamente, lançando um olhar que Caius não pareceu perceber.

Atrás da guarda, as mais de 40 testemunhas Volturi fervilhavam em sussurros, tentando acompanhar todos os lados da história que lhe escapavam.

Os dois grupos estava a apenas 50 metros agora, perfeitamente alcançáveis.

—E quanto aos lobisomens, afinal?_ contive um rolar de olhos para o vampiro idiota.

Aro balançou a cabeça:

—Como já foi dito, são transfiguradores e não lobisomens. Sua forma é aleatória, poderia ter sido urso, pantera ou águia, quando ocorreu a primeira transformação. Dão continuidade a espécie geneticamente e não por infecção_ Aro lhe deu outro olhar de advertência.

—Quero falar com o informante_ insistiu buscando a figura de Nahuel, que ficara para trás, com toda a movimentação. Caius estalou os dedos e Nahuel foi agarrado por um dos guardas e trazido; os olhos consternados se perderam em nosso grupo, em direção às irmãs, agora.

—Parece que você cometeu um erro em suas alegações_ começou o vampiro.

—Eu não fazia ideia... Não pude diferenciar_ falou, a voz muito baixa. Meu coração saindo pela boca, ele olhava o chão, parecendo tão exausto!

—Como este jovem poderia perceber? Até mesmo nós poderíamos facilmente ter cometido este erro_ Aro parecia realmente empático.

Caius moveu os dedos no ar, a fim de silenciar Aro.

—Sim, sim, um erro! E porque?_ Nahuel fitou o vampiro, o cenho franzido em confusão. Me olhou por um segundo:

—Por que... Renesmee e sua família... _ele balançou a cabeça. _Eu achei que eles não haviam sido leais a mim.

—Quer explicar a situação e fazer uma denúncia?!

Nahuel olhou para Caius inexpressivamente.

—Não! Absolutamente, não! Eu não fui leal a eles_ os olhos tristes percorreram nosso grupo. _Não há aliança com filhos da lua e não há filhos da lua aqui. Meu erro provem de algo muito egoísta e eu assumo total responsabilidade por meus atos.

Enquanto ele falava, o vampiro que o inquiria ergueu um estranho objeto de metal e antes que eu pudesse cogitar sobre o estranho ato, Johan desvencilhou-se dos braços desatentos que o seguravam, gritando:

—Não! Meu filho, não! Eu sou responsável por ele, eu assumo a responsabilidade_ no movimento contínuo entre e fala e a aproximação, ele empurrou o filho alguns metros a frente, fazendo-o cair no meio do caminho para nosso grupo.

Sem intervalo de tempo, 3 vampiros avançavam e a um sinal que não vi, cercaram Johan numa confusão de capas escuras e sons metálicos agonizantes. Caius não parou, lançando uma língua de fogo sobre os restos do vampiro.

Gritos de dor sem palavras ecoaram por trás de mim.

Era o começo do fim.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoal!
Até mais, pessoa.
Muito obrigada aos mais de 60 leitores!

Desculpem possíveis erros, eu escrevo apressada no tempo que dá e eu mesma reviso, então muita coisa passa batido



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