Dusk (Sombrio) escrita por MayaAbud


Capítulo 40
Tempo


Notas iniciais do capítulo

"Diamantes amarelos na luz
E nós estamos lado a lado
Quando a sua sombra cruza a minha
É o que basta para que eu ganhe vida
É como me sinto e não posso negar
Mas preciso deixar pra lá"
~Diamonds, Rihanna



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Ponto de vista Renesmee

Toda essa distância estava me roubando um bom tempo: Seattle-Forks-Seattle-Vancouver-Seattle... Tomei um gole de meu suco de maçã, mais uma vez na estrada Pan-americana indo para a casa Cullen. Eu não me importava em dirigir essas distâncias, no entanto no fim, somando tudo, eu passava mais tempo na estrada que com meus entes queridos.

Havia três semanas desde meu fim de semana com Jacob, o mesmo em que Sue tivera alta do hospital. Almoçamos uma vez no campus novamente e ele esteve comigo em casa para uma noite de pizza, não que eu tivesse comido muito; mas nós nos falamos todos os dias. Ele estava indo para Vancouver sábado à tarde, com Embry. Eu estava ansiosa por nosso fim de semana, embora me sentisse restiva quanto a isso. Hannah os havia feito vir só no sábado depois do meio dia, sob o pretexto de um tempo só de garotas, nós ainda não havíamos conseguido conversar realmente depois da ligação entre mim e Jacob.

A faixa trançada parecia flamejar em meu pulso sempre que Jake me vinha à mente especificamente, não que ele não estivesse em meus pensamentos sempre, mesmo os semiconscientes. Era linda, Jacob era um artesão e tanto! As cores predominantes eram uma tonalidade de marrom (que me lembrava da pelagem de Jake quando lobo) e vários tons avermelhados, mas havia salpicos de azul e salmão ao longo da trama, o que a tornava menos sóbria. Lembrava-me o pôr do sol, que por sua vez me lembrava de Jacob com toda aquela aura de luz e alegria, era um ciclo vicioso.

Eu sabia o que ela significava, era mais que um símbolo de sua dedicação a mim, era marco de uma oferenda que palavras não exprimiriam. Mesmo com a relutância de minha parte eu aceitara com grande carinho, todo o carinho que Jacob merecia e inspirava. Era simplesmente impossível não amá-lo. Aí morava minha perturbação, entre outras minúcias, eu o amava porque ele era amável, no sentido mais fiel da palavra ou porque ele de fato havia de me conquistado? Era resultado de todas as experiências novas? Eu não poderia ser leviana com Jacob e simplesmente ouvir meus desejos, me deixar guiar por atração sexual.

O desejo era parte inegável, eu não podia mentir para mim mesma. Mas eu me perguntava se me sentiria atraída dessa forma se não tivesse me confiado a ele, extasiada por algo que nunca havia sentido. E se depois não fosse nada disso? Eu preferia deixar para lá, a arriscar magoá-lo.

E foi isso que esclareci para Hannah ao anoitecer, aproveitando que os rapazes haviam ido caçar e só havia mulheres na casa.

_Pensando por esse lado, você tem toda razão_ os olhos verdes me fitavam pensativos, do outro lado da mesa, enquanto lanchávamos na cozinha.

_E Embry?_ perguntei. Hannah sorriu imediatamente, uma reação inconsciente ao gesto.

_Me sinto tão bem quando estamos juntos!_ exclamou. _Mas não acho que ele me veja... Sensualmente_ ela cochichou a palavra, constrangida.

_O engraçado é que Jacob também não, na maior parte do tempo _Hesitei sabendo que provavelmente alguém estava ouvindo, dei de ombros mentalmente: _Quando ele foi lá em casa a primeira vez, logo depois de tudo, tirei a blusa para que ele visse as cicatrizes e não ouve nada além de remorso e tristeza.

Projetei em sua mente a lembrança da ocasião. O queixo de Hannah caiu, os olhos grandes.

_Não acredito que fez isso!

Sorri me sentindo um pouco presunçosa e lembrei vagamente da proposta que fiz a Jake logo antes de perceber minha família chegando quando nos conhecemos. Eu havia estado muito afetada, não me reconhecia.

_Mas também já o vi me olhar como se me quisesse... Sensualmente­_ usei sua expressão lembrando nosso último fim de semana, quando inocentemente (e eu tinha certeza que não houvera malícia) ele entrou no quarto. Senti meu colo e rosto esquentando com a lembrança.

_Jake disse que Embry mostrou a forma lupina. O que achou?

_Incrível_ ela balançou a cabeça. _Ok, vampiros existem, biologicamente faz algum sentido o veneno e tudo mais, entretanto, como pode que eles tripliquem de tamanho e mudem totalmente de forma?!

Assenti entendendo enquanto comia uma cereja.

_Vampiros que me mordam, mas os lobos é que são criaturas sobrenaturais de verdade_ nós rimos. _Mas não mude de assunto, você me deve detalhes.

Franzi o cenho suplicante e balancei a cabeça.

_Não, você não quer!_ nesse momento percebi que a conversa no andar de cima havia parado, revirei os olhos.

_Doeu? Foi especial?_ seus olhos eram enormes.

_Doeu um pouco_ admiti num murmuro. _Depende do que você acha que é especial... E nesse caso especial não é nada do que pensei que fosse.

_Como assim?! Foi ruim?

_Pelo contrário! É que imaginava uma determinada situação para designar como especial e no fim não foi nada disso e ainda assim foi muito, muito especial... Nahuel havia cuidado de uma noite especial para nós dois_ projetei em sua mente o apartamento dele decorado com velas e pétalas de rosas, a surpresa atravessou seu rosto com as imagens. _E eu não me senti nem perto de como me senti com Jacob.

Hannah sorriu sem mostrar os dentes, ficando vermelha.

_Que mais?

Mordi o lábio sem saber o quê e como dizer para satisfazer sua curiosidade.

_Ele foi muito delicado e cuidadoso o tempo todo. Estava cuidando do hematoma em minha cabeça e quando tive algum pensamento não passional já o estava beijando. E depois, foi muito natural que evoluísse, como se não houvesse nada mais. Foi ideal, mesmo em aspectos que não conhecia sobre mim mesma.

Hannah suspirou e eu soube que pensava em Embry, ela sabia que ele era exato para ela e também sabia da responsabilidade inclusa. Como eu sabia que Jake era para mim. Eu seria para ele também?

Havia se estabelecido uma rotina: alguns fins de semana em Forks, e (apesar da autorização de Jacob) minha família evitava ir, sem querer causar mal estar, pois embora houvesse cordialidade era fisicamente difícil que ambos os lados convivessem sempre. Além disso, me explicou Jacob, a presença de vampiros em La Push poderia desencadear uma explosão populacional de lobos, uma vez que a mudança era catalisada pelo cheiro de vampiros. Passávamos alguns fins de semana em Vancouver também, intercalados com semanas de dedicação aos estudos que incluíam alguns jantares e filmes com Jacob, e até mesmo fins de semana em casa, por causa de muitas observações telescópicas e influenciada pela meteorologia.

Era maio e Jacob estava em minha porta pagando a comida chinesa que havia pedido enquanto eu passava a limpo organizando 60 páginas de gráficos e anotações para entregar no dia seguinte, manuscritas.

_Filme hoje?_ ele perguntou sentando no chão diante de mim organizando as embalagens em minha mesa de canto, que agora estava bem no centro da sala. Assenti sem olhá-lo, minha visão periférica captando que ele zapeava pela Tv.

_Um Show de vizinha!_ ele riu. _É divertido, não acha? Começa em 8 minutos.

_Nunca vi!_ murmurei escrevendo rapidamente a última página. Ergui a cabeça ao perceber que ele me fitava incrédulo. Arqueei as sobrancelhas.

_De que planeta você veio?

Rolei os olhos.

_Não é o tipo de filme que Edward me recomendaria ver, pelo que vejo do trailer_ gesticulei para a tv.

Jake balançou a cabeça, a expressão decepcionada, olhar debochado.

_Sua infância deve ter sido muito chata!_ falou categórico. Resolvi ignorá-lo. _Dispa-se de sua cultura e vamos rir de bobagens_ anunciou solenemente me dando uma piscadela e sorrindo o sorriso Black. Aquele que é impossível não corresponder.

Nesse exato momento terminei meu trabalho e ele se apoiou no sofá onde eu estava, comendo yakisoba. Eu deitei de forma que sua cabeça ficou a altura de meu peito. Ele se virou me oferecendo comida novamente. Balancei a cabeça negando.

_Bananas caramelizadas..._ me tentou. O encarei, seu rosto perto do meu, ele avançou 30 centímetros rapidamente e depositou um beijo na ponta de meu nariz, me oferecendo a embalagem de bananas quando se afastou, um sorriso sabichão nos lábios grossos.

_Sabia que ia querer_ ele sabia de minha preferência por coisas adocicadas. _Você já ao menos experimentou tudo de que não gosta?

_Nem tudo_ desviei os olhos para a tv um instante, voltando-me para ele quando trouxe o hashi cheio de comida para perto de meu rosto. Encarei a ambos, hesitante, os olhos indo do alimento a Jacob que sustentava um olhar pacientemente, como a uma criança.

Abri a boca contrariada e ele pôs tudo dentro. Mastiguei sem vontade e engoli.

_E aí?

Balancei a cabeça em negativa:

_Talvez sem todo esse molho_ franzi o nariz.

_Yakisoba sem molho é macarrão_ ela disse com indulgência tentando não rir.

O filme começou.

Demos boas risadas afinal, mas eu tinha razão: não era o filme que Edward teria aprovado que eu visse antes. Eu realmente fiquei constrangida com algumas cenas bobas, eu sei, mas não pude evitar. Jacob não se importou, é claro, nada o afetava. Até tive a impressão de que ele apreciava meu acanhamento.

_É tarde, melhor eu ir_ comentou quando os créditos começaram. Sentei-me, confusa por menos de um segundo: Já? Tão logo? Ele sorriu como se estivesse lendo meus pensamentos, ou talvez fosse apenas meu rosto.

_Você sabe que pode ficar, não sabe?_ falei. Ele havia vindo como lobo, era mais rápido. E agora tinha toda a corrida de volta. Seria mais fácil correr de volta depois de uma noite de sono do que depois de um dia de trabalho e uma viagem.

Jacob pareceu considerar seriamente por dois segundos.

_Quer que eu fique?

_Hã_ eu não sabia o que dizer.

_Não, ou você vai enjoar de mim já que estará em La Push esse fim de semana_ Ele sorriu olhando para cima, as mãos de fogo em meus joelhos.

_É mesmo?

_Sábado é dia 20.

_Aniversário de Sarah_ minha voz soou cheia de ternura.

_Ela não vai perdoá-la se não estiver lá.

_Claro que estarei lá.

Sábado pela manhã Hannah chegou a minha casa, tia Rosalie havia vindo trazê-la. Então seguimos para La Push. Embry havia sacrificado seus 3 dias de folga durante os dias úteis para estar com Hannah por esse fim de semana. Então seguimos para a Wolf’s, onde ele esperava Hannah.

Ajudei-a com as muletas e em segundos Embry estava ao nosso lado, ele me cumprimentou com um sorriso breve, mas toda sua atenção estava em minha amiga, imediatamente. Afastei-me entrando no galpão. Jacob me olhou daquela forma emocionada, como nos vídeos da internet onde surdos ouvem música ou o som da chuva pela primeira vez, como quando cegos vêm o pôr do sol... Era assim quando ele me olhava, me fazia sentir a coisa mais importante do mundo.

Pela primeira vez desde o dia em que estivemos juntos aquele olhar me atingiu, como se só agora eu percebesse, embora não o fosse, é claro. Houve um vibrar de calor logo acima de meu estômago e abraçá-lo gerou uma espécie de alívio.

Pela tarde todos nos reunimos nos fundos da casa de Rachel. Havia duas tendas grandes para nos proteger da chuva sempre provável, uma com mesas e cadeiras, outra com mesas de comida e o bolo rosa.

Sarah estava animada vestida de princesa alada e botas de camurça cor de rosa correndo de um lado para o outro com suas asas iridescentes.

_Você parece cansada_ comentei com Rachel na cozinha, Jake e eu havíamos acabado de chegar e ele fora ajudar Paul a prender uma das tendas.

_Estou cozinhando desde ontem_ ela suspirou, exaurida levantando um caldeirão com salsichas ao molho.

_Deixe-me ajudá-la_ tomei de suas mãos a enorme panela que ela sustentava com dificuldade. Caminhei para fora.

_Uh, que garota forte!_ zombou Seth passando por mim. Jake se aproximou abrindo espaço na mesa para que eu depositasse a panela.

_Essa é minha garota_ falou orgulhoso. Sorri sem jeito e não disse nada.

Não demorou e o lugar estava cheio, eu finalmente conheci todos os lobos e suas respectivas companheiras e filhos. Alguns pareciam hesitantes em relação a mim, mas foram todos educados e afáveis comigo. Eu não sabia se era o apelo inerente a minha natureza ou o respeito por Jacob.

Claire, que havia vindo com Sam, Emily e Samuel ficou perto de mim o tempo todo fazendo perguntas que, inicialmente, envolviam eu ser uma vampira e depois passaram para coisas como cabelo e roupas; ela tinha 11 anos e estava naquela fase chata em que se entende muito para ser criança e pouquíssimo para ser adolescente. O pequeno Sam, de oito anos, também parecia curioso comigo, mas nesse caso eu devia isso à cor de meu cabelo, que havia lhe chamado atenção. Hannah também se viu rodeada de perguntas, sendo ainda mais novata que eu entre eles.

Ela se importava tão pouco quanto eu, na verdade era divertido. Eu me sentia sendo acolhida, como parte natural deles, apesar de toda a hesitação. O que era compreensível, já que eles estavam recebendo em sua casa parte do que outrora fora o oponente.

A certa altura questionei Jacob sobre Quil e Claire, já sabendo da ligação entre eles, eu queria detalhes da relação entre um homem adulto e uma menina de 11 anos de idade.

_Gostaria de ter seu dom e poder mostrar a você como é.

_Não estou dizendo que é algo sexual_ murmurei ofendida. _Mas ele é um homem adulto.

_Quil não tem esse tipo de necessidade. Lembra quando pedi que se preocupasse apenas com sua felicidade e tudo o mais estaria certo?_ sim eu lembrava. Minha compreensão deve ter ficado óbvia porque ele sorriu orgulhoso.

_E você tem essas necessidades?_ indaguei insegura sobre ser uma boa ideia. Jake pensou alguns segundos, a expressão indecifrável.

_Só as que você tiver.

Charlie e Sue também estavam lá, orgulhosos com a barriga de quase 16 semanas. Fingi não perceber o olhar desconfiado de meu avô cada vez que Jacob punha uma mecha de meu cabelo para trás ou segurava minha mão.

A certa altura, depois dos parabéns, Leah sentou-se comigo e Hannah enquanto os garotos faziam outra visita à mesa de guloseimas. Conversamos amenidades sobre as últimas semanas e coisas para o bebê de Sue e logo estávamos discutindo todo o tipo de meninices, até cogitamos um dia de compras em Seattle.

Por volta das sete da noite a festa acabou, Jake e eu arrumamos o que podia ser arrumado e saímos. Hannah e Embry haviam saído meia hora antes, ficamos de nos encontrar no resort, eu não ficaria na casa de Billy e Jacob essa noite.

Saímos de mãos dadas caminhando pela noite, de repente Jacob estava interessado em alguns aspectos híbridos.

_Quanto você é forte?

_Não sei dizer... Meu berço era de ferro batido e meu primeiro brinquedo foi um faqueiro de prata, as peças ficaram bem amassadas_ eu ri um pouco, percebendo vagamente que íamos em direção à praia.

_Bastante forte. E rápida também.

_Na forma humana, quão rápido você é?

_Bem mais que maratonistas, menos que vampiros. Talvez tanto quanto você.

Estreitei os olhos para ele, então ele não havia corrido tudo o que podia no dia em que me acompanhou numa caçada.

_Duvido_ provoquei. Ele soltou minha mão e se inclinou, um pé na frente do outro.

_20 metros. Só para testar.

Inclinei-me paralela a ele. Jacob correu, sem dar sinal de largada, saí dois segundos depois e ele chegou primeiro à meta de 20 metros.

_Você tem duas vezes meu tamanho, isso não foi justo. Eu dou a largada, trapaceiro_ ele sorriu maroto para minha irritação. _50 metros.

Não havíamos nos deslocado 20 metros e eu estava à frente quando os braços me envolveram como um torno, nós dois caindo no chão e deslizando na areia cavando sulcos como meteoros, impulsionados pela velocidade.

A gargalhada rouca irrompendo à noite.

_Você é um péssimo perdedor_ falei rindo e me soltando, Jacob fez mais força e eu rosnei tentando abrir seus braços. Ao perceber que perderia, fez cócegas em minha cintura me tirando as forças. Eu supliquei para que parasse, Jake só gargalhava.

_Eu vou mordê-lo, Jacob!_ falei sem ar, presa por um braço enquanto o outro me cutucava as costelas.

Impulsionei o corpo alcançando a pele descoberta mais próxima: o ponto abaixo da manga da blusa, onde o bíceps se destacava com a força que fazia para me segurar. Cravei meus dentes na pele macia, Jacob soltou um rosnado baixo por entre os dentes, os braços afrouxaram, mas não me impediram; seu sangue jorrou por minha boca e eu suguei por reflexo, meus dentes cavando na pele fazendo com que a lesão não fechasse, no entanto isso estava num mote muito distante em minha mente, meu foco estava no sabor. Não era como minhas lembranças de sangue humano, de alguma forma era melhor; muito menos animalesco do que imaginei, embora não tenha pensando conscientemente no sangue quando optei por mordê-lo. Era quente e minha mente não pode comparar com nada tanto quanto não pensava em parar.

Nossos tórax formavam um x na areia, de forma que eu sentia o coração dele batendo em meu estômago. Sua respiração pesada em meu pescoço e um frisson ardente subindo por minhas pernas. Olhei-o pelo canto dos olhos e os seus eram abrasadores.

Sua mão quente emaranhou-se em minha nuca e ele me puxou delicadamente, cinco segundos daquela nova satisfação e me dei conta de quão erótico havia sido. Eu o havia mordido algumas vezes quando fizemos amor, mas não cheguei a bebê-lo, apenas um vislumbre do sabor e a lesão estava fechada. Fitamo-nos por dois segundos.

_Seu gosto é bom_ pisquei com a duplicidade em minhas palavras, Jake sorrindo com malícia.

_E isso é perigoso_ ele suspirou e jogou a cabeça para trás ainda me segurando perto, nós dois deitando na areia, um tanto ofegantes. Ergui as sobrancelhas. _Você não entende? Se disser que quer meu sangue, eu darei com prazer.

Resfoleguei. A profundidade desse novo conhecimento me atingindo.

_Deseje meu coração e ele estará sangrando em suas mãos_ recitei Good Enough, de Evanescence.

_Exatamente.

Dormi com Hannah no resort aquela noite, tomamos café com Charlie e Sue no domingo e fomos passear no píer em Port Angeles, não deixei passar que parecíamos em um encontro de casais: Embry e Hannah, Jake e eu.

Era o dia mais claro que eu já havia visto na Península Olympic, havia poucas nuvens. Hannah havia parado numa lojinha com Embry e Jacob e eu seguíamos, de mãos dadas, nós não falamos sobre eu ter bebido seu sangue, mas o ocorrido não parecia incomodá-lo, na verdade nem a mim.

_Estou pensando em comprar uma casa ou terreno_ disse-me Jacob, repentinamente.

_Por quê?

_Estava pensando um dia desses que eu gostaria de ter mais privacidade, como meu próprio banheiro, por exemplo. Pensei em construir um, mas então, porque não comprar uma casa? Tenho dinheiro o bastante no banco para comprar ou até construir. A fora a parte de Leah na sociedade.

_Mesmo?_ eu estava surpresa e até orgulhosa.

_Sim, eu não gasto muito, quase tudo invisto na oficina ou coloco no banco. Billy não vai querer sair da nossa casa, é onde nós 3 crescemos: Rachel, Rebecca e eu. Onde minha mãe e ele viveram...

Sua voz morreu um tanto melancólica. Então continuou:

_De qualquer forma seria mais um investimento.

_E onde seria?

_Acho que em La Push ou talvez em Forks. Não penso em sair de lá até que seja realmente necessário.

Meu estômago vibrou e minha respiração ficou pesada com alguma emoção indistinta.

_Parece uma boa ideia_ respondi, Jacob retribuiu com um sorriso.

As coisas continuaram no mesmo ritmo.

Hannah finalmente havia alcançado o estágio necessário em sua recuperação para que a cirurgia de correção da perna fosse feita. Ela acabou por passar seu aniversário desacordada numa operação de 7 horas. Fora um longo 12 de julho para todos nós, mas para Embry fora uma eternidade.

Tudo correu bem no fim, com mais alguns meses de fisioterapia ela se livraria das muletas e estaria como nova.

As férias de verão passaram muito rápidas, no dia seguinte pela manhã recomeçariam as aulas na universidade e eu nem mesmo me despediria de Hannah já que ela estava em La Push e logo mais à tardinha eu estaria de volta a Seattle. Embry a apresentaria a mãe como namorada, já que a senhora não sabia que ele é um lobo essa seria a forma mais aceitável para explicar a afinidade dele com minha amiga e suas viagens constantes para Vancouver.

Jacob e eu voltávamos de uma caçada quando ouvimos o burburinho na casa de meus avós; ele estava apenas de jeans e sua blusa estava comigo enquanto caminhávamos pelo gramado. Reconheci a risada e sorri, surpresa.

_As Denali!_ falei. Jacob sorriu para mim, eu já havia lhe contado sobre minha relação com elas. Éramos muito próximas, já que eu quase nasci na casa delas.

Foi grande a comoção quando eu entrei na sala; fui abraçada e beijada por todas elas e Eleazar.

_Impressionante! Você está ainda mais encantadora que seu pai_ exclamou Tanya, as mãos em meu rosto. Atrás dela, Bella olhou ciumenta para Edward. Por mais próxima que todos fôssemos, acho que ela nunca superaria o interesse ignorado de Tanya por Edward.

Muito antes de ter idade para assimilar esse tipo de coisa, eu havia entendido o quanto Kate, Irina e Tanya gostavam de flertar e ser cortejadas, para não dizer outra coisa.

_E o rapaz?_ perguntou Carmen sorrindo com educação para Jacob, que jazia na soleira entre a sala de estar e a de jantar, parecendo desconfortável. Vampiros novos, imaginei.

_Há muito poder em você, não é meu jovem?_ comentou Eleazar referindo-se a Jacob, que deu um meio sorriso altivo.

_Jacob é um amigo da família_ Bella sorriu tranquilizadora para Jacob que acenou com a cabeça, as mãos nos bolsos.

_O cheiro..._ começou Irina.

_Ah, sim! Sem dúvida um belo espécime. Não fosse pelo cheiro, seria muito mais atraente_ comentou Kate, desejosa, com um sorriso sedutor, enquanto claramente avaliava Jacob.

_Nós superamos o sangue, o cheiro não seria tão difícil_ interpelou Tanya, sua atenção voltando para o lobo cada vez mais envergonhado.

Contive um rosnado enquanto minha família ria baixo, uns tentando atenuar a tensão outros achando realmente engraçado, como era o caso de Emmett, Alice e meu pai.

_Ah, claro, se vampiros não fossem completamente repulsivos para lobisomens como Jacob!_ forcei uma risada e joguei para Jacob sua blusa.

Ele me lançou um olhar de desculpas enquanto passava os braços pela camisa para o qual eu virei o rosto, sentindo uma sensação violenta de posse, a mesma sensação que me levara a interpor o golpe de meu pai destinado a Jacob numa briga meses atrás: ele era meu. Não importava que tipo de relação nós temos, era melhor que ninguém o tocasse, fosse como fosse, defini com surpresa.1

_Lobisomem?_ Carmen mudou de assunto.

_ Não esse tipo. Acredito que transfigurador seja o termo correto _refletiu Edward. _É genético, não infeccioso o capacidade de Jacob.

Um arquejo de surpresa e encanto percorreu os Denali, seus olhos indo de Jacob a Edward. Meu pai se lançou em explicações e respostas e eu subi sem dizer nada, a fim de me lavar e trocar de roupas. Jake subiu atrás de mim.

_Hey, o que há?_ ele puxou meu braço com delicadeza, me fazendo olhá-lo. _Eu não tenho culpa se essas vampiras são umas taradas e... _ele sussurrou, não baixo o bastante.

Meu queixo caiu enquanto eu pus uma mão em sua boca e outra em minha própria, tendo não rir. Ouvi um segundo, no andar de baixo eles ainda pareciam absortos nas histórias dos lobos Quileutes.

_Está chateada comigo?_ ele pareceu dizer por baixo de minha mão. Revirei os olhos.

_Não estou_ tirei a mão e bufei: _Sensualidade o tempo todo... Você ao menos percebe?_ o imitei e fui em direção ao meu quarto, deixando um Jacob sorridente no corredor.

Havia três semanas que eu não ia a Vancouver e duas que Jake e eu não nos víamos, eu estava atarefada com a Universidade e estava difícil manter a rotina de viagens, descansar o bastante, caçar e cuidar um pouco da minha casa. Segunda seria meu aniversário, então meus pais passariam o fim de semana comigo e Jacob também.

Jake havia cumprido o plano de comprar uma casa em La Push no final de agosto, estava ocupado com uma reforma; continuávamos nos falando todos os dias e ele me mandava fotos e me pedia opinião constantemente.

Sábado ao meio dia, quando cheguei da Universidade, Jake dormia profundamente no sofá. E meus pais estavam na cozinha. Sorri automaticamente para o homem desacordado, afaguei os cabelos dele passando pela sala e segui.

_Eu não poderia estar mais feliz com uma invasão_ falei ao ver Edward e Bella cozinhando juntos.

À noite Jacob e eu fomos ao cinema. Estacionamos meu carro uma rua antes e seguimos a pé. Ele usava uma camisa clara de mangas longas e jeans escuros, a composição estava acentuando os músculos irritantemente, como se um cara de 1,99m não chamasse atenção.

Eu não gostei nada da educação excessiva com que a atendente do balcão de doces o tratou e ele percebeu.

_Você sabe que não precisa ter ciúmes, não sabe?_ murmurou em meu ouvido na fila para a sala. O encarei com minha melhor cara de tédio e ele gargalhou jogando a cabeça para trás antes de comer algumas pipocas.

Depois do filme, por volta da meia noite, ele ainda me enchia por causa da atendente, eu caminhava ao seu lado, com minha melhor cara de paisagem. Atravessamos a rua em direção à padieira que dava acesso à rua em que estacionamos. Havia três homens conversando, na parte menos iluminada, um deles jogou meio cigarro aceso no chão e o pisou; eu não teria registrado não fossem os dois minutos seguintes:

_Boa noite!_ disse o cara do cigarro parando no meio do caminho, os outros dois atrás dele bloqueando a passagem.

Jacob ergueu um braço na minha frente, protetoramente. O homem, que parecia ser o líder do trio, pôs a mão na cintura, por baixo da jaqueta e eu vi o brilho metálico do revólver, antes que ele sacasse.

Posicionei-me ao lado de Jacob imaginando quem de nós era menos vulnerável (eu não queria descobrir), ele ofereceu resistência, mas não o bastante para me impedir.

_A carteira, celular..._ o homem falou, arma em punho. Jacob suspirou, movendo-se em busca da carteira, joguei minha bolsa no chão. O homem deu um passo em minha direção.

_Uh! Que delícia, baby!_ uma mão veio em direção ao meu rosto. Eu o tirei de seu alcance.

_Não toque nela!_ rosnou Jacob. Os outros dois se aproximando.

“Calma, Jacob!”, lancei em sua mente com a imagem da arma.

_Quieto grandão!_ o homem apontou a arma para Jacob ao mesmo tempo em que os outros dois me abordaram, recuei para que não me tocassem, minhas costas contra a prédio.

_Jake_ adverti que ele não reagisse, impensadamente dando um passo a frente. Nesse momento os dois me seguraram, talvez temendo uma reação intempestiva, eu não afrontei querendo que acabasse logo. Um segundo e Jacob reagiu me vendo encurralada. Eu só me dei conta com os disparos.

Seu corpo tinha um espasmo a cada disparo, houve 4 disparos contínuos antes que ele caísse. Eu hiperventilava, chocada, paralisada, por um segundo inteiro antes da fúria me dominar, quente e atordoante. Joguei os dois que estavam comigo contra a parede, eles caíram desacordados.

Um minuto. Um minuto foi o que bastou para que não houvesse mais nada. Jacob jazia imóvel no chão, o coração mudo, fontes de sangue em seu rosto e tórax. Não havia mais nada.

Fiquei cega. Fora de mim. Sentia-me fria e inexoravelmente vazia. O minuto seguinte foi só uma reação à dor, uma resposta à violação: Senti o pescoço quebrar sob minhas mãos. A pele rasgar-se sob meus dentes e o sangue quente verter para dentro de mim. Não me preencheu em nada.


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Notas finais do capítulo

1. Ver último parágrafo da página 286 de Amanhecer.