Dusk (Sombrio) escrita por MayaAbud


Capítulo 36
Confissões


Notas iniciais do capítulo

Sob seu feitiço de novo
Eu não consigo dizer não para você
Deseje meu coração e ele estará sangrando na sua mão
Eu não consigo dizer não para você

Não devia ter deixado você me torturar tão docemente
Agora não consigo me livrar desse sonho
Não consigo respirar, mas eu me sinto
Boa o bastante
Eu me sinto boa o bastante para você

~Good Enough



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Os dias que seguiram foram tão lentos quanto os primeiros, então resolvi que sairia algumas horas mais cedo, na sexta. Não faria mal matar duas horas de cálculo. De malas prontas e, desta vez, avisando a família peguei a estrada.

Nós não havíamos combinado nada sobre horários, eu apenas havia dito que iria depois da última aula ele me ligou de manhã e disse que viria me buscar, mas falei que não se preocupasse, eu iria em meu tanque de guerra.

Pensei que seria bom caçar, mas concluí que o faria em Forks. Diminui quase a metade o tempo de viajem. E logo me vi curiosa olhando a delegacia de Charlie enquanto respeitava o sinal vermelho. Havia uma chuva fina, mas o céu parecia mais claro em direção à praia.

Não foi nada difícil encontrar o caminho para a casa de Jacob, no entanto era só quatro da tarde e ele devia estar no trabalho. Estacionei na entrada da rua, em frente à Wolfs, ouvindo a movimentação lá dentro, o tilintar de metal e o murmúrio que parecia uma discussão.

Hesitante, desci do carro e fui em direção ao galpão. Antes que pudesse dizer qualquer coisa dois rapazes que podiam facilmente ser irmãos de Jacob me olharam, os dois margeavam um capô aberto.

—Olá_ acenei e tentei sorrir, intimidada com os dois grandões me olhando com total reconhecimento.

Os dois sorriram, abertamente, como se fossemos velhos amigos, no entanto o mais esguio, que poderia (ou não) ser o mais novo, veio em minha direção limpando a mão no macacão manchado e me oferecendo. O jovem pareceu perceber que fazia algo errado e fez menção de retirar a mão, com um sorriso de desculpas, mas a peguei antes, provavelmente, mais rápido do que um humano faria.

—Que bom que veio, Nessie_ Disse ele me surpreendendo por um segundo, então lembrei que ele me conhecia mesmo. Ele e todos os outros, o que me fez ficar desconfortável, já que eu sabia muito pouco deles. _Sou Seth, seu tio.

—Filho de Sue!_ falei. Seth me puxou pelos ombros num meio abraço.

—Este é Quil_ falou-me apontando para o outro rapaz de pele castanha. Estendi a mão cumprimentando-o.

—Jacob não está?_ eu quis saber.

—Foi até Forks fazer um orçamento. Ele não esperava que você viesse tão cedo_ respondeu Quil.

—Eu também não_ dei de ombros.

Em poucos minutos estávamos envolvidos numa conversa animada sobre carros e eles voltaram a discutir sobre o provável problema que fazia o motor da caminhonete Ford 78 falhar. Seth dizia que era o cabo das velas gastos e Quil teimava dizendo que o filtro estava entupido. Um tentava convencer o outro enquanto remexiam no capô a fim de retirar o motor.

—Vocês vão mesmo tirar o motor?_ me vi perguntando. Eles olharam um para o outro. _ Se você são bons sabem que não é realmente necessário tirá-lo para verificar esses problemas.

—Temos mãos grandes, não alcançamos algumas partes_ disse Quil parecendo ofendido.

—E não temos certeza sobre qual o problema, a partida está..._ Seth fez careta.

—Deixe-me ouvi-lo_ pedi. Eles se entreolharam e revirei os olhos. _Vocês sabem que costumo fazer isso, não sabem?_ Seth assentiu limpando as mãos na flanela no bolso de seu macacão e entrou no carro enquanto Quil dava de ombros. Tirei minha jaqueta e dei um nó no cabelo enquanto ouvia o ronco falho e trepidante.

—Acho que Seth tem razão, os cabos estão dificultando a partida_ falei me aproximando. _Pode me dar uma chave estriada?_ pedi a Quil.

Seth me contava que Sue estava doente e que a irmã vinha à cidade para obrigá-la a fazer uns exames sábado pela manhã, porque Sue era muito durona para fazer por conta própria.

—Ela cuida de todos, mas odeia que a gente se preocupe_ dizia Seth, me passando uma chave. Eu me inclinava sobre o motor, com graxa e óleo até os cotovelos, havia vestido o menor macacão que havia, era novo e ficou um pouco grande (Seth disse que Leah raramente botava a mão na massa, quando vinha por aqui), quando Jacob chegou.

—Então as duas moças colocaram minha convidada para trabalhar?!_ retumbou ele a porta do galpão, os braços cruzados, imponente, as sobrancelhas grossas em um ângulo pesado. Por dois longos segundos estive chateada com o modo como ele falou, mas então os rapazes chiaram com zomba e Jacob me lançou um olhar deslumbrado e um sorriso igualmente comovido. Sorri de volta e me atentei em terminar o trabalho enquanto ele se aproximava.

—Nessie nos poupou de um belo trabalho. Ela resolveu sem tirar o motor_ disse Seth parecendo orgulhoso de mim, sorri para ele.

—Pode dar a partida?_ pedi. Seth ligou o carro e ele soou como novo. Sorri orgulhosa de mim mesma. Jacob ao meu lado verificando o serviço sorriu e me deu um beijo na testa que fez os outros dois sorrirem um para o outro.

—Espero que eles tenham te tratado bem_ murmurou Jacob enquanto os rapazes pareciam procurar algo para fazer.

—Sim, adorei conhecê-los_ respondi no mesmo tom de voz. _Aonde posso...?_ ergui minhas mãos sujas.

Jacob me mostrou o pequeníssimo apartamento improvisado no fundo do escritório, onde me reorganizei e limpei o máximo que pude.

Os 3 rapazes estavam no galpão quando saí.

—Quil vai fechar para mim. Vamos, quero que conheça alguém muito importante_ Jake me pegou pela mão. _ Não precisaremos do carro agora_ disse-me quando tentei ir em direção a ele.

—Estava ansiosa? Não pensei que viesse tão cedo_ perguntou depois de alguns metros caminhados. Meneei a cabeça.

—Um pouco_ ele sorriu parecendo satisfeito. Contive um suspiro. Paramos em frente a uma casinha muito aconchegante.

—Fiquei em dúvida sobre o que seria pior: conhecer os lobos ou conhecer minha irmã primeiro. Não consegui decidir _ eu tive que rir. _Você já conheceu dois do caras, de qualquer forma.

Caminhamos pela rampa cimentada e Jacob foi entrando, me puxando pela mão. A sala clara parecia um quarto de brinquedos, havia no chão e no sofá, até na mesa com um computador.

—Tio Jay, tio Jay, tio Jay!_ gritou gargalhando uma vozinha correndo em nossa direção, Jacob soltou minha mão e pegou o bebê nos braços.

—Jake, você pode lev..._ se interrompeu a jovem mulher chegando a sala e me olhando, dois segundos me encarando e ela sorriu envergonhada. _Desculpe-me a bagunça. Eu tenho que terminar uns códigos o quanto antes e optei por alimentá-la e trabalhar.

—Não se preocupe por mim._ sorri.

—Rachel essa é Renesmee. E Renesmee esta é Sarah, A tagarela. A pessoa importante da qual falei_ Jacob lhe fez cócegas e ela bateu nele com um bixinho de pelúcias.

—Diga oi, Sarah_ pediu Rachel.

—Oi_ disse-me ela timidamente, Jake virando ela em minha direção e eu podendo ver claramente seus grandes e amendoados olhos castanhos. Os cabelos escuros como os da mãe e do tio.

—Olá, Sarah_ respondi cumprimentando-a com um diminuto aperto de mão. _Ela é linda_ olhei para Rachel que sorriu orgulhosa.

—Eu não quero ser mal educada, mas vocês podem leva-la para dar uma volta enquanto eu deixo a casa menos parecida com uma creche? Desculpe-me, Renesmee_ pediu.

—Tudo bem_ murmurei.

Paia! Paia!_ gritou a menininha esperneando. Jake a colocou no chão e ela correu pela casa voltando logo depois com um par de botas em mãos, ela as colocou aos pés de Jacob. Ele se agachou e a calçou pacientemente, Rachel surgiu com um casaco em mãos.

—Não a deixe se molhar, a água está fria demais ainda_ pediu Rachel.

—Farei o que puder!_ Jake riu.

Caminhamos pelas ruas enquanto Jake e a menina em seu colo conversavam coisas que só faziam sentido unilateralmente para mim, ele estava muito familiarizado com o dialeto da sobrinha, eu só compreendia algumas palavras soltas e me peguei sorrindo, interessada no bate-papo dos dois.

Alguém o cumprimentava vez ou outra e ignorávamos os olhares curiosos para mim, então ele riu enquanto caminhávamos no estacionamento da praia. O olhei interrogativamente.

—Ela quer saber quem é você. E disse que você parece uma boneca_ Eu ri. _ Nessie é minha amiga_ Jacob me lançou um olhar cheio de significados e a colocou no chão.

—Ela parece com você_ falei.

—Não diga isso perto do Paul _Ele riu. _Você vai conhecê-lo.

—Não Pol. Papai!_ corrigiu Sarah. Nós rimos. Ela se distraiu em seguida, correndo instável nos seixos coloridos e areia escura.

—Ele também é um lobo_ continuou Jacob. _ Ou era. _ O olhei confusa_ Ele parou a transformação. Por Ray, para envelhecer com ela.

—Como se para?

—Da mesma forma como se controla. Se ficarmos um determinado tempo sem nos transformar, voltamos a envelhecer.

—Ah_ murmurei. Jacob pegou minha mão e nesse momento, Sarah a 4 metros de nós caiu e gargalhou. Levantou e seguiu uma gaivota que alçou voo.

—Quantos anos ela tem?_ perguntei.

—Quase 3. Eu acabara de voltar e Rachel estava no começo da gestação. Fui o primeiro a saber _Jacob ostentou um enorme sorriso orgulhoso.

—Vocês tem uma ligação forte, Rachel se sente muito protetora em relação a você_ comentei.

—Leu a mente dela?_ ele sorriu para mim. Sorri de volta.

—Não. Li os olhos.

—Rachel e Rebecca praticamente me criaram depois que nossa mãe morreu. Rebecca mora no Havaí, então não sei dizer, mas Rachel talvez se sinta culpada por ter deixado a mim e Billy assim que pôde.

—Do que sua mãe morreu?

—Acidente de carro. No mesmo lugar que o seu_ Não disse nada, mas deixei que ele sentisse minhas impressões sobre a informação. Caminhamos num silencio confortável por um momento.

—E então? O que acha de La Push?_ indagou-me. Não contive um enorme sorriso.

—Parece um sonho. Você não acreditaria como eu realmente queria conhecer tudo aqui. Também quero ir a casa de meus avós.

—Levo você lá.

Sarah se aproximou com as mãos cheias de pedras, insistindo que ele as guardasse. Depois correu para onde a areia se afinava, mas perto da água e pulou numa poça de água rasa, então se agachou brincando.

Não demorou até que uma pequena onda viesse e a molhasse até os joelhos, o que a fez gargalhar copiosamente e se afastar da água gelada, a cada onda, voltando na calmaria seguinte. Eu já havia rido em meia hora muito mais do que costumava rir em dias. No fim, Jacob e Sarah estavam mais molhados do que Rachel gostaria.

Ele resolveu voltar antes que escurecesse e ficasse muito frio para a saúde da pequena. No caminho de volta Jacob me mostrou o centro cultural dizendo que precisava me trazer ali. Eu ia responder, no entanto quando o olhei, seus olhos estava muito frios em direção à entrada do prédio; seguindo seu olhar pude ver dois rapazes que não pareciam daqui conversando com três garotos mais jovens, dois deles pareciam um pouco intimidados, mas não era um briga.

Um dos rapazes mais velhos tirou do bolso um pequeno invólucro de plástico com o que pareciam ser pílulas coloridas e pôs na mão de um dos mais jovens. Jacob estendeu um braço me fazendo parar, o olhei novamente e ele tirava a pequena Sarah de seus ombros, entregando-me a criança. Peguei-a um tanto desajeitadamente, mas ela pareceu não se importar.

—Espere aqui um minuto, sim?_ murmurou Jacob nada feliz. Ele caminhou 15 passos largos. As crianças quileutes os viram primeiro e pareceu uma má ideia que Jacob as tivesse pego.

—O que temos aqui, hã?_Jacob indagou parecendo ameaçador._ Vão para casa, vou ter uma conversa com seus pais depois_ disse para as crianças, tomando o invólucro da mão de uma.

—Porque não cuida da própria vida?!_ cuspiu um dos caras de fora.

—Não quero ver os dois por aqui!_ devolveu Jacob.

—Ou o que?!_ indagou outro agressivamente. _Somos turistas, não pode fazer nada. Você nem é policial! _desdenhou. Jacob o pegou pelo colarinho e o ergueu facilmente até a altura de seu rosto.

—Se é um turista devia saber que temos nossas próprias leis, não precisamos de policiais. _Rosnou entredentes. Então falou soltando-o com força o bastante para fazê-lo cair aos pés do outro, que olhava tudo de olhos arregalados: _Se eu pegar vocês na reserva, não terão chance de sair.

Jacob lhes deu as costas me alcançando e tirando Sarah de meus braços; fez sinal para que seguíssemos em frente.

—Tudo bem?_ perguntei cautelosa. Ele suspirou.

—Isso sempre acontece quando as coisas estão muito tranquilas, gente de fora acha que aqui não tem ordem, que não há que defenda os quileutes. Às vezes vender drogas por aqui, eles primeiro oferecem aos garotos, meta-anfetamina, ecstase... Eles acabam querendo mais e para conseguir têm que vender, trabalhar para eles. Esses devem ser Port Townsend, pelo que já me disseram.

—Tio Jay tiste_ Sarah sussurrou me olhando, segredando, enquanto se curvava sobre a restrição dos braços de Jacob. Sorri para ela e ele a beijou no rosto.

—Duvido que eles voltem_ falei tocando o ombro de Jacob.

—Melhor que não_ respondeu, uma sombra feroz passando por seus olhos. Perguntei o que ele faria se voltassem, preferi não saber por enquanto.

A casa estava impecável, tudo simples e sóbrio, exceto o tapete colorido para bebês no centro da sala com alguns poucos brinquedos. Rachel tinha até preparado um lanche para nós. Ela revirou os olhos para Jacob quando viu Sarah molhada. Ela levou a garotinha falante pelo corredor e voltou logo em seguida atirando uma camisa seca para Jacob.

Eu estava sentada a mesa, Jacob de pé, pegou um biscoito colocou-o na boca e tirou a blusa, fiquei surpresa com sua falta de cerimônia, no entanto o que me surpreendeu mais foram as lembranças súbitas e as sensações que elas traziam, como um sopro quente subindo por minhas pernas até o peito; Desviei os olhos, pedindo aos céus que Jake não tivesse percebido.

—Não está com fome? Prefere caçar?_ Perguntou-me sentando ao meu lado, já vestido.

Preciso caçar, mas comer parece bom_ sorri.

Rachel logo se juntou a nós colocando Sarah em uma cadeirinha de bebê que havia entre mim e Jacob. Ele tinha razão, ela era muito tagarela, falava comigo e me mostrava coisas e contava histórias, coisas cotidianas, por exemplo, como os carro do tio Jay faziam vrumvrum e como a mamãe trabalhava: ela tamborilava os dedos na mesa imitando Rachel ao computador. Eu estava começando a me familiarizar com seu jeitinho de falar e já entendia quase tudo.

—Vocês devem se parecer muito com sua mãe_ comentei ao saber que ela também se chamava Sarah.

—Sim e ela era linda!_ disse Jacob com pouca modéstia. Rachel o criticou e depois falou:

—Na verdade, Jacob é mesmo quem se parece mais com ela, mas papai foi um homem muito atraente também, a doença o envelheceu muito cedo. Vou mostrar_ Rachel levantou animada da mesa.

—Não, Rachel!_ pediu Jacob. Rachel surgiu com um grande livro em mãos. Um álbum de fotografias, percebi. Sorri, exultante, para Jacob.

—Porque não?_ perguntei. _Por acaso você não tem fotos minhas sem os dentes da frente?!_ Lembrei. Ele revirou os olhos, mas sorriu levemente em resposta.

Deliciei-me ao ver fotos da família Black, o casamento de Billy e Sarah, as gêmeas quando crianças, Jacob bebê... Havia sempre a praia e barcos de pesca em meio àquelas memórias. Também havia foto de Jacob com os amigos; reconheci Embry vagamente, os dois sem alguns dentes e com roupas típicas nas festividades do orgulho quileute. Jacob no colo da mãe, devia ter por volta de 8 anos. Ela era mesmo muito bonita, a expressão sorridente no rosto dela era mesmo muito parecida com a expressão de Jacob.

—Essa é a última foto deles dois _disse Rachel melancólica. _Essa é a última que temos_ ela mudou a página mostrando-me Jake, Rebecca e ela própria junto da mãe na praia.

As outras fotos eram recentes, Rachel e Paul, que eu ainda não conhecia; eles foram nomeando cada amigo quileute que surgia, eu seria capaz de reconhecer a todos agora.

Sarah ficou irritada e Jacob se levantou com ela no colo, a acalmando, em dois minutos estavam no tapete colorido brincando. A próxima foto que havia era Jacob abraçado a uma garota de cabelos escuros, Charlie e Billy estavam ao fundo, alheios ao retrato.

—Anne?_ murmurei, mas é claro que Jacob ouvira do outro lado da sala, ele se virou em nossa direção, vi com minha visão periférica. Rachel ficou vermelha.

—Ah, desculpe. Eu já devia ter tirado daí_ falou desconcertada. Sorri tranquilizando-a.

—Não se preocupe. Não me incomoda_ falei honestamente. Era de certa forma reconfortante que Jacob tivesse um passado também, não é que eu não me sentisse chateada ao pensar nos dois juntos, mas a foto, o momento guardado não me incomodava. Além disso, não é como se eu pudesse exigir esse tipo de coisa.

—Jacob é ótimo com crianças, não é?_ Rachel mudou de assunto, sorrindo, uma mão no queixo olhando os dois, que brincavam.

—Parece que sim_ concordei com um sorriso.

—Ele finge que não. Precisava ver quando Sarah nasceu... _Rachel riu com alguma lembrança. _Ela vai ser um ótimo pai, seria mesmo que você não fosse seu imprinting.

Com toda certeza meu rosto estava vermelho vivo, o sentia quente.

—Vamos Rachel pare de constranger, Renesmee! Assim ela não vai querer voltar. Além disso, nós somos bons amigos. Ela é noiva_ disse Jacob levantando e caminhando até nós, ele me deu uma piscadela, apoiando-se no encosto da cadeira.

—Ai, meu Deus! Desculpe-me, Nessie, eu não quis...

—Tudo bem_ eu ri completamente envergonhada. Não era tanto o fato de esperarem que eu fosse a mãe dos filhos de Jacob, quanto o fato de que eu não poderia, se um dia chegássemos a esse ponto; acho até que foi essa consciência repentina que me incomodou, embora eu estivesse emocionada que Rachel pudesse me ver tão humana assim.

—Vamos, Renesmee, ainda temos que arranjar um lugar para você dormir.

**

No fim das contas, decidimos que acamparíamos na praia. Jacob resolveu fazer uma fogueira, comprar pizzas e chamar alguns amigos: Seth, Quil, Paul Rachel, Sam não poderia vir, a esposa não se sentia bem, havia Jared que também não era mais lobo, ele e sua esposa vieram, Jacob disse que todos estavam curiosos por mim, e Embry que não pôde ir a Vancouver por causa do trabalho. Eu gostaria que Hannah estivesse aqui. E por fim havia a famosa Leah.

Não conversei realmente com ninguém, a impressão que tive era deles como grupo e ficou claro que se amavam e protegiam apesar de se provocarem. Por exemplo, no momento em que Seth lembrou um momento em que Jake dissera (no passado) que não gostaria de ter um imprinting. Jacob tentou socá-lo e eles entraram numa briga até que Leah derramou um copo de água com gelo nos dois. Ninguém levou aquilo a sério, então eu também não levei.

Já era mais de meia noite quando todos foram embora e ficamos apenas Jake e eu. Era tão natural e intrigante, que havia sempre algo a ser dito e um novo assunto para falar, uma lacuna para preencher... Não sei ao certo como, mas estávamos falando de minha relação com Nahuel:

E nunca rolou nada... Mais intenso?_ quis saber. Perguntei-me por um momento se ele realmente queria saber; era constrangedor e, no entanto eu queria responder, queria que ele me conhecesse.

—Nós tentamos uma vez_ funguei, desconcertada. _Você não quer saber realmente!

—Claro que quero! Por isso estou perguntando, quero ser seu amigo. Bom a não ser que você não se sinta a vontade, então...

—Tudo bem_ me rendi. _Foi bem elaborado: jantar, velas, rosas pelo chão... _Encarei a areia, sentindo meu rosto enrubescer. _Devia ter sido perfeito.

—Ele foi rude com você?_ a voz inflexiva de Jacob me chamou atenção, à sombra da fogueira ele parecia mortal.

—Não... Na verdade eu fui. Sabe... _Suspirei me livrando de meus pudores racionais e deixando-me levar pela confiança e familiaridade que sentia. _Sabe o último momento, quando não há nada mais a ser feito, além do óbvio?! Nesse momento eu desisti.

Projetei em sua mente as minhas lembranças perfeitas daquela noite; eu tentando me cobrir e dizendo a Nahuel que eu não queria. Tão rápido quanto pude catando minhas roupas pelo quarto e saindo, desesperada.

—Depois disso ele se contentou a esperar pelo casamento_ suspirei, minha garganta apertada com a culpa.

—Se você não se sentia dessa forma, porque aceitou casar?_ o olhei, sustentando seu olhar e não havia julgamento ou ciúmes, apenas interesse.

—Parecia a coisa certa, que fosse perfeito para mim, como Edward para Bella, Carlisle para Esme... A única pessoa com quem eu poderia compartilhar o que eu sou de verdade _pareceu ainda mais claro que Jacob havia surgido em minha vida para competir por esse espaço com Nahuel. _Além disso, _comedi minhas palavras_ não é como se eu não sentisse nada. Eu..._ o estava traindo. Ele nem ao menos sabia o que estava acontecendo. Respirei fundo.

—Foi só quando me vi vestida de noiva e pensei que eu nem ao menos consegui me entregar como ouvira a vida toda que alguém que ama verdadeiramente se entrega, é que me dei conta. Ainda com todo o amor que pudesse sentir por ele, não era o que eu queria para sempre _ Olhei para Jake, que encarava a fogueira, ele parecia pensativo, o lábio inferior projetado para fora, reprimi o riso.

—Eu entendo. Anne queria que deixasse a forma lupina. Eu quis, mas por mais que achasse justo seu pedido eu não conseguia abrir mão.

—Então, como foi com vocês?_ demandei. Jacob me olhou desconcertado. _Depois que voltou, logo conheceu Anne, quero dizer, você só esteve com ela?_ mordisquei o marshmallow.

—Houve uma garota em um bar uma vez, mas foram só alguns beijos_ falou ele sorrindo. _Esbarrei com Anne no píer em Port Angeles, paguei o sorvete que derrubei. Já estava indo embora quando percebi que talvez ela estivesse prestes a ser assaltada e a alcancei lhe oferecendo carona. Foi isso. Também... Leah! Mas foi só um beijo.

—Um verdadeiro herói! _ comentei. Ele sorriu brilhantemente. _Mas quero saber de você os mesmos detalhes sórdidos que arrancou de mim_ anunciei.

—Não sou bom com detalhes.

—Melhor que seja_ o encarei petulante. Ele sustentou meu olhar, continuei a espera.

—Eu tinha acabado de completar 23 e era virgem, já que você quer detalhes_ tive que rir de sua expressão. _ Eu a conheci mais ou menos na mesma época em que Embry sofreu Imprinting por Hannah. Foi também quando Sarah nasceu. Ela era legal, bonita e os garotos me convenceram e que não faria mal conhecê-la.

—E onde Leah se encaixa aí?_ estava curiosa.

—É complicado. Nós estávamos discutindo porque ela viu em minha mente que eu pediria Anne em casamento e era contra. Leah jogou na minha cara que eu não estava apaixonado, falou coisas realmente irritantes, um verdadeiro ataque. Eu pensei que ela estivesse com ciúmes e joguei isso na discussão. Quando vimos estávamos nos beijando, ela me deu uma joelhada, eu quis matá-la e tudo voltou ao normal.

—Nossa! E quando você e Anne ...?_ pus os marshmallows de lado

—Eu não perguntei sobre a sua primeira vez_ disse ele com falso ultraje. Revirei os olhos, constrangida.

—Talvez porque você tenha estado lá_ murmurei, encabulada. Jacob riu alto, deitando no saco de dormir.

—Continuando_ anunciou risonho_ Ela tinha uma ideia melhor do que estava acontecendo e aonde ir, então tomou a iniciativa.

—E foi na sua casa?_ me vi perguntando, incomodada que tivesse sido, embora ao mesmo tempo me perguntasse que diferença faria, é claro em algum momento eles estiveram na cama de Jacob.

—Não, na casa dela_ incrivelmente sua resposta acalmou a enxurrada de sensações desconfortáveis que se formava. _O que você quer saber mesmo?

Dei de ombros.

—Não sei, como se sentiu, no momento e depois_ sugeri.

—Você sabe, o instinto te guia. Foi bom como todo homem que nunca fez sexo quer que seja. Mas por melhor que fosse, sempre faltou algo... Não sei explicar_ ele sorriu e pela primeira vez não consegui retribuir, pude sentir a carranca que era meu rosto.

—Porque a pediu em casamento, se não se sentia como deveria?_ devolvi sua pergunta.

—Parecia a coisa certa_ ele respondeu como eu, mas não havia traço de brincadeira em seu rosto ou voz. _Não queria conhecer alguém, me envolver, deixar que me conhecesse e todo o processo para estar com alguém, novamente. Ela era boa o bastante e eu queria fazê-la feliz.

Ele sorriu com condescendência e num movimento me puxou para baixo, para um abraço desajeitado numa posição estranha.

—Não precisa sentir ciúmes!

—Não estou com ciúmes!_ fiz minha melhor cara de paisagem enquanto sentava me afastando do seu corpo quente.

Começou a chover e resolvemos colocar os sacos de dormir dentro da barraca. Parecia que Jacob estava disposto a mudar de assunto, então minha nota mental soou, como um alarme.

—Me explica aquele comentário sobre você não querer ter um imprinting_ pedi.

—Não ligue pra isso_ Jake tentou, mas o interrompi:

—Não estou ofendida nem nada_ murmurei me ajeitando no saco de dormir. _Só fiquei curiosa. Jacob se virou para mim, fazendo a barraca balançar, acho que eram seus joelhos encostados em minhas pernas.

—O que você diria se há alguns meses atrás alguém lhe dissesse que, não quero ser grosseiro, mas dissesse que você faria amor pela primeira vez com alguém que não fosse seu namorado, Nahuel?

—Que é uma ideia absurda_ murmurei sonolenta, já devia passar das 2 da manhã. Ele se moveu e só então me dei conta de que havia fechado os olhos. Os abri a tempo de ver sua mão se aproximando, ele tocou o alto de minha cabeça, e manteve a mão lá, revolvendo meus cabelos, em 30 segundos eu estava ainda mais sonolenta.

—Eu não queria, pensava que eu deixaria de ser eu mesmo. Eu não percebia, vendo pelos olhos dos outros, que isso não nos faz outras pessoas, só traz a tona o melhor de nós_ murmurou a voz rouca. Busquei algo para dizer, mas estava sonolenta de mais para encontrar uma boa resposta, suspirei me deixando levar pelo aconchego do calor e do afago, o dia inteiro abarrotado em minha mente espaçosa.

—Hach awí, Kwop!_ ouvi soar, rouco, baixo e oniricamente.


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Notas finais do capítulo

Olá, estou de volta!
Não esqueci de vocês e esperam que não tenham esquecido de mim.
Perdoem-me se o capítulo ficou repetitivo ou algo assim, foi o tempo sem escrever.
Estou a 3 dias escrevendo como louca, espero não term perdido a mão.
O capítulo ficou gigante e ainda faltava coisa, então resolvi dividi-lo em 2.
Obrigada pela paciência, vcs são demais!