Dusk (Sombrio) escrita por MayaAbud


Capítulo 27
Não Existem Palavras Para Isso


Notas iniciais do capítulo

"Antes de desembarcar
Eu tinha uma vontade, mas não sabia o que poderia fazer
Você foi abandonado
E ainda você está entregando o que você não quer perder
Você me faz perceber as coisas
Como todos os planos que eu tinha para uma vida sem você

Alguém para morrer
Alguém cai quando o mundo fica escuro
Alguém para morrer
Alguém para rasgar um buraco nesta noite interminável
Alguém como você

estou bêbado quando sóbrio
A sala está girando
Você é o que eu seguro
Você está tomando conta
Acho que ceder é o melhor que posso fazer"
—Someone to die for (música usada por S.M para escrever o Imprinting)
—_________________________________________
Vamos, ler e nos vemos lá em baixo
;)



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Renesmee

 

Eu estava estressada aquele dia, as voltas com um projeto cuja uma de minha companheira, Karen, teimava que o cálculo era tal, quando pra mim estava muito claro que não era. Como convencê-la de que eu não errava cálculos porque possuo 100 % da capacidade cerebral em plena atividade? “Eu sou metade vampira e é apenas vagamente possível que eu erre qualquer tipo de calculo físico”, é claro que não era uma opção, mas eu também não estava disposta a tirar uma nota menor por isso, embora fosse bem possível que o professor não percebesse o gráfico defasado.

 

Em geral eu lidava muito bem com humanos, mas a garota, Karen era muito autossuficiente para poder perceber que estava errada. E isso estava me dando nos nervos sempre que nos reuníamos para trabalhar no projeto.

Há alguns metros do portão baixo de minha casa eu pude ouvir a mente e o coração de meu visitante, isso sequer pode atenuar minha irritação; mas talvez não fosse apenas por todo o trabalho da faculdade, era também por Hannah que não cedia em sua postura.

Nahuel voejou até mim e pegou minha mochila antes de me dar um abraço e um beijo.

—Você não parece muito bem_ disse-me ele após me beijar, dirigindo-nos em direção a varanda.

—Estou descobrindo o quão passíveis de estresse somos, afinal_ demandei de mau-humor.

—Nada que um bom vinho e uma massagem não possam resolver_ respondeu ele me fazendo sorrir. Não era como se meu corpo precisasse de massagens para se regenerar, mas tampouco era como se não fosse gostoso e aconchegante.

Nahuel estava me mimando, havia preparado uma massa rápida com um molho que segundo ele era o mais próximo do sabor de sangue que ele já conseguiu chegar com ingredientes da culinária humana; era saboroso, mas não era parecido com sangue, embora eu estivesse mais que satisfeita no momento. Ele tinha meus pés no colo, massageando, enquanto eu sorvia lentamente o vinho que ele havia trazido; estava tudo tão bom, o estresse do dia agitado na faculdade e minha situação com minha amiga, semi-esquecidos em minha mente, quando então a massagem, já mais a cima do que deveria, ganhou mais intensidade, embora os movimentos das mãos de Nahuel ainda fossem lentos. Abri os olhos, ainda recostada ao braço do sofá, as mãos candentes subindo por meus joelhos e eu suspirei profundamente; Nahuel se moveu, deixando meus pés na borda do sofá e inclinando-se para mim e sobre mim, sustentando seu próprio corpo com os braços, um de cada lado de meus ombros.

Seus lábios tão asilados encontraram os meus com urgência embora eu o tenha acompanhado facilmente. Os segundos passaram e nossos lábios não se deixaram até que os dele desceram por meu queixo, enquanto sua mão esquerda deslizava por meu braço até minha cintura, onde Nahuel encontrou a pela da base de minhas costas por baixo da blusa que eu usava, eu suspirei, quase um arquejo com as sensações que afloravam em meu corpo. Nahuel voltou a encontrar minha boca e sua urgência me desnorteou por um momento, enquanto ele me apertava junto dele, nós dois de lado no sofá.

—Nahuel_ falei, minha voz muito baixa. Minha mão o empurrando levemente no peito.

Ele suspirou resignadamente, antes de afrouxar o laço em mim que eram seus braços, senti-me corar de vergonha, sentindo o turbilhão relutante em sua mente, e então suspirei:

—Diga-me o que quer dizer_ Não o olhei nos olhos enquanto ele hesitava.

—Sim, preciso dizer... Afinal, somos amigos antes de tudo_ sua mão esquerda pousou em meu rosto levando em sua direção para que o olhasse. _Renesmee eu a desejo, não mentia quando disse isso a você_ Nahuel falou com suavidade.

—Não sei se devo esperar que entenda realmente, mas você é esperta o bastante para ter o mínimo de empatia... E eu pretendo fazer disso a coisa mais linda e doce que eu puder, a menos que realmente não queira_ os olhos castanhos eram intensos e doces, um arrepio vaporoso e quente perpassou por meu corpo enquanto eu percebia que ele esperava uma resposta.

Inclinei-me um pouco encontrando os lábios de Nahuel tentando ganhar tempo, tempo de mim mesma, tentando descobrir se eu era capaz e eu descobri que sim, eu era capaz. Não era como se eu não o quisesse, muito embora não conseguisse assimilar o anseio cálido que Nahuel demostrava por mim.

Ele me apertou junto a si, enquanto me beijava de forma intensa ainda que delicada. Minhas mãos passeando por seu braço e rosto, sentindo a textura da pele tão semelhante a minha, perguntei-me se minha pele parecia tão macia a ele quanto à dele a mim; lembrava a superfície resvaladia de porcelana aquecida. Nahuel retomou a posição em que estivera momentos antes, sobre mim, sustentando seu peso, embora dessa vez eu pudesse sentir todo seu corpo ao longo do meu. Os beijos tornaram-se longos, ora sôfregos ora doces, mas sempre intensos; eu sentia que faltava algo, ainda que eu fosse fisicamente capaz e madura, não seria agora, não naquele dia.

—Hoje não, Nahuel_ murmurei num suspiro enquanto deixava seus lábios. Ele parou por alguns segundos, 5 segundos e 32 avos, para ser exata, o que pareceu uma eternidade uma vez que eu lidava com uma criatura tão sobrenatural quanto eu.

Hoje, não...? Isso quer dizer que...

—Que nós podemos tentar afinal, mas hoje, eu preciso me situar sobre isso_ falei corando.

Nahuel iniciou sua viajem de volta a Vancouver logo depois de nossa conversa, eu falava sério quando disse que precisava me situar. Era estranho como de repente eu me sentia uma criança como nunca me sentira antes... Mas afinal, como ele mesmo dissera, éramos amigos antes de tudo, e estávamos juntos há bastante tempo e eu haveria de passar por isso em algum momento, Nahuel era a pessoa certa, a única pessoa para mim, eu o amava e não havia porque hesitar.

***

Já era novembro e havia duas semanas que eu não ia a Vancouver, tinha muito que fazer na faculdade e eu não queria obrigar ou pressionar Hannah a nada, estando lá. Segundo as notícias que meus pais trouxeram quando vieram ficar o fim de semana comigo há uma semana, ela estava menos hostil, no entanto, mais triste e ainda não queria fazer os exercícios que devia ou comer como era preciso.

Eu estava completamente distraída montando um telescópio refletor no sótão quando ouvi meu celular tocar em algum ponto da casa. Desci correndo em uma brincadeira interna onde eu não devia deixar tocar três vezes... Atendi no segundo toque, era do celular de Esme.

—Vovó?

—Sou eu, Hannah_ disse a voz relutante do outro lado, depois de um instante onde suspirou, ainda que eu soubesse de quem se tratava desde o primeiro segundo onde ouvi sua respiração profunda e necessária.

—Olá_ respondi hesitante. Houve alguns segundos mudos, mais do que eu gostaria de ter esperado.

—Estou ligando para... para pedir desculpas_ Hannah suspirou profundamente. Eu sorri.

—Não está mais... Chateada?_ dois segundos silenciosos.

—Eu estou chateada. Não estou mais furiosa_ sua voz soou mais triste.

—Eu sinto muito, de verdade, por tudo isso, mas a verdade é que não sei até onde minha família e eu, temos culpa.

—Eu sei. Na verdade, eu me sinto culpada por você não ter estado com sua família por minha causa_ houve um segundo de emudecimento onde busquei algo reconfortante para dizer, mas Hannah foi mais rápida: _Sendo honesta, eu não posso culpar pessoas como Carlisle ou Esme, não dá para sentir raiva olhando para qualquer um deles. Ou conhecendo melhor os outros, embora Rosalie me dê nos nervos, como ela pode ser tão..._ ouvi um arquejo irritado em alguma lugar_ Odeio o fato deles ouvirem qualquer coisa há quilômetros.

—Acredite, eu também, mas você acostuma.

—Sua... Mãe é incrível, ela me contou um pouco de como se tornou... Bem você sabe.

—É_ falei sorrindo, mesmo que Hannah tivesse problemas com a palavra vampiro. Ao menos ela aceitara, e eu estava muito feliz por isso.

—Você vem para este fim de semana?

—Sim, é claro_ eu ri um pouco, feliz_ apesar que tenho que fazer umas observações e um relatório pelo fim de semana, mas eu vou sim.

—Eu tenho de ir agora, tenho que dormir mais de oito horas por noite_ o tom de Hannah era entediado. Eu ri e nos despedimos.

***

A semana pareceu se arrastar, mas enfim era sexta e muito cautelosamente eu dirigia pela já familiar estrada Pan-Americana.

Depois da comoção de minha chegada, enfim pude abraçar Hannah, ainda em sua cadeira de rodas. Olhei sorrateiramente para meu pai, perguntando-me o porquê disso. Imaginei, ou tomei por conclusão instintiva que como ela nos aceitara estava fazendo sua fisioterapia. Ele me lançou um olhar consternado e um tanto hesitante se li bem. Mas resolvi deixar para depois.

—Temos um presente, Renesmee_ disse Rosalie, o sorriso de Alice era tão grande que parecia permanente e de repente até Jasper e Emmett pareciam animados.

—Venha_ Alice me estendeu a mão. Apenas Bella, Edward e Rosalie vieram conosco.

Nós subimos os três andares e no final do corredor do terceiro havia uma pequena escada permanente, levando a entrada que dava no sótão, onde antes havia uma escada dobrável. Nós subimos, Alice ainda me tinha pela mão. O sótão estava como desde que chegamos aquela casa, com caixas de plásticos, onde todos guardavam coisas antigas, lembranças físicas do que eles jamais esqueceriam, a única coisa diferente era a abertura em forma de janela, em vidro, no teto e a luneta fantástica que jazia em baixo dela, apontando para o céu.

—Nossa!_ falei me aproximando de toda a aparelhagem, que mesmo um leigo saberia se tratar de algo moderno, a que eu montara em Seattle dava fazer todos os trabalhos, mas nem de longe era como aquela. _Acho que nem Departamento Nacional de Astronomia deve ter um desses_ murmurei olhando pela lente.

—Na verdade, têm sim_ disse Rosalie disse ajustando a lente para mim, uma de suas graduações era Astrofísica, além de engenharia Elétrica e Medicina.

—Esse é um protótipo, absolutamente funcional, é claro, mas o verdadeiro é do Departamento Nacional_ Edward piscou para mim.

—Nossa!_ falei para a informação e para o espetáculo de cores que eu podia ver através das lente.

—Um dos financiamentos científicos de Carlisle no ano passado_ disse-me Bella, parecendo um tanto chocada.

Antes que eu dissesse algo, Edward avisou:

—Nahuel está chegando, querida_ meu pai parecia mais sério que o normal e ao contrário disso Alice parecia ainda mais feliz que antes de me mostrar o presente.

—Venha, Renesmee, vamos descer. Você nem ao menos teve tempo de se arrumar_ Alice me arrastava para o meu quarto enquanto os outros desciam.

—Tudo bem, Alice, não precisa arrancar meu braço_ revirei os olhos afagando teatralmente meu punho_ O que tem de mais, Nahuel, nem ao menos chegou_ e nesse momento a campainha ressoou pela casa antes que eu pudesse falar que ele nem eu nos importávamos. Alice sorriu.

—Ao menos troque de roupa_ falou já fora de minhas vistas, dentro do closet.

Virei-me, preocupada, para o espelho; eu estava muito bem, ainda que sem exageros, dentro de meu jeans azul, meu pulôver bege rendado e minhas botas de caminhada.

—Aqui está, Renesmee, não custa receber seu namorado ainda mais linda, não é?_ disse Alice imperiosa colocando um vestido lilás sobre minha cama, revirei os olhos e me curvei para tirar a bota.

**

Nahuel conversava com meus familiares quando pouco tempo depois eu desci. Ele sorriu brilhantemente quando me viu, estava muito bonito vestido com uma camisa branca que destaca sua pele marrom, um blazer azul marinho despojado sobrepondo. Ele veio ao meu encontro sorrindo e me beijou brevemente.

Depois de alguns minutos de conversa descontraída onde até mesmo Hannah participou mais efetivamente, onde eu contava coisas da faculdade, ouvindo entre um conto e outro algo do que acontecera nas últimas semanas, Nahuel se moveu inquieto ao meu lado o que chamou a atenção de todos e por longos três segundos todos olhavam para mim e Nahuel, que sorriu e delicadamente soltou minha mão, levantando-se para logo depois ajoelhar-se diante de mim.

—Eu pensei muito sobre como fazer isso, e optei por fazer da forma mais obsoleta, mas afinal, combina comigo, não?!_ alguns de meus familiares riram suavemente enquanto meu coração dava saltos e cambalhotas em meu peito. Meus olhos vidrados na mão que Nahuel tirava do bolso de seu blazer.

—Eu peço, Edward, que me conceda a mão de sua preciosa filha em matrimonio, se assim for da vontade de Renesmee_ gracejou Nahuel solenemente, os olhos de teca, adejando de Edward a mim.

—Renesmee?_ Meu pai disse meu nome como que me passando uma bola imaginária. Eu ainda estava presa à surpresa, que agora fazia a atitude de Alice muito coerente. Repentinamente um flash depois de um pequeno click me tirou da paralisia momentânea.

Todos olhavam para mim, apreensivos, alguns sorrindo, outros pareciam assustados, temerosos.

—Sim_ falei, minha voz soando fraca. Respirei fundo, pareceu difícil, meu coração parecia maior, com uma emoção indistinta e conflitante. _Eu aceito_ falei fitando Nahuel, que me ofereceu a mão, ajudando-me a levantar; em seguida me colocou no dedo anelar esquerdo uma aliança dourada, todo incrustado de diamantes, sem dúvida uma mina em beleza e brilho.

O flash da câmera fotográfica de Alice flamejou na sala novamente, enquanto Bella e Rose aproximavam-se nos parabenizando.

—Vocês já tem uma data em mente?_ Alice perguntou, sua voz de cristais soando cautelosa, provavelmente temendo minha reação, mas antes que eu pudesse responder, presa entre os braços de Rosalie e minha mãe, Nahuel falou:

—O mais rápido possível, se Renesmee estiver de acordo.

Eu não disse nada, não fazia sentido adiar ou adiantar. Era meu destino afinal e quanto a isso eu não tinha o que pensar ou refletir, Nahuel era meu melhor amigo e eu o amava e me confiava a ela, é claro; embora estivesse zonza mentalmente, por de repente estar noiva, quando vim apenas passar o fim de semana com minha família.

—E eu vou cuidar dos preparativos, não é?_ indagou Alice com um sorriso enorme enquanto caminhava até onde eu estava.

—É claro, que sim_ revirei os olhos. Ainda que eu não estivesse segura de que deixaria tudo a seu cargo como sabia que Bella fizera.

 

As conversas e congratulações seguiram pela noite até que já era meu toque de recolher, não exatamente uma vez que eu estava em casa, mas já era hora de Nahuel ir embora.

 

Ele me beijava docemente, enquanto nos despedíamos na frente da varanda.

 

—Espero que tenha gostado do anel. Ele lembra você. Delicado e brilhante, de várias maneiras._ seu sorriso era esplendoroso. Eu sorri.

—Sim, você me surpreendeu, mesmo que já tenhamos falado disso_ falei sentido com mais nitidez o aro que agora jazia em meu dedo.

—Essa era a intenção_ murmurou encontrando novamente meus lábios. _Podemos jantar em meu apartamento amanhã? Assim começamos a falar dos preparativos.

Eu ri, de repente nervosa:

—Claro que sim.

—É hora de ir, não quero que Edward pense eu já estou me apossando de sua única filha_ ele sussurrou, como se isso fosse impedir meu pai leitor de mentes de saber de nossa conversa. Nahuel beijou-me brevemente e partiu em seu carro recém-adquirido.

Quando retornei ao interior da casa, meus familiares já tinham se dispersado pela casa, ouvia meus avós no andar de cima com Hannah, Rosalie a Alice num dos quartos e Bella fazia algo na cozinha. Emmett e Jazz distribuíam cartas de baralho, iniciando um jogo, meu pai lia, no sofá. Eu já ia em direção ao meu quarto, pensando em tomar um banho e depois quem sabe comer algo, quando Emmett, vi com minha visão periférica, abriu um enorme sorriso.

—Hey, Renesmee, já pensou onde vai para sua lua de mel?_ disse ele com o tom inocente corrompido pela malícia que tentava esconder. Antes que eu pudesse pensar numa resposta a altura:

—Emmett...!_ Edward rosnou sem ao menos tirar os olhos dos livros. Fiz minha melhor expressão superior e mostrei a língua para meu tio grandão.

**

Eu já estava em meu quarto, me preparando para dormir e tentando ouvir se Hannah ainda estava acordada, para conversarmos um pouco. Então houve uma batida na porta, pelo silêncio, soube que era um vampiro. A porta abriu-se revelando a figura magnífica de meu pai. Eu sorri uma permissão e ele entrou quietamente.

—Você está feliz?_ perguntou finalmente deitando ao meu lado na cama.

—Estou.

Edward riu.

—Porque eu acho que não?

—Eu não faço ideia_ murmurei risonha_ talvez porque seu conceito de felicidade seja diferente do meu_ especulei. Meu pai meneou a cabeça na escuridão. _Ou talvez eu tenha mais de Bella do que se imagine, afinal.

Alice me falou muito de como a Bella humana hesitava sobre se casar, eu duvido que ela estivesse pulando de alegria quando aceitou casar com Edward.

—Eu não tenho como saber realmente o que ela tinha em mente, mas você não tem nem um prazo pressionando. Você tem certeza de que é isto que quer?

—O que mais posso querer? Afinal, não é como se eu tivesse muitas opções...

—Então é isso? Aceitou casar por que não tem opções? Renesmee...

—Pai_ interrompi_ não é nada disso. Conheço Nahuel desde sempre, ele é meu melhor e único amigo, além de todos vocês, é claro. Eu o amo e ele me faz feliz. Não vejo porque adiar isso, ou pensar mais, porque afinal, não tenho outras opções; isso não quer dizer que eu deseje outras opções_ expliquei da melhor forma que pude. _Talvez seja diferente do seu ideal de felicidade, porque nem um dos amores que você viu nascer aconteceu como comigo... Desde sempre! Não foi arrebatador como sentir sede, ou como não usar meu dom nele_ eu sorri.

—Talvez você esteja certa, apenas talvez. _Ele falou sorrindo, mas então seus olhos escuros ficaram muito circunspectos e ele prosseguiu: _Quero que você seja feliz, eu mesmo cuidaria disso, mas não posso viver sua vida por você, mesmo que eu queira muito_ dizendo isso ele tocou meu rosto e me beijou a testa.

***

Na hora que marcamos por telefone, eu estava na casa de Nahuel... Quando o elevador abriu, e eu passei pela corredor pude sentir o aroma artificial, no entanto agradável de frutas vermelhas e ao fundo quase diluído pelo cheiro delicado das frutas o cheiro de pavio queimando. Misturado a isso havia o cheiro de alguma comida humana, temperada com ervas... Talvez peixe ou frango eu não tinha certeza.

Nahuel abriu a porta e eu senti com mais intensidade os aromas, ele me beijou docemente e só depois disso percebi a iluminação amena na sala onde agora tinha uma mesa larga e baixa rodeada de almofadas. A mesa estava posta para um jantar.

—Sente-se, já trago o jantar_ ele me indicou as almofadas, perto da mesinha, para onde fui sorridente.

O jantar era peixe ao molho de ervas, seguido de vinho branco, a combinação era uma encanto para o paladar, mesmo para os exigentes, como eram os nossos enquanto híbridos, mas eu tinha que admitir que preferia vinho tinto, embora ele não se ajustasse ao prato.

Nós já havíamos avançado bastante na garrafa de vinho, uma raridade de 78, me confessara Nahuel... Fiquei com dó, vinhos assim não são para desperdiçar em bebê-lo em vão, pessoas comuns pagam absurdos por uma taça daquela safra durante um gole, refletia eu, quando Nahuel interrompeu meus pensamentos.

—Eu quero que esta noite seja muito especial, Renesmee. Quero que seja linda._ a última palavra me trouxe uma lembrança recente também em sua voz, e isso fez um tremor atingir a boca de meu estômago.

Ele se inclinou sobre a mesa num beijo suave, que parecia mais buscar o vinho que meus lábios de fato, suas mãos encontrando as minhas, me intuindo a levantar. E quando estávamos de pé o beijo tornou-se mais intenso, e ele pegou-me nos braços sem interromper o beijo. Eu não vi, mas percebi que íamos em direção ao quarto, onde o cheiro de frutas e pavio sem intensificava. Nahuel me pôs no chão, logo que entramos, se posicionando atrás de mim, enquanto eu admirava a iluminação de que não precisávamos, à vela, que exalavam o aroma doce de frutas vermelhas.

Eu sorri ao ver tudo colocado com tanto esmero, as velas vermelhas espalhadas pelos poucos móveis no quarto sóbrio e elegante, a cama forrada em seda; as pétalas de rosa habitando sobre os lençóis... A respiração de Nahuel se acercou de meu pescoço, enquanto suas mãos tracejavam meus braços em direção a minha cintura. Seus lábios tocaram meu ombro por cima do cardigã que eu estava usando, minha respiração se acelerou. Querendo então pisar um pouco mais em território conhecido, virei-me em seus braços a fim de capturar seus lábios, que me receberam ávidos.

Nahuel envolveu minha cintura erguendo-me do chão enquanto nos beijamos e se moveu pelo quarto, a próxima coisa que senti foi a cama em meu tornozelo. Ele me colocou no chão delicadamente e com a mesma candura me fez sentar. Com um sorriso doce, ele se agachou tirando minhas botas e então me fez deitar, seus lábios encontrando os meus. E assim foi por um longo tempo, onde meu, agora, noivo, sussurrou-me juras de amor eterno e dedicação total.

Em determinado momento, Nahuel ergueu-se, ajoelhando na cama e tirou a blusa, revelando-me intimamente o porte esguio e definido. Suas mãos vieram a minha barriga lenta e delicadamente, erguendo minha blusa e de forma muito prática passou-a por minha cabeça, eu me tencionei nervosa e ele voltou a se inclinar sobre mim, momentaneamente, não dando atenção a minha exposição.

Seus lábios beijaram os meus por alguns instantes e eu me vi reprimida em apreensão.

—Está tudo bem, meu amor_Disse-me Nahuel com os olhos cálidos ardentes.

Então eu respirei fundo, definindo que não havia porque relutar, era Nahuel afinal. Íamos nos casar, e eu não sabia se tinha alguma predileção por aquele momento exato ou depois do casamento. Acho que não importava.

 

Deixei-me levar e permiti que as sensações crescessem... Havia muito Nahuel livrara-se de grande parte de nossas roupas. Suas mãos passeavam por meu corpo e os beijos eram sôfregos, Nahuel então, incidiu meu pescoço descendo, distribuindo novamente, beijos por toda minha pele, me estimulando, provavelmente porque eu já havia adiado o momento máximo três vezes. Eu tremi, ao sentir sua respiração e lábios em meu ventre, mas não conseguia me focar. Céus, eu sou uma hibrida, tudo devia ser muito intenso através de meus sentidos vampirescos, eu não devia estar pensando tanto em outras coisas, devia? Mesmo podendo pensar milhares de coisas ao mesmo tempo? Eu já ouvira conversas entre minhas tias e elas já conversaram comigo a respeito disso.

 

Vamos, Renesmee!, pensei, Não deve ser tão difícil. Nesse momento, não o impedi quando suas mãos foram aos meus quadris no intento de tirar minha única peça de roupa. Senti-me ruborizar quando fiquei livre dela. Nahuel se posicionou sobre e entre mim, ainda sem me tocar realmente, de forma que eu apenas sentia seus quadris roçando a parte interna de minha coxa e seu peito sobre o meu, e me beijou; sua respiração ainda mais alta e pesada... Eu estremeci com uma expectativa rasa. Não seria difícil, mas... Eu não sabia explicar.

 

—Não_ eu disse, deslizando no colchão, embaixo de Nahuel, que ficou tão imóvel quanto sua respiração e coração permitiam. Parei meio sentada meio deitada, os ombros e a cabeça escorados na cabeceira da cama. Minhas mãos buscando a minha volta os lençóis e tentando me cobrir o máximo possível.

—Amor_ murmurou ele de joelhos, não o deixei terminar:

—Eu não... Quero_ a frase se assentou perfeitamente em mim, numa verdade absoluta enquanto eu pensei e falei: _Desculpe-me.

E dizendo isso me levantei tão rápido quanto podia em busca de minhas roupas. E disparei afora me vestindo e andando.

***

Já era janeiro. O tempo tinha passado de uma nova forma de minha perspectiva. Embora humanos fossem em geral bem previsíveis, havia sempre algo surpreendente na faculdade. Agora eu estava na casa de minha família em Vancouver, Alice me intimou para que eu experimentasse o vestido de noiva que eu aprovara numa conversa on line mês passado.

Eu me esforcei muito para esconder de Edward o que aconteceu entre Nahuel e eu, não imagino sua reação, mas sinto-me constrangida só de conceber ele vendo em minha mente. A única pessoa para quem contei foi para Hannah, naquela mesma noite. Não pensei muito a respeito, apenas precisei falar; não que ela fosse me dar concelhos, já que ela sequer foi beijada de verdade alguma vez. Ela sabe que não pode penar nisso, e ela parece muito boa nesse aspecto, pois ninguém ao menos suspeita, Hannah parece ter esquecido completamente o assunto.

Mais complicado que esconder de meu pai, foi lidar com Nahuel depois daquela noite. Eu me sentia envergonhada, vacilante quanto ao assunto. Mas ele pareceu entender que eu não estava pronta e se resignou a esperar até o casamento, e muito embora eu não tenha imposto essa parte, senti-me aliviada.

A verdade, é que eu não pensava muito no que havia feito ao aceitar o pedido de casamento de Nahuel, parecia-me tão natural e óbvio como se minha vida já estivesse alinhada de modo incorruptível e não houvesse nada mais que fazer sobre isso. Tanto, que eu não estava pronta quando percebi o contrário naquela manhã de domingo.

Eu coloquei o vestido e fiquei nervosa com o pensamento de me ver de noiva. Mas eu não pude evitar, Alice me pegou pela mão e me fez subir no banquinho em frente ao espelho em meu quarto, minha tia sentou-se no chão, falando sobre a barra das camadas volumosas de tecido. Minha mãe tocou a manga falando sobre diminuir o tamanho, enquanto Rose subia no banco atrás de mim e puxava meus cachos para cima, fazendo-os se derramar por meus ombros.

Elas falavam e mexiam ao redor de mim, com uma animação que eu não partilhava e isso não parecia certo, ainda que tampouco me soasse errado. Apenas não sentia em mim o encaixe perfeito que parecia haver nas perspectivas de relacionamento das três ali, ou do restante, que não estavam em casa no momento; enquanto eu ruminava sozinha em meus pensamentos percebi a sensação, nunca sentida antes, de perder algo. Não era como quando pensei que Hannah morreria, era diferente, mas indistinto demais para que eu definisse.

Eu estava vestida de noiva, iniciando os preparativos para a cerimônia, que mesmo que não tivesse data exata, era para o próximo mês; eu não devia estar me questionando, não agora. Tendo como exemplo Bella, eu devia ser capaz de esperar, de sentir dor e dar minha vida sem hesitar; eu sabia que não devia comparar, como eu disse a Edward, era diferente.

—O que acha, Renesmee?_ Bella indagou. Estranhamente eu não sabia do que ela falava.

—Pode ser_ respondi, desconfortável.

A noite tórrida com Nahuel passando por minha mente. Fitei-me no espelho. Era um lindo vestido, as camadas de organza e cetim caíam de forma que a saia parecia uma rosa branca corpulenta.

Eu não tinha certeza. E não era insegurança, era indecisão; não era estar entre como fazer, mas entre fazer ou não. Era normal que depois de dois anos de namoro e o amor incontestável que eu sentia, eu não conseguisse fazer amor com Nahuel? Como se não fosse intenso o bastante para mim.

Desci do assento num arroubo vampírico em que eu mal considero a ação e ela já está feita.

—Renesmee!_ exclamou Alice. Eu tinha certeza que parte do tecido ficara em suas mãos quando corri em direção ao meu banheiro, sentindo-me sufocada.

Deixei-me desabar no chão, arquejando, escorada na porta, a cabeça apoiada, com o queixo nos joelhos... As vozes preocupadas chamavam do outro lado da porta.

—Quero ficar sozinha_ murmurei.

Um longo silêncio prosseguiu, até que houve um levíssimo impacto na porta, na altura de minha cabeça.

—Filha_ a voz suave e musical de minha mãe. A imaginei sentada, como eu, do outro lado. _O que há de errado?_ insistiu ela.

Suspirei, desfazendo minha posição retraída, o cetim reluziu um arco-íris quando estiquei minhas pernas.

—Se está nervosa, bem, é normal..._ ela riu brevemente _ Tive um ataque momentos antes da cerimônia.

—Eu não quero isso...

—Ter um ataque?

—A cerimônia... Casar!

Silêncio.

—Você é muito jovem, querida, está apreensiva. Porque não adia por mais tempo, um ano quem sabe, is...

—Mãe_ interrompi. Respirei fundo tomando coragem, então falei baixinho querendo evitar que minhas tias ouvissem do andar de baixo, onde sentia suas mentes inquietas. _Nahuel e eu... Há algum tempo tentamos fazer sexo e... Eu não consegui.

—Renesmee_ Bella estava surpresa o bastante para que eu percebesse a tensão em sua voz. A interrompi antes que perdesse a coragem.

—Não é uma questão de não poder lidar com isso ou de imaturidade. Foi bom, fisicamente, mas percebi que não o desejo... Acho que é isso, pois não posso dizer que não o amo. Então, como posso me casar e passar a eternidade...

—Como assim não conseguiu?_ descontinuou Bella. Parei um segundo, atordoada, ela só tinha ouvido até aí?

—Nós... Mãe!_ revirei os olhos para a parede_ Não fomos ao fim, ou não começamos. Continuo, tecnicamente, virgem.

—Tecnicamente..._ resmungou. Houve alguns minutos de silêncio, onde eu quase me arrependi de ter contado tudo.

—Se você não quer, não há problema. Você pode mudar de opinião_ disse-me Bella, meus olhos querendo chorar (foi o que Hannah fez comigo, me transformou numa chorona).

—Não sei se mudei de opinião... Talvez, vejo agora, eu só tenha sentido medo de nunca ter alguém. Você e papai, Rose e Emm... Todos são perfeitos um para o outro. Pensei que Nahuel fosse assim para mim.

Nahuel, era igual a mim. O único no mundo compatível a mim e, no entanto, eu não encontrei nada entre nós que valesse toda uma eternidade; e isso era doloroso, porque eu o amava, ele era meu melhor e único amigo. E eu não fazia ideia de como diria isso a ele.

—De qualquer forma, não importa. Não haverá mais casamento algum.

Me movi de maneira a abrir a porta, e os olhos de ouro de minha mãe me acolheram.

—Não sou corajosa e decidida como você_ sussurrei. Ela sorriu docemente.

—Claro que é. Não vê o que acaba de fazer?

Sorri e me inclinei pousando a cabeça em seu peito, seus braços de mármore me cingiram como puderam, já que parte de mim, ainda estava dentro do banheiro.

—Você sempre teve certeza? Sobre casar.

—Sobre casar não, ficar eternamente com seu pai não incluía casar, para mim, e era isso que eu queria, que eu sempre desejaria em meu íntimo, mesmo que minha vida houvesse tomado outro rumo_ ouvindo a clara devoção na voz dela, eu tive mais certeza ainda: Eu não podia ser de Nahuel para sempre.

—E... Na lua de mel? Teve medo?_ senti-a relutar timidamente enquanto ria.

—Só houve mais certeza.

Lamentei internamente sua resposta, parte de mim queria não precisar romper com Nahuel, queria que tudo fossem apenas meus nervos sobrenaturais. Mas eu sabia que não.

—Eu gostaria de um dia poder amar assim... Mas agora só o que sei é que não posso mesmo casar com Nahuel_ decretei ainda nos braços gélidos de minha graciosa mãe.

***

Eu parti para Seattle logo depois, não queria enfrentar Nahuel tão cedo, queria pensar um pouco mais, ainda que eu soubesse em cada parte de mim, com uma resolução que nunca senti antes que meu casamento não aconteceria.

Era manhã de segunda, uma manhã fria e branca, tudo estava coberto de neve. Eu me preparava para a faculdade, quando uma mensagem de texto dizia:

Nahuel está indo procura-la. Ele não ficou feliz que vc tenha partido sem lhe dizer nada.

Nem eu, aliás, gostaria de ter me despedido de vc, querida.

Edward.

 

Está tudo bem, desculpe-me, amo vc.

 

Foi minha reposta, mas eu não queria enfrenta-lo ainda. Queria fugir. E a primeira coisa que me veio à mente foi Charlie. Então, Forks.

 

Jacob

 

O dia havia começado bem, normal como toda segunda-feira, exceto os preparativos para o furacão que haveria em alto mar, próximo à costa e que nos traria uma tempestade daquelas. Eu estava aliviado que Anne e a mãe estavam fora da cidade, elas tinham partido cedo, Anne para Washington e a mãe para Seattle. Anne tinha sido convidada para um novo teste.

 

Billy tinha levado umas coisas para a casa de Rachel, que era mais segura. O furacão chegando me fez pensar que eu teria de fazer uma reforma muito boa em nossa casa, a que Paul e Rachel fizeram quando estive fora, foi muito mais por espaço que por segurança. Isso me irritou.

Não, não tinha razão real para isso, tudo estava bem, inclusive entre Anne e eu, estava até pensando em adiantar o casamento, para lhe mostrar que não havia porque se sentir insegura sobre minha forma lupina; mas conforme o dia avançava, me angustiava mais. Era como uma dor, uma ânsia. E lembranças que estiveram enterradas em minha mente por um ano, voltavam me amargurando como antes, mais até, porque algo nesse sentimento doloroso era a agonia da espera.

Não consegui trabalhar.

Fui parar na praia, sentindo que precisava respirar. Eu não ia à praia como antes e no fundo eu sentia falta disso, no momento era uma necessidade. Mas algo se revolvia dentro de mim enquanto eu fitava as nuvens negras e opressoras, o vento cortante que parecia frigir em contato com minha pele quente curvava os abetos ao longe, na James Island. Mas a praia não me trouxe o alívio que esperei, então corri pela praia vazia até chegar à floresta, onde deixei o lobo escapar, uivando feroz e livre para a tempestade que se aproximava.

Porém, não houve alívio tampouco, as memórias giravam e giravam, como os flocos de neve lavados das árvores pelo vento brutal. O lobo em mim parecia buscar aquelas lembranças, reclamá-las como dele. E enquanto eu corria percebi para onde ia, mas não consegui evitar, mesmo que o pensamento de recuar me atingisse o tempo todo. Antes que pensasse mais sobre o assunto a imponente e pomposa casa branca imergiu da escuridão do dia sombrio. A vontade mórbida e inexplicável me fez avançar pela janela lateral, fechei os olhos, quase sem controle de meu próprio corpo e pude sentir, tão fraco que só podia ser imaginação, o cheiro doce e humano... O vento soprou forte e de alguma maneira o cheiro parecia muito real, diferente, de tão real. Por um segundo cogitei a possibilidade de alguém ter vindo até ali, algum andarilho certamente, pois o cheiro era humano. No entanto passado o choque, concluí que não, não haveria rastro humano que permanecesse com toda a neve e a chuva quase se solidificava e parecia fumaça ao cair.

Dei alguns passos atrás respirando o ar frio, tentando limpar minha mente. O que eu estava fazendo ali na cripta vampírica? Depois de tanto tempo... Eu devia botar fogo naquele lugar, como eu tinha vontade de fazer com seus antigos habitantes.

Com um rosnado, eu corri, fugindo dos fantasmas que pareciam ainda mais reais naquela casa branca. Corri atordoado, por alguns minutos, até me dar conta que estava muito perto da estrada. Diminuí o passo a um trotar, observando o horizonte dividindo o mar agitado do céu assustadoramente negro, do outro lado da estrada. Deixei o chicotear furioso do vento tomar minha mente; esse era o único som da floresta, os animais estavam muito bem escondidos a esperado do furacão.

Eu estava no ponto da estrada que era íngreme e onde havia uma curva, que dava para um desfiladeiro que acabava no mar... Era o lugar onde minha mãe morrera. Repentinamente, girando com os pneus travados, um carro preto e reluzente quebrou a cerca de proteção indo desfiladeiro abaixo_ Que dia era hoje, Sexta-feira, 13?

Com um passo largo minhas patas dianteiras estavam no acostamento, e com um impulso das traseiras eu estava do outro lado da estrada, acompanhando rochedo abaixo o que um dia foi uma Ferrari (uma Ferrari?) e agora jazia num monte de aço retorcido rolando rumo às ondas gigantescas e violentas. Interceptei o que restava do carro e consegui posicioná-lo de forma estável. Era impossível que alguém estivesse vivo dentro da bola de ferro fumegante, porém, havia. Não por muito tempo, a julgar pelo pulsar acelerado, provavelmente perto de um colapso cardíaco.

Sem mais o que fazer, tentei abrir caminho para chegar ao dono do carro; retirando parte do teto e o que um dia foi uma porta; uma mão surgiu_ era uma mulher. Anne me mataria se soubesse de meus pensamentos sobre mulheres ao volante, naquele momento. Que ser humano louco dirigiria naquele velocidade, em um dia de tempestade, com a estrada congelada?! Ansioso, eu tentei encontrar uma forma de minhas patas distorcerem todo aquele metal: eu sentia cheiro de gasolina e se havia fumaça... Percebi então que não havia cheiro de sangue.

Voltei a forma humana, quando minhas garras já haviam feito todo o trabalho. Finalmente eu podia vê-la apor completo e por um longo segundo eu não pude fazer nada a não ser olhar a jovem desacordada. O cheiro da gasolina, a fumaça e o som urgente do coração me despertaram do torpor. Desemaranhei os cabelos longos e ruivos das ferragens e me certificando de não feri-la a peguei nos braços, ficando muito confuso: ela era quente. Eu a sentia quente. Não morna ou fria como os humanos me parecem, mas quente; um ou dois graus a menos que eu. Ela estaria com febre? Se sim, estava muito mal. Perguntei-me, enquanto subia o desfiladeiro, me afastando de uma iminente explosão, se ela já não devia estar morta. Os batimentos de seu coração eram assustadoramente rápidos, embora constantes e regulares.

Do outro lado da estrada, sob as árvores, deitei-a no chão, buscando saber se poderia movê-la mais. Num exame rápido, ela não parecia ter nada fraturado, mas estremeceu quando toquei o hematoma que se formava na lateral de sua testa; uma súbita preocupação me acometeu enquanto eu olhava em seu rosto: para o nariz pequeno e perfeitamente reto, os lábios cheios e seu desenho primoroso, que assim como as bochechas eram como rosas vermelhas, ardendo em contraste com a pele cremosa.

Briguei mentalmente comigo mesmo ao perceber que todos os meus sentidos estavam voltados para a desconhecida familiar: aquele matiz distinto de ruivo... Mas ela estava encharcada, então a peguei nos braços novamente e entrei na floresta, pelo atalho ali, o lugar mais próximo era minha casa.

Como Billy estava com Rachel, minha casa estava vazia. Coloquei-a em minha cama, e tirei-lhe as roupas molhadas, tendo o cuidado de colocar o cobertor por cima antes, para que não visse nada; eu não queria ninguém furiosa comigo ou indo à delegacia quando acordasse. Deixando a moça com cobertores quentes e secos, fui a sala, mas o telefone não funcionava, provavelmente por causa da tempestade, meu celular havia ficado na oficina, mas também devia estar sem final. Voltei para meu quarto e coloquei uma calça seca, decidindo que se ela acordasse se sentindo mal a levaria até Sue ou a traria até aqui. De qualquer forma a garota parecia muito saudável para quem acabara de sofrer um acidente de carro.

Vi-me ficando ansioso, mais que o natural para a situação. Sentado, na poltrona em frente à cama, eu estava intrigado: ela parecia muito bem, exceto estar desacordada; ela era quente; e alguém cujo coração atingisse aqueles batimentos, morreria em pouco tempo; aquele parecia ser seu padrão natural; e havia o cheiro, que agora num lugar seco e quente, emanava dela a cada lufada de calor emitida por seu estranho coração. Era... perfeito, o melhor dos perfumes, era doce, refrescante e ao mesmo tempo cítrico, lembrava-me... Chocolate, um limoeiro ao sol, jasmim, pinho, mel aquecido, lavanda, lilás, água do mar... Tudo parecia e nada era exatamente como aquele cheiro, que era como todas as coisas boas do mundo, misturadas.

Inquieto, já estava cogitando acordá-la quando ela se mexeu, antes que eu pensasse já havia avançado, num impulso tão forte quanto eu jamais sentira, como se eu não pudesse sobreviver sem obedecê-lo, e então eu estava sentado na cama, aos pés da desconhecida que levantava confusa, agarrando os cobertores e os segurando em torno de si. E então seus olhos se fixaram aos meus.

Eram olhos grandes e castanhos, me pareceram afetuosos, da cor de chocolate ao leite_ cópias exatas dos olhos que tanto me assombraram. Mas essa informação se perdeu em algum lugar enquanto eu me enchia de calor, um calor mais forte que qualquer um que eu já tenha sentido; não queimava. Era glorioso, luminescente. Tudo em mim se desfez enquanto aquele calor derretia minhas entranhas e eu olhava o rosto de porcelana da mulher a minha frente. Todas as linhas que me prendiam a minha vida foram rompidas no único e rápido golpe daquele olhar, como um feixe de balões de gás sendo cortados.

Tudo o que me tornara que eu era: minha dor por meu verdadeiro amor, meu amor por meu pai, minha lealdade a minha matilha, o ódio por meus inimigos, minha dedicação a minha noiva, minha casa, meu nome, meu eu. Tudo desconectou-se num segundo e flutuou para o espaço.

Mas eu não fiquei a deriva, não havia vazio. Um milhão de cabos de aço me prendiam a um único ponto: o centro do universo. Eu percebia agora a simetria do universo e entendi como tudo girou em torno daquele único acontecimento, e como meu mundo girava em torno dela, agora. Porque não havia leis de tempo e espaço grandes o bastante para aquilo, não havia gravidade que me prendesse a lógica alguma, apenas a linda desconhecida diante de mim.

—Meu nome é Renesmee, onde estou?


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