Dusk (Sombrio) escrita por MayaAbud


Capítulo 16
Surpresas do destino


Notas iniciais do capítulo

Não tema a chama da vela do meu amor
De a mim tudo o que te assusta
Eu terei os teus pesadelos por você
Se você dormir profundamente
-Give unto me- evanescence



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Nessie

   Eu não costumava pensar muito, nossa, isso soa tão inconseqüente! Não é isso, é apenas como as coisas aconteceram, despretensiosas, sem planejamento... Ao menos de minha parte, quero dizer. Sei que Nahuel não foi tão despretensioso assim, mas o que posso dizer? A perspectiva de estar apaixonado por alguém cujo pai lê mentes também não me agrada nem me é acolhedora.

   Em pensar na expressão entristecida com que Edward me olhou depois de ouvir em minha mente enquanto Bella e eu sussurrávamos sobre Nahuel me ter beijado. Ele estava no andar de baixo e eu não sabia que ele já havia voltado de pequena excursão de caça com Emmett e Jasper. Naquela noite ele veio me colocar na cama, como já não fazia há algum tempo, me cantando minha canção de ninar...

_Não vai dizer nada?_ perguntei resignada, interrompendo seu cantarolar. Seus olhos como ouro derretido fitando-me profundamente. Nós estávamos deitados, eu aninhada o seu peito marmóreo.

_Dizer o que?_ sussurrou na escuridão, embora eu pudesse vê-lo perfeitamente_ Que você é a coisinha mais fantástica que eu jamais imaginei ter e que lamento não ter mais tempo sendo o único homem da sua vida? Não, prefiro não dizer nada.

   Eu ri baixinho e então fiz careta ao pensar em Nahuel como O Homem de Minha Vida! Até então só havíamos nos beijado uma única vez.

_Nahuel gosta de mim? Quero dizer, de verdade._ interpelei. Senti a hesitação de meu pai.

_Ele gosta de você mais do que você dele_respondeu. Nossa! Isso era alguma coisa!_ É alguma coisa, mas não tudo o que você merece, meu anjo.

   É claro, qual pai, humano ou não, estaria satisfeito com qualquer amor dedicado a sua única filha de seis anos de idade...? Revirei os olhos.

_Tem razão. E você precisa dormir, amanhã tem um longo dia de compras e aula no dia seguinte_ disse Edward encasulando-me na colcha e nos lençóis.

   Não pensei muito em Nahuel exceto uma vez sobre o fato dele ser meu amigo e de repente parecer muito natural que ficássemos juntos, éramos únicos, afinal... Mas não fui muito afundo, o assunto me inquietava de forma que eu não conhecia ou entendia. E então, meses depois, ele me aparece de cabelos curtos me buscando na escola. Lembro que ele disse:

_Não sei se levo você para tomar um sorvete ou para apanhar um cervo.

   Eu ri de sua dúvida... E optei pelo sorvete, apesar de toda a neve.

   Ele me contou que estava na hora de fazer parte do mundo e  que um cabelo tão longo não era uma coisa moderna, Jennifer, sua irmã o convencera, mas havia sido difícil acostumar, afinal seus cabelos eram companhia em mais de um século de vida. Ele ficou bonito assim, parecendo, de forma atemporal, mais selvagem com seus cabelos desgrenhados apontando para todos os lados em torno de suas orelhas meio escondidas. Mas de alguma maneira era destoante, ele possuía uma elegância antiga e ferina e meio a ‘modernidade’ de seu corte de cabelo.

   Jennie, sua irmã mais nova viera com ele, e imediatamente fez amizade com Alice, as duas partilhavam do entusiasmo por compras... embora ela tenha sido muito bem vinda por toda a família. Ela tinha 20 anos biológicos e aparentava mesmo estar em torno disso, ainda que isso fosse desde os seis anos e meio. Ela era engraçada, e é claro, como todos da nossa espécie, era inteligente e muito bonita. Tinha a pele num tom bronzeado, embora o sol não atingisse a coloração de nossa pele como a um humano, devia ser herança da mãe, como quase tudo, imagino. Jennifer tinha o formato arredondado no canto interno dos olhos e puxados nos cantos externos, assim como Nahuel, mas suas íris eram azul turquesa, os cabelos lisos e dourados até a cintura. E era muito airosa. Perguntei-me se eu parecia assim graciosa aos olhos alheios... Ela era estudou filosofia e sociologia, estudando a fundo as ciências humanas, era antropóloga. Isso nos rendeu muitas horas de conversa, esse assunto e muitos outros, por exemplo, descobri sobre  a dificuldade física em se relacionar com humanos, segundo ela não era nada que com persistência e vontade não pudesse ser transposto, eu corei nesse momento; ela me explicava sobre as questões biológico sexuais de nossa espécie, ela e  Nahuel já estavam conosco havia duas semanas e  estávamos afastadas de todos, meu pai e minha mãe haviam ido ao teatro, então eu aproveitei para tirar dúvidas que eles não poderiam sanar e sequer Carlisle poderia, por conta de minha falta de experiência físico-sexual.

_E sobre, ciclos menstruais?_ demandei.

_Bem, eu não tenho um... Mas acho que ainda terei, nossa irmã mais velha teve o primeiro aos 28 anos biológicos e ela tem séculos, e a do meio aos 9, então...

_Nossa!_ então eu poderia esperar que a qualquer momento... Argh! Não era como se eu estivesse muito ansiosa para ter meu próprio sangue se esvaindo por lugares tão bizarros.

_Mas você, sabe, como as humanas a falta de um ciclo não é um aval confiável sobre infertilidade, embora_ ela deu de ombros e mudou de posição no galho do outro lado da árvore_ Não tenhamos como testar nem uma teoria nem outra.

_Que teorias?_ inclinei-me um pouco no galho fino em que estava quase deitada.

_Bem, ou nós não podemos mesmo comportar uma criança ou um humano não tem células reprodutoras fortes o bastante para fecundar óvulos híbridos. Você pode aplicar o mesmo principio do sexo com um humano: carne não abre caminho por pedra facilmente.

_A não ser com muito jeito e vontade_ falei com sarcasmo, lembrando suas palavras antes, e bufei, rindo.

_Sim..._ ela riu_ Mas que força de vontade um espermatozóide há de ter?!_ e então gargalhou.

   Mais tarde naquela noite, Nahuel me chamou para uma caminhada, me soou como um prelúdio de algo que eu já conhecia... Eu fui e ele me falou sem rodeios, mas com delicadeza, uma cortesia que só se invade as palavras com muitos anos de existência, que queria que eu fosse sua parceira, que estava apaixonado por mim. E me confessou certo nível de premeditação ao se afastar, imaginando que nós éramos uma possibilidade. Isso me chocou um pouco. Mas ele estava sendo sincero e como ele pontuou: Edward não o deixaria estar perto de mim se ele não estivesse sendo honesto.

_Não tenho certeza sobre ser sua parceira, no nosso mundo isso implica em muita coisa e estende-se em um tempo que eu sequer posso imaginar_ falei devagar sentindo cada palavra na língua, tentando ser absolutamente sincera.

   Caminhávamos entre as árvores, de mãos dadas e sem pressa pela floresta púrpura e prata com os tufos de neve.

_Eu entendo, e sei que não posso pedir que transponha esse limite, mas preciso saber se posso falar abertamente de minhas intenções com Edward..._ o olhei e não sabia qual era minha expressão, mas ele apressou-se em dizer:_ Não estou pressionando você, juro!

   Aquiesci lentamente em silêncio, lembrando que meu pai dissera que  ele gostava mais de mim que eu dele...

_Não tenho certeza sobre o que eu sinto por você_ murmurei olhando meus pés, movendo as folhas úmidas com minhas botas de caminhada.

_Não vou dizer que não me importo... Mas você pode encarar tudo com mais amenidade. Não com seu conceito de parceria, como a que você cresceu vendo em torno de si, porém algo mais humano e mutável...

   Fiquei confusa com as possibilidades, ele queria dizer que eu poderia deixá-lo...

_Mutável?_ repeti.

_Sim, você parou de crescer, mas não amadureceu o bastante. Nossa relação mudou e ainda vai mudar ao longo do tempo... Uma constante evolução_ ele sorriu_ É uma parte que gosto de ter herdado da humanidade: mudar_ assenti entendendo suas palavras e me sentindo mais confortada.

_Pense nisso com um namoro_ sugeriu e a idéia me fez sorrir. Talvez no fundo, apesar de me distanciar dessas idéias por minha circunstancia e vida, apenas talvez eu fosse muito romântica. Eu sorri e entrelacei meu braço ao dele, nos aproximando. Nahuel beijou meu rosto e sorriu.

   Tudo foi muito discreto, mas eu sabia que ele havia conversado com Edward e Bella, e nós não estávamos imediatamente namorando, mas de alguma forma mais próximos. E quando eu vi, já estávamos vendo filmes abraçados e Jennie já me chamava de cunhada e fazia planos de viagem para que eu conhecesse suas outras irmãs. Eu não me importava, porque afinal a situação não me pegou de surpresa, mas eu tinha a sensação de que não poderia sair daquela posição, pois não tinha uma idéia clara de como entrei, como disse antes, as coisas apenas aconteceram... Entretanto era bom estar nos braços de Nahuel, era confortável beijá-lo, aconchegante com um lar, como tudo o que eu conhecia, muito fácil.

   Já era março e há duas semanas Jennie e Nahuel voltaram para casa, ele foi tentar convencer Huilen e ficar mais perto da civilização, e sua irmã tinha seus afazeres na
Califórnia... E estranhamente, eu sentia falta dele.

   Nahuel havia dado alguma quantia em dinheiro para que Alice investisse como quisesse e fizesse render na bolsa de valores, ele pretendia se mudar para perto de mim, em algum lugar na cidade, eu não queria pensar nesses investimentos que ele planejava, muito menos em suas motivações.

   Era um dia de sol, o segundo desde que começamos a estudar, portanto eu estava sozinha na escola, exceto por Hannah. E eu estava relutante sobre voltar para casa, sabendo que não haveria dever de casa suficiente para me manter ocupada. Nem sequer podia combinar de ir ao centro comer ou comprar com Hannah, já que ela tinha algo burocrático para resolver com um advogado e um ex-sócio de seu pai em Seattle... Pensei em ir com ela, mas não queria ter de convencer Edward e Bella a me deixar viajar por algumas horas sem eles... Talvez apenas fosse para casa e vencesse Emmett no Guitar Hero, ele devia estar entediado... Ou talvez não, eu sequer havia visto ele ou Rose pela manhã...

_Seria bom ter companhia, odeio aviões, mas preciso estar lá antes das seis e dirigindo eu não garanto nada... Se eu conseguir pegar o próximo avião estarei lá antes das cinco da tarde em Seattle_ disse Hannah enquanto caminhamos pela escola até o estacionamento, já havia um táxi esperando ela para ir ao aeroporto.

_Eu também gostaria de ir... Você ainda volta hoje?

_Assim que terminar tudo vou para o aeroporto pegar o primeiro avião disponível..._ disse-me ela.

   Despedimo-nos no estacionamento... Hannah e eu realmente nos dávamos bem, e eu me peguei imaginando contar a ela sobre o mundo oculto dos vampiros, não seria contar, seria confirmar, pois na verdade ela sabia, e eu imaginava se ela desconfiava de minha família...

                                                                    

Jacob

   O dia havia sido seco, tão seco quanto possível para Forks, e o sol brilhava forte, com poucas nuvens lilases espalhadas pelo céu. Estacionei do outro lado da rua e caminhei pela calçada de pedra observando como as nuvens já começavam a se reagrupar a fim de pesar sobre nós... Ouvi o movimento na casa e parei quando a porta se abriu, Anne saindo.

_Vi você estacionando _explicou_ Dia bonito hoje, não foi?_ ela sorriu enquanto eu concordava com a cabeça_ Por aqui_ ela, na minha frente, me guiou para a garagem.

   Meus olhos sem consentimento desceram passeando pelas pernas expostas pela bermuda jeans que ela usava com um tênis, camiseta e um casaco de moletom.

_Preciso mandar consertar isso_ murmurou ela curvando-se no intento de erguer a porta de alumínio na garagem.

_Permita-me_ falei tomando seu lugar, e a porta com um estalo abriu. Anne sorriu em aprovação. E então eu desviei os olhos dela para a preciosidade dentro da garagem.

_Nossa!_ ouvi-me dizer.

Era incrível, a tapeçaria era original, o volante tudo em perfeito estado, embora o motor estivesse bem sujo e o cilindro precisasse ser trocado, o som saindo dele não era o certo, mas falando de estética ele estava perfeito.

_E então?_ disse Anne ansiosamente enquanto eu limpava as mãos, ainda com o capô aberto. Eu tive de rir, era como se alguém de sua família estivesse na mesa de cirurgia.

_Como eu falei o motor está bem sujo, mas pelo que pude saber está em bom estado. Precisa trocar o cilindro mestre.

_Só isso? Acho que posso pagar por isso_ disse ela corando de animação.
Eu sorri, fechando o capô.

_Porque sua mãe não deixa que o dirija?_ perguntei hesitante me referindo a algo que ela deixou subentendido na nossa conversa na praia.

Anne deu de ombros.

_Acho... Que para ela é a lembrança mais concreta que tem do meu pai. Mas já há anos, e eu penso... De que serve um corpo sem um coração batendo? Entende? Não me serve essa lembrança se eu não posso senti-lo vibrar, ouvir o som do motor_ e me olhou com seus olhos de canela cheia de significados.

_Você tem razão, toda razão_ me percebi dizer. Era quase como se ela falasse para mim: “O que era um corpo sem um coração vivo?”

_Algum problema?

_Não, eu preciso ir_ me obriguei a sorrir.  

_E quando nos vemos?_ falou ela_ Quero dizer, você é meu mecânico agora_ explicou.

_Não acho que seja seguro dirigi-lo então eu venho...?

_Amanhã_ disse-me.

_No mesmo horário_ conjecturei e ela assentiu sorrindo.

   Já estava quase na hora de fechar a oficina quando eu cheguei lá, já estava escuro, antes mesmo que eu saísse da caminhonete ouvi os burburinhos agitados lá dentro, eram Seth, Embry e Quil, senti-me aquecer um pouco ainda que estivesse longe de tremer ou coisa assim, imaginando se eles estavam brigando de novo sobre Lee.

_Qual foi o problema da vez?_ demandei, meio na escada meio na porta do escritório, Seth estava escorado na mesa do computador, Quil na parede da porta e Embry parecia... Eu, de tão arrasado, quase um fantasma sentado na única poltrona que tínhamos, no canto, ele me encarou e sua expressão fez uma sombra de pavor vibrar fria em meu estômago e eu entendi que sua tristeza era muito mais profunda que a minha, mesmo no auge.

_ Embry teve um imprinting_ falou-me Seth cheio de si, provavelmente satisfeito de ter infernizado Embry a ponto de ele ter hesitando tanto em flertar com Leah.

_Mas e qual o problema?_ falei confuso, observando que seu uniforme de policial estava úmido e sujo e também rasgado no joelho.

_Ele a perdeu_ a voz de Quil deixava claro que ele sentia a dor de Embry, pensando em sua pequena Claire.

_O que? Embry? Ela... Vocês... Algum acidente?_ eu já me perdia nas possibilidades que levavam Embry a estar como se voltando da guerra.

_Eu..._ sua voz tremeu, então Embry continuou olhando o vazio_ Fui extra oficialmente levar uns documento no Fórum em Seattle no fim da tarde. Quando estava indo pegar a viatura na calçada eu a vi_ um sorriso triste perpassou em seu rosto por menos de um nano segundo_ Estava em um táxi, ela só me olhou por um momento... É tão linda!

Claro que é, pensei, deixando isso de lado e imaginando como resolver isso.

_Eu não pensei... Eu corri atrás do táxi, sem pensar querendo apenas que ela parasse... Nem senti seu cheiro, estava chovendo um pouco e o táxi estava fechado. Um ônibus me pegou numa encruzilhada, eu não poderia mudar de forma no meio da cidade, a pessoas me cercaram depois do atropelamento e eu não pude fazer mais nada.

_E você não perguntou nada, para as pessoas em volta?_ perguntei incrédulo.

_Sim... Um dos seguranças do fórum tentou me ajudar quando fui atropelado, era um garota bonita, não falo por que ela é minha, qualquer cara a notaria: loira, olhos verdes. Ele disse que ela esteve no fórum. Eu fui lá perguntar, fiquei muito tempo tentando convencer a secretária de que precisava saber o nome da garota e ela verificou os últimos processos a darem entrada me disse que o nome dela era Hannah Steele, mas falou também que qualquer outra informação só com mandado policial... Sem endereço ou qualquer coisa que me leva a ela.

_Já pesquisou o nome na internet?_ tentei.

   Seth, em resposta virou em minha direção a tela do computador, ainda parada em uma lista enorme de nomes... Fiz careta. Bom, ele tinha tempo, tinha de ir a luta, agora.

_Essas são só as de Seattle! E o tal segurança disse ter ouvido ela falar algo sobre aeroporto para a advogada que saiu com ela.

_Ela pode não ser daqui_ entendi. Olhei para Embry, parecendo seco, distante, um zumbi e falei:_ a gente vai encontrar ela, cara. Nem que tenhamos de subornar alguém.

   Quil assentiu, concordando e Seth fez eco de mim em aquiescência. Eu não fazia idéia do que fazer, mas tinha certeza de que não poderia vê-lo sofrer, e que a alcatéia não suportaria mais um amargurado no time. Mas ele podia se ater a esperança de encontrá-la, de estar com ela... Isso já era algo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Gente estou muito feliz: com 15 capítulos eu já consegui 200 comentários! Acho muito.
Mas poderia ser melhor,já que eu tenho 31 leitores, e alguns deixaram de acompanhar, ao menos de comentar.
Recebo em média 9 comentários (lindos) por capítulos, e isso é um pouco decepcionante, embora eu não deixe de estar satisfeita com os que eu recebo.
O ponto de vista da Nessie foi só pra vc's entenderem como tudo aconteceu entre ela e o Nahuel e pra fazer sentido o Embry ter imprintig com alguém que mora no Canadá... Logo os pontos de vista dela serão mais decisivos na história.
Review's?!