Dusk (Sombrio) escrita por MayaAbud


Capítulo 12
Humanidade


Notas iniciais do capítulo

Estive acreditando

Em algo tão distante

Como se eu fosse humana

Lost In paradise- Evanescence



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Era fácil ser humana no colégio. As pessoas me apreciavam, embora eu soubesse que elas eram atraídas pela beleza como mariposas pela chama; eu sequer podia pensar que elas eram fúteis, ainda que eu soubesse que eram, pois tudo em mim era um atrativo, ainda mais que em um vampiro, pois eu não tinha a palidez doentia e depois de alguns minutos na minha presença o medo se dilapidava em admiração. No entanto, eu tomava o cuidado de manter a distância certa, por exemplo, ao permanecer almoçando com minha família, mesmo que eles tenham tentado me convencer do contrário dizendo basicamente que seria bom que eu fizesse amigos. Porém, mentiras e meias verdades não ajudavam muito que eu tivesse amigos, assim, preferindo não arriscar, eu percebi que podia ser muito fácil e perigoso me perder na ilusão de humanidade plena.

Eu sabia que estava mudando ou havia mudado, eu não saberia dizer exatamente... Como coisas se tornando claras em minha mente apesar de nada ser tão claro; como um desejo, uma necessidade escondida muito fundo em mim mesma. Isso talvez viesse do sentimento de não pertencer a nada, nem a um mundo nem a outro. Eu me sentia vazia; não gostava desse sentimento. Eu não tinha do que reclamar, eu tinha tudo que qualquer um desejaria... O amor de minha peculiar e fantástica família, principalmente. Era algo como enfado ou falta de esperança, ou quem sabe era uma questão de contraste, ou da falta dele: se eu nunca havia tido dias ruins como ia saber que estava tendo dias realmente bons? Tudo, exceto freqüentar a escola, era igual ao que sempre fora.

Rosalie dizia que eu me parecia demais com Edward, que ele era melancólico, que eu só deixaria essas coisas de lado quando encontrasse alguém, assim como ele. Eu ri dela na ocasião, mas agora eu me perguntava sobre isso... Meu pai não gostou da sugestão implícita dela, é claro que ele ainda estava tendo problemas sobre Nahuel ter me beijado. Edward não falou nada sobre isso pra mim, mas eu soube por minha mãe que ele não estava gostando da idéia, eu “mandei um recado” dizendo que eu não tinha nenhuma idéia a respeito do que houve. E não tinha mesmo. Aquilo aconteceu do nada e no nada permaneceu. Até porque Nahuel partiu novamente para a América do sul e não me deu explicações, não que eu as tenha pedido...

A semana na escola passou rápido, sem mais complicações. A quarta- feira foi bem nublada e Alice nos fez “almoçar” no pátio externo da escola, notei Hannah, sentada na terra embaixo de uma árvore, lendo enquanto comia devagar seu almoço.

—Ela sempre fica sozinha?_ perguntei ao meu pai sussurradamente, sem querer chamar atenção de ninguém, Alice e Rose tentavam convencer minha mãe a ir às compras depois da aula e os garotos estavam especulando sobre o que fez o jeep de Emmett não funcionar esta manhã, quando interrompi meu pai.

—Sim_ ele respondeu seguindo meu olhar.

Por quê?, pensei.

—Pelo que ouvi, ela esteve muito tempo em um hospital psiquiátrico, o pai dela era um empresário importante, então todos ficaram sabendo do acidente. Ela dizia que um homem havia bebido seus sangues... Só tinha 11 anos então ninguém deu crédito, é claro, acharam que era o choque do acidente, de perder os pais, parece que por fim ela ficou bem e esqueceu a história, e então foi transferida ao orfanato e aos 15 conseguiu autonomia e 25% da herança bilionária dos pais.

—As pessoas acham que ela é louca, então_ meu pai assentiu embora eu não tenha realmente perguntado. Fazia sentido um melhor agora: “estragar minha vida social”. Phf!

Imaginei o alívio que ela sentiria se tivesse confirmação sobre o mundo oculto dentro de seu mundo...

—Renesmee_ Edward advertiu.

Não é como se eu estivesse pensando em contar! Embora você mais do que eu tenha idéia de que ela talvez não tenha dúvidas, respondi em pensamento.

Edward me deu um meio sorriso condescendente.

 

O fim de semana passou ainda mais rápido, eu e Rosalie passamos a maior parte do tempo avaliando a maravilha tecnológica de sua nova belezinha. Ela havia acabado de buscar sua nova aquisição, um Bugatti Veyron 16.4 Grand Sport, banco gelo. Ela uma das coisas mais linda que eu já havia visto, possui um designer muito moderno, parecia muito frágil e delicado, mas extremamente potente, chegando a mais de 400 Km/h.

 

De volta à escola, na segunda, tudo já era familiar e eu conhecia o padrão a ser seguido. O professor de química passou um trabalho para as duplas, eram 220 questões para a sexta feira, achei divertida a reclamação da turma. Assim, imaginei que Hannah não estaria muito feliz em ter tanto trabalho e tampouco se sentiria a vontade para fazermos juntas e agirmos como a dupla que éramos.

 

—Eu faço, e trago na sexta_ falei estendendo a mão para a lista de problemas que ela tinha em mãos.

—Isso não me parece justo.

—Eu sou boa em química_ disse eu.

— Eu também..._ ela falou relutante_ Podemos fazer as duas. Se você não se importar.

—Não me importo._ falei enquanto ela rabiscava a última folha de um caderno, então rasgou e me entregou.

—Meu endereço_ disse ela.

 

Naquela mesma semana fui a casa dela, uma hora depois do fim da aula. Edward me deixou lá e me fez prometer que teria cuidado e que não diria qualquer coisa sobre vampiros existirem. Honestamente...!, pensei incrédula, mas prometi. Era um prédio pouco a oeste do centro, no principio da área nobre residencial da cidade. Ela autorizou minha subida e acenando para meu pai eu entrei no prédio. Uma ínfima parte de mim, uma que realmente tem oito anos estava animada de estar sozinha indo para casa de alguém que eu mal conhecia. Parecia normal demais e ao mesmo tempo fora do meu alcance.

 

Toquei a campainha do apartamento que me fora indicado e Hannah surgiu, de camiseta branca e calça jeans, era a primeira vez que a via com uma roupa colorida, bem, que não fosse preta, seus cabelos estavam soltos e eles eram longos, não tanto quanto os meus, os dela passavam do ombro quase chegando ao meio do tórax.

—Oi_ ela disse timidamente indicando que eu entrasse.

Por mais discreta que eu fosse, ela percebeu minha surpresa. Seu apartamento era claro e tinha poucos móveis, era mais funcional que decorativo e era adorável não era como eu imaginava o lar de alguém tão introspectivo e que só se veste de preto (claro que eu não devia pesar assim, minha família era igualmente introspectiva e certamente muito mais estranha), tinha uma linda tela a óleo onde uma bailarina amarrava suas sapatilhas.

—É linda_ murmurei olhando

—Minha mãe pintou, é minha preferida_ disse ela com o mais próximo de um sorriso que eu tinha visto até ali. _ Você quer alguma coisa? Água...

—Estou bem, obrigada. Espero que sua mãe não se importe_ comentei colocando minha bolsa numa poltrona e sentando perto da mesinha ao centro da sala, onde ela tinha livros espalhados. Senti-me desconfortável, mas não era algo que um humano notaria; eu tinha que sustentar a fachada e eu era nova na cidade, vinda de Londres, portanto eu não devia saber de qualquer coisa sobre sua vida.

—Meus pais morreram_ disse ela e seus olhos faiscaram para mim com algo incisivo que eu não soube distinguir._ Aqui está a lista_ ela pôs o papel com os exercícios sobre a mesa.

Estudamos e fizemos equações por cerca de duas horas eu terminaria todas se estivessem sozinha, mas era melhor acompanhar seu ritmo, e por fim ela se cansou. Combinamos que eu voltaria na quinta para terminarmos o restante e assim o fiz.

Na quinta quando cheguei seu apartamento ela tinha os olhos inchados e úmidos. Fiquei atordoada diante de sua expressão. Ela pigarreou e murmurou:

—Esqueci que havíamos marcado._ então me deu espaço para entrar.

—Posso terminar sozinha se preferir_ falei suavemente. Ainda de pé perto da porta.

—Não precisa_ falou sentando no sofá claro.

—Está tudo bem? Há algo que eu possa fazer?_ senti-me extremamente compadecida de sua dor aparente. Ela me olhou parecendo confusa_ Quer falar sobre isso?

Ela hesitou claramente, as sobrancelhas claras assumiram um ângulo tenso. E então ela relaxou, passou a mão no rosto e recostou-se no sofá gesticulando vagamente para que eu me acomodasse. Eu o fiz, sentando sobre minhas pernas no chão próximas a mesa de centro, de frente para Hannah.

—Eu tinha 11 anos e meus pais e eu viajamos para Seattle por um fim de semana para que ele fechasse um negócio. Havíamos ido a Port Angeles, há algumas lojas de artesanato ao longo do píer, minha mãe queria conhecer. Quando voltávamos, já estávamos quase em Seattle eu acho, então sentimos um baque forte na lataria e o carro foi jogado contra a cerca protetora em uma curva. _ seu rosto se retorceu com o que pareceu raiva antes que ela continuasse:

—As autoridades disseram que meu pai perdeu o controle e eu fui arremessada para fora._ ela balançou a cabeça negativamente_ Eu fiquei em choque na hora, lembro de não conseguir me mover ou falar de tão nervosa... Era uma noite clara, lua cheia. Eu vi alguém se aproximar e atravessar os faróis na frente do carro e então minha mãe foi arrancada do carro logo depois da porta, acho que ela estava desacordada, ela não emitiu som algum... Logo depois meu pai foi tirado, tão rápido, lembro de achar que estava sonhando, mas ouvi meu pai gritar, era um som terrível, de dor._ a voz de Hannah era um sussurro e seus olhos sem foco, voltados para o passado.

—Ainda lembro-me das mãos frias agarrando meu braço, eu pisquei e estava fora, o vento tão frio... Meu pai caído no chão. Ele tinha o rosto tão lindo! Parecia um anjo, os lábios estavam escuros sujos, eu sei que era sangue porque sangue me fazia desmaiar, mas eu estava muito chocada mesmo para isso. Ele me segurava na altura de seu rosto, seus olhos pareciam estranhos, escuros e de uma cor que eu sei que não era natural, e ele era pálido, lembro de pensar que ele era da cor da lua. Não tenho certeza do que aconteceu, acho que ele me jogou por cima da cerca de proteção, só lembro de acordar no hospital duas semanas depois... Eu contei o que havia acontecido, não acreditaram. Mantiveram-me num hospital psiquiátrico por meses, até eu me dar conta de que nunca acreditariam e dizer que não lembrava, fingi acreditar no que aconteceu, eu tinha 12 anos então. Pode me chamar de louca, mas eu sei o que eu vi e sei que é real.

— Não, não acho que seja louca. Você não tem mais ninguém?_ perguntei.

—Não, ninguém. Mesmo no orfanato eu não consegui fazer amigos... Tenho a impressão que não faço parte do mesmo mundo de antes... Hoje faz 07 anos..._ sua voz falhou e uma lágrima escapou.

—Eu sinto realmente muito_ sentia-me improfícua por não poder dizer mais que isso.

Ela me olhou como uma leoa diante da presa, e sustentou meu olhar...

—Você sabe não é? Sabe do que estou falando. Em nenhum momento você me olhou como se eu fosse louca...

—Porque não acho que seja_ Oh, God, aonde eu me meti?!

—Você parece saber exatamente do que estou falando... E seus irmãos e irmãs... Tão... Perfeitos e pálidos.

Seus olhos de absinto ardiam em determinação ainda que seu rosto fosse muito sereno, eu começava a imaginar se ela era mesmo mentalmente sã... Seus olhos me assustavam. Mas é claro que ela era mentalmente sadia, afinal ela estava certa... Só era muito perturbada por essas lembranças... Um arrepio perpassou minha coluna só em imaginar perder meus pais... Ela havia passado por muita coisa...

—Hannah, você está misturando as coisas, ok.

—Você também acha que eu fantasiei isso, não é?

—Não! Eu realmente acredito que há coisas no mundo que a humanidade não compreende._ falei sinceramente. Ela não entendia que era mais seguro guardar suas certezas, não porque a taxariam de louca, mas porque em nosso mundo era morrer eu se tornar um de nós.

—Você quer realmente fazer a tarefa? Porque eu posso fazer sem problemas..._ ela não parecia muito bem.

—Sim, eu preciso me distrair_ murmurou sentando-se no chão a minha frente e remexendo em sua bolsa jogada ali.

Fizemos o restante do trabalho e ela vez ou outra me contava algo sobre sua vida, de que se sentia em um luto eterno, pois a morte dos seus pais teve um culpado e embora ela não soubesse o que ele era ele estava impune, que uma vez por mês ela tinha que falar com uma senhora que a acompanhava desde o acidente, uma assistente social, e isso duraria até os 21 anos, que é quando ela poderia ter acesso a toda a herança de seus pais. Ela parecia melhor depois de falar e me senti bem que em ouvir eu estivesse ajudando.

 

****

 

Era janeiro e apesar do inverno e da neve o céu estava azul e o sol a pino. Carlisle tinha um trata com a direção do colégio, em troca do comportamento e notas de seus filhos adotivos ele queria abonação das faltas em dias de sol forte, pois não abria mão de momentos ao ar livre em família. Eu sinceramente não imaginava como, mas não duvidava que Carlisle tivesse sido intimidador para conseguir esse acordo. Mas eu tinha uma prova de física e era melhor não abusar.

Minha mãe foi me deixar na escola em sua Ferrari dizendo que ela ou Edward me buscariam à tarde. Encontrei Hannah no estacionamento, saindo de sua Mercedes F700. Eu não diria que éramos amigas agora, porque eu não podia ser sincera com ela, mas estranhamente, minha mentira a fez se sentir mais próxima de mim; a história oficial é que eu era irmã biológica de Edward e que fomos adotados com 10 e 11 anos, eu sendo mais nova. Contei a ela que não lembrava ou sabia de nada sobre minha mãe biológica sem querer contar-lhe mais mentiras e ela entendia que eu hesitasse em falar disso.

O dia de aula seguiu como qualquer outro, incluindo os olhares e piscadas de Luke, o garoto do time que falou comigo no primeiro dia. Ele tirava Edward do sério... Na frente da escola, fora do estacionamento o carro de Bella me esperava, mas quão não foi minha surpresa quando a figura saiu dele, com um sorriso nos lábios morenos e avermelhados.

—Nahuel!_ murmurei surpresa ainda há metros de onde ele me esperava com a porta aberta. Não só surpresa com sua presença, mas com sua aparência: seus cabelos, antes longo e trançado, agora pendiam liso, solto e desgrenhado na altura das orelhas. Ele sorriu ao ouvir minha voz sussurrada e se inclinou levemente, como um servo, enquanto eu o alcançava.

—Renesmee_ sua língua acariciou meu nome enquanto tocava minha bochecha.

— O que fez?_ não pude disfarçar o choque. Ele indicou que eu entrasse no carro enquanto ria e dizia:

—Ah, a modernidade!_ Ele parecia feliz, notei.

Algo como um sentido extra e não definido se fez presente em mim.

Intuição, eu soube.

Algo mudaria dali em diante.


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Notas finais do capítulo

Pois é pessoal, consegui adiantar um capítulo, espero ter agradado. =)

Próximo capítulo teremos narração do Jake!

O que acharam da Hannah? E da volta do Nahuel?

E aí, alguém quer me dizer alguma coisa?

Review's?!