Bella POV:

Assim que as terríveis aulas desta manhã acabaram, praticamente corri para o refeitório. Não consegui comer nada antes de vir para a escola e terei que reforçar meu estômago, pois hoje haverá detenção.

Novidade.

Peguei todas as coisas que mais gosto, pizza, um pedaço de lasanha, uma coca-cola e outros alimentos ricos em gordura trans, açúcares e carboidratos que adolescentes comem. Ou seja, entupindo meu corpo com o que há de pior para a saúde. Mas tenho que aproveitar esse tipo de comida por aqui, porque meus pais são bem chatos com esse lance de comida saudável e tudo mais. Quer dizer,  geralmente saio com amigos ou vou sozinha em lanchonetes, mas não posso fazer isso por duas semanas.

Duas longas semanas.

Jacob e Sam estavam sentados em uma mesa bem no centro do refeitório, assim que me viram acenaram pra mim e fui rapidamente até eles. Antes mesmo de cumprimenta-los ambos já atacaram minha pizza. Bati na mão dos dois.

— Vocês dois não estão de castigo e não precisam contrabandear comidas gordurosas para o quarto na calada da noite — comentei soltando um suspiro profundo —, então podem tirar essas patas enormes das minhas calorias! — falei os encarando seriamente.

— Chegou nessa situação Bella? — Sam perguntou rindo da minha cara.

— Sim — respondi e logo em seguida mordi um pedaço da pizza —, vai rindo Sam! — falei com a boca cheia e revirei os olhos.

— Bella, por favor, mastiga antes de falar! — Jacob comentou fazendo careta. 

Mastiguei todo o alimento em minha boca sem parar de encará-lo e tomei um gole do meu refrigerante. 

— Qual é Jacob — comecei revirando os olhos —, você já enfiou essa sua língua nessa minha linda boquinha aqui. Não deveria se importar com algo tão banal! — finalizei e pisquei para ele.

— A diferença é que eu não estava olhando para sua boca naquela situação Bella, faça o favor! — Jacob respondeu e revirou os olhos.

Jacob Black é um daqueles amigos para todas as horas e isso significa que quando estamos carentes, ficamos juntos. Obviamente meu irmão não sabe, caso contrário Jacob andaria sem dentes e isso não combinaria em nada com o corpo másculo que meu querido amigo tem.

Sam, por outro lado, é um cara mais na dele, sempre apronta junto e quase nunca fala sobre sua vida pessoal quando estou perto, então as únicas coisas que sei é que os dois se conhecem desde pequenos e que está noivo de uma tal de Emily. O que, sinceramente, não consigo compreender. Por mais que Sam aparente ser muito velho para estar na escola, ainda assim, ele tem a nossa idade e, para mim, não faz o menor sentido noivar com dezessete anos!

Mas, cada um com as suas loucuras. 

Os outros garotos que andam conosco são mais amigos do meu irmão, mas geralmente me ajudam quando a encrenca é grande. Tem o Seth que vive me dando cantadas muito engraçadas e, às vezes, dou alguns conselhos pra ele. 

Tem o Jared e Paul que são os garotos mais chegados do Sam. Quil e Embry são amigos do Jacob, mas no final das contas todos eles aprontam e se divertem juntos. Sou, então, a única garota no meio desses marmanjos e para mim é absolutamente fácil conviver com eles. 

— Estão sabendo da novidade? — Jacob perguntou.

Eu e Sam nos olhamos e demos de ombros, não é como se tivéssemos uma bola de cristal ou pudéssemos ler mentes para saber do quê nosso amigo estava falando. 

— Chegaram alunos novos no colégio, uma menina e um menino. — disse ele antes que eu pudesse responder de maneira sarcástica — A garota não é de se jogar fora.

— Estou sabendo disso, parece que todo mundo está comentando sobre eles — Sam falou olhando para as pessoas no refeitório — Não vi o garoto novo.

— Eu vi! — comentei após engolir o último pedaço da lasanha e tomei um gole de coca-cola para ajudar a descer, mesmo me sentindo absolutamente cheia. — E se essa menina seguir o mesmo gosto que ele, nunca conseguirá um namorado!

— É tão ruim assim? — Jacob perguntou rindo, mas desacreditado.

— É muito ruim! — Sam respondeu olhando algo além de mim — Olha só aquele cara, só pode ser ele!

Olhei por cima do ombro e vi o garoto estranho da minha aula de álgebra andando pelo refeitório com uma menina baixinha de cabelos espetados. Mais diferentes impossíveis, afinal ela é totalmente voltada para as novidades do século XXI enquanto ele parece ter ficado preso em alguma linha do tempo antiga.

O mais interessante é que a garota é realmente muito baixinha, pois mesmo com um sapato - lindo, a propósito - altíssimo consegue ser menor do que a média de pessoas ao redor deles. 

— Pelo menos a garota tem estilo — comentei e enfiei um pedaço de torta na boca —, algum de vocês sabem quem são eles?

Tenho consciência de que há uma grande chance de passar mal depois, mas não consigo esquecer o fato de que estarei em detenção hoje a tarde. Bufei ao lembrar disso. Ainda estou impressionada com o fato de que apenas euzinha estou pagando por uma bagunça da qual Emmett também participou. 

— São irmãos, vieram transferidos de Nova Jersey porque o pai deles é um médico famoso e estavam precisando de um médico bom por aqui. – Sam respondeu com rapidez e seriedade, sem tirar os olhos dos novos alunos.

— Como você descobriu tudo isso? — perguntei olhando-o com curiosidade, Jacob concordou comigo.

— Algumas garotas da minha aula não conseguem falar baixo. — respondeu simplesmente e deu de ombros. 

Jacob e eu nos entreolhamos, mas demos de ombro. Todos do grupo sabem que Sam é o mais curioso e se mantém bem informado sobre as situações que acontecem. Meu irmão e o resto dos meninos chegaram à mesa conversando e rindo escandalosamente.

— Qual o motivo da alegria? — perguntei me esticando para alcançar um bolinho da bandeja de Embry.

— Seu irmão levou um baita fora da Victoria! — Paul falou rindo e arrancou gargalhadas de todos na mesa. Menos de Emmett, é claro. 

— Parem de me zoar! Eu nem entendi porque disso tudo – meu irmão falou e fez careta —, ela veio falando de uma tal de Valéria e não conheço ninguém com esse nome.

Fiz careta e virei meu rosto para o outro lado do refeitório, não acredito que aquela vaca terminou com meu irmão só por causa disso. Todo mundo sabe, menos Emmett, de suas escapadas por aí, com vários garotos diferentes, que acredita mesmo na santidade dessa garota. 

Uma movimentação estranha chamou minha atenção e logo percebi que são os garotos do time de futebol e, claro que sim, estão zombando do garoto novo. A menina disse alguma coisa e a reação do pessoal em volta foi de choque, ou seja, está tendo barraco dos bons e estou perdendo tempo com esses infelizes aqui.

— Meninos — comecei a falar ao mesmo tempo em que fiquei em pé —, a companhia de vocês é maravilhosa, mas quero saber o que está acontecendo lá — completei apontando para a confusão de pessoas do outro lado. — Nos vemos mais tarde.

Peguei minha bandeja com os restos de comida e andei rapidamente na  direção do lixo mais próximo da confusão. Assim, posso assistir tudo de camarote e sem me ferrar depois.

— Qual é nerd, você é tão covarde que precisa de uma garota para te defender? — Mike Newton perguntou com o rosto a centímetros do garoto novo.

Revirei os olhos para o comportamento ridículo desse ser humano ainda mais ridículo. Mike Newton é o capitão do time, mas acredita ser o rei do colégio. 

— Ele não precisa que eu o defenda — começou a garota, colocando-se entre os dois —, estou fazendo isso porque garotos como você são estúpidos demais, preconceituosos demais — completou encarando Mike.

Ela só poderia ser nova mesmo, para ser louca a ponto de enfrentar o capitão do time. E, ainda por cima, enfrentá-lo por causa de um garoto que todos acham esquisito. Gostei dela. Não é o tipo de garota que sou chegada a conversar, parece patricinha demais, mas isso não importa agora.

A discussão continuou e piorou enquanto analisava o jeito dela. Mike está decidido a tornar a vida do garoto novo um inferno, a menina parece cansada de bater boca e só existe uma pessoa nesse lugar infernal que tem coragem de continuar com isso por ela.

Isabella Swan. Sei que vou me ferrar ainda mais, se me meter nisso e com toda a certeza serei a única afetada da história. Mas é a chance de humilhar o Mike idiota. Como é mesmo o nome desse garoto jeca? Edmundo? Edgar? Ed o quê mesmo?

Mike começou a dar cutucões no braço do nerd, o que não é um bom sinal. Ele está a ponto de começar uma briga física e não sei até que ponto estou disposta a ir, então é melhor intervir logo.

— Vamos lá nerd! — Mike falou e ergueu a mão para cutucar o garoto mais uma vez.

— O nome dele é Edward. — falei e segurei o braço de Mike no meio do caminho. 

O ambiente parece ter ficado ainda mais tenso e um estranho silêncio foi se estabelecendo entre o grupo de pessoas ao redor. Mike e eu nos encaramos nos olhos e nem preciso olhar ao redor para saber que muitas pessoas devem estar boquiabertas, afinal não é comum estarmos próximos e quando estamos, geralmente, uma guerra explode.

— Como é? — Mike perguntou com uma sobrancelha erguida. — Não vai soltar, Swan? 

— Eu disse que o nome dele é Edward! — respondi sem desviar os olhos e larguei o braço dele como se não fosse mais do que um lixo.

— Isabella Swan defendendo alguém além dos brutamontes que anda — disse ele e deu para ouvir o sarcasmo no tom de voz. Mike olhou para o seu grupo de amigos e riu alto, sendo seguido por aquelas hienas. — Impressionante Swan.

— É mesmo impressionante, para mim — respondi sorrindo, me aproximando um pouquinho mais dele — Impressionante alguém como você, capitão de um time de futebol, implicando com um aluno novo e todos sabemos que isso se dá pelo fato de que ele tem um estilo diferente dos demais. 

— Qual é a sua Swan? — perguntou ele, quase rosnando. Aproximou o rosto do meu — Se apaixonou pelo nerd?

Não tive tempo de responder ou de fazer qualquer coisa, alguém jogou um pedaço de torta na nuca de Mike. Nós dois ficamos boquiabertos, pois não é normal alguém como ele receber esse tipo de tratamento.

Mas, obviamente, me recuperei do choque antes e caí na gargalhada. O que, na realidade, não foi bom pra mim, pois o infeliz pegou um pedaço de bolo de uma mesa qualquer e esfregou no meu rosto. Encarei-o por um longo tempo.

— GUERRA DE COMIDA! — gritou alguém. 

E então comida começou a voar para todos os lados. Quando menos esperava já tinha uma casca de banana na minha cabeça. Joguei um copo de suco na cara do Mike que, por estar com a boca aberta, se afogou. Soltei uma gargalhada, sem conseguir me conter. 

E logo interrompi meu momento de glória ao perceber que o nerd era arrastado por uma mesa fazendo todas as comidas caírem. Eric Yorkie era o responsável e meu sangue ferveu, não é possível que isso esteja acontecendo em pleno século XXI! Edgar, Ed sei lá o quê, caiu igual uma manga madura no chão e os rapazes do futebol começaram a cair em cima dele. Mike foi o último, com uma expressão de satisfação doentia. 

Antes de conseguir me mexer para fazer alguma coisa minha atenção foi desviada para a irmã do nerd que estava batendo com a bolsa na cabeça do Newton. Uma cena memorável e gostaria de poder registrar esse evento. 

Isso está melhor do que filme.

— MIKE! — Jacob, Sam e Emmett gritaram ao mesmo tempo vendo o que estava acontecendo.

Os três começaram a tirar os caras um por um de cima do nerd, que essas horas já deve estar vendo estrelas, se não estiver até morto. Exageros a parte, vi o Newton testa-testa com meu irmão, eles também não se dão nada bem e espero que não passe disso, caso contrário a situação ficará ainda pior. 

Assim que meus amigos conseguiram levantar o coitado do Edemir, que inferno de nome é esse?, os meus amigos começaram a brigar com os jogadores e de alguma forma Mike se distanciou do meu irmão, mas seguia na direção do Ed sei lá, e fiz a única coisa que passou por minha cabeça: pulei nas costas do Newton e comecei a bater na cabeça dele. 

O nerd, que não sei como acertei o nome dele naquele momento, ficou observando tudo sem saber o que fazer. Seus olhos tão arregalados que estavam quase pulando fora das órbitas e até começou a se mexer quando viu que Mike conseguiu segurar o meu pulso antes de levar mais um tapa, contudo um apito fez com que todos congelassem no lugar. 

DROGA.

— PAREM COM ISSO AGORA MESMO! — gritou nosso querido diretor, seu rosto muito vermelho de ódio, claramente. 

Todos pararam na hora e Mike, com a maior delicadeza do mundo, me largou e cai de bunda no chão. Que saco.

— Posso afirmar que sei quem começou com essa confusão — Diretor Walter falou e começou a andar por todos os alunos, mas minha atenção está em levantar e massagear minha bunda que ficará roxa e analisar o estrago da minha roupa, cheia de comida. — E essa pessoa não está nenhum pouco preocupada. 

O infeliz soprou o apito no meu ouvindo e por alguns segundos só ouvi um zunido, sem contar no pulo que dei pelo susto. Encarei-o com ódio. 

— Ficarei surda desse jeito! — resmunguei irritada. 

— Isabella Swan pode me explicar porque a senhorita não estava prestando atenção no que eu estava falando? — Walter ergueu uma sobrancelha e continuou me encarando esperando uma resposta. 

— Sofro de Déficit de Atenção — falei e sorri. 

— Você sofre de má educação, isso sim! — declarou ele, quase ficando roxo de raiva.

Já imagino que toda essa confusão ficará por minha conta, visto que o homem sempre foi predisposto a tornar minha vida intragável nessa instituição. Mas dando uma boa olhada na destruição colossal do refeitório acredito que serei expulsa desse lugar se não dividir a carga com os outros, afinal a culpa não minha. 

— Vocês todos começaram essa confusão — falou ele, me surpreendendo, e apontou o dedo para todos os que estavam envolvidos na briga que ele viu. — Até os alunos novos você corrompeu Swan!

AH! Aí está minha culpa. 

— Epa! Não fiz isso coisa nenhuma — falei erguendo as mãos e largando os braços ao lado do corpo novamente. Estou absolutamente indignada. 

O diretor Walter simplesmente me deu as costas como se não fosse nada - talvez minha opinião e inocência não sejam nada para ele mesmo - e começou todo um discurso sobre responsabilidade com a instituição, respeito pelo alimento e cuidado com as amizades e companhias que decide ter. 

— Todos vocês devem voltar depois das aulas para limpar esse refeitório! — falou ele e usou o apito para firmar sua fala.

— Não posso — comecei a falar e vi que os ombros dele enrijeceram,  provavelmente por ter tirado o gostinho de palavra final depois de seu discurso —, estarei ocupada cumprindo minha detenção!

— Você pode cumpri-la amanhã Swan, hoje você ajudará a limpar essa bagunça — retrucou com ódio evidente nos olhos e assoprou o apito no meu ouvido novamente.

Ótimo, revirei os olhos com raiva. O que era um dia de detenção se tornou em dois e um deles, ainda por cima, é para fazer limpeza. Já consigo imaginar o surto que Renée terá ao descobrir isso e o olhar decepcionado que Charlie lançará para mim. É por esse motivo que não tento ajudar as pessoas, sempre sobra para mim.

— Ficarei surda desse jeito — comentei assim que Emmett chegou ao meu lado — Esse homem só apita aquele negócio perto do meu ouvido!

Meu irmão riu e bagunçou todo meu cabelo, o que não foi bom, porque lambuzou tudo ainda mais e provavelmente será um sofrimento arrumá-lo depois, afinal está cheio de comida. Mas antes de poder brigar com Emmett observei sua expressão de compaixão e minha consciência pesou demais, afinal a culpa dele ter um coração partido nesse momento é toda minha. 

Até considerei contar para ele sobre minha participação em sua nova desilusão amorosa, mas optei por ser um pouquinho mais egoísta e aproveitar esse raro momento de carinho. Além do mais, se ela não confia no meu irmão, ela é quem está perdendo, simples. 

***

Antes do sinal tocar saí correndo feito uma louca desvairada para o banheiro, enfiei minha cabeça embaixo da torneira e deixei que a água levasse todos os restos de comida dali. Depois joguei minha cabeça para frente e para trás, fazendo sair o excesso de água dos meus cabelos, algumas meninas reclamaram por serem atingidas por algumas gotinhas.

— O que foi? — perguntei irritada e elas deram um pulo assustado — São de açúcar? — joguei o cabelo novamente na direção delas e vi que saíram correndo do banheiro me chamando de sem noção. 

Resmungando retirei o excesso de comida da minha roupa, passei uma água no rosto. Meu cabelo está escorrendo um pouco e deixa minha camiseta molhada nos ombros, não estou tão satisfeita assim com o resultado, mas é melhor do que permanecer lambuzada e grudenta de comida até chegar em casa. 

Saí do banheiro rapidamente e não prestei atenção no caminho, só fui pensando em qual desculpa poderia dar para os meus pais para que não surtem e não acabem por estender o castigo. Perdida em pensamentos trombei com um corpo esbelto e bem firme, tanto que meu nariz já sensível até doeu um pouco. 

Olhei para cima irritada e curiosa. Dizer que fiquei surpresa ao dar de cara com o nerd é um eufemismo, afinal jamais poderia esperar que ele tivesse um abdômen tão bem - possivelmente - definido. E decidi que o chamarei dessa forma até que seja capaz, sendo otimista, de lembrar seu nome. 

— Só queria agradecer pelo o que fez hoje — disse ele com a voz meio trêmula —, foi muito corajoso da sua parte. 

— Não há de quê — respondi dando meu melhor sorriso falso —, mas não deveria ter feito. Me ferrei ainda mais. — completei ao ficar séria e saí. 

Deixei-o sozinho no corredor e mantive o passo tranquilo, quase arrastado, para minha próxima aula. Uma pontinha de arrependimento surgiu em algum lugar do meu ser, mas comecei a guardá-la novamente, afinal não é bom que ele acabe se aproximando de mim. 

Não, realmente seria um problema para ambos.