Uma semana depois...

NESSIE POV:

E lá estava ele, encostado na árvore me esperando com um sorriso iluminando seu rosto. Antes mesmo que eu pudesse abrir a boca pra falar qualquer coisa seus braços envolveram minha cintura e sua boca colou na minha cheia de saudade.

Logo estávamos em sua casa, necessariamente em seu quarto, nos beijando avidamente e um pensamento no fundo de minha mente ressoou “como viemos parar aqui tão rápido?”, porém a necessidade de um contato mais intenso e a sensação das mãos de Jacob percorrendo meu corpo é tão anestesiante que mais nada importa e mais nada faz sentido.

Senti meu corpo ser pressionado contra a parede e logo o corpo dele encontrou com o meu, leves arrepios tomaram conta de todo o meu ser, minhas pernas não estão me sustentando mais e se Jacob não estivesse me segurando tenho certeza que iria ao chão. Como se lesse meus pensamentos me pegou no colo e eu envolvi sua cintura com as pernas.

Ele interrompeu o beijo pra recuperar o ar, mas ainda assim não tirou os lábios de minha pele, deslizando para meu pescoço me fazendo arfar.

– Seja minha Nessie... – ele murmurou suplicante em meu ouvido – Pelo menos, uma vez.

Não houve tempo pra responder, alguma coisa começou a me incomodar, como se algo estivesse pressionando meu corpo e um barulho extremamente irritante ao fundo se fez presente. A imagem de Jacob começou a ficar mais clara e aos poucos virando borrão, ergui minha mão tentando segurá-lo, porém foi em vão. A última coisa que ouvi foi sua voz, num leve sussurro.

– Seja minha Nessie...

(...)

– RENESMEE! – alguém gritou em meu ouvido.

– O que foi? – minha foz saiu abafada e grogue.

– Você está atrasada, faz meia hora que Alec já saiu! – Jane gritou furiosa comigo e me deu um cutucão nas costelas.

Mas a simples menção de “atrasada” e “Alec já saiu” me fez levantar feito um foguete da cama e reparar no meu despertador do outro lado do quarto, totalmente estraçalhado. Céus, quando fiz isso? Vou deixar pra pensar nisso quando estiver devidamente sentada na escola.

Porém o sonho com Jacob parece me perseguir onde quer que eu vá, tomando banho, engolindo meu café da manhã às pressas, vestindo minhas roupas de uma forma estabanada, quando fechei a porta de casa e saí correndo. E principalmente quando dei de cara com o moreno no meio da rua, ele logo me abriu um sorriso de tirar o folego e quase me dei uns petelecos por retribuir tão rápido.

– Parece que a senhorita certinha está atrasada hoje – ele disse em tom de deboche.

– Fala sério, primeira vez na vida! – revirei os olhos – Já você, ao que parece, é acostumado com isso.

– Claro, mereço uns minutos a mais de sono às vezes – ele deu de ombros sem tirar o sorriso do rosto.

– Está sorrindo tanto assim porque, palhaço? – perguntei bufando.

– Seu cabelo está amarrado torto e sua camiseta está do lado contrário – ele caiu na gargalhada.

Aquilo que ele está enxugando são lágrimas? Poxa, está tão engraçado assim? A ponto do idiota, chorar de rir? Ah mais ele vai ver. Sem pensar nas consequências dos meus atos, tirei minha camiseta e fiquei apenas de sutiã no meio da rua, para minha sorte, não há ninguém, além de nós por aqui. No mesmo instante que me viu quase nua suas gargalhadas cessaram e sua respiração ficou ofegante, como se tivesse corrido uma maratona sem parar.

Tão rápido quanto tirei minha camiseta, logo a coloquei novamente e dessa vez do lado correto. Porém a expressão de surpresa no moreno continuou pelos próximos minutos e enquanto isso arrumei meu cabelo da forma correta.

– Não deveria fazer essas coisas – ele disse engolindo em seco.

– Ir pra escola com a camiseta do lado contrário, eu não iria – dei de ombros, como se fazer uma loucura dessas no meio da rua fosse normal pra mim.

Suspirei. Conversas a parte, mas eu preciso ir correndo pra escola e isso não é nada bom. Pra ser sincera é realmente muito deprimente uma coisa dessas, afinal eu tenho um primo que tem um carro e que estuda na mesma escola que eu e deveria, pelo menos, me esperar para dar uma carona!

– Quer carona? – Jacob perguntou me tirando dos devaneios.

– Naquela maquina mortífera que você chama de moto? – perguntei com uma sobrancelha erguida e ele assentiu – Não, muito obrigada.

Dito isso comecei a andar na direção em que fica a escola e uma gargalhada me fez estancar no lugar.

– Para de ser tão arrogante garota. Planeja ir pra escola como? Andando? Sinto lhe informar você só vai chegar lá na hora da saída! – ele disse rindo e quando me virei, ele já estendia um capacete pra mim.

– Pra sua informação eu estava planejando ir correndo – ele começou a rir e eu revirei os olhos – Talvez desse pra assistir, pelo menos, a ultima aula.

– Claro – dito isso nos olhamos e caímos na gargalhada.

Faz uma semana desde que aconteceu aquele beijo e devo confessar que ficamos tensos perto um do outro no inicio, mas conforme começamos a pegar confiança as coisas começaram a melhorar e mesmo que ainda sejamos meio hostis nossa convivência tem sido cada vez melhor.

Eu havia me esquecido dos sonhos enquanto tinha minha pequena e ridícula discussão com Jacob, mas o simples fato de sentar na moto e envolver meus braços em torno de seu corpo os sonhos vieram como um cometa e engoli em seco. Afinal, com seu corpo tão perto do meu, sentindo seu cheiro, é meio difícil de manter o autocontrole porque sinceramente... Que garota, tendo sonhos são eróticos com um moreno desses, iria conseguir se controlar quando o visse na frente?

Controle-se Renesmee, não cometa o mesmo erro que cometeu com Jasper!

E a menção do nome de Jasper despertou meu lado ajuizado e consegui recobrar um pouco do autocontrole e comecei a mentalizar esse pensamento como se fosse um mantra, ou como se minha vida dependesse disso.

E na verdade, depende. Minha sanidade depende disso!

O caminho todo até a escola foi simplesmente uma tortura, ao que parece Jacob resolveu testar minha paciência – e de quebra, meu autocontrole – e dirigiu como se estivesse aproveitando para apreciar a paisagem.

– Já pode me soltar agora, ruivinha – ouvia a voz dele e percebi que meus braços ainda o estão apertando fortemente.

– Ruivinha é o cace... – antes de conseguir terminar ouvi um apito soando perto de mim.

– Senhorita Volturi, olhe o palavreado! – o diretor apareceu ao nosso lado, de surpresa – Dirijam-se rápido para suas salas, estão atrasados demais.

Bufei e me afastei do moreno com um movimento rápido e ágil. Agradeci rapidamente e sem realmente olhá-lo nos olhos, o que eu menos preciso agora é lembrar os sonhos e voar pra cima de Jacob com um diretor exigente nos olhando de forma severa.

Céus me ajudem, nada fácil conviver com um cara desses.

BELLA POV:

Bufei pra terceira vez em menos de dez minutos. Aula tediosa, dia tedioso. Meu humor não está dos melhores hoje e tudo isso se deve ao fato de que faz uma semana que estou tendo sonhos com o nerd e nem sempre são sonhos comportados, às vezes fica tão intenso que acordo ofegante e precisando urgente de um banho. E tudo isso por uma longa semana.

Tirando o fato de que, bem, ainda damos nossas fugidas e nos encontramos para dar uns pegas e devo ressaltar que o Cullen leva muito jeito pra coisa. Nesse exato momento me vejo ansiando por seus lábios nos meus, suas mãos em minha cintura e por sua respiração em meu pescoço. Só de lembrar vários arrepios passam por meu corpo.

– Isabella Swan! – ouvi a voz da professora me tirando dos devaneios.

– O que? – bufei irritada.

– A senhorita não estava prestando atenção? – ela perguntou batendo o pé no chão impaciente.

– A senhora quer que eu minta ou que seja sincera? – arqueei uma sobrancelha.

– Espero sua sinceridade – ela suspirou, como se já soubesse a resposta.

– Estava no mundo da lua – dei de ombros não me importando por ver sua expressão zangar-se.

– Deveria manda-la para o senhor Walter, porém hoje estou de bom humor – a expressão dela mudou novamente e se tornou sorridente.

Eu hein, professora bipolar não é comigo não!

– Agora é a hora em que vocês, meus alunos queridos, deveriam perguntar “porque querida professora?” – ela fez uma imitação chula de voz infantil.

– Fala logo – falei com a minha maior delicadeza. Ela revirou os olhos, porém isso não a impediu de contar a grande novidade.

– Estou grávida! – e assim, todos bateram palmas e eu continuei com a mesma cara de paisagem a professora olhou pra mim – É bom você ficar feliz Isabella, caso contrário eu lhe mando diretamente para o diretor – seu tom ameaçador, não me deixou duvidas.

– ELA ESTÁ GRÁVIDA, UHUL! – gritei da melhor forma animada que conseguir – ISSO AI GENTE, QUE FELICIDADE! – comecei a bater palma e a expressão no rosto dela suavizou.

Havia um boato sobre mulheres grávidas oscilam de humor muito rapidamente, eu não acreditava muito nisso, porém acabo de ver isso na prática e sinceramente é completamente assustador. Preciso fazer uma nota mental de não irritar essa professora até que seu filho nasça.

Assim essa aula tediosa continuou e eu voltei para o mundo da lua, ou melhor, para o mundo do nerd e seus lábios sedutores. Dessa vez, para minha sorte, nenhuma interrupção.

(...)

Eu sabia que aquela loira boazuda não ia conseguir controlar a língua dentro da boca. Ah! Como eu quero esganar Rosalie e arrancar fio por fio dos seus lindos e sedosos cabelos loiros, na base da pinça!

Agora aqui estou eu sentada em uma das mesas no refeitório, com Jasper que está com um sorrisinho debochado no rosto e com uma Alice que não para de quicar na cadeira ao lado da minha e de quebra me bombardeando de perguntas, como não me dispus a responder nenhuma, ela começou a cantarolar uma musiquinha irritante.

– Estão namorando, estão namorando, estão namorado – ela continuou cantarolando essa porcaria bem no meu ouvido, por muitos minutos.

– Quer parar com isso Alice? – a pergunta saiu entredentes, demonstrando o limite da minha paciência.

– Qual é Bella – ela fez uma expressão manhosa – Eu preciso saber!

A nanica deu tanta ênfase na palavra “preciso” que eu quase, quase, imaginei que a vida dela dependesse dessa informação. Mas se tratando da Cullen hiperativa, eu não posso me dar ao luxo de duvidar. Bufei e olhei para o outro lado do refeitório, para o meu completo azar, Rosalie e o nerd estão vindo para cá.

Reparando o mesmo que eu, Alice voltou a quicar na cadeira animada com a possibilidade de descobrir mais alguma coisa que a boca-grande-Rosalie ainda não tenha contado e a cada passo que ela dá em nossa direção é um minuto a menos para a vida dela, como se lesse meus pensamentos ela desviou de direção indo diretamente para a fila pegar sua comida.

Muito bom. Assim ganho mais tempo pra imaginar muitas maneiras de mata-la lenta e dolorosamente.

– Olá Edward – Jasper cumprimentou assim que o nerd sentou ao seu lado – Prepare-se – murmurou para o primo e mesmo assim consegui ouvir.

O nerd me olhou confuso e consigo até imaginar o grande ponto de interrogação em sua mente, mas antes de qualquer pronunciamento da minha parte a Cullen menor e hiperativa começou a bombardeá-lo de pergunta, nada, discretas.

– Então, maninho, desde quando você e a Bella estão tendo um caso? Quando irão assumir publicamente? Quando irá apresenta-la aos nossos pais? Já enfrentou a fúria do pai dela? – a garota quase caiu da cadeira inúmeras vezes, tamanha sua excitação com o assunto.

Revirei os olhos reprimindo o instinto de voar na garganta de Alice e mata-la aqui mesmo, no refeitório e não me importaria nenhum pouco se todos vissem essa cena deprimente. Ou até mesmo de matar Jasper que está – sem dúvida nenhuma – se divertindo com a situação toda. Melhor ainda... Matar Rosalie por ter criado esse maldito momento em minha vida.

Edward Cullen pela primeira vez desde que o conheci, está paralisado, tamanho o choque que todas essas perguntas causaram nele. Nada de sorrisinhos presunçosos, nem um arquear de sobrancelha, nenhum comentário sarcástico... nada.

A loira boazuda chegou e sentou o mais longe possível de mim, nem ao menos se dando o luxo de olhar em meus lindos olhos que estão – com toda a certeza – fulminando-a nesse exato momento. Se eu mata-la meu irmão nunca mais me perdoaria então só me resta uma opção...

Torturar lenta e dolorosamente.

– Como, diabos, você ficou sabendo disso Alice? – o nerd perguntou assim que saiu do estado “estátua”.

– Eu achei uma peruca loira no seu carro, fiquei com a pulga atrás da orelha e Rosalie acabou me contando tudo – a nanica deu de ombros, banalizando tal fato.

Então foi assim... Ok, nem eu e muito menos o Cullen pedimos segredo sobre a pequena mentira que contei aquele dia no restaurante. Mas, poxa, nunca pensei que a loira iria abrir o bico e falar justamente pra Alice.

E novamente fomos bombardeados por milhares de perguntas, umas realmente ridículas e outras nada discretas, como “vocês já transaram?” e essa me fez cuspir, literalmente, toda a minha coca cola na cara do nerd que respondeu um simples “obrigado” super irônico.

Ninguém merece!

– CHEGA ALICE! – meu berro fez com que ela calasse a boca na hora – Sim, nós ficamos e não, nós não estamos juntos. Não temos absolutamente nada. N-A-D-A. Satisfeita?

E sem esperar qualquer tipo de resposta saí do refeitório resmungando, primeiro porque não consegui comer e meu estômago ainda está reclamando de fome, segundo porque a incrível e inevitável constatação de que o nerd e eu não temos nada me fez sentir estranha. Isso não é bom.

EDWARD POV:

Fazem exatas duas semanas, duas longas e tortuosas semanas, que não falo direito com a irritante Isabella Swan, desde o surto que ela teve no refeitório e praticamente cuspiu as palavras em cima da minha irmã falando que não temos absolutamente nada um com o outro. Aqueles primeiros beijos que trocamos no restaurante e os outros, milhares, de beijos que trocamos na semana seguinte foram simplesmente “esquecidos”.

Bom, ao que parece foram esquecidos, por ela. Já que o idiota aqui ainda se vê querendo beijá-la, abraça-la, sentir o perfume que sua pele macia exala e ver com satisfação sua pele arrepiar-se ao sentir meu toque. Mas, mesmo com toda essa saudade exagerada que estou tendo com algo que nunca fora realmente meu, o orgulho fala mais alto.

Mesmo estando irrevogavelmente apaixonado por aquela destrambelhada e causadora de confusões, ainda assim, meu orgulho está firme e forte. Eu sei que não tínhamos algo sério, porém dizer que não tínhamos absolutamente nada foi o fim da picada pra mim! Sou homem e meu orgulho também se sobressai sobre outras vontades, às vezes.

Suspirei pela vigésima vez, continuo encarando o teto do meu quarto. Tive um sonho estranho onde todas as garotas passavam me secando e piscando descaradamente pra mim, em determinados momentos Bella aparecia bufando e revirando os olhos desconfortável com tal situação. Percebi que a garota estava morrendo de ciúmes e um sorriso brincou em meus lábios, mesmo sendo apenas um sonho a sensação que senti com tal constatação, fora ótima.

– Hora de levar, Edward – murmurei pra mim mesmo.

Preguiçosamente afastei minhas cobertas do corpo e espreguicei, esfreguei o rosto com as mãos e ao passar pelo espelho estanquei no lugar.

“Você deveria se vestir melhor” a voz irritante de minha irmã soou em minha cabeça.

“Edward, priminho querido, você tem potencial. Porque não mostra isso pras pessoas?” dessa vez a voz de Rosalie soou em minha mente, assim que meus olhos desceram para meu abdômen malhado.

“Credo, garoto, que roupas estranhas” uma das primeiras frase de Bella antes de virarmos amigos.

“Já pensou em viver no século XXI maninho?” novamente Alice ressoou.

Todas as frases, de todas as pessoas que conheço, voltaram como um turbilhão em minha cabeça. Porque eu devo seguir o modelo da sociedade? Qual o problema em ser diferente? As pessoas deveriam gostar de mim, pelo o que eu sou e não pelo o que eu visto.

Iria me dar por satisfeito com essa conclusão, se não fosse outras vozes em minha cabeça, outras lembranças. Uma em particular...

“TAVA PRATICAMENTE FAZENDO UM FILME PORNO COM O GAROTO ESTRANHO” a voz irritante do dono daquele restaurante surgiu em minha cabeça.

Garoto estranho...

Garoto estranho...

Aquele mesmo dia, fiquei pensando sobre isso enquanto saíamos do restaurante. Ninguém pareceu se importar ou ficar incomodado com a forma que o homem usou para se referir a minha pessoa. Ninguém além de mim é claro.

E aquele mesmo dia, depois de toda aquela pegação dentro do meu carro, quando Bella respondeu “nada disso, nerd” sobre sonhar comigo... Fiquei ligeiramente irritado com o “nerd” no final da frase. Claro que ela não perde o costume horrível de me chamar assim, porém aquele dia foi como se um balde de água fria tivesse sido jogado em mim.

– Acho que está na hora de seguir alguns conselhos Edward – falei olhando para o espelho.

Andei rapidamente para o banheiro estranhando o fato de estar falando sozinho. Bella e suas péssimas manias acabei adquirindo algumas delas, como por exemplo, bufar e revirar os olhos várias vezes durante uma mesma conversa.

Preciso parar de pensar nessa garota, mas como, sendo que ela não saí da minha cabeça? Já que não temos nada um com o outro, acho que devemos deixar o orgulho um pouco de lado dessa vez e tentar ter algo... Pelo menos, eu vou tentar.

(...)

Minhas aulas se passaram incrivelmente rápidas para uma sexta-feira e ainda assim estou ansioso para encontrar com a irritante Isabella Swan. Não que ela saiba que estou disposto a conversar, caso soubesse nem ao menos iria entrar na biblioteca, exatamente o que ela está fazendo agora.

Antes mesmo de sequer encontrar um lugar afastado para sentar, ela coçou o nariz inúmeras vezes e espirrou. Essa biblioteca está precisando de uma limpeza, tirar o pó dos livros faz bem.

– Isabella – chamei assim que ela enfiou a cara em um livro de álgebra, que eu sei que ela não estava revisando.

– Oi – murmurou assim que seus olhos encontraram os meus e logo mudou seu foco para a porta e depois para seu livro, com toda a certeza tentando arrumar alguma desculpa para levantar e sair. Suspirou desistindo – Você tem me evitado.

Com certeza não consegui segurar minha expressão indignada. Durante quase uma semana eu fiquei esperando ela aparecer nessa maldita biblioteca para ajuda-la com álgebra e ela nem ao menos deu as caras, apenas depois que desisti de esperar, fiquei sabendo por Emmett que ela voltou a frequentar esse lugar depois das aulas.

Ou seja, quem me evitou esse tempo todo, foi ela.

– Quem me evitou foi você e com certeza, sabe muito bem disso – não pude evitar o tom ríspido em minhas palavras.

– Tudo bem – ela suspirou novamente e ergueu as mãos – Desculpe.

Ficamos um tempo em silêncio, sem conseguir desviar os olhos um do outro, sem desfazer as expressões rígidas e magoadas da face. Quando estava tomando banho me pareceu uma ótima ideia vir até aqui e tentar resolver as coisas com a Swan, porém começo a me perguntar se não estava precipitado demais.

Eu, erroneamente, achei que talvez ela pudesse sentir algo por mim. Talvez, pelo menos alguma coisa. Suspirei derrotado e quando estava prestes a ir embora, sua voz se fez presente.

– Desculpe por ter falado aquilo – voltei minha atenção pra ela, assim que sua voz atingiu meus ouvidos – Eu sei que não tínhamos nada sério, porém, não significava que era simplesmente um nada – ela franziu o cenho confusa – Entendeu o que eu quis dizer? Ficou um pouco confuso.

– Está querendo dizer... Que era alguma coisa? – perguntei fazendo uma pausa, a explicação dela foi um pouco confusa.

– Sim, quero dizer, a palavra nada é tão generalizada – ela fez uma pausa e sorriu alegre quando, enfim, encontrou uma maneira de se expressar – Eu usei essa palavra com negligência e ficou sendo generalizada.

Minha expressão passou de confusa para chocada até enfim abrir o sorriso que Bella tanto esperava. Essa destrambelhada está realmente me pedindo desculpas e ao mesmo tempo me dizendo que tínhamos algo e que não foi sua intenção banaliza-lo. Claro que ela está fazendo tudo isso ao seu modo...

Seu modo destrambelhado de ser.

– Isso significa... – comecei e deixei a frase morrer querendo que ela completasse pra mim.

– Que senti sua falta – murmurou um pouco constrangida, mas ainda assim me olhando fixamente nos olhos.

E essa foi à deixa pra eu me aproximar e selar nossos lábios um no outro, suas mãos vieram cuidadosamente para meu pescoço enquanto as minhas enlaçam a cintura dela em um aperto firme. Um beijo que começou calmo e delicado aos poucos foi tomando proporções exageradas e nossas línguas estão buscando uma à outra com sofreguidão, como se nossa vida dependesse disso.

– A propósito... – comecei assim que interrompi nosso beijo em busca de ar – Desde quando você aprendeu a falar bonito? Negligência e generalizada... Não são palavras do seu vocabulário – franzi o cenho. Bella soltou uma contagiante gargalhada.

– Eu procurei no dicionário, digamos que estava preparando minhas desculpas faz alguns dias – ela deu de ombros e novamente ficou envergonhada.

Sorri ao ver suas bochechas ganhando um leve tom rosado e assim, sem mais nada a dizer, grudei meus lábios nos seus novamente. Não sei o que aconteceu com a Swan, mas quero que continue assim.

– ECA! – um grito estridente nos tirou do nosso momento.

– Está fazendo o que aqui Tania? – Bella perguntou entredentes, porém não largou meu pescoço.

Devo ressaltar que adorei isso.

– Que eu saiba a biblioteca é para todos – um sorriso travesso tomou conta das feições de Tania – E pelo o que eu saiba, aqui é um local para estudos e não pra ficar de agarração.

– Vai se catar garota – a Swan trincou os dentes e cravou as unhas fortemente em minha nuca. Droga, agora eu que vou pagar o pato.

– Não vou dedurá-los para o diretor por consideração ao Edward – ela piscou pra mim – Mas fique esperta Swan.

Dito isso ela saiu rebolando porta afora, como se tivesse levado um choque Bella soltou-se de mim e ficou me encarando com os olhos semicerrados. Lascou-se.

– Desde quando essa intimidade toda entre vocês?

– Não existe intimidade entre nós – dei de ombros banalizando o assunto.

– Claro – ela bufou e revirou os olhos, isso me lembrou do sonho que tive essa noite e um sorriso se instalou em meus lábios.

– Com ciúmes?

– Nada disso, nerd – ela sorriu torto, porém a forma como está estralando os dedos não me engana.

Mas a simples menção do “nerd” na frase me lembrou do real motivo da minha presença aqui. Mesmo com as desculpas e de termos nos entendido, ainda assim, acho que devo dar um crédito as pessoas e seguir seus concelhos.

– Bella... – comecei e ela ergueu uma sobrancelha em expectativa – Preciso que me ajude.

– Ajudar em que? – seus olhos semicerrados e o cenho franzido me indicam que ela está desconfiada de algo.

– Preciso que me ajude a mudar – o choque atingiu sua expressão.

– Como assim mudar? – os olhos tão esbugalhados que poderiam saltar para fora.

– Exatamente dessa maneira que você está pensando. Estou me dando por vencido e quero mudar meu estilo – suspirei e passei a mão nos cabelos, desalinhando-os, pela primeira vez na vida – E eu preciso da sua ajuda.

Bella focou em meu cabelo provavelmente desajeitado por alguns instantes como se tivesse acabado de levar uma pancada bem no meio da cara, a compreensão passou por sua face e logo um sorriso gentil pousou em seus lábios. Estranho. A Swan está me surpreendendo hoje.

– Não acho que você deveria mudar – ela disse e minha boca se escancarou em indignação – Não acho mais.

– Não sei o que te fez mudar de ideia... – comecei e olhei ao redor, ninguém está prestando atenção em nossa conversa – Mas eu já estou decidido.

Ela refletiu por alguns instantes e logo deu de ombros.

– Tudo bem então, amanhã começamos. Mas você não vai reclamar – um sorriso maldoso parou em seus lábios.

– Negativo. Preciso da sua ajuda, mas vou dar minha opinião também – cruzei os braços e fiz bico.

– Infantil.

– Irritante.

Caímos na gargalhada e antes que qualquer outro palavrão fosse pronunciado nossos lábios se encontraram novamente, selando um novo acordo. Amanhã irei mudar meu visual e espero que pelo menos assim, as pessoas me deixem em paz.

Mas uma dúvida está martelando em minha cabeça. Porque diabos Bella mudou de ideia? Principalmente, o que a fez mudar?