Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 57
Juntos


Notas iniciais do capítulo

Uau, obrigada pela resposta no último capítulo! Fiquei muito feliz de ver alguns leitores antigos retornando.

Aqui, começamos a reta final da fic. Esse capítulo é mais uma introdução do que a guerra em si. Mesmo assim, espero que aproveitem.



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CAPÍTULO 57

TOGETHER

“Você tem que estar de brincadeira comigo.”

“Eu não iria brincar em uma hora tão crítica quanto essa.”

“Harry, você sabe que eu não posso aceitar a sua proposta” Lupin passou a mão pelo longo cabelo repleto de fios brancos. Com menos de quarenta anos, sua licantropia lhe dava a impressão de anos perdidos com o stress das transformações mensais, e adicionando os fios às cicatrizes que carregava pelo corpo, qualquer desavisado lhe daria como um homem que foi para a Guerra e deixou parte de si para trás. “Olhe o que você fez comigo.”

O menino deu de ombros, acendendo a lareira. Já era quase verão… Mas o norte da Escócia não parecia querer reconhecer o fato. Dentro de uma barraca mágica, Harry e Lupin contavam os dias até serem pegos pelas forças de Dumbledore. É claro que o lobisomem não fora até ali voluntariamente, e sim arrastado, mas sabia que se fosse encontrado na floresta próximo ao esconderijo das trevas não teria um destino muito melhor.

“Cara, sabe quantas vezes James e Lily mencionaram você enquanto estive por lá?” Harry não deu tempo para que Lupin respondesse. “Nenhuma vez. Eles se esqueceram de você, cara, assim como se esqueceram de mim por grande parte da minha vida.”

“Eu vivi a minha vida com medo de Voldemort, e agora a sociedade ainda tem você para se preocupar” Lupin justificou, executando um feitiço que cortasse de uma vez por todas o seu cabelo na altura dos ombros. Decidiu deixar a barba, porém, na esperança de que não fosse reconhecido. “Pequeno lorde, é como te chamam, ou pelo menos chamavam antes de você... você sabe.”

Harry colocou a cabeça para fora da barraca de modo a verificar se alguém estava por perto. Só ouviu as corujas voando ao longe, e a luz que emanava da barraca refletida na água do lago, que lhes tinha garantido comida até agora. “Antes de eu te amaldiçoar? Antes de Regulus morrer? Antes da queda de Voldemort?”

A surpresa nos olhos do velho professor de defesa contra as artes das trevas era clara: Ele não sabia do que Harry estava falando.

“Queda de Voldemort? Nicholas... Nicholas ganhou a guerra?”

O moreno fez uma careta. “Ele matou Voldemort, se é isso que está perguntando. Os comensais agora estão dispersos. Espero que alguns escolham me acompanhar depois de tudo que passamos juntos, mas posso muito bem levantar o meu exército do zero.”

“Posso te fazer uma pergunta?” Ele assentiu. “Por que quer tanto ganhar essa guerra? O que você ganha com isso, além de destruição? Todos os outros regimes totalitários falharam, não importa a força deles. Os países da Europa irão se unir contra você, a Inglaterra já está contra você... Desista e viva no velho mundo.”

A verdade é que Harry não sabia a resposta. Tentou se focar no que o seu cérebro dizia, qualquer coisa que pudesse lhe ajudar a encontrar algo inteligente o suficiente para dizer. Quando uma única palavra se tornou clara, ele escolheu não dizê-la em voz alta. Era difícil admitir que estava disposto a criar a terceira guerra bruxa por causa do próprio orgulho.

Ao invés, disse: “A Inglaterra bruxa está presa no tempo. Enquanto o mundo trouxa evolui a cada dia, ainda usamos tochas para iluminar os nossos corredores e a maioria dos bruxos não sabe o que é uma arma de fogo. Devem pensar em espadas flamejantes, e não em um revólver.”

“É o jeito deles.”

“Um jeito novo seria melhor. Em que tipo de mundo vivemos? Os poucos direitos que conseguiu foi por ter contatos. Tenho uma amiga veela que é vista como um objeto sexual pela população. Os centauros são forçados a viver na Floresta Proibida, e ainda há tráfico de sangue de unicórnio.”

Lupin se acomodou melhor na cadeira, rangendo os dentes quando suas costas estalaram. Satisfeito em como estava, encarou o teto, que como Hogwarts, dava a impressão de ser o céu estrelado. “Me diga como você mudaria isso, então. E o que você mudaria. Iria fazer como nos Estados Unidos e instaurar o regime de cotas?”

Os dois riram, Harry servindo-se de Whisky de Fogo. “É claro que não, cotas aumentam o preconceito. A primeira coisa que temos que fazer seria acabar com Voldemort de uma vez. Ele possui horcruxes espalhadas pela Grã Bretanha e conhecendo a obsessão dele pelo número 7, várias ainda precisam ser destruídas. Se Dumbledore não se render, irei de fato precisar de um exército. Checarei com os Slytherins, criaturas mágicas, talvez aurores revoltados. Números podem ser úteis, e acredito que a França iria me apoiar; quero dizer, o primeiro ministro é casado com uma veela.”

O lobisomem tomou o copo de Whisky que lhe foi oferecido, tomando tudo sem se preocupar. Não tinha como ficar pior, de qualquer maneira.

“Tudo bem. Mostre o que sabe fazer.”

_

Fleur correu para dentro de casa, grata por se lembrar do feitiço que a impedia de ficar molhada. Uma tempestade começava na capital francesa, escurecendo ao céu pouco tempo depois do nascer do sol.

“Gabby!” Ela chamou, colocando a varinha no sensor, que lhe deu acesso ao Hall de entrada. Os elfos domésticos que trabalhavam limpando cada peça de mármore e tirando o pó dos sofás vintage bem distribuídos pelo cômodo não levantaram os olhos, continuando seus trabalhos. “Kinky, onde está Gabby?”

O elfo levantou a cabeça. “Não desceu para tomar o café da manhã, senhorita Delacour.”

“GABBY!” Fleur elevou a sua voz, subindo as escadas se certificando de fazer barulho com os saltos de madeira. “Mama vai ficar furiosa se você não acordar! Já é quase hora do almoço!”

A porta do quarto da mais nova Delacour era pintada do mesmo azul do uniforme de Beauxbatons, e tinha seu nome escrito com grandes letras cobertas de glitter. Em respeito às regras da casa, a porta não estava trancada.

“Gabby!”

Fleur passou pelo batente da porta, examinando o local. Tinha certeza que foram os elfos domésticos quem haviam deixado o quarto tão meticulosamente arrumado, pois Gabrielle era uma bagunceira natural. As cortinas voavam por causa da janela aberta, e quando Fleur se aproximou na esperança de ver a irmã brincando na chuva, se deparou com algo mais.

Ela não conseguia acreditar. Fitou o corvo com seus grandes olhos azuis, perguntando-se se o seu lado veela estava lhe pregando peças.

“’Arry?” O corvo voou na direção dela, fazendo um pouso um tanto desajeitado na cama. Quando Fleur piscou, o corvo havia se transformado no menino que conhecera alguns anos atrás... Só não esperava que ele parecesse tão diferente. “Você está louco? Sabe quantas pessoas estão esperando você aparecer aqui, seu imbecil?”

Harry tirou o cabelo dos olhos. “Sim, vi os aurores pelo caminho. Eles não me viram. Onde está Gabby?”

Fleur deu de ombros. “Curso de férias em Beauxbatons? Passo a maior parte do meu tempo na Inglaterra agora, apesar de não ser o melhor lugar para se viver. Sério, ‘Arry, o que está fazendo aqui?”

“Desde quando amigos não podem se visitar?” O olhar frio da loira foi o suficiente. “Tudo bem, tudo bem. Preciso saber onde fica a colônia veela da França, acredito que vocês podem ser grandes aliadas na guerra.”

“A França não vai se envolver na guerra.”

Harry riu, sentando-se no batente da janela. “A Europa toda já está envolvida. Aposto a minha cabeça que assim que o Ministério cair na Inglaterra, os outros países irão interferir.”

Fleur bufou, pegando um post it da escrivaninha da irmã para anotar a localização da colônia veela e o nome de sua líder. “Não conte que fui eu quem lhe deu o endereço.”

Apenas quando Harry desaparatou foi que o desespero tomou conta dela: Sua irmãzinha, a menininha de dez anos de idade que Fleur sempre protegera, não estava lá.

_

Dizer que Harry estava feliz depois de conseguir o apoio das veelas para a futura guerra era um eufemismo: O menino praticamente vibrava de emoção quando voltou para a barraca mágica, maravilhado pela quantidade de belas moças havia visto em um curto espaço de tempo. Tirou a camiseta, pulando no lago; o barulho que fez quando entrou na água acordando Lupin.

Mergulhou a cabeça de modo a se acostumar mais rapidamente com a temperatura, e enquanto submerso, abriu os olhos. O lago era fundo, e os peixes nadavam para longe dele sempre que Harry tentava tocar em um deles. Quando o seu corpo reclamou pela falta de ar, cerca de um minuto depois, emergiu, notando que Lupin o observava do lado de fora.

“Assumo que as coisas ocorreram bem.”

“Consegui algumas centenas” ele brincou, nadando até a beirada. Saiu seco da água, grato pelos feitiços que havia aprendido durante o tempo que passara com Hermione no primeiro ano. “Aposto que uma delas vai se interessar em um lobão.”

Lupin esboçou o primeiro sinal de um sorriso. “Não há necessidade, as veelas saberem lutar é o suficiente para mim. Tentei entrar em contato com Fenrir, o alfa da matilha da Inglaterra, mas qualquer meio de comunicação é arriscado. Tentarei me encontrar com ele na próxima lua cheia.”

“Então conseguiu os ingredientes da Wolfsbane?”

“Sim. Finalmente o tempo que Lily me fez passar no porão assistindo-a fazer poções me serviu de algo. Estou suprido para esse mês” pausou, notando o modo como os olhos de Harry iam de um lado para o outro, do jeito que fazia sempre que estava nervoso. “O que foi? Fez alguma coisa que não deveria?”

O menino mordeu o lábio sem deixar que o seu sorriso se desmanchasse. Preferia encarar o que iria dizer como uma aventura ao invés de uma missão suicida. “Preciso de um contato dentro do Ministério para procurar a descendência de Tom Riddle.”

“E o que te faz pensar que eu possuo contatos?”

“Você não conseguiu virar professor de Hogwarts sem ajuda do Ministério. Tudo bem que foi por meio dos Potters, mas deve conhecer alguém. Agora a pouco disse que não há necessidade de uma veela. Já tem alguém em mente?”

Lupin sentiu-se corar. “Mais ou menos, ela não é exatamente discreta, mas adora missões ultrassecretas.”

Mais tarde, quando os guerreiros aparataram para a Inglaterra trouxa em um flat mobiliado abandonado há muito, Harry voltou a se concentrar de modo a se transformar no corvo de mais cedo. O voo era dolorido e as pausas precisavam ser longas e frequentes, mas sabia que estaria mais seguro no ar do que como o típico Harry Potter.

Depositou a carta na janela dela com cuidado, bicando o vidro repetidamente para atrair atenção. Só voou novamente quando viu que Tonks se aproximava para verificar o que havia causado o barulho.

A resposta chegou dois dias depois. Harry observou Lupin bater na porta, já disfarçado com o auxílio da barba natural e roupas desgastadas. Qualquer pessoa que tivesse conhecido o Remus de antes não poderia reconhece-lo agora.

“Merlin!” Tonks berrou, seus cabelos mudando de cor a cada vez que berrava. Puxou Lupin para dentro, fechando a porta com um baque. O abraço entre os dois foi longo. “Você está... Uau. Achei que fosse um trote.”

“Conseguiu o que eu pedi?”

Tonks virou-se para pegar um envelope na mesa, tropeçando no tapete. Pelo modo que o lobisomem não esboçou outra reação senão a de diversão, Harry pôde perceber que se tratava de um acidente frequente.

“Os registros de ofidioglotas do Ministério são raríssimos, o último data do começo do século XX. Me desculpe se não for o suficiente.” Um grito fino escapou de sua garganta quando cortou o dedo com o papel. “Merda, merda, merda...”

O sangue já havia parado quando, alguns segundos mais tarde, ela se lembrou de pegar a varinha de modo a fechar o corte.

“É claro que irá ajudar.”

_

E de fato ajudou. Como muitos sangue puros fanáticos, os Gaunts não se mudavam muito de casa, estando na mesma cabana desde 1880. Era praticamente impossível passar por todos galhos das plantas que cresciam ao redor da cabana, invadindo o jardim que antes, Harry e Lupin puderam notar, havia sido muito bonito.

“Voldemort sempre se ligou no próprio passado” Harry explicou, tentando pensar em um feitiço que fizesse as plantas regredirem ao estado original. Não se lembrando de nenhum, torceu o maior galho, passando por ele e abrindo caminho por entre as folhagens. “Ele deve ter uma horcrux aqui.”

“É por isso que pediu para Dora procurar por ofidioglotas?”

“É um gene recessivo, então não é certeza. Cuidado para possíveis armadilhas.” Ele tirou a varinha do coldre quando a luz do sol que penetrava pelas falhas do teto da cabana foi refletida na pedra do anel. “Deve ser isso. Wingardium Leviosa.”

A pedra não se moveu.

Harry suspirou, chegando mais perto. Gostaria de ter alguém para testar as proteções da pedra. “Viper?” Em sua manga podiam ser vistas elevações que se moviam conforme a pequena Mamba Negra saía do esconderijo. “Obrigado por isso, amigo.”

Viper não respondeu, apenas se aproximou do patamar que segurava o anel. Em seu último abate, fincou as presas na pedra. O seu veneno escorreu pela superfície, corroendo-a. Não exatamente o veneno dele, e sim o veneno com o qual estava infectado depois de ser mordido por Sarahzar. Um feitiço em seu corpo fizera-o durar o suficiente para que chegasse até ali, mas os efeitos já não faziam diferença – o veneno era forte demais.

“Quem vai tocar no anel primeiro?” Harry perguntou, apreensivo. “Quer fazer as honras?”

“Acredito que você valha mais do que eu em um duelo” suspirou Lupin, estendendo a mão esquerda. Quando a ponta do seu dedo indicador tocou a superfície fria do anel, os pelos de seus braços se arrepiaram... E ficou por aí. “Tudo certo.”

Aliviado, Harry retirou pergaminho e pena do bolso interior das vestes e se pôs a escrever uma carta para Dumbledore:

Caro Diretor,

Se está aqui, é porque minha outra carta chegou a você com sucesso. Eis o que eu sei sobre as horcruxes de Lord Voldemort: Das sete criadas, quatro ainda vivem. Confio em você para encontrá-las e destruí-las, de modo a aniquilarmos o nosso inimigo em comum. Depois disso, resolveremos os nossos próprios problemas.

Cordialmente,

Harry.

“E agora?”

O menino mordeu os lábios. “Agora é hora de utilizar Eyphah como uma isca.”

_

A ordem que Dumbledore havia dado para toda a população bruxa fora a seguinte: Ao avistar um corvo de proporções mágicas voando, este deveria ser abatido e qualquer carta que carregasse enviada com selo de urgência para a sede da Ordem da Fênix. Portanto, quando o som familiar de Eyphah invadiu os ouvidos de Lily, ela arregalou o olho bom antes de gritar por James.

“Pegue os dardos.”

A ideia de utilizar dardos fora da ruiva, e ela se orgulhou da ideia ao ver o corvo que lhe cegara três anos antes cair no chão. “A carta é para Dumbledore.”

_

Um mês depois, a notícia que corria os jornais se focava nos feitos de Dumbledore: Dos sete amuletos mágicos criados por Voldemort, seis já haviam sido confirmados como destruídos.

Em Hogwarts, os elfos foram de imenso auxílio quanto à procura do diadema de Ravenclaw, enquanto os duendes a pedido de Harry quebraram o contrato de confidencialidade e expuseram o conteúdo do cofre de Bellatrix, destruindo a taça de Hufflepuff. O diário, Dumbledore anunciou, havia perdido o seu propósito quando foi utilizado para trazer de volta Voldemort no segundo ano. Nagini estava morta, e o anel pertencia ao novo terrorista da Grã Bretanha.

Enquanto a Europa celebrava a queda oficial do bruxo das trevas mais temido do século, Fleur terminou de se vestir. Depositou a carta que escrevera para os pais com cuidado nos travesseiros de sua cama antes de aparatar para o endereço que Harry havia lhe dado onde ele e Lupin passariam aquela semana.

“’Arry!”

“Fleur!” trocaram um rápido abraço antes do garoto notar as lágrimas que ensoparam suas vestes. “O que aconteceu?”

A veela deu sorriso amargo, lágrimas já correndo livremente. Quando falou, era difícil entender o que ela dizia. “Lembra que não conseguíamos encontrar Gabby aquele dia? Ela desapareceu, ‘Arry. Desapareceu. Como uma menina de dez anos pode sobreviver sozinha por todo esse tempo?”

“Está dizendo que ela está morta?”

Fleur mordeu o lábio com força ao ouvir a última palavra, sentindo o gosto de sangue. “É claro que ela está morta.” Sentou-se no chão sem se preocupar em sujar as suas vestes, escondendo o rosto nas mãos enquanto soluçava. “Minha irmãzinha está morta, e agora irão me fazer casar com Nicholas Potter por causa de sua morte.”

Ele encarou a beleza na sua frente sem saber o que fazer. Lágrimas sempre o deixavam desconfortável, e saber que ele era a causa daquelas lágrimas fazia seu coração murchar dentro do peito; não era qualquer pessoa chorando, aquela era Fleur. Fleur, que de Heaven passou a chama-lo de ‘Arry, e que havia o apoiado quando ninguém acreditava nele.

“Eu queria que houvesse algo que eu pudesse fazer” Harry suspirou, sentando-se ao seu lado e abraçando a sua cintura. Sua mão tremia quase tanto quanto o corpo da loira, que ainda soluçava. Ele, que sempre parecia ter o que dizer, encontrava-se sem palavras. “Mas não sei o que fazer para ajudar. Sinto tanto... É a minha culpa que vocês estão envolvidas nessa guerra.”

A respiração da veela ficou presa na garganta; ela mordeu o lábio, testando a atmosfera antes de seguir com o seu pedido. Sua voz tremia conforme as palavras saíam, cada sílaba carregando consigo o medo de uma recusa: “Lembra do débito que lhe devo no quarto ano? Eu... Eu não posso me casar com Nicholas. Nossos ideais são... são tão diferentes, e sei que ele vai mobilizar o exército do meu pai para os seus interesses. Eu preciso que, que você reclame a dívida e me dê a ordem.”

O tempo que Harry levou para digerir o pedido apenas fez com que sua resposta saísse com mais força.

“Não.”

“Eu preciso que você ordene o meu suicídio.”

Dessa vez, Harry apenas balançou a cabeça, e a pouca sanidade que parecia restar dentro da mente de Fleur, o fio de esperança que ainda ligava-a ao mundo, se esvaiu no ar.

“Me mate, seu desgraçado!” Fleur avançou para cima dele, as longas unhas arranhando a pele de Harry. Sua força não podia ser comparada, porém, à do menino, que imobilizou-a ao prender seus braços pelas costas. Ela não desistiu, se debatendo e efetivamente conseguindo morder Harry quando ele se virou para tentar acalmá-la. “Você sabe o que isso vai significar para mim? Para você? A minha morte é a melhor saída para a situação!”

“Fleur, você não é a primeira e não será a última a ter um casamento arranjado.”

Ela arfou, fitando-o com olhos agora selvagens, os orbes inchados por causa do choro carregando a dor de uma vítima de guerra. Sua garganta estava seca quando tentou outra alternativa: “Mesmo se isso signifique perder o apoio de um país poderoso como a França?”

Harry tentou desviar sua atenção enquanto envolvia-a em um abraço: “Não é apenas a guerra como um todo...”

Última tentativa, Fleur pensou. De uma vez, liberou o seu allure na direção do garoto, sentindo-o endurecer em suas costas enquanto os joelhos fraquejaram. Harry ofegou, tentando manter a mente clara, e quando tentou se desfazer do próprio abraço, a veela o segurou ali, pressionando os seios contra o garoto.

“Por favor. Eu sei que você quer isso... Consigo sentir.” Ela liberou uma mão, levando-a para a frente das calças de Harry. “Tenho certeza que você também consegue sentir muito bem.”

“Pare com isso.”

“Não, Harry.” Fleur aproximou os lábios do ouvido do refugiado. “Por que não desiste? Entregue-se ao prazer uma última vez... Eu só quero uma única coisa em troca. Mate-me.”

Harry pulou para longe, chacoalhando a cabeça. “Achei que tivéssemos concordado em não usar o seu allure em mim. Eu já disse que não, Fleur. Não é não. Você não pode cometer suicídio enquanto for a minha devedora, e não estou com pressa de quitar a dívida.” Ele deu um beliscão no próprio braço, conseguindo se impedir de elogiar o cabelo de Fleur. “Espere... Está chorando? Pare de chorar, Fleur.”

Mas as lágrimas continuavam vindo de Merlin sabia onde, e conforme o cenário da sua vida ia se montando na cabeça de Fleur, elas aumentavam de frequência. Sua garganta apertava tanto que tornava a respiração difícil; uma leve vermelhidão começava a se manifestar na pele alva.

“Sinto muito, mas... Gabby! Ela era a minha irmãzinha!”

“Eu sei” Harry voltou a abraça-la, dessa vez com um cuidado a mais. “Tente não me atacar agora, ok?”

“Não posso fazer isso. Não posso me casar com Nicholas. Me ajude, ‘Arry. Você pode acabar com tudo isso.” Seu aperto de ferro já havia substituído a raiva pelo desespero. “Não me deixe casar com aquele monstro.”

As próximas palavras dele, Harry percebeu, serviam tanto para a veela quanto para si mesmo. Sua voz saía abafada pelo fato da saída de ar estar parcialmente bloqueada pelo abraço. “Me desculpe, mas eu não posso tomar essa decisão. Estamos entrando em uma guerra, e várias pessoas que amamos vão morrer. Dentre todas, Fleur, não posso te perder. Tantas pessoas importantes já se foram... Não posso perder você também.”

_

Daphne olhou do relógio para a janela, observando as nuvens que se formavam do lado de fora da casa. Se Harry demorasse muito mais a chegar, a chuva faria com que ele deixasse pegadas, além do fato que as celebrações dos aurores iriam terminar a qualquer momento. Harry precisava chegar logo se ele quisesse se encontrar com ela.

Naquele momento, a porta traseira rangeu ao ser aberta, alertando Daphne. Ela desceu as persianas de todas as janelas antes de ajeitar o cabelo, esperando por Harry. Rápido o suficiente, ele apareceu sob o batente da porta, os cabelos já molhados com as primeiras gotas de chuva.

“Hey.”

“Oi.” Daphne se levantou, indo até ele em passos rápidos. Trocaram um beijo rápido, mas doce. “Faz tempo que não nos vemos. Senti a sua falta.”

“E eu, então?” Caminharam até o sofá, sentando-se próximos um do outro. “Como está Tory?”

“Reclamando sobre o tédio das férias sem poder fazer nada por causa do risco de terrorismo” a loira lhe respondeu, acomodando a cabeça na curva do pescoço do namorado. “Ela está com os meus pais no Ministério. Espere, o que está fazendo?”

Harry brincava com o seu dedo. “Só vendo se o anel dos Black serve em você.”

“Por que você... Harry, se é assim que você acha que vou aceitar um pedido de casamento, está muito enganado. Eu espero pelo menos um anel de diamantes ao invés de algo rudimentar que é o anel dos Black...”

Ele não se deixou abater. “Isso quer dizer que você diz não? Porque você sabe, iremos nos casar de qualquer jeito, mas apenas daqui a um ano. Por que adiar o inevitável?”

Daphne fitou-o com seus olhos gélidos. “Por que agora?”

“Não há hora melhor. Estamos entrando em uma guerra, e não temos como saber se estaremos vivos quando acordarmos amanhã. Me dê tempo para ir ao Gringottes e irei te dar o maior diamante do cofre. O que me diz, Daphne?”

“Pode ser... O diamante é grande, certo?” Seu tom indicava a brincadeira.

Harry sorriu, trazendo-a para mais perto de si. Muito melhor do que qualquer sim literário, a típica resposta Greengrass era tudo o que precisava.


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Notas finais do capítulo

"Nem parece guerra"
Espere até o próximo capítulo, e veremos se terá a mesma reclamação ;)

Deixando tudo claro: As horcruxes estão todas destruídas, portanto "Voldematar" está morto e não voltará mais.

O que acham? Espero que tenham gostado. Prometo que os próximos capítulos serão bastante violentos.

PS: Eu programei essa postagem, espero que funcione. Já vi que o mais tarde que posso programar é 5 da tarde. Perdão pelo adiantamento.



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