Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 55
Um campeão


Notas iniciais do capítulo

Atrasada, eu sei! Mas dessa vez a culpa não é minha - meu laptop está dando seus suspiros finais e o primeiro órgão que veio à falência foi o Touchpad. Sem mouse extra, fiquei sem postar... até agora.

Gente, esse capítulo é literalmente O campeão - ele é o capítulo que mais importa na fic toda, então prestem atenção e divirtam-se com as reviravoltas!

PS: Esse também foi o primeiro capítulo que escrevi pós-hiatus, então é possível que minha escrita esteja diferente. Espero que gostem de quaisquer mudanças.



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CAPÍTULO 55

A CHAMPION

“Potter! Algumas palavrinhas para O Profeta Diário?”

Lily colocou a mão nos ombros de Harry e trouxe-o mais para perto de si. O menino, percebendo que não havia como escapar sem dar um depoimento, cerrou os dentes, apenas desejando que sua dor de cabeça passasse, e sibilou: “Dê o fora daqui.” Suas palavras não surtiram efeito, mas quanto fez o movimento para pegar a varinha (mesmo estando sem ela), uma fila se abriu para ele.

O menino perdido mordia sua língua com tanta força que sentia um pequeno fluxo contínuo de sangue escorrendo por sua garganta. Mal sabia o que estava acontecendo, mas quando acordara fora de Hogwarts ficou óbvio que algo não estava certo. Nem tivera tempo de fugir antes dos aurores invadirem a casa, quando, às oito da manhã, Lucius Malfoy não chegou no trabalho...

“Por aqui, senhor Potter” Tonks gesticulou, indicando um corredor estreito pintado de um branco estéril. Seu cabelo, sempre tão animado, agora estava em seu verdadeiro castanho claro, dando à jovem a expressão de acabada. “Acabou o show, senhores! Senhora Potter, só prisioneiros acordam aqui.”

O que talvez justificasse o sangue em suas roupas.

Ele olhou para Lily, perdido. A ruiva parecia igualmente sem saber o que fazer, quando apenas apertou a mão do filho antes de virar as costas e fechar a porta.

“Senhor Potter” começou Tonks, tirando a varinha do coldre e colocando-a na ponta de um cadeado, que derreteu, aderindo-se ao formato da varinha. O clique indicando que estava aberto soou alguns segundos mais tarde, e Harry foi empurrado para dentro por outros dois aurores. “Você está preso sob a acusação do assassinato de Lucius Malfoy...”

O que definitivamente explicava o corpo no quarto.

“...Por meio de cinquenta e quatro facadas distribuídas pelo corpo, algumas post mortem. Foi pego em flagrante quando houve a troca de turno dos guardas, quando os noturnos foram encontrados mortos e a trilha de sangue levava para à suíte máster, onde o corpo de Lucius Malfoy foi encontrado.”

Uau. Ele finalmente havia de livrado do canalha, mesmo não se lembrando disso.

“Por favor, diga o nome do seu eleito agora.” Eleito? Harry vocalizou a pergunta e um dos aurores revirou os olhos. “Uma pessoa que agirá como conselheira e obterá um advogado de defesa para você.”

Regulus.

Quando se lembrou que o pai estava morto, sua mente divagou para o Lorde das Trevas. Ele provavelmente estava envolvido no escândalo. Que jeito melhor haveria de se livrar de alguém? Pensou em seguida nos Greengrass, seus olhos azuis e expressões de gelo, uma casa pequena, mas reconhecida na Inglaterra... Mas não poderia envolvê-los nisso, não por enquanto.

“Fleur” ele anunciou, surpreso com a própria escolha. “Eu escolho Fleur Delacour como a minha eleita.”

_

Fleur usava um blazer feminino azul marinho com uma saia que ia até os joelhos, a meia calça preta e os cabelos platinados presos em um coque completando o look. Seus sapatos tinham salto de não mais do que três centímetros, mas o som da madeira contra o piso deu esperanças a Harry, trazendo-lhe lembranças de quando ainda era Revan e estava a salvo do mundo.

“Senhor Potter” ela cumprimentou, agora quase sem sotaque. “Por favor, deixe-me falar com o meu cliente a sós.” Apenas dois aurores permaneceram no cubículo, tensos. Fleur sorriu, satisfeita. “Merci.

Caminhou até Harry, sentando-se ao seu lado na cama dura e olhando-o com seus olhos de boneca. “Por que faria uma coisa dessas, ‘Arry?”

“Eu não sei.”

Snap!

O lado esquerdo da bochecha de Harry começou a arder. “Ah, me diga que você não bateu em mim, Fleur!”

A francesa segurou sua mão, mandando-lhe estímulos que aumentavam com o contato até que a raiva se dissipasse de Harry, deixando-o como uma fera domada, um menininho com um olhar sonhador em sua face. “Que tal me dizer o que realmente aconteceu ontem?”

Sua voz era suave como um veludo, acariciando os ouvidos de Harry. Tudo o que ele queria era encará-la até o fim dos seus dias, e se não pudesse fazer isso, pelo menos a deixaria feliz. “Você é tão linda” murmurou, sentindo um fio de baba escorrer pelo canto da boca. “Vou te contar tudinho.”

“Sim...” Fleur concordou, aumentando a intensidade do seu Allure e sentindo a temperatura do corpo aumentar conforme suas feições se modificavam para parecer um pássaro gigante. “Me conte, ‘Arry.”

“Eu... Eu não sei.”

O encanto acabou. Fleur retirou a mão da de Harry e começou a caminhar agitada ao redor da cela, murmurando xingamentos em francês. “Como vou saber como te ajudar se nem você sabe o que fez?”

Harry deu um sorriso nervoso. “Eu tenho algumas ideias.”

_

“Legilimens!”

Harry encarou-a, deixando que o que restava de sua fortaleza mental desabasse. Tudo que havia construído na mais completa ordem com Regulus, tudo destruído, junto com o mentor. A leve coceira indicava que Fleur estava dentro da fortaleza, procurando nas diversas gavetas onde suas memórias estavam arquivadas.

Suor começou a aparecer na pele dele quando a loira foi forçava a quebrar barreiras atrás de barreiras que foram fortalecidas ao longo de dez anos, cavando mais e mais fundo até obter as memórias que precisava, desviando-se dos spams de sonhos e memórias que faziam até uma veela corar.

Lá estava! Fleur estendeu os dedos para a memória, se aproximando, absorvendo os detalhes... Foi forçada a admitir momentos mais tarde que as memórias estavam incompletas. Tudo o que constava eram os movimentos feitos, de modo que a loira conseguiu recriar os passos de Harry pela mansão perfeitamente, mas seus pensamentos, motivos... Tudo em branco.

Retirou-se com cuidado, fitando o garoto. O nariz de Harry sangrava com a intensidade, e ele estava encostado contra a parede, oscilando entre a consciência e inconsciência. A veela chacoalhou-o levemente. “’Arry” chamou, aumentando a força. “’Arry!”

O herdeiro balançou a cabeça, acordando do estupor. Limpou o suor com a manga da camiseta cinza de prisioneiro, sua mente vagando sem controle pelas memórias de Regulus e como costumavam praticar juntos. “Conseguiu alguma coisa?”

“Os trouxas diriam que você foi possuído” Fleur lhe informou, chegando mais perto até que praticamente se beijavam. “Horcruxes, ‘Arry? E você não pensou em me contar isso?”

“Não vejo como isso convém ao caso.”

“Eu vi o que aconteceu naquela noite. Suas memórias de quando era um bebê estão borradas, por razões óbvias, mas você viu em quem o Lorde das Trevas atirou. Você viu que não foi em Nicholas.”

Harry fechou os olhos, furioso. “Eu não quero pensar nessa possibilidade, ok? Era algo que eu fantasiava quando era mais novo, mas é assim que as coisas aconteceram: Ele mirou em mim, e a maldição ricocheteou.”

“Isso te faz tão menino-que-sobreviveu quando Nicholas” a loira lhe informou. “Você não pode escapar do seu destino...”

A mão dele, levantada, a impediu de continuar. “Não precisamos disso agora. Você sabe o que aconteceu ontem?”

“Oui, e tem tudo a ver com aquela noite” ela se levantou, caminhando até os guardas. “Aurores! Em nome do meu cliente, demando contato com um quebra-maldições (Desfazedor de Feitiços) imediatamente!”

Harry não compreendeu. Também não compreendeu quando foi levado com pressa da cela para o St. Mungus, e pelo que podia ver de Lily e James, nenhum deles tinha uma pista do que estava acontecendo. O único era Dumbledore, seus olhos brilhando mais do que nunca enquanto acompanhou a maca onde Harry estava restrito. Bill Weasley corria ao lado dele, o jaleco branco contrastando com o grande brinco que usava em uma das orelhas.

“O que estou fazendo aqui?”

Fleur olhou para ele e sinalizou para que todos, menos Bill, saíssem da sala de emergências. “Preciso que você remova uma horcrux da cicatriz de Harry.”

_

Horas de complicados procedimentos depois, Harry abriu os olhos. Dor? Quase nada, em seu corpo. Sua cabeça, em compensação, estava lhe matando. Ele moveu o pescoço para ver o que estava do lado dele: Uma planta, um cacto, para ser mais específica, surpreendentemente verde.

“Horcrux?” ele murmurou, perdido.

“Será destruída ainda hoje” Fleur lhe informou, revelando-se do outro lado da cama. “Como se sente?”

Harry só tinha uma palavra para descrever como se sentia: “Vazio.”

“Bill diz que isso é normal. Você passou toda a sua vida dividindo a sua alma com alguém, e agora que está sem essa parte de Voldemort, é natural que se sinta vazio. Uma pena que a sua alma ainda esteja rompida em duas.” A veela devia estar aprendendo a arte de fuzilar alguém com o olhar com Daphne, para ter tamanho poder de intimidação.

Ele engoliu em seco.

“Entenda que você não pode mais fazer horcruxes, ‘Arry. Elas vão te matar. Você não consegue imaginar o trabalho que eu tive para impedir os aurores de te prenderem simplesmente pelo fato de você ter uma horcrux por aí.”

Sua mente começou a se limpar, mas o sentimento de fraqueza ainda estava lá. “Eu precisava, para sobreviver.”

“Você vai sobreviver tão bem quanto qualquer outro bruxo na terra desde que pare com essa maluquice” Fleur falou, séria. “Ou você vai enlouquecer. Por favor, me prometa que não fará mais nenhuma. Se prometer, juro que irei te mostrar algo importante.”

A curiosidade levou a melhor de Harry. “Eu prometo.”

_

O julgamento foi adiado em virtude da horcrux, dando a Harry tempo para descobrir o que quer que Fleur iria lhe contar quando melhorasse. A dor se esvaiu logo no segundo dia, depois que, com um Avada Kedavra, mataram o cacto que continha uma parte da alma de Voldemort, mas como consequência ele se viu incapaz de realizar feitiços que antes conseguia.

Fazia todo o sentido, pensou quando não conseguiu transfigurar a unha em uma garra, conforme McGonagall havia lhe ensinado. Tudo o que pensava ser sua força, o que sempre lhe fizera se sentir invencível, não era ele. Era Voldemort, todo aquele tempo.

E sem Voldemort, Harry estava rebaixado a um bruxo ordinário.

Uma semana depois, quando a garra finalmente apareceu, Fleur trouxe-lhe Lily, que depois de lágrimas silenciosas enquanto acariciava seu rosto, concordou em levá-lo sob escolta de aurores até o Departamento de Mistérios para leitura de uma profecia. A partir daí, Fleur assumiu novamente, agradecendo a utilidade da ruiva ao confirmar a existência de uma profecia antes de dispensá-la.

Harry apenas seguiu-a, sem a varinha e com uma corrente prendendo os dois pés a uma determinada distância, impedindo-o de correr. O mesmo acontecia com suas mãos, algemadas, e adicionando tudo isso ao cinza de Azkaban, ele não podia deixar de se sentir miserável quando a escolta de oito aurores se moveu em uníssono pelos andares do Ministério da Magia, enquanto todos paravam o que estavam fazendo para apontar.

Ele nunca iria deixar de ser o foco das atenções?

Agora não era mais Harry Potter, era o menino que matou Lucius Malfoy.

“Seu irmão cresceu sendo chamado de eleito por uma razão” Fleur explicou, seus saltos naquele dia maiores e portanto o barulho causado por eles mais alto. “Acha que foi porque sobreviveu que todos apostaram nele para derrotar Voldemort? É claro que não. Vocês dois eram bebês quando ele atacou, e se alguém sabe como aconteceu, definitivamente não é nenhum de vocês. Foi Dumbledore quem espalhou a palavra de que apenas ele poderia derrotar Voldemort porque uma profecia dizia isso.”

“E você sabe disso porque...”

“Porque o meu pai é o Ministro francês, ‘Arry, e eu sei a combinação para acessar o escritório dele” Fleur fingiu revirar os olhos, estando, na verdade, divertida com a pergunta. Era tão típico do garoto fazer perguntas como aquela. “Esqueceu que estou estudando para quebrar maldições? Feitiços de proteção são como tirar doce de criança.”

Havia um sorriso na face de ambos até chegarem nas portas que indicava o começo do Departamento de Mistérios. A veela lembrou-lhe que, por ser sua profecia, o direito de vê-la era apenas de Harry, e portanto esperaria do lado de fora até que a audição terminasse.

Podemos dizer que Harry entrou com um sorriso no rosto, mas não podemos dizer o mesmo sobre como ele saiu.

“Fleur!” ele pulou. “Não pense que isso significa que você está liberada como a minha eleita. Preciso da sua opinião para algo.”

E estavam de volta na cela, cochichando aos cantos. Harry havia escrito a profecia em um bloco de anotações de Fleur, e ambos se inclinaram para as palavras, absorvendo-as:

Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima... Nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês... E o Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá o poder que o Lorde das Trevas desconhece... E um dos dois deverá morrer na mão do outro, pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar.

“As anotações de papa dizem que Dumbledore considera o amor como o poder que Nicholas tem...”

Harry já balançava a cabeça. “Não. O único amor que Nick tem é por ele mesmo. Acredite em mim, o relacionamento que ele tem com Lily e James não é amor, é uma necessidade do dinheiro e atenção.”

“Então me dê uma pista, Sherlock!”

“Quem? Ah, de qualquer maneira. Sabe de uma coisa que Voldemort não sabia? Ele não sabia que eu estava lá. Para todos que viviam fora da bolha da família Potter, só havia um bebê.”

“Você?” Fleur riu, anotando a possibilidade. “Não, porque agora Voldemort sabe que você tem um irmão gêmeo. Tentou olhar para isso de outra forma? Quero dizer, ‘Arry, que estamos considerando o Lorde das Trevas como Voldemort.”

Harry continuou sem entender. “O Lorde das Trevas é Voldemort.”

Foi a fez da loira balançar a cabeça. “Não, pense assim: Lorde das Trevas é um título, da mesma forma que Ministro. Se trata de quem está no poder de determinado lugar, e nesse caso é Voldemort. Há quanto tempo ele deixou de ser o único que governava as trevas, pequeno lorde?”

“Nope” Ele se recusava a acreditar. “É só um título idiota que pegou...”

“Lorde das Trevas também é um título, tanto quanto pequeno lorde!” Fleur se levantou, exaltada. Bolas de fogo começavam a se formar em suas mãos. “Entenda isso de uma vez por todas. Você estava certo, não é o menino que sobreviveu e nunca foi. O menino que sobreviveu é Nicholas, porque ele sobreviveu todos esses anos ao lorde das trevas... Você.”

Harry fechou os olhos, processando toda a informação. Parecia que sua cabeça iria explodir de tantas novidades em tão curto período de tempo; tudo o que queria fazer era achar uma máquina do tempo e voltar para a noite da terceira tarefa. Talvez pudesse mudar tudo.

“Não. Eu não sou das trevas, sou cinza, todos sabem que sou cinza!”

“Há quanto tempo se considera cinza? Uma pessoa cinza faz horcruxes, ‘Arry? Você foi dark desde que foi abandonado até ser abandonado por alguém que realmente se importava com você. Diz que o amor não é a arma, ‘Arry... Mas foi Regulus quem te puxou das trevas.” Fleur limpou as palmas das mãos na saia, dando um suspiro final. Olhou para Harry com expectativa, mas ao silêncio do menino, andou até a porta.

“Profecias podem ser interpretadas de diversas maneiras. É você quem escolhe de qual maneira acabará acontecendo. Boa noite, ‘Arry. Acredito que o meu trabalho aqui está feito.”

_

De fato o trabalho de Fleur estava feito. No dia seguinte, depois de uma longa noite quando Harry não dormiu porque ficou remoendo as informações, mastigando-as, tentando processá-las da melhor maneira possível, Tonks apareceu novamente e leu seus direitos: Comprovada a Legilimência de Fleur e o fato de que existia uma horcrux envolvida, ele estava livre para ir para casa e lá ficar até que as coisas se acalmassem em Hogwarts.

Harry esperava algum tipo de reação vinda de James e Lily. A ruiva, que havia se tornado um apoio na casa por não julgá-lo, estava quieta. Ao invés de dar olá, assentiu com a cabeça e apontou para dentro. Já James estava melhor, se é que silêncio podia ser considerado melhor do que as palavras rudes que dizia para Harry quando estavam sozinhos. O menino percebeu, quando entrou, que as mãos dos pais biológicos não estavam entrelaçadas.

Seu quarto havia sido reformado enquanto estava fora para o seu quinto ano, mas Harry tratou de trocar o verde escuro por cinza em diferentes tons, espalhados pelo quarto. Manteve as molduras prateadas, mas se certificou de que o único verde do quarto fosse o do bonsai no criado mudo e o de seus olhos, de modo que o quarto refletisse a sua personalidade.

Leu o dia todo. Foi a primeira vez em vários anos que deixou os livros educativos de lado e pegou um bom livro de ficção, deleitando-se na leitura até o escurecer, quando foi chamado para jantar.

Não foi uma grande novidade para ele quando Dumbledore se sentou na ponta da mesa, usando vestes vermelhas e com seus óculos de meia lua na ponta do nariz.

“Preciso falar com você, Harry” ele gesticulou a biblioteca. Harry o seguiu, cauteloso: Mesmo tendo sido inocentado, ainda estava sem a varinha, apesar de suspeitar de onde ela pudesse estar. “Eu gostaria de ter sabido mais cedo sobre a horcrux de Voldemort em você... Não consigo imaginar como deve ser viver com parte da alma de outra pessoa dentro de você.”

“Não posso dizer que foi uma vida estável” Harry brincou, sem sorrir. Tinha visto os olhos de Dumbledore antes da remoção da horcrux; ele estava conformado, não surpreso. “O que quer realmente, diretor?”

“Entenda que essa guerra precisa chegar a um fim, e o meio mais fácil disso acontecer é com você. É óbvio que você apoiava as trevas antes de retornar como Harry... A localização de Voldemort, você sabe. Estou certo?”

É claro que ele sabia. Fora Nagini quem havia lhe levado até a casa abandonada, anos atrás, e depois Regulus se assegurou de levá-lo para a casa de guerra dos Black, escondida no meio do nada. Poucos sabiam onde exatamente estava a casa; Harry apenas recentemente havia se tornado um dos poucos. A ferida da perda de Regulus ainda estava fresca, e ele sentiu a garganta apertar ao pensar no mentor e em tudo que haviam deixado de viver.

Quando percebeu, a primeira lágrima já rolava pela sua bochecha. Harry foi rápido em escondê-la, apesar de saber que Dumbledore conseguia ver através de sua máscara. Mais para si mesmo, ele derrubou suas defesas, e as lágrimas que se seguiram eram impossíveis de disfarçar. “Não posso...”

“Você pode tudo, Harry” Dumbledore apertou sua mão, tentando consolá-lo. “Mas para isso, preciso que me diga onde está Voldemort.”

“Não me peça para fazer tamanha coisa” o menino se afastou bruscamente e saiu da biblioteca, aumentando a voz para ser ouvido. “Pode me pedir para fazer qualquer coisa, mas não me peça para abandonar a única coisa restante da minha vida.”

Naquela noite, ele não chegou a se deitar. Olhava a paisagem pela janela quando a realização finalmente lhe ocorreu: Aquela era uma oportunidade fácil para se livrar temporariamente de Voldemort. Sua máscara de Revan já estava exposta, de qualquer maneira. Harry não tinha nada a perder.

Harry pegou um papel, pena e tinteiro. De olhos fechados, escreveu uma imposição e esperou por Eyphah. O corvo que levava a mensagem logo voltou, com os dizeres: “OK.”

A quantidade de membros da Ordem e aurores que chegaram a casa dos Potter nas próximas horas era impossível de acreditar. Fazia tempo que Harry não via todos que apoiavam a luz juntos, mas uma palavra ótima para descrevê-los seria muitos. Bem mais do que os seguidores das trevas, pelo menos na Grã Bretanha.

Nicholas foi uma surpresa. Usando as melhores vestes de batalha disponíveis no mercado, estava cercado de aurores fortemente capazes de defender o ruivinho da luz. Ele acenou para Harry, mas isso resume a interação dos irmãos naquela noite.

Era a primeira vez que iria lutar com a face exposta, Harry percebeu quando já haviam se transportado para os arredores da casa de guerra. Fora esperto em não fornecer nenhuma planta ou números do local: Assim, precisariam dele. Observou a casa com saudades, memórias invadindo sua mente, sem controle.

Os aurores foram primeiro, livrando-se dos comensais que estavam no perímetro. Não demorou para o alarme começar a tocar, seguido da risada insana de Bellatrix e o Morsmordre apontado para o ar, criando a gigante marca negra. Ao seu lado brilhava uma fênix vermelha lançada por Dumbledore, grandiosa.

O inferno foi declarado alguns minutos depois, quando o primeiro flash verde surgiu no ar. Toda a organização dos aurores, separados por grupos de quatro, se desfez quando ao que a primeira leva de comensais experientes surgiu. Aglomeravam-se, protegendo Nicholas, que insistia para deixarem-no lutar. Harry aproveitou a oportunidade para se separar do grupo e correr escadas acima.

Doeu ver que onde costumava ficar seu quarto agora era um depósito de coisas velhas. Sua porta estava semi aberta, e ele foi compelido a caminhar até lá. Uma foto de Regulus ainda estava pendurada na parede, acenando para ele. Sem fazer um som, Harry tirou-a da moldura e colocou a pequena foto no bolso.

“Pequeno lorde!” ofegou um comensal novato. Seu braço que segurava a varinha tremia.

Avada Kedavra, Harry pensou, mas o que saiu de sua boca foi outro feitiço: “Estupefaça!”

E correu para a sala de conferências.

Voldemort estava sentado em sua poltrona como um rei, Nagini ao seu lado sendo afagada. No meio de uma batalha, não demonstrava medo algum. Estava calmo, como se fosse apenas outro treinamento dos comensais. Quando Harry encontrou, seus olhos se encontraram e o menino pensou ver os lábios do lorde das trevas se curvarem para cima levemente.

Harry.”

Tom.

Tiraram as varinhas (a de Harry tendo sido entregue para ele antes da invasão) e se circularam como predadores, observando e tentando prever os movimentos do outro. Algo começava a brilhar na face de Voldemort: Confiança.

“Você sabe que não pode ganhar de mim, garoto. Estará morto em menos de um minuto.”

“Quer apostar?” Harry fez a posição de duelo habitual. “Até a morte.”

Os flashes saídos da varinha de Voldemort podiam ser considerados no mínimo assustadores. Voavam pelo ar, um atrás do outro, sem a pausa necessária para se pronunciar os feitiços. A réplica de Harry foi lenta demais: Ainda não estava acostumado com o fluxo de magia que agora saía de si. Era mais forte, porém descontrolado, e sua varinha não respondia a ele tão bem quanto antes.

No calor do momento, a mente de Harry estava em branco: Ele não conseguia se lembrar de um único feitiço ou maldição que aprendera, pois tudo o que seu corpo exigia era uma pausa para respirar e, ao mesmo tempo, continuar a se mover para evitar mais flashes de luz. A combinação dos feitiços Aquamenti e Incendio fez a água que saía da varinha de Voldemort ferver, e quando esta atingiu a perna de Harry, ele não teve outra escola senão gritar.

O primeiro feitiço que o garoto se lembrou não foi um muito convencional. Ao gritar “Bombarda!” o flash que havia mirado aos pés de Voldemort acabou batendo alguns metros à frente, quebrando o porcelanato do chão e levantando uma nuvem de poeira. Harry aproveitou a oportunidade para se esconder, seus olhos movendo-se desesperadamente pela sala de conferências a procura de algo que pudesse auxiliá-lo.

Whisky!

Agarrou a garrafa, abrindo-a e se preparando para o momento certo. No instante em que Voldemort apareceu, Harry fez seu movimento. O som de algo molhado caindo no chão, seguido pelo grito do lorde das trevas, indicou ao garoto que podia realizar a próxima parte do plano.

“Element Circa!” O jato de fogo que saiu de sua varinha tomou a forma de uma ave, voando atrás de Voldemort. Não chegou a acertá-lo (Harry não conseguiu acreditar em como estava fraco no quesito feitiços poderosos) modo a machucá-lo, mas certamente criou estrago: A poltrona onde Voldemort se sentava estava em chamas, e a fumaça, misturando-se à poeira do ar, dificultou ainda mais o duelo.

Ótima escolha, Harry. Ótima escolha.

“Você sabe que não vai ganhar” ele voltou a dizer, quando Harry foi seguido para perto da janela. “Sabe que só há um vencedor aqui, e que não é você.”

“Se não sou eu” Harry ofegou, a mão esquerda tateando a janela à procura da maçaneta para permitir ao ar fresco entrar na sala. “Não será você também, e eu juro que não descansarei até dar o máximo de mim para te destruir.”

Voldemort sorriu, e o garoto só percebeu a razão do sorriso quando o som de vidro quebrando ao lado dele fez com que se jogasse no chão. Os cacos da janela pairavam sobre dele ameaçadoramente. Harry rolou para longe, escapando da zona mais perigosa, mas os cacos o seguiram até que Voldemort perdeu a paciência e libertou-os do feitiço de levitação.

Os cacos convergiram, acertando Harry diretamente na área do abdômen. Quando ele se levantou, a cabeça rodando pelo sangue que começava a perder, um som captou os ouvidos dele:

“Sinto muito, falante.”

Nagini se enrolou nas pernas de Harry, aproximando-as para que ele perdesse o equilíbrio. De fato, um segundo depois, Harry despencou, e os cacos restantes em suas roupas se fincaram ainda mais profundamente contra a sua carne.

Aquilo foi demais para Harry. O cansaço, em adição com a dor, fez com que seu maior movimento fosse o de se ajoelhar. Levantou os olhos, fitando Voldemort. Seria aquela a última coisa que veria antes de morrer por aquele que um dia foi considerado um amigo?

Não.

Voldemort gritou, caindo no chão. Atrás dele, alguém o agarrava. Voldemort queimava como um vampiro ao sol, sua pele escurecendo, o crânio aparecendo depois das queimaduras atingirem a carne. Quando tudo o que sobrou foram cinzas, Harry levantou os olhos para ver quem havia salvado a sua vida.

Em pé em cima das cinzas, Nicholas sorria arrogantemente (e um tanto surpreso) para ele. Deu de ombros para o olhar inquisitivo de Harry: “Bom, parece que era o meu destino, afinal.”


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Notas finais do capítulo

SIM! Eu matei Voldemort, e pior, eu fiz Nick matá-lo. Era o destino dele, afinal :v

Cá estamos. Harry não é o menino-que-sobreviveu, ele é (ou ao menos era) o lorde das trevas. Em uma nota de 0 a 10, o quão putos estão comigo?

Deixem suas reações nos comentários! Aos que comentaram no capítulo anterior, responderei-os assim que possível, pelo celular (perdão pelos futuros erros!).

O próximo capítulo é o último do quinto ano. Em seguida seguem-se 4 capítulos dedicados à guerra final.

Então é isso, pessoal. Espero que tenham gostado.