Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 53
Um monstro chamado Tom


Notas iniciais do capítulo

Segundo meus cálculos mais que ridículos de fuso horário, está na hora de mais um capítulo para a maioria de vocês.

Obrigada por todos os reviews no capítulo anterior! A primeira página deles já foi respondida. Fico feliz que estejam compartilhando a ansiedade de saber a próxima m* que vai bater no ventilador.

Sem mais,
~Lady Slytherin



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CAPÍTULO 53

A MONSTER CALLED TOM

Dumbledore olhava fixamente para Harry. “Lembra do que combinamos?”

“Vou fazer o possível para obter informações que beneficiem a Ordem” mentiu o garoto, terminando de arrumar seu malão. Ele sempre tinha suas coisas prontas um dia antes de ir para Hogwarts, mas com o tumulto de morar em uma casa com pessoas que ele detestava, o fato de que Lily começara a tratar ele como se fosse um bebê e James odiando-o mais do que nunca, Harry não teve escolha senão acordar mais cedo no dia 1 de Setembro para arrumar suas coisas.

O velho mago sorriu para ele. “Muito obrigado, Harry. Um dia você vai saber que fez a escolha certa.”

Ele sabia muito bem quais eram suas escolhas, e não gostava nem um pouco delas. Ainda assim, Harry forçou um sorriso de volta para o diretor, um sorriso amarelo e tão claramente falso que ele se surpreendeu ao não ver o brilho se esvair dos olhos azuis de Dumbledore.

“Acho que é só isso” murmurou ele, checando tudo que estava dentro do malão magicamente ampliado. A gaiola de Eyphah era improvisada, conjurada diretamente da mente do menino. Quando o corvo escapou da mansão para se unir ao seu mestre, Harry pôde considerar seu dia um dia feliz. Ele temia que Voldemort teria torturado ou matado Eyphah em um ataque de fúria.

Lançou o feitiço Tempus para saber as horas: Não se passava das 10, dando assim tempo suficiente para uma última reunião, no caso de Dumbledore, e tempo suficiente para acordar Nicholas, no caso dos Potters.

Harry se encontrou com Hermione na biblioteca. Seguindo a lógica básica de que Hermione amava livros, era óbvio que ela estaria lá. Portanto, sempre que o menino precisava se encontrar com a rata de biblioteca, ele refazia seus passos até a prateleira de eventos atuais e a encontraria lá, soterrada no meio dos livros.

“Tudo pronto?” perguntou ela, arfando, ao que colocou um exemplar de mil e duzentas páginas no próprio malão. “Só estou pegando algumas coisinhas, o diretor me deu permissão. Vai querer alguma coisa?”

“Quem sabe?”

O menino caminhou até uma suposta parede. Contando sete tijolos de cima para baixo, colocou a mão, esperando a picada usual. Quando ela veio, e nada aconteceu, Harry se lembrou de que as paredes respondiam a Revan, não Harry. Frustrado, deu um chute na parede, xingando baixinho antes de ir para a última prateleira que havia, quase em contato com a parede que determinava o fim da biblioteca.

Esgueirou-se no meio, não conseguindo deixar de se sentir um tanto criminal ao fazer isso. Que droga, se James o considerava um criminal, que fosse. Ele faria jus ao nome. Seus dedos traçaram a madeira da prateleira até a letra H, depois prosseguindo na horizontal. Retirou o livro intitulado “Herbologia para experts: Ervas mágicas asiáticas” reprimindo um sorriso. Os Blacks eram experts naquele tipo de coisa.

Quando Hermione não estava olhando, Harry abriu a capa dura e retirou um livro menor de dentro. Lia-se “Horácio Slughorn, um manual de”. Ele voltou a abrir a capa e retirar um terceiro livro de lá, pequeno suficiente para caber no bolso, sem título na capa de couro. Todavia, se o menino se focasse o suficiente, os rodopios da capa pareciam se entrelaçar formando as palavras: “Horcruxes, o guia avançado.”

Satisfeito, ele voltou a colocar um livro dentro do outro.

“Te vejo no trem, Hermione.” Ele acenou e saiu da biblioteca.

_

A corrida de trem foi, no mínimo, estranha.

Em seus primeiros quatro anos em Hogwarts, Harry sempre, sempre, conversava com pelo menos uma pessoa, um amigo que reencontrava depois de um verão separados. Agora, com tantos amigos que reencontrava, todos o encaravam como se ele fosse o garoto novo (de fato, ele era) e em seguida, fingiam não vê-lo. O pior, em sua opinião, era os estudantes mais novos, que apontavam descaradamente.

Mesmo Daphne, ele notou, tinha um sorriso estranho. Não era para pouco: Ela havia perdido o noivo, considerado pelas estudantes femininas de Hogwarts um dos meninos merecedores do TOP 10, apenas para tê-lo de volta, no formato de um típico cidadão inglês. Nem feio, nem belo. Apenas Harry.

Comparado com Revan, era como trocar um príncipe por um sapo.

“Nem acredito que já estou no meu terceiro ano!” exclamou Astoria, atraindo a atenção dos outros estudantes no compartimento. Eles olharam para ela com reações mistas: Uns felizes, por quebrar o silêncio constrangedor, e outros irritados, porque silêncio era silêncio e devia ser respeitado. “Quem você acha que vai ser nosso professor de Defesa Contra As Artes das Trevas?”

“Alguém novo” brincou Blaise.

“Alguém estúpido” frisou Daphne. “Só uma pessoa muito estúpida para comprar os livros que vamos usar esse ano.”

“Meu pai conhece a professora” anunciou Draco, se certificando que seus cabelos loiros estavam bem presos com gel. Afinal, que tragédia seria se um fio saísse do monte perfeitamente organizado das madeixas loiras! “Trabalha para o Ministério. Ela já me deu aulas de verão quando eu era pequeno.”

Daphne levantou uma sobrancelha: “Ela era boa?”

Draco riu: “Foi a pior que eu já tive. Estamos lascados. Alguém se voluntaria para dar aulas particulares? Dez galeões a hora.”

Metade das pessoas do vagão, incluindo Astoria, levantou a mão.

“E então, Potter?” Draco disse abruptamente, se virando para o moreno. “Como é sair do covil Black e ser exposto às maravilhas de ser um Potter?”

“Os sorrisos da família brilham tanto que me cegam” Harry repetiu as palavras de Pansy do terceiro ano. A morena empinou o nariz de pug ao ouvir uma frase dela sendo dita por um menino que ela secretamente admirava. “Quero voltar para a escuridão de ser um Black.”

O loiro fez uma cara de pena: “Vai ser difícil conseguir isso, Harry. Não há nenhum Black sobrando na família para realizar outra adoção de sangue ilegal para você. O mais próximo” ele apontou para si mesmo. “C’est moi.”

“Merlin me livre da maldição de me parecer com você, Draco!” exclamou o moreno, colocando uma mão no coração como se o pensamento lhe causasse dores. “Já tenho toda a grana, de qualquer jeito.”

Seu sorriso se contorceu em uma careta. “É, sobre isso, parece que os Potters estão tentando fazer toda a grana se tornar propriedade de Nicholas, já que não houve um testamento.”

O humor de Harry era intocável: “Ele deixou um testamento com os duendes. Os baixinhos estão apenas esperando para darem o golpe no momento certo. Vocês sabem como eles são, sedentos por ouro.” Ele fez uma pausa e recitou um trecho do testamento de Regulus. Depois de tantas vezes lendo-o e relendo-o, a memória lhe vinha facilmente: “Deixo todos os meus bens para Revan Altair Black, também conhecido como Harry James Potter.”

Draco assoviou. “E quanta grana você tem, exatamente?”

“Draco!” sibilou Daphne. “Isso não é da sua maldita conta.”

“Deve ter sido bastante, para você aceitar se casar com ele” desdenhou o menino, olhando Harry de cima a baixo e examinando Daphne logo em seguida. “Casamento por dinheiro, só pode.”

A loira se levantou, pronta para sair do vagão. Harry a impediu ao segurar sua mão e dar-lhe um olhar de cachorrinho pidão. Desde sua recente morte, ele soava tão mais honesto, mais sentimental. Seus olhos verdes, antes fascinantes com a semelhança de uma maldição da morte lançada com frieza. Agora, as emoções corriam soltas. “Ok” suspirou. “Mas só se ele calar a boca.”

E Draco ficou quieto pelo resto da viagem, resmungando e olhando a paisagem pela janela, enquanto Theo contava as aventuras vividas no inverno da Patagônia e fazia piadas sobre argentinos que havia aprendido com turistas brasileiros. Ao que os estudantes riam, Draco voltava a resmungar. A tensão se dispersou, e quanto mais ofensivas as piadas ficavam, mais eles riam – a menos que as piadas envolvessem ingleses, aí era silêncio absoluto.

Já estava escuro quando, após se trocarem, o trem parou suavemente.

Ao sair, como era comum desde o seu primeiro ano, Harry contou as cabeças. Bom, havia mais do que no ano anterior, e o menino se perguntou se isso era devido o desaparecimento de Nemesis, ao aumento de ataques da parte das trevas a vilarejos ambos trouxas e bruxos, ou à campanha política de Dumbledore que dizia que não havia lugar mais seguro no mundo do que Hogwarts.

Talvez todos eles.

Talvez nenhum.

Os baixinhos do primeiro ano seguiam Hagrid aos montes, agarrados às vestes do meio-gigante como se ele fosse um salva-vidas. “Contei sessenta” murmurou Harry para Daphne.

Ela assentiu. “Sessenta também. Quinze para cada casa.”

“Não. Eu não acho que dez deles vão estar em Slytherin” ele comentou, vendo como as crianças pareciam tímidas e indefesas. “Muitos puffs, aqui. E alguns estudantes esforçados. Sei lá, acho que a guerra faz com que as pessoas estudem mais.”

“Elas têm que se proteger, afinal.”

O casal se deu as mãos. “Vamos? Não quero perder a canção do chapéu seletor.”

“Vamos!”

Mas acabou que não houve canção do chapéu seletor. A boca dele estava costurada, e só foi aberta quando os estudantes do primeiro ano já faziam fila para serem selecionados. Na mesa dos professores, Dolores Umbridge sorria arrogantemente ao ver o Chapéu se debatendo para se livrar das amarras.

“O Ministério gostaria de avisar que as canções do Chapéu Seletor foram proibidas por inspirarem aos estudantes ideias que vão contra os ideais do país” anunciou Umbridge, quando murmurinhos começaram a soar das mesas. Todos adoravam as canções do Chapéu – para os mais novos, era um consolo saber que todas as casas tinham suas qualidades e defeitos.

Os gêmeos Weasley se levantaram, prontos para começar uma discussão, porém se viram incapazes de falar.

“Quietinhos, queridos” ela sorriu. “Sou sua nova professora de Defesa Contra As Artes das Trevas, e vou supervisar cada um de vocês, pequeninos, até entender o que se passa dentro de suas cabecinhas. Tenho certeza que seremos grandes amigos!”

Ninguém falou. Os gêmeos pareciam querer falar, porém ainda incapazes, com as bocas costuradas como a do Chapéu, apenas fizeram gestos obscenos para Umbridge, até que seus dedos colaram uns nos outros. Os alunos do primeiro ano tremiam.

Dumbledore pigarreou: “Sendo assim, deixe a Seleção começar!”

_

Harry, de barriga cheia, não queria nada mais do que uma boa noite de sono.

Nem se importaria se tivesse pesadelos. Ele andava meditando e assim, pelo menos o Lorde das Trevas não conseguiria invadir seus sonhos. Lorde das Trevas? Harry deveria chamá-lo de Voldemort, ou como Dumbledore preferia se referir ao monstro, Tom.

Um monstro chamado Tom.

“Revan?”

Harry pulou imediatamente, tirando a varinha e apontando para o possível agressor. Era Umbridge, um sorriso presunçoso brincando em seus lábios finos. “Meu nome não é Revan” alertou, sem abaixar a varinha. Se Umbridge trabalhava para o Ministério, possivelmente ela trabalhava para... Tom.

“É claro que é. Bom, pelo menos costumava ser, antes do seu querido papai morrer” o sorriso de Umbridge não alcançava os olhos. Tudo que Harry podia ver nos pequenos orbes era desgosto, e o menino fez o possível para que o mesmo desgosto aparecesse em seus próprios olhos ao invés de dor.

Só havia se passado três meses desde a coisa. A ferida no peito de Harry ainda estava aberta.

O Outro Potter fez uma reverência tão obviamente falsa para Umbridge que ela a retribuiu. “Qual é a mensagem de Tom, informante?”

“Não sou uma informante!” gritou a senhora em rosa, esquecendo-se de sua posição. “Sou mais do que isso. Sou bem mais do que isso para o Lorde das Trevas, bem mais!”

“O nome dele é Tom” informou o menino, satisfeito em saber algo que a professora não sabia. Era uma sensação gratificante, se sentir o mais esperto em uma conversação. “Tom Riddle. Faça uma pesquisa em seus registros. Ele nem é puro. O menino que sobreviveu, para a sua informação, é mais puro do que o chamado Lorde das Trevas. Pelo menos meu irmão tem sangue mágico vindo dos dois pais. Ah, você não sabia? O pai de Tom era trouxa. Não nascido trouxa. Trouxa. Só trouxa.”

“O Lorde das Trevas manda uma mensagem para Revan Black” repetiu Umbridge. “Eu devo entregar a mensagem.” Ela estendeu um envelope escuro fechado com cera. “Como pode ver, o selo não foi quebrado. A mensagem está intacta.”

Harry voltou a fazer uma reverência. Depois de se certificar que a mão nua da senhora em rosa estava em contato com o papel (portanto não poderia estar carregando veneno, pelo menos do lado de fora) pegou a carta, abriu-a e soprou o pó que havia dentro dela na direção da professora. Umbridge pulou para o lado como se o pó a queimasse.

“Foi o que eu pensei” murmurou ele, tacando a carta no chão e lendo seu conteúdo de longe. Ele estava grato pelas lentes de contato novas. Estava escrito na língua das cobras, uma mensagem que não precisava:

Você conta, eu conto.

“Diga para o seu mestre que não vou contar” informou Harry, queimando a carta. “Tenho um bom senso de preservação, muito obrigado. Quando é nossa primeira aula? Quero fazer uma resposta à altura para Tom.”

Mas Umbridge já não estava mais lá.

Harry sabia que não podia evitá-la, principalmente com as aulas se aproximando. Ele fez e refez a carta, considerou usar a mesma tática de Tom e colocar veneno nela, ou outra coisa tóxica. Ele ainda conseguia fazer a tinta comensal? Precisava achar um jeito de, como havia dito para a senhora em rosa, fazer uma resposta à altura.

A ideia veio repentinamente, no meio da noite, enquanto o Outro Potter meditava para não ter quaisquer pesadelos envolvendo Tom. Sua mente clara era tão frustrante quanto qualquer quarta que pudesse receber. A antecipação de saber que havia uma carta a caminho, e depois descobrir que a carta era uma piada... tão infantil, mas tão à altura do Lorde... de Tom!

Saiu do dormitório, satisfeito ao ver que mesmo com o seu novo corpo, ninguém acordava com seus passos (apesar dele ter tropeçado duas vezes no caminho). Sair do castelo foi uma tarefa mais difícil. Todos, sem exceção, queriam saber mais sobre ele, e pela primeira vez em sua vida, Harry se sentia como seu irmão: Uma estrela.

Pegou o pergaminho mais claro que encontrou no corujal, preparou a tinta e deixou que uma única gota, formando um ponto final, se firmasse nele. Então pegou o envelope, e escreveu, com a letra mais elegante que conseguiu:

Sua promessa.

Colocou o pergaminho no envelope, dobrou-o e colocou o anel que o marcava como herdeiro Black firmado fortemente contra a cera. Contou até três, levantou o anel. O símbolo dos Black, junto com os dizeres “Tojours Pur”, se destacava contra o branco do envelope.

Finalmente, Harry sentiu que podia ter uma boa noite de sono. Perambulou pelos corredores sem medo de ser pego – era mais ou menos naquele horário que os monitores trocavam de turno – até chegar no quadro de Merlin. Como usual, o mago piscou um olho muito azul para Harry e abriu a porta sem deixar um som sair.

Quando o Outro Potter deitou, debaixo dos lençóis, com o sorriso-careta característico no rosto, ele sentiu que se fechasse os olhos, apenas por um momento, poderia fingir ser Revan novamente.

_

Ele acordou no dia seguinte sendo chacoalhado com força por Blaise.

“Merda” xingou, tentando cobrir com o travesseiro a claridade que invadia seus sentidos. “Eu estava dormindo.”

“Que bom” comentou Blaise sarcasticamente. “Pensei que tivesse morrido, eu só estava tentando fazer você se transformar em um zumbi mais rapidamente.”

Harry esfregou os olhos preguiçosamente, se esticando e sentindo os ossos estalarem conforme ele estendia o braço direito para pegar as lentes de contato no criado mudo mais próximo a ele. Ainda não estava na hora de acordar, seu corpo insistiu, ele deveria estar dormindo. “O que é?”

“Astoria deixou escapar que foi Regulus quem nos ensinou ano passado” ele admitiu, sem deixar de parecer animado. “A notícia correu por toda Slytherin, Harry, todos adoravam ‘Moody’, eles estão começando a entender o porquê de você estar tão triste com a morte dele.”

“Astoria?” Harry repetiu, seco. Maldita menina com sua maldita boca que não podia ficar malditamente fechada. “Onde ela está?”

Blaise levantou as mãos, empalidecendo consideravelmente. “Não sei, cara, deve estar no dormitório. São só cinco da manhã, ela teve um pesadelo e chamou a irmã, aí Pansy ouviu e a coisa ficou feia, sabe como Pansy é.”

“Então foi Pansy?”

“Acho… Acho que foi.”

Harry se levantou e se trocou em tempo recorde, abotoando suas vestes enquanto descia as escadas pulando dois ou três degraus por vez. Encontrou Pansy cochichando com cinco amigas do quarto ano sobre a verdade do professor do ano anterior. Ao ver Harry, ela deu um passo para trás, deixando um grito fino sair do fundo da garganta.

“PANSY!”

Ela começou a tremer como um cachorrinho, e Harry a puxou pelo braço até a parte mais privada da sala comunal. “Pansy! Por que você acha que eu mudei de nome, Regulus mudou de nome e veio sob um pseudônimo? Por que você acha que isso aconteceu?” Ele a chacoalhou; podia ouvir os dentes da menina batendo. “Porque queríamos ficar escondidos! Não queremos nosso nome n’O Profeta Diário, nem nada parecido!”

“Sin-Sinto muito” murmurou ela, ainda tremendo. Olhava o chão e lutava para não chorar de arrependimento e pavor. Harry a empurrou para longe; ela se chocou contra uma poltrona. “Eu juro em nome de Merlin!”

“Você tem tanta sorte” rosnou ele, dando passo após passo na direção dela. “Que eu estou com bom humor.” Harry pausou. O que diabos estava acontecendo? “Vá embora antes que eu pense em algo para fazer com você” mas antes que ela pudesse se virar, a varinha do menino já estava na cabeça de Pansy: “Obliviate.”

_

Caro Harry,

Espero que essa carta não tenha chegado muito cedo para você. Não consegui dormir essa noite porque finalmente a notícia que você existe atingiu os jornais mágicos franceses, e enquanto Gabby fica pulando pela casa, falando sobre como ela vai se casar com o irmão de alguém que adora, eu fico pensando no que isso significa para você.

Está feliz, Harry? Tirando todas as complicações que aconteceram (e eu sinto tanto, mas tanto por causa de Regulus), quero dizer. Os Potters estão tomando conta de você? E a questão com Nicholas, como está? Sinto sua falta. As aulas eram tão mais legais quando eu estava em Hogwarts, treinando para o torneio!

Tenho certeza que não estou conseguindo enrolar você. Só consegui algumas vezes, e isso foi com o meu allure. Minhas palavras não têm efeito nenhum, têm? Dumbledore está falando com papa tão frequentemente, é assustador. Eu sinto que o não é o Ministro quem controla o mundo bruxo daí, e sim Dumbledore. É ele quem decide tudo! Papa não tem poder de escolha.

Pelo menos agora o velho está na sua escola. Isso soou ruim, desconsidere o que eu disse. Pelo menos agora ele não vai atrapalhar papa, e o verdadeiro Ministro poderá fazer as mudanças necessárias nos batalhões da França. Não entendo a preocupação, honestamente. Na última guerra, nos mantivemos neutros, e não vejo por que nessa guerra terá que ser diferente.

Agora estou fora de Beauxbatons, o que é uma boa coisa. Eu já estava enjoada daqueles uniformes azuis. Pretendo ir para a Inglaterra o mais rápido possível para melhorar o meu inglês, apesar de saber que não é um bom momento por causa da guerra. Nemesis está desaparecido, é verdade? Bom, uma coisa para celebrarmos. Estou tão feliz! É uma ameaça a menos para a população. Seja lá qual tenha sido seu motivo, espero que tenha sido sábio.

Preciso ir agora, Harry, mas continue me mandando cartas sobre a sua recuperação e a recuperação do mundo bruxo em geral. Adoro ouvir de você, e espero poder te encontrar quando eu arrumar um emprego definitivo por aí.

Muitos beijos,

Fleur

_

Harry não podia estar mais surpreso quando menina após menina de Slytherin o abraçou no café da manhã do dia 2, murmurando suas mais profundas desculpas sobre a morte de Regulus. Ele apertou a carta de Fleur firmemente em seus dedos; Blase estava certo, e mesmo com Pansy fora do caminho, pelo menos ao que dizia ao seu ataque de fúria, todos ainda sabiam de Regulus.

“Ele te ensinou alguma coisa, Harry?”

O menino se permitiu sorrir. “Ele me ensinou tudo que sei.”

“Se Umbridge for tão ruim como professora quanto esperamos que ela seja, você vai ter que nos ensinar” ameaçou outra garota com um sorriso. Nunca ninguém havia sido tão amigável com ele antes. Bom, nunca antes ele fora filho de um professor sinistro e querido de Hogwarts.

“Umbridge sabe Defesa Contra as Artes das Trevas, ou simplesmente Artes das Trevas, pode acreditar” Harry afirmou, sério. Pelo menos fora o que dissera Draco no trem. “Se ela quer ensinar, isso é outra história. Eu posso ajudar com os duelos, mas isso é só. Os Potters não querem que eu me envolva com mais Slytherins do que já estou envolvido.”

A garota cruzou os braços, irritada. “Isso é estupidez da parte deles. Você é um de nós.”

“Obrigado” agradeceu Harry. “Podem contar comigo na tarefa de casa, sim, e aulas de Defesa com um pouco mais ação. Só de vez em quanto, antes do Natal. Tecnicamente, ainda preciso me afastar de vocês.”

“E tecnicamente, ele ainda tem uma namorada” completou Daphne, surgindo do nada atrás dele. “Então caiam fora.”

Harry acenou: “Nos vemos por aí”, pulando imediatamente para o lado de modo a evitar um beliscão da loira, que apesar de atualmente raros, ainda doíam como o diabo. “Já tomou café da manhã, Daph?”

“Enquanto você flertava” ela disse, seca, voltando a se sentar na mesa para ajeitar sua gravata verde e prateada. Para Harry, o nó complexo estava perfeito, mas Daphne conseguia ver defeitos onde eles não existiam. “Coma logo, a primeira aula é de McGonagall, e eu pretendo continuar a fazer Transfiguração ano que vem.”

É claro. No meio de tudo aquilo, Harry havia se esquecido dos NOMs. Além de ter que aturar Nicholas, seus pais, e Dumbledore (e ele nem pensaria em Snape, que o odiava mais ainda depois de se revelar um Potter), ele teria que estudar ainda mais para conseguir vários O’s em qualquer coisa que pudesse ser útil quando ele decidisse o que queria fazer quando se formasse de Hogwarts.

Foi aí que percebeu que ele não tinha ideia do que fazer da vida quando Hogwarts terminasse. Que droga, ele nem sabia se estaria vivo depois do sétimo ano. Viveria até lá, com os dois lados da guerra o perseguindo incansavelmente? Viveria até a próxima nevasca?

Seu olhar se moveu até o colar magnífico que Daphne usava. A horcrux que existia nele não funcionava mais, mas a do basilisco continuava lá. Sorriu para si mesmo: Ele tinha uma arma secreta, uma cuja localização Tom não sabia.

_

“Professora, tem um minutinho?”

McGonagall olhou para ele, surpresa. Se certificou que todos os outros alunos já tivessem saído antes de dizer, cuidadosamente: “Claro, Harry. Tenho um horário livre agora. Como posso te ajudar?”

“Estou treinando para virar um animago” confessou Harry, retirando um livro do bolso. Era o mesmo que havia pego da estante de James antes de ir para Hogwarts, em uma noite que o auror estava fora. “Parece que foi esse livro que James usou para se tornar um.”

“James treinou por quatro anos antes de conseguir” explicou a professora, tomando o livro e folheando-o. “Temos livros melhores disponíveis, agora. Posso te recomendar alguns, mas não garanto que vá conseguir. Há quanto tempo está treinando?”

Harry sorriu, embaraçado. “Medito desde o terceiro ano, professora, e eu sempre fui muito bom em Transfiguração. Esperei até começar esse ano letivo para pedir sua ajuda. Quero fazer tudo certo.” Fez uma expressão nervosa com uma pitada de esperança. “Vai me ajudar, professora? Nem que seja uma aula ou duas, apenas?”

McGonagall comprimiu os lábios. “Sala de aula, senhor Potter, às oito da noite de terças, quintas e sábados. Traga todo o seu material, e em hipótese nenhuma, conte a outro estudante sobre isso.”


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Notas finais do capítulo

Aqui estamos nós. Hogwarts, envolvimento com Slytherins e o começo das aulas de animagia. E caso esteja achando os capítulos muito parados, não se preocupem: No capítulo seguinte tem sangue, muito sangue. Digamos que a perda de controle de Harry nesse capítulo não foi um erro de escrita.

Mais 6 capítulos para o fim da fic! Já gostaria de agradecer todos que leram a fic até aqui, sei que é um bocado de capítulos e que eu enrolei em algumas (muitas) partes.

Reviews são reviews, pessoal, e por mais que não me motivem a escrever porque a fic está terminada, eu fico muito feliz quando vocês tomam um minutinho do dia de vocês para comentar o que acharam desse capítulo que ficou um pouquinho maior do que o esperado. O que me dizem, trocam 4000 palavras por umas 40? Ou 4?

Cordialmente,
~Lady Slytherin